sábado, 15 de junho de 2024

Recordando Velhas Canções (Coisas Nossas)


Compositor: Noel Rosa

Queria ser pandeiro 
Pra sentir o dia inteiro
A tua mão na minha pele a batucar
Saudade do violão e da palhoça
Coisa nossa   
Muito nossa

O samba, partidão e outras bossas
São nossas coisas 
São coisas nossas

Menina que namora na esquina 
e no portão
Rapaz casado com dez filhos   
sem tostão
Se o pai descobre  
o truque dá uma coça
Coisa nossa  
Muito nossa  

O samba, partidão e outras bossas
São nossas coisas 
São coisas nossas

Baleiro, jornaleiro, motorneiro  
Condutor e motorista
Prestamista, vigarista 
E o carro que parece uma carroça
Coisa nossa  
Muito nossa

O samba, partidão e outras bossas
São nossas coisas 
São coisas nossas

Malandro que não bebe, que não come
Que não abandona o samba 
Pois o samba mata a fome
Morena bem bonita lá na roça
Coisa nossa  
Muito nossa
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A Alma do Samba e a Identidade Brasileira em 'São Coisas Nossas'
Com a gradual implantação do som no cinema brasileiro, Wallace Downey, um americano ligado à nossa indústria fonográfica, percebeu que a produção de filmes musicais poderia ser um negócio muito lucrativo. Assim apoiado pela empresa Byington & Cia., de São Paulo, realizaria em 1931 o curta-metragem “Mágoa Sertaneja” e o longa “Coisas Nossas”, os musicais pioneiros do nosso cinema. Inspirado, talvez, pelo título deste último, Noel Rosa compôs o samba homônimo (também conhecido por “São coisas nossas”), em que “filosofa” espirituosamente sobre hábitos, manias e “outras bossas” tipicamente brasileiras — “O samba, a prontidão e outras bossas / são nossas coisas, são coisas nossas...”. “Coisas Nossas” e mais outros quatro sambas foram lançados por Noel em discos Columbia, empresa que na época havia instalado um estúdio de gravação no Rio de Janeiro (A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34). 


Noel Rosa começa a música expressando um desejo poético de ser um pandeiro, um instrumento essencial no samba, para sentir o toque constante da mão de alguém especial. Essa metáfora inicial já estabelece a importância do samba e dos instrumentos musicais na vida cotidiana. Ele menciona a saudade do violão e da palhoça, elementos que remetem à simplicidade e à autenticidade da vida rural e das rodas de samba. A repetição da frase 'coisa nossa' reforça a ideia de pertencimento e identidade cultural.

A letra também aborda a figura do malandro, um personagem típico do samba, que vive de maneira despreocupada, mas fiel à sua cultura. Noel Rosa destaca que, mesmo sem beber ou comer, o malandro não abandona o samba, pois ele é uma fonte de sustento emocional e cultural. Além disso, a música menciona diversos personagens do cotidiano urbano, como o baleiro, o jornaleiro e o condutor, todos representando a diversidade e a riqueza da vida nas cidades brasileiras. A música termina com uma cena familiar e comum, de uma menina namorando na esquina e um rapaz casado com muitos filhos, reforçando a ideia de que essas são 'coisas nossas', elementos que compõem a identidade brasileira.

'São Coisas Nossas' é, portanto, uma ode ao samba e à vida simples, celebrando a cultura e a identidade brasileira através de suas figuras e cenários mais autênticos. Noel Rosa, com sua habilidade lírica, consegue capturar a essência do Brasil e transmitir um sentimento de orgulho e pertencimento. Através de metáforas e referências culturais, ele pinta um retrato vibrante e autêntico do Brasil dos anos 1930.

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