terça-feira, 18 de junho de 2024

Arthur Thomaz (Perfume da saudade)


A brisa, resvalando nas brancas flores das azaleias, sussurrou teu nome. Tentando evitar a dor, fingi não ouvir, mas algo mais forte levou-me até o jardim. 

Nessa hora, o perfume da saudade impregnou meu coração, posto que é composto de essências de tormentosas paixões. 

Este inebriante aroma fixou-se indelevelmente em meu fragilizado espírito. Imediatamente, minhas amargas lembranças vieram à tona. O esforço para não chorar e não gritar esvaiu minhas forças, e neste instante, cada pedaço de minha alma transformou-se em um poço de dor.

Desesperado, gritei teu nome e nem o eco respondeu. Tentei afastar a imagem de nossos corpos abraçados, mas cada vez mais sentia que os teus braços me apertavam.

Despertei algum tempo depois, abraçado à uma touceira da alva azaleia, solitário e infeliz, rescendendo ao cruel perfume da saudade.

Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor 

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