Trova Humorística de de Maringá/PR
ELIANA PALMA
Corpo mole, mal antigo,
não é dengue nem catiça*...
O seu mal, meu velho amigo,
é excesso de preguiça.
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* Catiça = mau olhado.
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Poema de Maringá/PR
JORGE FREGADOLLI
João-de-barro, engenheiro da floresta
Feliz é o joão-de-barro,
constrói em qualquer lugar.
Ninguém, pois, lhe tira o sarro,
não lhe vai incomodar!
João-de-barro é engenheiro,
doutor pela natureza.
Porém, trabalha o ano inteiro…
sua casa, que beleza!
Um passarinho de nada
faz as casas em paineira.
Não tem diploma, que nada,
neste palco ele gorjeia!
João-de-barro, inteligente,
nem estudou – quem diria!
É arquiteto, docente,
um mestre em engenharia!
Não tem medo, se o tivesse,
não faria belo ninho.
Deus, ouvindo sua prece…
joão-de-barro, passarinho!
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Aldravia de Juiz de Fora/MG
CECY BARBOSA CAMPOS
estrelas
choram
lágrimas
prateadas
lamentando
ausências
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
RITA MOUTINHO
Soneto da clareação do breu
Anos a fio, busco os ancestrais
desta angústia que sinto — precisão
de entender os contornos de entes duais
que se amam no ar e não no esteio-chão.
Interno-me no breu. Não saturnais,
temos, porém, orgíaca união
quando nos encontramos nos beirais
das palavras melífluas da emoção.
Preciso saber se fui real amada,
se se aplicam os vernáculos "amante"
e "amor" na nossa história. A alma apurada
exige este radar na madrugada.
Depois de anos, — serena concludente —
posso dizer que somos mago e fada!
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Trova Premiada em Pouso Alegre/MG, 2004
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
São maridos mais leais
os de agora... quem diria?...
- É que manter “filiais”
sai muito caro hoje em dia!
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Poema de Maringá/PR
JOSÉ USAN TORRES BRANDÃO
O médico
Entre quatro paredes, seu mundo restrito
De grandes emoções, suas horas, dia-a-dia
Aliviar a dor, salvar vidas, está escrito
Sua missão, um sacerdócio sem hipocrisia.
Marcas do tempo, cedo batem à sua porta
Esclerose, enfarte, cansaço, depressão
Seu lar, que não é seu ninho, teme sua sorte
Médico, imagem tão mudada neste mundo cão.
Já não se fala dele como ser superior
Hoje, nome desgastado, luta pra viver
Como qualquer ser, anônimo, sem valor
Num mundo de mercado em que mais vale ter.
Médico, operário de Deus, salvando vidas
Também chora, também ama e também sonha
Na sua labuta com alma e corpo, suas feridas
Leva uma existência bem tristonha.
Não é sem luta que ele ganha fama
Nem é na flor que ele vê espinho
Num pedestal também joga-se lama
Médico, não ligues, segue o teu caminho.
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Quadra Popular de S. Domingos de Rana/Portugal
JOÃO BAPTISTA COELHO
Foi por não ter ido à escola
com a atenção que é devida,
que ando, hoje, a pedir esmola
na outra escola : a da Vida.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
MANUEL BANDEIRA
(Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho)
Recife/PE, 1886 – 1968, Rio de Janeiro/RJ
Inscrição
Aqui, sob esta pedra, onde o orvalho roreja,
Repousa, embalsamado em óleos vegetais,
O alvo corpo de quem, como uma ave que adeja,
Dançava descuidosa, e hoje não dança mais...
Quem não a viu é bem provável que não veja
Outro conjunto igual de partes naturais.
Os véus tinham-lhe ciúme. Outras, tinham-lhe inveja.
E ao fitá-la os varões tinham pasmos sensuais.
A morte a surpreendeu um dia que sonhava.
Ao pôr do sol, desceu entre sombras fiéis
À terra, sobre a qual tão de leve pesava...
Eram as suas mãos mais lindas sem anéis...
Tinha os olhos azuis... Era loura e dançava...
Seu destino foi curto e bom... — Não a choreis.
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Trova de Maringá/PR
OLGA AGULHON
Quanto sonho não vivido
do jeito que foi sonhado!
Mas tudo tem mais sentido
quando, enfim, é conquistado.
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Poema de Santos/SP
CAROLINA RAMOS
A grande mestra
Não temas que o Destino te atraiçoe
pondo pedras demais no teu caminho.
Usa as pedras que acaso ele te doe,
e, ao construir, não estarás sozinho!
Se Deus te deu a luz da inteligência
e o poder de ir e vir em liberdade,
tens o solo, a semente e, com paciência,
um dia hás de colher felicidade!
Não creias, por temor e covardia,
que só o Destino teu porvir decida!
– Destino tu constróis, a cada dia!
E a Grã Mestra da Obra é a própria Vida!
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Haicai de Curitiba/PR
MÁRIO ZAMATARO
Escrevi na terra
o mesmo que li nas nuvens…
O vento espalhou!
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Sextilha de São Simão/SP
THALMA TAVARES
Que o meu canto converta todo pranto
na mais viva certeza de bonança
no semblante do irmão desesperado
e nos olhos ansiosos da criança.
De outro modo meu canto faz-se estéril,
sem os sons que dão vida e esperança.
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Trova de Maringá/PR
JEANETTE DE CNOP
Enorme sabedoria
vem nesta simples lição:
doar afeto e alegria,
pra burlar a solidão.
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Glosa de Fortaleza/CE
NEMÉSIO PRATA
MOTE:
As minhas mãos calejadas
plantam sementes de amor,
que nascem e são cuidadas
e se transformam em flor!
Arlene Lima
Maringá/PR
GLOSA:
As minhas mãos calejadas
na semeadura do Amor
serão sempre abençoadas
pelo Sumo Lavrador!
Todos que no seu canteiro
plantam sementes de Amor
colherão, o ano inteiro,
os frutos do seu labor!
Quando fizeres lavradas
planta sementes de Amor,
que nascem e são cuidadas
pelas mãos do Criador!
As sementes mais assentes
são as sementes de Amor;
formam rebentos latentes
e se transformam em flor!
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Aldravia de Dores do Rio Preto/ES
CIMAR PINHEIRO
saudade
estrada
comprida
distância
desencontros
esperança
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Rondel** de Novo Hamburgo/RS
DENISE SERVEGNINI
Arrependimento
Chama intensa de amor que ainda arde
Num coração sem respostas finitas
Bate, descomposto, fazendo alarde
Nas tormentosas nuvens que habitas
Tu não sabes das alegrias benditas
Nem queres entender, esta verdade:
Chama intensa de amor que ainda arde
Num coração sem respostas finitas
Para teres tanta dor, fui covarde
Que te fiz? Foram ações malditas?
Abandonei-te! Querida, será tarde?
Teu jeito mulher, em mim, incitas
Chama intensa de amor que ainda arde.
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Trova Premiada em Nova Friburgo/RJ, 2005
DILVA MARIA DE MORAES
Rio de Janeiro/RJ
Preenchi a tua vida:
fui musa, amante, modelo.
Mas, hoje, a minha partida…
resiste a qualquer apelo!
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Poema de Maringá/PR
JAIME VIEIRA
Quem me dera
este azul do céu
ainda me envolve,
este sol tecendo
a tarde me comove.
outra noite lá fora,
quem me dera
devolver estrelas
à escuridão do agora!
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Triverso de Londrina/PR
DOMINGOS PELLEGRINI
Tem visita que nem senta
tem visita que acampa
visita que seca avenca
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Spina de São Paulo/SP
RONNALDO DE ANDRADE
Paixão desvairada
Perdido nesse seu
encanto de gueixa
eu ando cantando.
O tempo vai passando, passando,
qual aqueles ponteiros de relógio:
um mais devagar, quase parando,
o outro prosseguindo com rapidez,
parece uma roda: girando, girando!
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Trova de São Jerônimo da Serra/PR
DÉSPINA ATHANÁSIO PERUSSO
Belo e vetusto pinheiro!
Tão alto... é grande a distância...
foi meu leal companheiro
nos doces anos da infância...
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Dobradinha Poética* de Bandeirantes/PR
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Resgate
Sem te esquecer, este amor,
num desvario sem fim,
quer atrair teu calor
para bem junto de mim…
Ah! Deste amor quero espalhar mil rastros
reverdecidos, por todo este chão…
Irrefreável, tendo em mira os astros,
voarei confiante em pertinaz paixão!
Ah! Neste amor implantarei meus lastros,
ladeá-lo-ei com vigas da emoção;
da justa posse empilharei cadastros
onde discorro, dele, a apropriação…
Com perspicácia em mim prosseguirá,
a sua luz, no espaço espargirá,
no meu transcurso à celestial morada…
Habilidoso, irá juntando aos passos
ode infinita, que atrairá teus braços:
– tua serei… a eterna namorada!…
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* Dobradinha poética = trova e soneto
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Poetrix de Porto Alegre/RS
ISIARA CARUSO
queimada
na mata o fogo corre
a floresta extingue
a terra morre.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
OLAVO BILAC
(Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac)
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
Música Brasileira
Tens, às vezes, o fogo soberano
Do amor: encerras na cadência, acesa
Em requebros e encantos de impureza,
Todo o feitiço do pecado humano.
Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza
Dos desertos, das matas e do oceano:
Bárbara poracé*, banzo africano,
E soluços de trova portuguesa.
És samba e jongo, xiba e fado, cujos
Acordes são desejos e orfandades
De selvagens, cativos e marujos:
E em nostalgias e paixões consistes,
Lasciva dor, beijo de três saudades,
Flor amorosa de três raças tristes.
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* Poracé = arrasta-pé, baile
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Trova de Maringá/PR
NILSA ALVES DE MELO
Se alguém vires paradão,
não vás fazendo premissa.
- Anemia, amarelão,
se confundem com preguiça.
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Poema de Maringá/PR
ANTONIO MÁRIO MANICARDI
Tormento da Noite
Quantas noites
eu passo acordado
com os olhos fechados
e o sono não vem!…
Nesta horas
que a tristeza invade
eu sinto saudade
do meu querido bem.
Tormento da noite
me deixa nervoso
meu ser amoroso
me maltrata assim!…
Se acaso adormeço
o sono é um lampejo
eu sinto que A vejo
bem junto de mim.
Estribilho:
Vem, vem querida
nestas noites tristonhas que eu passo
vem em sonho trazer-me guarida
vem em sonho dormir nos meus braços.
Eu falo com ela
nos sonhos que faço
aperto-a em meus braços
com tanta emoção
se acordo de novo
com tristeza a chamo
a mulher que amo
não esqueço não.
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** O Rondel é um gênero de poesia francesa. Sua forma é sempre a mesma, não varia nunca. É formado por duas estrofes de quatro versos e uma de cinco versos, nesta mesma ordem. Pela maneira que é estruturado, o Rondel irá sempre ter apenas duas rimas. As rimas são: ABAB/BAAB/ABAB.
Tem uma peculiaridade que é o seguinte: os dois primeiros versos da primeira quadra vão ser os dois últimos versos da segunda quadra.
Temos que cuidar ainda, que o primeiro verso da primeira quadra será o último verso do poema (da estrofe de cinco versos).
A preferência do versos é de sete ou oito sílabas poética(não é rígido).
(Fonte: Dicionário InFormal http://www.dicionarioinformal.com.br/rondel/)
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