sábado, 29 de junho de 2024

Vereda da Poesia = 48 =

 

Trova Humorística de Bandeirantes/PR

CAROLINE PORTUGAL

Pelado, o fantasma chora,
e ao amigo, lamentou:
- A malvada foi embora,
e até meu lençol levou!
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Soneto de Volta Redonda/RJ

ANTÔNIO OLIVEIRA PENA

Tema antigo

Há teu perfume aqui, há tua imagem
entrando pela porta, alegre e doce,
e enchendo-me de luz, como se fosse
o sol das almas, sobre a paisagem.

Quem me dera, entretanto, aqui chegasses
de fato, ó meu amor, e — bela e calma —
me dissesses aquilo com que a alma
então tu me encherias, mais as faces,

dessa alegria própria de alguns poucos,
tão natural e boa, que eu invejo...
Ah! por que é que sonho eu? não me contento

com teus imaginários passos loucos,
com o teu vulto, próximo de um beijo,
mas que desfaz, de súbito, o vento?...
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

ELISA FLORES

olhos
debruçados
molham
rios
que
transbordam
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Soneto do Maranhão

GONÇALVES DIAS
(Antônio Gonçalves Dias)
Caxias, 1823 – 1864, Guimarães

Doce Amor

Doce Amor — a sorrir-se brandamente
Em sonhos me falou com tal brandura,
Que eu só de o escutar vida mais pura
Senti coar-me n'alma fundamente.

Depois tornou-se o tredo fogo ardente
Que o instante, o ano, a vida me tortura.
Bem longe de gozar tanta ventura,
Cresta-me o rosto agora o pranto quente.

Homem, se homem és no sentimento,
Não zombes, não, de mim tão desditosa,
Nem seja o teu alívio o meu tormento.

Deixa-me a teus pés cair chorosa,
Soltar no extremo pranto o extremo alento,
Que eu morrendo a teus pés serei ditosa.
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Trova Premiada em Natal/RN, 1996

EDUARDO TOLEDO 
(Pouso Alegre/MG)

Abro a janela e a neblina
lacrimeja na vidraça...
A saudade dobra a esquina,
entra no quarto... e me abraça!
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Poema de Maia/ Porto/ Portugal

JOSÉ CARLOS MOUTINHO

Os meus poemas

Os meus poemas são pedaços da minha lua,
Que iluminam as palavras que a minha alma escreve;
São as minhas ilusões beijadas pelo papel onde se inserem!
Os meus poemas, são letras levadas no vento,
Para onde me leiam,
Eles levam o meu sentir,
Para além do meu ser;
Nas emoções que se perdem no infinito!
Os meus poemas têm no teu olhar o sentimento,
Do meu beijo da saudade em ti;
A ausência das palavras cantadas,
São a tristeza que os meus poemas choram!
Os meus poemas, são o murmúrio doce,
Das águas que beijam o leito do rio,
Na corrida para o mar;
Os meus poemas podem ser inventados ou vividos
Com musa ou sem ela,
Mas todos brotam,
Do mais profundo da minha alma!
Os meus poemas, podem não ser bons poemas,
Mas são a vibração da minha paixão,
  No amor entre a alma e o coração.
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Quadra Popular

O coração e os olhos
são dois amantes leais,
quando o coração tem penas
logo os olhos dão sinais.
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG, 1902 - 1987, Rio de Janeiro/RJ

Para Sempre 

Por que Deus permite
que as mães vão se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não se apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.

Por que Deus se lembra
- mistério profundo - 
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
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Trova de São Paulo/SP

MARIA HELENA CALAZANS DUARTE

Sem brinquedo, a sós na rua,
pede a criança, baixinho:
"Senhor Deus, me empresta a lua
para brincar um pouquinho".
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Poema de Geórgia/Russia

VLADIMIR MAYAKOVSKY
(Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky)
Geórgia, 1893 - 1930, Moscou 

Voo Noturno

Tenho muito medo
das folhas mortas,
medo dos prados
cheios de orvalho.
eu vou dormir;
se não me despertas,
deixarei a teu lado meu coração frio.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!

Pus em ti colares
com gemas de aurora.
Por que me abandonas
neste caminho?
Se vais muito longe,
meu pássaro chora
e a verde vinha
não dará seu vinho.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!

Nunca saberás,
esfinge de neve,
o muito que eu
haveria de te querer
essas madrugadas
quando chove
e no ramo seco
se desfaz o ninho.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!
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Haicai de Santos/SP

JUAREZ MATIAS NASCIMENTO 

Flores sobre a mesa –
O pouso da borboleta
E o olhar da criança.
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Sextilha de São Simão/SP

THALMA TAVARES

Eu feri minhas mãos colhendo rosas,  
mas valeu a alegria de colhê-las,
de aspirar seu perfume delicado
e à mulher bem amada oferecê-las...
Ver depois, em seus olhos, a alegria
e na luz desses olhos, as estrelas. 
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Quantos guris sem infância,
num abandono completo,
rolam no mundo, à distância
do pão, do livro e do afeto!
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA CRISÓSTOMO

MOTE:
Eu sinto a fé me envolvendo
sempre que eu consigo ver
a esperança renascendo 
em um novo amanhecer!
José Feldman 
(Campo Mourão/PR)

GLOSA:
Eu sinto a fé me envolvendo
dando-me força e vigor 
para seguir sempre crendo 
em Deus, e no Seu amor! 

Neste mundo tão horrendo 
sempre que eu consigo ver
um milagre acontecendo,
mais em Deus eu passo a crer!

Deus continua fazendo 
milagres, pra nos mostrar 
a esperança renascendo 
todo dia..., é só esperar! 

Deus agora está dizendo: 
creia em Mim e espere ver 
Meu milagre acontecendo
em um novo amanhecer!
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Aldravia de Belo Horizonte/MG

ELZA AGUIAR NEVES

o
céu
cinzento
derrama
translúcidos
cristais
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Soneto Santos/SP

MARTINS FONTES
(José Martins Fontes)
1884 – 1937

Existir é sentir

Mais do que à própria vida, deveremos
Amar a Vida em sua plenitude.
A inconstância no amor não condenemos,
Porque esta falta pode ser virtude.

Ser fiel a um amor, se nunca o pude,
Fui ao Amor fiel, nos seus extremos:
Este, sendo imutável, não ilude,
E os desvios daquele são supremos...

Seja a forma de amor que se pressinta,
Por mais tênue, mais tímida e indistinta,
Deve-se bendizer, sem comparar.

Como a ausência produz o desengano,
Sobrenobrece o coração humano
Ser inconstante, sem deixar de amar.
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Trova Premiada  em Natal/RN, 2001

JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO 
Vila Nova de Famalicão/Portugal, 1922 – 2004, Rio de Janeiro/RJ

O furor de uma queimada
não queima a mata somente,
queima a terra semeada,
a fauna e a vida da gente!...
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Poema de Torres Vedras/Portugal

AMADEU FELICIANO

Estrada exata

no meio da estrada
exata e fatal
corpos decepados
estendem as mãos
imploram resposta
adiada sempre

velozmente passa
quem teima passar
procurando ínscios
o fim da estrada
exata e fatal

os motores roncam
daqueles que passam
mudos os outros
daqueles que ficam
no meio da estrada
exata e fatal

ser permanecer ficar
pedem qualquer coisa
relacionada com o sujeito
que ficou sem resposta
no meio da estrada
exata e fatal
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Triverso de de Santos/SP

MAHELEN MADUREIRA 

Manhã de sol –
Na praia os caminhantes
Também as libélulas.
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Setilha de Porto Alegre/RS

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Com nosso sonho profundo
seremos sempre criança
com nossas almas poetas,
cheias de amor e de esperança
onde nasce, a cada dia,
uma nova fantasia
que deixaremos de herança!
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Trova do Príncipe da Trova

LUIZ OTÁVIO
(Gilson de Castro)
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP+

Bondade!... Bem pouca gente
quer imitar as raízes,
que luta, secretamente,
fazendo as rosas felizes!
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Hino de Barra Mansa/RJ

Compositor: Henrique Zamith

Vivo seja teu nome esculpido
No granito das rochas sem par,
E por todos co'amor repetido,
Com preces diante do altar!
Cada lábio o murmure e um hino
Ele seja e o suave penhor
Dum afeto tão grande e divino,
Tão sublime e mais puro que o amor!

Barra Mansa! Barra Mansa!
Glória a ti! Hosana mil!
Lembras suave esperança
Num recanto do Brasil!

Tua glória, fulgindo brilhante,
Com mais vivo fulgor e mais luz,
Repercute no vale distante,
Vai além desses céus mais azuis!
Vai além desses montes e fala
Da existência de um povo a lutar,
Do teu povo feliz, que se iguala
aos titãs no feroz batalhar!

Barra Mansa! Barra Mansa!
Glória a ti! Hosana mil!
Lembras suave esperança
Num recanto do Brasil!

O teu nome também nos recorda
Um murmúrio suave, um perdão,
Um carinho que terno transborda
De teus filhos no teu coração!
Ele lembra também a meiguice,
À beleza, a grandeza moral
Das mulheres que tens, a ledice
À pureza sem par de Vestal!

Barra Mansa! Barra Mansa!
Glória a ti! Hosana mil!
Lembras suave esperança
Num recanto do Brasil!

Do criador, já a mão justiceira
Teu destino no tempo traçou...
Barra Mansa, serás a primeira
Pelos bens que o Senhor te doou!
Cada etapa vencida em peleja
Traga sempre uma glória melhor,
Uma glória mais santa e que seja,
Entre todo o triunfo o maior!

Barra Mansa! Barra Mansa!
Glória a ti! Hosana mil!
Lembras suave esperança
Num recanto do Brasil !
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Poetrix de Curitiba/PR

MARILDA CONFORTIN 

A outra

hoje, uva
amanhã, passa 
Eu, vinha.
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Soneto de São Paulo/SP

COLOMBINA 
(Yde (Adelaide) Schloenbach Blumenschein)
1882 – 1963

Episódio 

O reflexo do ocaso ensanguentado
dourava ainda aquele fim de dia . . .
De um frasco de cristal, mal arrolhado,
um cálido perfume se esvaía...

Junto ao teu corpo nu, convulsionado,
que de desejo e de volúpia ardia,
o meu corpo, nessa hora de pecado,
uma ânfora de gozo parecia.

Na quietude da tarde agonizante
um beijo prolongado, delirante,
a flama da paixão veio acender...

E toda a minha feminilidade
era uma taça de sensualidade
transbordante de vida e de prazer!
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Trova Humorística de São Paulo/SP

ZAÉ JR.
(Zaé Mariano Carvalho de Nascimento Júnior)
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Vendo-a grávida, ele diz:
– Homem? Mulher? Que vai ser?
E ela responde... feliz:
– Ele resolve... ao crescer!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O burro vestido com a pele do leão

Quebrando a peia,
Fofo sendeiro
Fugiu ao dono,
Que era moleiro;
Dentro de um bosque,
O fanfarrão
Achou a pele
De alto leão;

Em toda a parte
Dela vestido,
Por leão fero
Era temido;
Homens e brutos
O respeitavam,
Fugiam logo
Que o divisavam:

Mas das orelhas
Uma pontinha
De fora ao burro
Ficado tinha;
Foi vista acaso
Pelo moleiro,
Que julgou logo
Ser o sendeiro;

Indo-lhe ao lombo
Com um cajado,
Puniu o arrojo
Do mascarado;
Do tolo rindo,
Despiu-lhe a pele,
Pos-lhe uma albarda
E montou nele.

Tal entre os homens
Mil se conhecem,
Os quais são uns,
E outros parecem.
Despem-lhe a pele
Que os faz troantes,
Ficam sendeiros
Como eram dantes.
(Tradução: Curvo Semedo)
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Colaborações: gralha1954@gmail.com

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