sexta-feira, 21 de junho de 2024

Vereda da Poesia = 40 =

 

Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Ao operar seu nariz
perdeu um olho, o Batista.
Vem outro louco e, então, diz
que o pagamento era... a vista!
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Soneto de Manaus/AM

ANIBAL BEÇA
(Anibal Augusto Ferro de Madureira Beça Neto)
(1946 – 2009)

Soneto com Estrambote Enviesado

Alfaiate de mim costuro a roupa
que cabe ao figurino que me coube.

Só meu verso protege essa amargura
desfiada de dia ao sol veloz,
para à noite tecer nova textura,
novelo de silêncio ao rés da voz.

Enxoval construído nessa usura
solitária de andaimes, num retrós
de linha vertical, que se pendura
na pênsil teia atada, fio em foz

desse rio agulha que me costura
ao rendilhado de águas tropicais,
que sabe de saudades no meu cais.

Viageiro de uma sanha que me traz
sempre de volta ao tear do meu destino
na seda depressiva me assassino.
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Aldravia de Brasília/DF

BENEDITO PEREIRA DA COSTA

lua
estrelas
mar:
eu
e
você
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Soneto de Recife/PE

MAJELA COLARES

O soldador de palavras

Fazer poemas é soldar palavras,
fundir o signo – literal sentido -
do verbo frio, transformado em chama,
aceso verso, pensado e medido

sob a moldura da expressão intensa
fingem palavras um som mais fingido
além, no ocaso, da sintaxe extrema,
fuga do verbo não mais definido.

Criado o texto, com ideia e tinta,
forma e figura na linguagem extinta,
quebrando regras de comuns fonemas.

A ideia é fogo. Fogo… o verbo aquece.
A tinta é solda que remenda e tece
versos, metáforas e, por fim, poemas.
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Trova Premiada em Petrópolis/RJ, 2003

MOACYR SALLES 
Brasília/DF

Numa aposta de carreira,
usa a mentira os atalhos.
A verdade chega inteira,
chega a mentira aos frangalhos.
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Poema de Maceió/AL

LYGIA MENEZES

Sonho

Ou foi sonho ou foi loucura,
Dizê-lo bem, nem eu sei.
Sei que apenas uma criatura...
Amei.

E foi tão grande e divino
O grande amor que senti...
Que querendo fugir do meu destino
Sofri.

Sonho lindo! Amor risonho!
Onde me levas? Aonde vais?
— Quem me dera que esse sonho
Não se acabasse nunca mais!...
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Quadra Popular

Amar e saber amar
são dois pontos delicados:
os que amam, são sem conta:
os que sabem, são contados.
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Soneto de Porto Alegre/RS

IALMAR PIO SCHNEIDER

Da Condição Humana

Jamais eu te direi que estou feliz
e me reservo agora este direito
de sofrer por aquilo que não fiz,
pois este é o meu destino e assim o aceito.

Não quero que me julgues satisfeito
e nem tampouco um mísero infeliz,
o meu caminho embora seja estreito
tem amplitudes que sonhei e quis.

Se desejarmos merecer a vida
profundamente além da concebida
iremos naufragar em dissabores…

Por isso aonde eu for e aonde fores
não é preciso conseguir extremos:
sejamos o que somos e seremos… 
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Trova de Curitiba/PR

MÁRIO ZAMATARO

Não há lágrima no pranto
“chorado” numa viola,
mas notas de um desencanto
que a lágrima não consola.
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Poema de Jaú/SP

ANGÉLICA TURINI FERREIRA

Neste labirinto que se chama terra,
que se chama cérebro
que se chama vida,
há estruturas complexas
fragmentos bíblicos
notícias escorrendo…

Pés sangrando.

Dragões alados
alfaias
palavras que se perdem
eis o resultado da meditação!
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Triverso de de Santos/SP

MAHELEN MADUREIRA 

Manhã de sol –
Na praia os caminhantes
Também as libélulas.
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Sextilha de Curitiba/PR

VANDA FAGUNDES QUEIROZ

Não revelo meu segredo,
se temo ventos ao léu…
Relâmpago é luz que acende;
se um trovão faz escarcéu,
eu penso: é festa de arromba
dos anjinhos, lá no céu!
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Trova de Corumbá/MT

RUBENS DE CASTRO

Você já foi escolhida
para ser, em meu caminho...
na Santa Ceia da Vida,
meu Céu... meu Pão... e meu Vinho!
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

MOTE: 
O beco é tão estreitinho, 
lá onde mora o Janjão, 
que da janela o vizinho 
cumprimenta dando a mão!
Jorge Murad 
Rio de Janeiro/GB, 1910 – 1998

GLOSA: 
O beco é tão estreitinho, 
que Janjão, sempre, ao cruzar, 
de manhã, com seu vizinho, 
tem que nele se esfregar! 

Tem um beco tão estreito 
lá onde mora o Janjão, 
que ninguém passa direito 
sem levar um esfregão! 

Janjão curte estar sozinho, 
mas o beco é tão estreito 
que da janela o vizinho 
vê tudo. Quem vai dar jeito? 

Pense num beco estreitinho, 
este, onde mora o Janjão; 
que, ao sair, o seu vizinho 
cumprimenta dando a mão!
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Aldravia de Juiz de Fora/MG

CECY BARBOSA CAMPOS

Nuvens
passantes
escondem
estrelas:
tímidas
top-models
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Soneto de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI

Ao Poeta

Imprime a tua lavra no papel,
teu sentimento expõe, sem medo, ali;
junta ao mover das cores, com cinzel,
a agilidade dada ao colibri!

Desliza os versos, sem pensar, ao léu,
revela tudo o que se esconde em ti,
pois tu consegues ir do inferno ao céu,
falar de amor com calma ou frenesi!

Depressa, enxuga as lágrimas do pranto,
põe na poesia o mais doce acalanto,
no sonho, o reflorir da primavera!…

Com teu cantar, que fica, além da vida,
podes curar, do amor, muita ferida,
com teu ressoar de vozes da quimera!…
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Trova Premiada de Bauru/SP

EULINDA BARRETO

Passaste por minha vida
e eu escrevi nossa história…
na página envelhecida
eu te prendi… na memória!
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Sonetilho de de Mogi-Guaçu/SP

OLIVALDO JÚNIOR

Num quartinho, sem ninguém…

Num quartinho, sem ninguém,
dorme o moço de Pasárgada,
sonha um homem que não tem
mais ninguém na madrugada.

Num quartinho, sem ninguém,
pousa o pássaro em jornada,
com jornais que não se leem
nestas margens da pousada.

Não tem sono, mas viola,
nota a nota, um violão,
com mil coisas na cachola...

Cão sem dono, pede esmola,
porta a porta, com seu cão
e, sozinho, os seus amola.
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Triverso de Curitiba/PR

ROSALVA FREITAS BRÜSCH

Vento de inverno
Folheou o meu livro
E não leu nada.
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Setilha sobre o Mar, de Ipu/CE

GONÇALO FERREIRA DA SILVA
.
Quando vejo o mar viajo
No doce rumorejar
A saudade evanescente
Como ao ouvido ditar:
Poeta a sua saudade
Recorda a necessidade
De novo retorno ao mar.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

ADELMAR TAVARES
(Adelmar Tavares da Silva Cavalcanti)
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ

O perfume do teu lenço
trago comigo na mão.
Mas o cheiro da tua alma,
dentro do meu coração.
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Acróstico de Belo Horizonte/MG

SÍLVIA MOTTA
(Sílvia de Lourdes Araujo Motta)

Coração de Férias
(Acróstico da desilusão Nº 5087)

Coração está quase a parar...
O ritmo sem motivação fez
Requerimento de férias
Amorosas e, sem ilusão
Cessou até de sonhar...
Agora, está vazio de emoção!
O tempo não quer parar!
 
Deixei o relógio cair ao chão
nem assim ele quebrou...
 
Felicidade não há na solidão!
É triste chorar sozinho no canto...
Recordando de tanta decepção!
Inaceitável ausência de carinho!
As férias estão em meu peito,
Sinto-me desfalecer deste jeito!
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Poetrix de Campo Grande/MS

ÉVANES PACHE

sobre a mesa
velas acesas
emprestam luz à sobremesa.
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Soneto de Sorocaba/SP

DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Soneto à Trova

Atrai-me um bom poema modernista,
embora eu mais o sinta como prosa;
por mais encanto nele, à minha vista,
é como se faltasse aroma à rosa.

Poesia clássica... há quem lhe resista,
dizendo que é cerceada e artificiosa.
Não é verdade; o poeta nasce artista,
brunir seu verso é lide venturosa.

Por isso à trova eu mais me delicío;
a rima, o metro, o ritmo, o desafio
de dizer tudo em quadra pequenina...

Para cumprir tão exigente prova
e compor essa joia que é uma trova,
certamente nos guia... mão divina.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Nas costas, leva a criança
seus livros numa sacola;
nos olhos, leva a esperança
como colega de escola!
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Poema de Cruz Alta/RS

JUÇARA VALVERDE
(Juçara Regina Viégas Valverde)

Noite

Na penumbra da noite,
desfio lembranças.
Escondidos sonhos afloram,
Despertam-me,
insone percebo a amplidão.

O cheiro da noite que a brisa trás
suavemente embala a vida.
Acalento recordações,
fantasias deliram
no passar das horas.

Surge a manhã.
Anunciado, vem o sol,
afaga as montanhas,
acaricia o mar
e me desperta.

Sigo dia adentro
entre bruma e sol,
fantasmas em despedida.
E a cada novo momento,
dispo-me
e livre
vou desfrutar o dia.

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