sexta-feira, 14 de junho de 2024

Vereda da Poesia = 33 =


Trova Humorística do Ceará

ALOÍSIO BEZERRA
Massapê/CE, 1925 – ????, Fortaleza/CE

- Ao andar, sinto cansaço.
Que me aconselha, doutor?
- Nenhum remédio lhe passo,
só tome um táxi, senhor!

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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)

Apenas um menino 

Queria me tornar uma criança
Diante da tristeza que há no mundo,
Sem precisar usar minha esperança
E nem me entristecer em um segundo. 

Queria ter nos olhos a inocência...
No coração, a chama da bondade
E não saber o que é intransigência,
Nem arrogância, medo...ou maldade. 

Queria a pureza de um menino
Sorrindo para o gesto pequenino
De um outro menininho... nada mais. 

Assim, num novo mundo eu viveria,
Criando sempre nova fantasia
Diante da magia que há na paz
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

MARILZA DE CASTRO

Solicitude
lícita
se
verdadeira
atitude
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Soneto de São Paulo

FRANCISCA JÚLIA
(Francisca Júlia da Silva Munster)
Eldorado/SP (antiga Xiririca) 1874 –  1920, São Paulo/SP

Rainha das águas 
(a Alberto de Oliveira)

Mar fora, a rir, da boca o fúlgido tesouro
Mostrando, e sacudindo a farta cabeleira,
Corta a planura ao mar, que se desdobra inteira,
Na esguia concha azul orladurada de ouro.

Rema, à popa, um tritão de escâmeo dorso louro;
Vão à frente os delfins; e, marchando em fileira,
Das ondas a seguir a luminosa esteira,
Vão cantando, a compasso, as piérides em coro.

Crespas, cantando em torno, as vagas, à porfia,
Lambem de popa à proa o casco à concha esguia,
Que prossegue, mar fora, a infinda rota, ufana;

E, no alto, o louro sol, que assoma, entre desmaios,
Saúda esse outro sol de coruscantes raios
Que orna a cabeça real da bela soberana.
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Trova Premiada de Bauru/SP

ERCY MARIA MARQUES DE FARIA

Relendo o livro da vida
quando a solidão me invade,
em cada página lida,
sempre encontro uma saudade…
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Poema de São Paulo/SP

SOLANGE COLOMBARA

Talvez a velha saudade
seja apenas um embalo
do vento olhando a lua.
O rascunhar de um poema
nas estrelas, o sorriso
desenhado, o pranto solto,
quem sabe o doce bailar
das águas idolatrando
o amor, cálido, sereno,
na sua poesia nua.
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Quadra Popular de Olhão/Portugal

DEODATO PIRES

Quer tenha ou não tenha sorte
na vida que Deus lhe deu,
não pode fugir à morte
todo aquele que nasceu.
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Soneto de Lisboa/Portugal

CARMO VASCONCELLOS

Sem lutos

De vós, amados, quero ao vos deixar:
sentidos poemas, flores, melodias,
riso e lembranças de felizes dias,
e sem lutos a minh’alma há-de voar.

E já volátil, há-de então acenar-vos 
a fina poeira, da ida e vã matéria,
depois... montada numa gota etérea,
hei-de baixar na chuva a visitar-vos.

Porém, se alguns de vós eu vir chorosos,
pérola d’água, os olhos lavarei
aos que em saudade mostram olhar fosco.

E pra secar os olhos lacrimosos,
flamas ao sol brilhante roubarei...
Que amar-vos não será chorar convosco!
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Trova de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

Descendo esta escadaria
Onde ela vai me levar?
Se eu soubesse eu desceria;
Como não sei, vou ficar!
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Poema de Portugal

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN
Lisboa, 1919 – 2004, Porto

Quero

Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro comtemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.
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Haicai de Serra/ES

HUMBERTO DEL MAESTRO 

Três dias de chuva:
No terreno alagadiço
Concerto de rãs.
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Sextilha de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

No momento da triste despedida
todo mundo que fica se apavora,
fica  alguém soluçando na calçada,
na janela, quem fica também chora;
é o instante mais triste desta vida
quando alguém diz adeus e vai embora!
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Trova de Ribeirão Preto/SP

RITA MARCIANO MOURÃO 

Bilhetes de amor... saudade
que a lembrança hoje cultua 
onde a tal felicidade
era o carteiro da rua!...
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Glosa do Rio Grande do Sul

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Carnaval Fantasia

MOTE:
Meu carnaval mais risonho,
foi aquele em que eu vesti
as fantasias de um sonho
que até hoje eu não vivi…
Elisabeth Souza Cruz 
(Nova Friburgo/RJ)

GLOSA:
Meu carnaval mais risonho,
cheio de felicidade,
eu lembro hoje entressonho,
numa forma de saudade.

Foi um tempo de alegria,
foi aquele em que eu vesti
a minha alma de poesia…
Disso, nunca me esqueci!

A todos, hoje eu proponho
viver muitas fantasias…
as fantasias de um sonho
não deixam as mãos vazias…

Quisera realizar
tudo aquilo que senti
e a grande emoção de amar
que até hoje eu não vivi…
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Aldravia de Vitória/ES

MATUSALÉM DIAS DE MOURA

paradoxo:
frente
fria
aquece
minha
alma
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Soneto do Rio de Janeiro

DANTE MILANO
Rio de Janeiro/RJ, 1899 -1991, Petrópolis/RJ

O espectro

O canto não imita a realidade
Como as palavras. Fica sobrevoando,
E da boca feroz se libertando,
Como o vôo de um pássaro, se evade.

Desaparece sem deixar saudade,
Perde-se na existência, como quando
A água de uma carranca borbotando
Se irisa em trêmula diafaneidade.

Não quero o sentimento que da treva
Do ser traz qualquer coisa de aflitivo,
Que quer ser voz e a voz profunda eleva,

Despertando um espírito latente
Que estilhaça os cristais num vingativo
Riso de espectro lívido e estridente.
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Trova Premiada em Maringá/PR, 2013

LICÍNIO ANTONIO DE ANDRADE 
Juiz de Fora/MG 

É no afago dos seus braços
que me enlaçam com calor,
que eu me esqueço dos cansaços
quando chego do labor.
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Poema de Santos/SP

CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP

Amo
(para Carolina Ramos)

Eu amo a lua, que me encanta, bela,
a ressaltar, da noite seus valores;
amo a cascata que borbulha espumas,
amo das brumas hibernais alvores,
Eu amo a brisa que suspira, calma,
deixando na alma o murmurar de amores;
amo dos astros o fulgente lume,
amo o perfume essencial das flores.
Eu amo tudo a que minha alma assiste,
tudo de belo que no mundo existe,
tudo que vibra em mim e amor requer.
Mas... se a tudo consagro um grande amor,
o que amo na terra com maior fervor,
é a inteligência, numa só mulher!
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Triverso do Rio de Janeiro/RJ

MILLÔR FERNANDES
(Milton Viola Fernandes)
1923 – 2012

Não tem nexo
Tudo é apenas
Reflexo
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Spina de Francisco Beltrão/PR

RICHARD ZAJACZKOWSKI

Violações 

Sedentos pela fonte,
ignoraram as leis.
Selaram seus destinos.

Emoções à flor da pele,
era tudo que eles anelavam.
Via-se que são bem ladinos.
Retiam eles, arte da astúcia
em enlevos de seres libertinos.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

A ciência hoje é um colosso, 
com tudo fora de centro: 
faz laranja sem caroço, 
gravidez sem filho dentro...
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Dobradinha Poética de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI

Fuga

De mim mesma eu quis fugir,
deixar a vida desdita,
mas sem saber aonde ir
curvei-me à sorte prescrita…

Fugir de insípida vida
por não ver outra saída,
quantas vezes desejei...
Fugir da espera sofrida,
do desamor, da partida,
aos quais não me acostumei.

Fugir, mas fugir de tudo,
do sofrimento desnudo,
do amor que em mim acordei..
Fugir da infelicidade,
deixar atrás a saudade,
que, sem querer, preservei.

Fugir de alguém que não vem,
que embora seja o meu bem,
nem sabe o quanto eu o amei.
Fugir da desesperança,
apagar toda lembrança
que em minha mente gravei.

Fugir desta solidão,
da amarga desilusão,
dos segredos que guardei.
Fugir do tempo inclemente,
do meu destino incoerente,
mas para onde?!... Não sei.

(Ninguém consegue fugir de si mesmo, 
nem da própria sorte.)
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Poetrix de Santo Antonio de Jesus/BA

RONALDO RIBEIRO JACOBINA

problemas, eis a questão

Não me envolvo em novelos:
Se posso resolve-los, resolvo, sem alaridos.
Se não, já estão resolvidos.
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Poema de Lisboa/Portugal

ANTERO JERÓNIMO

Figura sem estilo 

Ia eu pela rua, figura de estilo na lua
Sem siso, piso o piso molhado, mas que aliteração 
Escorrego numa inadvertida metáfora 
Por pouco não me estatelava no chão.
Podem pensar que é uma hipérbole 
Mas acreditem que não é exagero não 
É que até os pombos se riram
Na sua mais astuta personificação.
O meu joelho é que gemeu coitado
Desesperado com tanta falta de jeito
Pobre de mim, figura sem estilo.
Num mundo sem tino, valha o eufemismo
Um mundo que tropeça à beira do abismo.
Muito eu poderia discorrer sobre o assunto 
Mas já chega desta conversa fiada
As palavras são como as cerejas, valha-nos a comparação
Ainda bem que tive o bom senso, de não usar paralelismos nesta descrição.
Sacudo das vestes toda a ironia
E siga, pronto para mais um dia!
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Trova de Paranacity/PR

ANTONIO TORTATO

Este amor que te declaro
é tão puro e tão bonito
que, ao medi-lo, eu o comparo
à grandeza do infinito!
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Poema de Santos/SP

CAROLINA RAMOS

Conselhos de mãe

Meu filho, a vida é dura e fere... e nos magoa...
mas, trata-a com respeito e guarda a dignidade.
Ainda que a alma inteira sem clemência doa,
não permitas que o mal altere o que é verdade!

Sonha bem alto e segue o voo do teu sonho
sem pressa de alcança-lo e tendo-o sempre à vista!
Cada dia que passa é um dia mais risonho,
quando o amanhã promete as glórias da conquista!

“Segura a mão de Deus!” Segue o rumo sem medo.
Os caminhos, verás, se abrirão à medida
que teu passo provar firmeza e, sem segredo,
revelar o sentido e o Ideal da tua vida!

Não temas opressões nem quedas. Persevera!
Se achares que ao final o saldo não convence,
reage, continua... a vida tens à espera!
Confia em teu valor! Trabalha! Luta! E vence!

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