THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
Ao vir "de fogo" recua
gritando, após a topada:
- Que faz um poste na rua
às duas da madrugada?!
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Soneto de Santarém/Portugal
ARLETE PIEDADE
Enigmas de menino
Estou tão triste e revoltado com a vida
não sei porque me deixaram aqui sozinho
foi-se embora a minha mãezinha querida
agora ninguém mais me irá dar carinho...
esta manhã estava tanto gelo na estrada
minhas mãos ficaram de golpes a sangrar
meus pés descalços gretados lá na picada
cheios de bicos, pele dolorosa a queimar
meu estômago pequenino e vazio dói tanto
ninguém me acode nem enxuga meu pranto...
ah! Será que este é de verdade o meu mundo?
Venham me buscar! - Não sou deste recanto!
Imploro olhando o céu, com tal espanto...
medonha solidão, desespero tão profundo!
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ
LUIZ GONDIM
fui
letra
depois
palavra
agora
oração
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Soneto de São João da Barra/RJ
ANTONIO BRAGA
(1898 – ????)
Carro de Bois...
A pensar neste amor, nesta tarde cinzenta,
tão distante de ti - primavera gloriosa -
paira o meu triste olhar pela estrada poeirenta,
onde um carro de bois segue em marcha morosa.
Rola o carro a gemer nessa música lenta
que me faz recordar tanta coisa saudosa!
Velho carro de bois! O seu gemer aumenta
esta ânsia que me põe toda a alma dolorosa.
Eu invejo, afinal, esse carro gemente,
que parece ter alma e parece que sente
a tristeza do amor que palpita em nós dois...
Coração! Coração! A saudade é infinita.
E não podes gritar como esse carro grita,
e não podes gemer qual o carro de bois! . . .
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Trova Premiada em Bandeirantes/PR, 1965
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
Solidão, eu te bendigo!
À tua sombra querida,
eu marco encontro comigo
e acerto os passos da vida
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Poema de São Fidélis/RJ
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG
Saudade II
Saudade é tema batido
que tanto bate na gente!
E quanto mais se apanha
mais saudade a gente sente.
Ela chega de mansinho
como alguém que não quer nada,
entra em nós, constrói um ninho,
depois some de mansinho
deixando uma dor danada.
E essa dor tão dolorida
não há doutor que dê jeito.
Depois que entra no peito
é difícil resistir.
Fica inquilina da gente
e nunca mais quer partir.
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Quadra Popular de Porto/Portugal
EMILIA PEÑALBA DE ALMEIDA ESTEVES
Mãe é exemplo de amor
que nós na vida tivemos
e damos real valor
somente quando a perdemos.
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Soneto de São Paulo/SP
FILEMON FRANCISCO MARTINS
MORTE DA ÁRVORE
(Lendo o soneto ÁRVORE MORTA, do Padre Saturnino de Freitas)
Árvore triste, que ontem foi bonita,
Não tens mais ramos, frutos e nem flores,
Dos pássaros não és mais favorita
E não abrigas mais tantos amores.
Neste teu tronco já ninguém habita,
Sequer amantes loucos, sonhadores,
Que outrora segredavam na mesquita
De suas folhas vivas, multicores...
Quantas vezes ouviste namorados
Em carinhos e beijos, descuidados,
Como se o tempo não fosse passar.
Hoje, teus galhos secos, ressequidos,
São lembranças de sonhos esquecidos,
Que nunca mais, na vida, vão voltar!
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Trova de São Paulo/SP
DOMITILA BORGES BELTRAME
Além, no horizonte, à borda
de um infinito sem véu
o lindo arco-íris é a corda,
que os anjos pulam, no céu!
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Poema de Itajaí/SC
ANNA RIBEIRO
Descortinando as estações
Como a enxurrada que corre
em veios de correntezas;
Entre nós, o tempo já não diz nada
Diante um do outro... O invisível
Mas, pesam nos ombros as reviravoltas de outros tempos
Do Verão; Surpresas das chuvas e trovões
Da Primavera; As flores, borboletas e perfumes
Do Inverno; O hibernar do amor!
Do Outono; Agora pensamentos...Vive a alma em poemas
Na janela, observando as folhas rodopiarem ao vento,
Sopra de leve uma cortina de saudade!
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Haicai de Cornélio Procópio/PR
TAMYRIS LORRANA MARQUES AFONSO
Vejo da janela
Uma horta no quintal
E um quati ladrão!
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Sextilha do Rio Grande do Sul
MILTON SEBASTIÃO SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS
A criança, num gesto de grandeza,
briga e, logo, já quer recomeçar.
Briga fácil, mas não guarda rancor,
sabe amar, mesmo estando a discordar...
Nós, adultos, brigamos de verdade,
para nós, é difícil perdoar...
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Trova de Curitiba/PR
HEITOR STOCKLER DE FRANÇA
Palmeira/PR, 1888 – 1975, Curitiba/PR
Pensar em ti como eu penso
e muito tenho pensado,
diz, a rir, o meu bom senso,
que é o meu divino pecado.
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Glosa de Fortaleza/CE
NEMÉSIO PRATA
MOTE:
Numa espera doce e mansa,
qual zelosa tecelã
bordo rendas de esperança
pra enfeitar nosso amanhã!
Jeanete de Cnop
Maringá/PR
GLOSA:
Numa espera doce e mansa,
tecendo a minha saudade,
cada segundo que avança
parece uma eternidade!
Nos bilros, busco consolo;
qual zelosa tecelã
vou tecendo, no rebolo,
minhas rendas com afã!
Na almofada da lembrança
com seus tear multicor
bordo rendas de esperança
esperando o meu amor!
De rendeira, fiz a trama,
minha espera não foi vã,
hoje a peça cobre a cama
pra enfeitar nosso amanhã!
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Aldravia de Juiz de Fora/MG
CECY BARBOSA CAMPOS
horas
vazias
não
deixam
tempo
passar
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Soneto do Chile
PABLO NERUDA
Parral/Chile, 1904 – 1973, Santiago/Chile
Soneto de Amor
Talvez não ser é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando o meio-dia
como uma flor azul, sem que caminhes
mais tarde pela névoa e os ladrilhos,
sem essa luz que levas na mão
que talvez outros não verão dourada,
que talvez ninguém soube que crescia
como a origem rubra da rosa,
sem que sejas, enfim, sem que viesses
brusca, incitante, conhecer minha vida,
aragem de roseira, trigo do vento,
e desde então sou porque tu é,
e desde então é, sou e somos
e por amor serei, serás, seremos.
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Trova Premiada no Rio Grande do Norte, 2010
OLYMPIO COUTINHO
Belo Horizonte/MG
Nas noites claras de lua,
no desenho da calçada,
vejo a silhueta tua
a minha sombra abraçada.
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Spina de Belém/PA
ANA MEIRELES
Comigo ninguém pode
Comigo ninguém pode,
Maria era dessas
sem firulas, falava.
Sentia, dizia, palavras saíam quentinhas.
O Amigo Moura sabia, presenteou-lhe
com simbólico colar que personificava
uma força interior quase inabalável
de fragilidade, fortaleza, se temperava.
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Haicai de Maringá/PR
A. A. DE ASSIS
Na Copa, haja copo.
Ao final de cada jogo,
o povão de fogo.
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Pantum de Porto Alegre/RS
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
Pantum aos Versos de Amor
TROVA-TEMA:
Para esquecer o meu pranto,
aliviar a minha dor,
quanto mais sofro, mais canto,
cantando versos de amor.
Professor Garcia
Caicó/RN
PANTUM:
Aliviar a minha dor
eu consigo, sou feliz,
cantando versos de amor
que para você eu fiz!
Eu consigo, sou feliz,
sentindo na poesia
que para você eu fiz,
belos raios de alegria!
Sentindo na poesia
a doce e pura emoção,
belos raios de alegria
inundam meu coração!
A doce e pura emoção
e o mais suave acalanto,
inundam meu coração
para esquecer o meu pranto.
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Poetrix de Osório/RS
SUELY BRAGA
O Meio Ambiente
O planeta chora.
Precisamos ser conscientes.
Cuidemos dele agora.
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Soneto de Porto Velho/RO
VESPASIANO RAMOS
(Joaquim Vespasiano Ramos)
Caxias/MA, 1879 – 1915, Porto Velho/RO
Soneto da Volta
Desde este instante, sem cessar, maldigo,
Aquele instante de felicidade!
Para que tu vieste ter comigo,
Meu amor! Minha luz! Minha saudade?!
Dês que te foste, foram-se contigo
Todos os sonhos desta mocidade...
A tua vinda — fora-me um castigo;
A tua volta — uma fatalidade!
Dês que te foste, dentro em mim plantaste
A ânsia infinita dos desesperados
Porque voltando, nunca mais voltaste...
Correm-me os dias de aflições, cobertos:
Eu entrei para o amor de olhos fechados
E saí para a dor de olhos abertos!
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Trova de Barbacena/MG
JOSÉ KALIL SALLES
Felicidade! Procuro,
não a encontro, enfim.
Vou seguindo no escuro
esta vida até o fim.
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Poema de Maringá/PR
PEDRO APARECIDO DE PAULO
Teste de Pincel
Em você, o meu primeiro visual,
comecei a pintá-la, tornando-a imortal,
diante de seu corpo desnudo;
curvas e traços confundidos,
qual beleza inigualável em tudo.
Ao iniciar não revisei a tela,
não imaginei uma forma assim tão bela,
pois fora apenas um teste de pincel.
Riscos e cores traçados devagar,
não havia em mim razão para pintar,
pois seria somente em teste, o meu papel.
Aos primeiros traços que foram surgindo,
mudou tudo enfim, que quadro tão lindo,
arrumei a tela com profunda emoção!
Ao ver o seu corpo retratado ali
É indescritível tudo o que senti,
pois pintava alguém em meu próprio coração.
Vi com outros olhos pincéis e tela;
consertei os riscos, deixando-a mais bela.
No quadro, então, moldei-a, enfim.
Completei com júbilo seu corpo sem igual!
Tão rara imagem tornou-se imortal,
tenho essa musa, bem juntinho a mim!
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