quarta-feira, 12 de junho de 2024

Vereda da Poesia = 31 =


Trova Humorística de São Paulo/SP

EDUARDO DOMINGOS BOTTALLO

Um corpo espetacular
do jeito que um cara quer,
só faltou, pra completar,
a garota ser mulher...
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Soneto de Sorocaba/SP

DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Poeta

… reconheceram a canção que cantariam,
se soubessem cantar .
Helena Kolody

Nunca lhe falta a sensibilidade,
a sutileza, o dom de transferir
às palavras toda a expressividade
na alegria ou na mágoa do sentir.

O poeta é assim, é versatilidade…
Seja o que for que intente traduzir,
mergulha em vida, em sonho, em realidade,
faz de uma noite a aurora reflorir.

Transcende as dores de um mundo sofrido,
pisa os mistérios do desconhecido,
traz as estrelas para o nosso chão.

E quem o escuta, exclama, fascinado:
“Era assim que eu queria ter cantado,
se soubesse escrever minha canção!”
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Aldravia de Porto Alegre/RS

ZÉLIA DENDENA SAMPAIO

virtude
o
perfume
da
veraz
solidariedade
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Soneto de Poços de Caldas/MG

LAÉRCIO BORSATO

Meu sublime motivo

Eu, que na vida, sempre fui tão inconstante,
Agora me detenho num tema exclusivo:
A cordas dessa lira, fortes vibrantes,
Fazem parte do mundo belo em que vivo...

É como uma mensagem de paz. Num instante,
Vem à minha alma como um doce lenitivo.
Nesse agito, o meu ser torna-se redundante:
Desejo escrever... É meu sublime motivo!

Nessa jornada, no campo imenso da poesia,
Encontro essa beleza que antes não sentia...
São simples temas - nobres joias esquecidas!...

Em cada verso, doo um pouco de mim mesmo.
Nesse jardim inerte, no abandono, a esmo,
Cultivo meu canteiro de belas margaridas!...
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Trova Premiada  em São Paulo/SP, 1997

EDUARDO A. O. TOLEDO 
Pouso Alegre/MG

O amor se faz infinito,
longe do bem e do mal,
quando brota do granito
e se transforma em cristal!
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Poema de Amsterdam/Holanda

ANNA ENQUIST 

Cena Campestre

A casa esperou por nós,
pensamos. O duplo renque de árvores
acena-nos que nos cheguemos. Num sussurro,
o rio vai escorregando cheio
entre as margens.

 À hora exacta, o sol vai esconder-se
por trás dos campos. A escuridão
envolve a casa que nos protege.
Acendemos o fogo, bebemos
entre as paredes.

 Vendi-me inteira à
segurança e debruço-me da janela.
Dormem cavalos e galos, a água
pisca o olho à lua, e eu a pagar,
sempre a pagar.

(tradução: Catherine Bare)
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QUADRA POPULAR

Lambari está pelejando
pra nadar n’água parada;
eu também estou pelejando
pra arranjar a namorada.
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Soneto de Alcantarilha/ Silves/ Portugal

MANUEL NETO DOS SANTOS

Primavera Esperada

Vem amor, quando chegar a Primavera, 
Fazer com que floresça o meu sorrir, 
Prender-me com os teus braços de hera 
E amar-me no regaço do devir. 

Vem amor, quando a terra florescer 
E o ar, almiscarado de perfume, 
Em brisas de ternura te disser 
Que acendas no meu corpo esse teu lume. 

Vem amor, quando a greda revolvida 
Florir, numa aquarela aveludada; 
Boninas, lírios brancos, açucenas… 

Vem, amor! Quando o dia, a alvorada, 
Florir as flores, mesmo as mais pequenas 
E traz-me, então, de volta a própria vida.
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Trova de Mogi-Guaçu/SP

OLIVALDO JÚNIOR

No miolo de um livrinho,
sufocado por mim mesmo,
nosso amor está sozinho,
decorando o tempo a esmo.
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Poema de Viana/Portugal

JOSÉ AUGUSTO DE CARVALHO

Poema para Maria

 Os longes da memória, o tempo e o modo
renascem, inventados, água e lodo...

 Rasgando a treva, a chama de um farol,
por montes, vales, plainos, surge o trilho...

 O múrmuro trinar do rouxinol
poisou no choro brando do teu filho.

 E de montante, o rio rumoreja,
espreguiçando a doce melodia.

 P'los campos, o olivedo que esbraceja
candeia que há-de ser já anuncia...

 Na calma santa e mítica de luz,
a vida sonha e quer-se imaginário...

 O tudo e o nada, o todo se reduz
ao berço do infinito planetário...
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Haicai de Campo Mourão/PR

JOSÉ FELDMAN

Amor

Suspira o corvo,
Evoca rios de ternura
Musgo do amanhã
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Sextilha Agalopada de São Simão/SP

THALMA TAVARES

Tenho medo da “essência” da carteira,
e do “status” que o ouro nos empresta.
Vale mais hoje um rico sem caráter
que o talento de alguém de vida honesta.
A lisura, o saber e a inteligência
são valores aos quais não se faz festa.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Não chamem de mundo-cão
o feio mundo do mal.
No cão pulsa um coração
melhor que o nosso, em geral.
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Glosa de Porto Alegre/RS

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Manhã menina

MOTE:
Madrugada... e a luz da aurora,
banindo a noite que finda,
conquista o tempo que mora
no dia que dorme ainda.
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

GLOSA:
Madrugada... e a luz da aurora,
colorida, cintilante,
tingindo o céu nessa hora
torna tudo alucinante!

A linda policromia
banindo a noite que finda,
canta um hino de alegria
com uma harmonia infinda.

O pranto que a noite chora
sabendo que vai morrer,
conquista o tempo que mora
no dia que vai nascer!

A manhã chega graciosa
feito uma menina linda,
se espreguiçando formosa
no dia que dorme ainda.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

MESSODY RAMIRO BENOLIEL

Após
nossos
corpos
entrelaçados
anoiteceu
silenciosamente
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

VINÍCIUS DE MORAES
1913 – 1980

Soneto de Meditação I

Mas o instante passou. A carne nova
Sente a primeira fibra enrijecer
E o seu sonho infinito de morrer
Passa a caber no berço de uma cova.

Outra carne virá. A primavera
É carne, o amor é seiva eterna e forte
Quando o ser que viveu unir-se à morte
No mundo uma criança nascerá.

Importará jamais por quê? Adiante
O poema é translúcido, e distante
A palavra que vem do pensamento

Sem saudade. Não ter contentamento.
Ser simples como o grão de poesia.
E íntimo como a melancolia.
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Trova Premiada  no Rio de Janeiro, 2005

WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ 
Curitiba/PR

Defender a Ecologia
de forma séria e decente,
é preservar a harmonia
da própria casa da gente.
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Spina de Ponte Nova/MG

BETH IACOMINI

Cenário campestre

Árvores têm casa
cercadas de aves, 
telhados de sapê.

As portas de cor amarela 
brilham ao nascer do Sol.
Vista mágica: pés de Ipê... 
Flor do campo no entorno
amor reina, juntos eu, você.
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Trova de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Trago uma lição comigo
que aprendi desde criança:
Quem tem um cachorro amigo,
não perde nunca a esperança!
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Pantum da Flórida/Estados Unidos

ANGELA BRETAS

O sabiá que sabia tanto...

O sabiá que sabia tanto,
sabia que encantava sim,
seu canto, som de encanto,
soava como harpas dos querubins.

Sabia que encantava sim,
seu som de pássaro liberto
soava como harpas dos querubins
em manhãs de sonos despertos.

Seu som de pássaro liberto
ecoava nas matas distantes
em manhãs de sonos despertos,
melodias em formas tocantes.

Ecoava nas matas distantes
a música que adocicava a alma.
Melodias em formas tocantes
chamadas de paz e calma.

A música que adocicava a alma
tornava o pássaro alvo cativo.
Chamadas de paz e calma
atraía o inimigo.

Tornava o pássaro alvo cativo
cobiça em forma de canto.
Atraía o inimigo
enfeitiçado por seu encanto.

Cobiça em forma de canto
sufocou o sabiá, coitado.
Enfeitiçado por seu encanto
deixou-se prender, morreu calado.

Sufocou o sabiá coitado,
armadilha do destino calou o canto.
Deixou-se prender, morreu calado
o sabiá que sabia tanto...
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Poetrix de Salvador/BA

GOULART GOMES

Menina de Rua

o homem dormia, em seu ninho
e o coração dela
esmolando um carinho
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Soneto do Rio Grande do Sul

ALCEU WAMOSY
Uruguaiana/RS, 1895 — 1923, Santana do Livramento/RS

Duas almas

Ó tu que vens de longe, ó tu que vens cansada,
entra, e sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho.
Vives sozinha sempre e nunca foste amada...

A neve anda a branquear lividamente a estrada,
e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã quando a luz do sol dourar radiosa
essa estrada sem fim, deserta, horrenda e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...
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Trova de Ribeirão Preto/SP

NILTON MANOEL
1945 – 2024

Sonhando de trova em trova
pela estrada da poesia,
minha vida se renova
no correr de cada dia.
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Poema de Autoria Anônima

Desabafo de um Cão

Não pense tão indiferente
só porque não sou gente,
só porque não sei falar.
Também sou um ser vivente,
sinto as dores que você sente,
mas não posso me expressar.

Sou um bicho abandonado,
pela vida maltratado,
sempre escorraçado
e até mesmo apedrejado.
Vivo sedento e faminto,
ninguém quer saber o que sinto.

Se fico doente e triste,
vejo logo um dedo em riste,
e vem a sentença fatal:
"Melhor matar esse animal!
Ele deve estar raivoso!"
Para sua comodidade
vive dizendo inverdade,
fazendo muita maldade,
seu mentiroso!

Mesmo que eu esteja raivoso,
já foi descoberta a vacina.
Mas para a sua raça humana
ainda não existe remédio.
Você mata o próprio irmão,
assalta,
faz guerra.
Mata com ou sem razão,
as vezes só por ambição.
É bem pior que eu
que chamam de vira-lata!

Estou triste, apavorado,
pois a qualquer instante
posso ser sacrificado.
Mas você não se importa
nem com o seu semelhante.
Você sim está doente:
egoísta, indiferente,
mas se algo ruim acontece
logo lembra que há Deus,
chora, reza e faz prece,
mas Deus só ajuda aquele
que de todos se compadece!

Lembre-se do que escreveu
São Francisco de Assis:
"Quem maltrata um animal
JAMAIS PODERÁ SER FELIZ!" 
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