sábado, 11 de janeiro de 2020

Varal de Trovas n. 159


Eça de Queirós (A Aia)


Era uma vez um rei, moço e valente, senhor de um reino abundante em cidades e searas, que partira a batalhar por terras distantes, deixando solitária e triste a sua rainha e um filhinho, que ainda vivia no seu berço, dentro das suas faixas.

A lua cheia que o vira marchar, levado no seu sonho de conquista e de fama, começava a minguar, quando um dos seus cavaleiros apareceu, com as armas rotas, negro do sangue seco e do pó dos caminhos, trazendo a amarga nova de uma batalha perdida e da morte do rei, trespassado por sete lanças entre a flor da sua nobreza, à beira de um grande rio.

A rainha chorou magnificamente o rei. Chorou ainda desoladamente o esposo, que era formoso e alegre. Mas, sobretudo, chorou ansiosamente o pai, que assim deixava o filhinho desamparado, no meio de tantos inimigos da sua frágil vida e do reino que seria seu, sem um braço que o defendesse, forte pela força e forte pelo amor.

Desses inimigos o mais temeroso era seu tio, irmão bastardo do rei, homem depravado e bravio; consumido de cobiças grosseiras, desejando só a realeza por causa dos seus tesouros, e que havia anos vivia num castelo sobre os montes, com uma horda de rebeldes, à maneira de um lobo que, de atalaia no seu fojo*, espera a presa. Ai! a presa agora era aquela criancinha, rei de mama, senhor de tantas províncias, e que dormia no seu berço com seu guizo de ouro fechado na mão!

Ao lado dele, outro menino dormia noutro berço. Mas era um escravozinho, filho da bela e robusta escrava que amamentava o príncipe. Ambos tinham nascido na mesma noite de verão. O mesmo seio os criara. Quando a rainha, antes de adormecer, vinha beijar o principezinho, que tinha o cabelo louro e fino, beijava também, por amor dele, o escravozinho, que tinha o cabelo negro e crespo. Os olhos de ambos reluziam como pedras preciosas. Somente, o berço de um era magnífico de marfim entre brocados, e o berço de outro, pobre e de verga. A leal escrava, porém, a ambos cercava de carinho igual, porque, se um era o seu filho, o outro seria o seu rei.

Nascida naquela casa real, ela tinha a paixão, a religião dos seus senhores. Nenhum pranto correra mais sentidamente do que o seu pelo rei morto à beira do grande rio. Pertencia, porém, a uma raça que acredita que a vida da terra se continua no céu. O rei seu amo, decerto, já estaria agora reinando em outro reino, para além das nuvens, abundante também em searas e cidades. O seu cavalo de batalha, as suas armas, os seus pajens tinham subido com ele às alturas. Os seus vassalos, que fossem morrendo, prontamente iriam, nesse reino celeste, retomar em torno dele a sua vassalagem. E ela, um dia, por seu turno, remontaria num raio de lua a habitar o palácio do seu senhor, e a fiar de novo o linho das suas túnicas, e a acender de novo a caçoleta* dos seus perfumes; seria no céu como fora na terra, e feliz na sua servidão.

Todavia, também ela tremia pelo seu principezinho! Quantas vezes, com ele pendurado do peito, pensava na sua fragilidade, na sua longa infância, nos anos lentos que correriam, antes que ele fosse ao menos do tamanho de uma espada, e naquele tio cruel, de face mais escura que a noite e coração mais escuro que a face, faminto do trono, e espreitando de cima do seu rochedo entre os alfanges da sua borda! Pobre principezinho da sua alma! Com uma ternura maior o apertava nos braços. Mas o seu filho chalrava* ao lado, era para ele que os seus braços corriam com um ardor mais feliz. Esse, na sua indigência, nada tinha a recear a vida. Desgraças, assaltos da sorte má nunca o poderiam deixar mais despido das glórias e bens do mundo do que já estava ali no seu berço, sob o pedaço de linho branco que resguardava a sua nudez. A existência, na verdade, era para ele mais preciosa e digna de ser conservada que a do seu príncipe, porque nenhum dos duros cuidados com que ela enegrece a alma dos senhores roçaria sequer a sua alma livre e simples de escravo. E, como se o amasse mais por aquela humildade ditosa, cobria o seu corpinho gordo de beijos pesados e devoradores, dos beijos que ela fazia ligeiros sobre as mãos do seu príncipe.

No entanto, um grande temor enchia o palácio, onde agora reinava uma mulher entre mulheres. O bastardo, o homem de rapina, que errava no cimo das serras, descera à planície com a sua horda, e já através de casais e aldeias felizes ia deixando um sulco de matança e ruínas. As portas da cidade tinham sido seguras com cadeias mais fortes. Nas atalaias ardiam lumes mais altos. Mas à defesa faltava disciplina viril. Uma roca não governa como uma espada. Toda a nobreza fiel perecera na grande batalha. E a rainha desventurosa apenas sabia correr a cada instante ao berço do seu filhinho e chorar sobre ele a sua fraqueza de viúva. Só a ama leal parecia segura, como se os braços em que estreitava o seu príncipe fossem muralhas de uma cidadela que nenhuma audácia pode transpor.

Numa noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre, entre os seus dois meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis reais. Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou ansiosamente. Na terra areada, entre os jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes, como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de lanternas, brilhos de armas... Num relance tudo compreendeu: o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar, matar o seu príncipe! Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de marfim, atirou-o para o pobre berço de verga, e, tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-o no berço real que cobriu com um brocado.

Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto negro sobre a cota de malha, surgiu à porta da câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou, correu o berço de marfim onde os brocados luziam, arrancou a criança como se arranca uma bolsa de ouro, e, abafando os seus gritos no manto, abalou furiosamente.

O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva. Mas brados de alarme irromperam, de repente, no palácio. Pelas janelas perpassou o longo flamejar das tochas. Os pátios ressoavam com o bater das armas. E desgrenhada, quase nua, a rainha invadiu a câmara, entre as aias, gritando pelo seu filho! Ao avistar o berço de marfim, com as roupas desmanchadas, vazio, caiu sobre as lajes num choro, despedaçada. Então, calada, muito lenta, muito pálida, a ama descobriu o pobre berço de verga... O príncipe lá estava quieto, adormecido, num sonho que o fazia sorrir, lhe iluminava toda a face entre os seus cabelos de ouro. A mãe caiu sobre o berço, com um suspiro, como cai um corpo morto. E nesse instante um novo clamor abalou a galeria de mármore. Era o capitão das guardas, a sua gente fiel. Nos seus clamores havia, porém, mais tristeza que triunfo. O bastardo morrera! Colhido, ao fugir, entre o palácio e a cidadela, esmagado pela forte legião de arqueiros, sucumbira, ele e vinte da sua horda. O seu corpo lá ficara, com flechas no flanco, numa poça de sangue. Mas, ai dor sem nome! O corpinho tenro do príncipe lá ficara também envolto num manto, já frio, roxo ainda das mãos ferozes que o tinham esganado! Assim tumultuosamente lançavam a nova cruel os homens de armas, quando a rainha, deslumbrada, com lágrimas entre risos, ergueu nos braços, para lhes mostrar, o príncipe que despertara.

Foi um espanto, uma aclamação. Quem o salvara? Quem?... Lá estava junto do berço de marfim vazio, muda e hirta, aquela que o salvara! Serva sublimemente leal! Fora ela que, para conservar a vida ao seu príncipe, mandara à morte o seu filho... Então, só então, a mãe ditosa, emergindo da sua alegria estática, abraçou apaixonadamente a mãe dolorosa, e a beijou, e lhe chamou irmã do seu coração... E de entre aquela multidão que se apertava na galeria veio uma nova, ardente aclamação, com súplicas de que fosse recompensada magnificamente a serva admirável que salvara o rei e o reino.

Mas como? Que bolas de ouro podem pagar um filho? Então um velho de casta nobre lembrou que ela fosse levada ao Tesouro real, e escolhesse de entre essas riquezas, que eram como as maiores dos maiores tesouros da Índia, todas as que o seu desejo apetecesse...

A rainha tomou a mão da serva. E sem que a sua face de mármore perdesse a rigidez, com um andar de morta, como um sonho, ela foi assim conduzida para a Câmara dos Tesouros.

Senhores, aias, homens de armas, seguiam, num respeito tão comovido, que apenas se ouvia o roçar das sandálias nas lajes. As espessas portas do Tesouro rodaram lentamente. E, Quando um servo destrancou as janelas, a luz da madrugada, já clara e rósea, entrando pelos gradeamentos de ferro, acendeu um maravilhoso e faiscante incêndio de ouro e pedrarias! Do chão de rocha até às sombrias abóbadas, por toda a câmara, reluziam, cintilavam, refulgiam os escudos de ouro, as armas marchetadas, os montões de diamantes, as pilhas de moedas, os longos fios de pérolas, todas as riquezas daquele reino, acumuladas por cem réis durante vinte séculos. Um longo — Ah! — lento e maravilhado, passou por sobre a turba que emudecera.

Depois houve um silêncio ansioso. E no meio da câmara, envolta na refulgência preciosa. a ama não se movia... Apenas os seus olhos, brilhantes e secos, se tinham erguido para aquele céu que, além das grades, se tingia de rosa e de ouro. Era lá, nesse céu fresco de madrugada, que estava agora o seu menino. Estava lá, e já o Sol se erguia, e era tarde, e o seu menino chorava decerto, e procurava o seu peito!... E então a ama sorriu e estendeu a mão. Todos seguiam, sem respirar aquele lento mover da sua mão aberta. Que joia maravilhosa, que fio de diamantes, que punhado de rubis ia ela escolher?

A ama estendia a mão, e sobre um escabelo ao lado, entre um molho de armas, agarrou um punhal. Era um punhal de um velho rei, todo cravejado de esmeraldas, e que valia uma província.

Agarrara o punhal, e com ele apertado fortemente na mão, apontando para o céu, onde subiam os primeiros raios do Sol, encarou a rainha, a multidão, e gritou:

— Salvei o meu príncipe, e agora... vou dar de mamar ao meu filho.

E cravou o punhal no coração.
___________________
Glossário:
Caçoleta = cadinho; recipiente.
Chalrava =Emitia vozes inarticuladas (crianças).
Fojo = Buraco aberto na terra e disfarçado com folhas ou galhos para caçar, vivos, bichos ferozes.

Fonte:
Eça de Queirós. Contos. Ciberfil Literatura Digital, 2002

Filemon F. Martins (Poemas Escolhidos) VI


MINHA PAIXÃO
Não consigo entender porque partiste,
deixando-me sozinho em terra estranha.
Hoje, não tenho a luz e sou mais triste,
porque sem ti, o amor não me acompanha.

Como esquecer a mágoa que me assiste,
— se a saudade chegou cheia de manha?
Teu perfume de flor ainda insiste
em aumentar a minha dor tamanha...

Por que fugiste assim, minha poesia,
eras tu meu querer, minha alegria,
a energia que vibra no meu ser.

Tu és da minha casa, a grande porta,
a inspiração ardente que conforta
para escrever meu verso até morrer.
* * * * * * * * * * * * * *

O BEIJA-FLOR
Levanto cedo e veja quem me espera,
um lindo beija-flor beijando a rosa.
Não para de adejar, ai quem me dera
sugar também aquela flor mimosa.

Quantas flores o beija-flor paquera
e baila no ar buscando a flor ditosa
e se exibe num voo que acelera
à procura da flor, a mais viçosa.

De flor em flor consegue seu intento,
mesmo voando em luta contra o vento
para beijar, feliz, mais uma flor...

Também o bardo — beija-flor certeiro,
de verso em verso vai buscar faceiro
dentro do peito uma canção de amor.
* * * * * * * * * * * * * *

SEM FRONTEIRAS

Viajo com as nuvens. Sou poeta.
Gosto de dar vazão ao pensamento,
Sou capaz de chegar ao firmamento
e voltar para a terra como atleta.

Na terra, pego a minha bicicleta,
vou pedalando mesmo contra o vento,
enquanto os versos nascem no acalento
de uma paixão suave e não secreta…

Não há fronteiras, pois o amor é brando,
poetas são assim, vivem sonhando
com um mundo feliz e mais humano.

Não importa se a vida é muito breve,
importa o amor que faz o peso leve,
quando o perdão se torna soberano.
* * * * * * * * * * * * * *

SOMOS UM

Hoje, voltas depois de tanto tempo
e enlaças outra vez a minha vida.
Meu coração de amor se faz sedento
e busca no teu seio uma acolhida.

E se te vejo esbelta, o sentimento
cresce no peito com paixão sofrida:
ficar longe de ti é meu tormento
e a noite fica longa e mal-dormida.

Desperta o sol. Os pássaros em festa,
o amor renasce e entoa uma seresta
à vida que sonhei te amando assim...

E quanto mais te beijo, mais te quero,
e em te querendo, mais eu te venero,
pois somos um e estás dentro de mim!
* * * * * * * * * * * * * *

SÚPLICA

Sou um estranho no Planeta Terra,
onde o certo nem sempre prevalece,
onde o forte se impõe, fazendo guerra,
e o amor no coração desaparece.

Vou fugir da cidade para a serra,
quero elevar meu pensamento em prece,
vou meditar, quem sabe assim encerra
a solidão que fere e não aquece.

Escárnio, ingratidão e desengano,
contaminam a terra e o ser humano,
ninguém escapa ileso a tanta dor.

Suplico, pois, Senhor, que ponha fim
ao desconforto de sofrer assim,
melhor viver à sombra de um amor.
* * * * * * * * * * * * * *

 VELHO MAR

Nasci longe do mar, mas seduzido
por seu fascínio belo, encantador,
fico ouvindo, na praia, o seu gemido
e os madrigais de um velho pescador.

Mas às vezes me sinto assim perdido
como um barco singrando sem motor,
ouço as ondas num grito dolorido,
uma angústia que cala a própria dor.

Vejo da praia, a imensidão do mar,
as ondas que o rochedo vêm beijar,
depois, voltam serenas sem rancor.

Cada onda que vem morrer na praia,
parece a minha vida que desmaia
ao pensar em perder o teu amor.

Fonte:
Filemon Francisco Martins. Anseios do coração. São Paulo: Scortecci, 2011.

Antonio Roberto de Paula (Outra e Mais Outra para Relaxar)


– E aí?

– Beleza?

- Beleza.

- Vamos tomar uma hoje?

- Hoje, não. Sem chance.

– O que houve?

– Aquela dor.

- Voltou?

– É.

- Você precisa ir a um médico, cara!

- Se continuar, eu vou.

– Tá doendo muito?

- Pra caramba. Exagerei ontem.

– Onde cê foi?

- Passei por quatro botecos.

- O que te arrebenta é que você mistura.

– Cê também, cara!

- É, mas dou um tempo. Você é todo dia.

- Tava pensando. Será que eu sou alcoólatra?

- Deixa de ser besta. Lógico que não.

- Mas todo dia eu tenho que tomar pelo menos uma.

- É normal. A gente fica cansado e nervoso e toma pra relaxar.

- Mas ontem eu não fiz nada. Não cansei e não fiquei nervoso. Quando me dei conta já tinha tomado uma meia dúzia de cervejas e outro tanto da branca.

- Cê tomou remédio?

– Tomei um pra dor de cabeça e outro pro estômago.

- E não melhorou?

- A cabeça tá mais leve, mas o estômago tá esquisito. Não comi nada ontem e tô sem fome hoje.

– Por que você não vai num médico?

– Tô com medo.

– Do que?

– Acho que ele vai encontrar alguma coisa.

– Ah, encontrar com certeza ele vai, mas bota fé que não é nada grave. No máximo uma gastrite.

– Acho que a gente tá exagerando na bebida.
 
– Também acho. Mas fala pra mim, tem coisa mais gostosa do que ficar numa mesa de bar?

- Mas precisa de bebida sempre?

- E tem jeito de ficar duas horas conversando tomando guaraná e suco de laranja?

- E vendo os caras das outras mesas dando aquelas goladas gostosas na cerveja?

- Falando nisso, vamos pedir uma? Uma só?

- Não, hoje eu tô fora.

- Pede uma cerveja preta. É fraquinha. Teu estômago nem vai sentir.

- Não.

- Então bebe uma jurubeba ou uma raiz amarga. É bom pro estômago.

- Não, pede uma cerveja pra você que eu vou tomar só um copo.

– Tá.

– Acho que esta gastrite pode ser também do cigarro.

-Também colabora. Bebida e cigarro com o estômago vazio não é mole.

- Quantos cigarros você fuma por dia?

- Um maço e meio. Por aí. Durante o dia eu regulo, mas no bar eu acendo até na bituca.

- Igual eu. Põe mais um pouquinho.

- Cê falou deste lance de alcoólatra. Será que a gente é?

- Pra falar a verdade, na bucha mesmo, acho que sim.

- Não tinha pensado nisso.

- Penso direto nisso, mais ainda quando acordo de ressaca. Sabe aquela hora que você encara o espelho e fica louco de arrependimento?

- E promete que não vai tomar mais nenhuma até o próximo milênio?

- É. E à tarde esquece do que falou. Põe mais um golinho.

– Tô ficando barrigudo.

– Barriga de chope.

- E você, além de barrigudo, tá com a cara inchada.

- Não tem nada a ver com a bebida. Meu pai é assim.

- Porque também é outro bêbado. Rá, rá, rá, rá, ...     Vou pegar mais uma.

– Teu caso é mais grave. Você é baixinho. Não dá pra disfarçar.

- Vamos fazer um trato. A gente só toma na terça, quinta e sábado.

- Hoje é segunda. Então vamos ter que tomar amanhã.

- Não disse que vamos ser obrigados a tomar nestes três dias Podemos passar batidos.

- Tem que ter opinião. Pode pintar a maior festa do mundo que a gente não bebe. Certo?

- Certo, mas é bom acertar que no domingo é opcional. Imaginou passar um domingão a seco?

- E a sexta? Fim de expediente.

– O que é que tem?

- O que é que tem? Quando foi que você deixou de beber na sexta-feira?

– Acho que nem na Sexta-feira Santa.

- Sobra a segunda e a quarta.

- Certo. Mas tem uma coisa. E se jogo da seleção cair num destes dias?

- Mas aí pode. É um caso excepcional. Copa do Mundo é de quatro em quatro anos. Ver jogo da seleção sem tomar uma cervejinha nem pensar

– Concordo. Coloca mais um pouco aí no meu copo.

Fonte:
Antonio Roberto de Paula. Da minha janela. Maringá/PR: Gráfica Sthampa, 2003.

Concurso Prêmio Cataratas de Contos e Poesias (Prazo: 18 de Março de 2020)


REGULAMENTO
Edital de Concurso nº 03/2019 Fundação Cultural de Foz do Iguaçu

A Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu por meio da Fundação Cultural, em atendimento ao ao decreto 7.623/1991, torna público a todos os interessados que se encontra aberto o presente edital, regulamentando o Concurso de Contos e Poesias - Prêmio Cataratas. Este documento está em conformidade com o disposto na Lei 8.666/1993 e supletivamente com o Decreto n° 7.623 de 05 de março de 1991, cujo anexo foi atualizado pelo Decreto 27.623 de 29 de outubro de 2019, que institui o Prêmio Cataratas.

OBJETO:
Seleção de contos e poesias para o Concurso Prêmio Cataratas, edição de 2019.

DO OBJETIVO

1.1. O presente edital objetiva estabelecer normas para o recebimento de propostas para o Concurso de Contos e Poesias - Prêmio Cataratas 2019, realizado pela Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, conforme Decreto 7.623/91.

1.2. Para fins deste Concurso, define-se:

1.2.1.    Conto: gênero literário com narrativa breve e concisa, escrita em prosa e de menor complexidade em relação aos romances. Histórias curtas, enredo completo, contendo um conflito, num espaço de tempo, com número limitado de personagens.

1.2.2.     Poesia: gênero literário caracterizado pela composição em versos estruturados ou livres, numa associação harmoniosa de palavras, ritmos e imagens.

DA PARTICIPAÇÃO

2.1.  Podem participar dos Concursos escritores de qualquer nacionalidade, residentes ou não na cidade de Foz do Iguaçu, desde que inscritos no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas (CPF).

2.2.  Os participantes menores de 18 (dezoito) anos só poderão se inscrever se obtiverem autorização dos pais ou responsáveis, com firma reconhecida, conforme modelo anexo a este edital; e encaminhar pelo formulário de inscrição seguindo as orientações lá disponibilizadas.

2.3.  É vedada a participação neste concurso de:

2.3.1.     servidor ou dirigente da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, bem como parentes, consanguíneos ou afins, até o segundo grau, ou por adoção;

2.3.2.     membro da Comissão Julgadora, bem como seus cônjuges ou companheiros; e parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau, ou por adoção.

DA INSCRIÇÃO


3.1.   As inscrições são gratuitas e estarão abertas do dia 19 de dezembro de 2019 até o dia 18 de março de 2020.

3.1.1.     Serão desclassificados os contos enviados após a data limite, ou seja, após as 23h59 do dia 18 de março de 2020.

3.2.  A inscrição compreende o envio da obra e preenchimento completo do formulário de inscrição disponível no site https://premiocataratas.com.br/

3.3.  Primeiramente o participante deve selecionar a opção “enviar conto” ou “enviar poesia”, conforme sua obra e, assim, abrir o formulário correspondente. Nele, deve preencher todos campos, informando:

3.3.1.     CPF;
3.3.2.     Título da Obra;
3.3.3.     Pseudônimo do autor;
3.3.4.     Nome Completo;
3.3.5.     Data de Nascimento;
3.3.6.     Endereço;
3.3.7.     Cidade;
3.3.8.     UF;
3.3.9.     CEP;
3.3.10.   Telefone principal;
3.3.11.   Telefone secundário;
3.3.12.   E-mail;
3.3.13.   RG;
3.3.14.   Órgão expedidor;
3.3.15.   Breve biografia; e,
3.3.16.   Conto/Poesia (De acordo com a opção selecionada no início da inscrição).

3.4.  Se o participante for menor de 18 (dezoito) anos de idade, deve enviar cópia da autorização dada pelos pais ou responsáveis, com firma reconhecida, de acordo com o modelo disponível no anexo I deste edital;

3.4.1.     A cópia da autorização com firma reconhecida deve ser disponibilizada na forma de arquivo online, por meio de links com compartilhamento aberto, inseridos nos respectivos campos do formulário de inscrição.

3.4.2.     A Fundação Cultural sugere a utilização de plataformas de armazenamento de arquivos online ou armazenamento em nuvem, como Google Drive, Dropbox, OneDrive ou outro serviço de preferência do proponente.

3.5.  O escritor poderá participar do concurso com no máximo 01 (um) conto e/ou 01 (um) poema, inéditos ou não, escritos em português ou espanhol.

3.6.  O limite de cada Conto é de 12.600 (doze mil e seiscentos) caracteres, e o de cada Poesia é de 4.200 (quatro mil e duzentos) caracteres.
3.7.  Os textos devem ser redigidos no campo específico do formulário eletrônico ou copiados para o campo definido, a fim de que seja contabilizado o número de caracteres corretamente;

3.8.  A temática e estilo desta edição são LIVRES. No entanto, serão desclassificadas as obras cujo conteúdo:

3.8.1.     Constituir ofensa à liberdade de consciência e de crença;
3.8.2.     Conter teor grosseiro, ofensivo, discriminatório ou que viole a legislação vigente.

3.9.  Na avaliação, a Comissão Julgadora terá acesso somente à obra, ao pseudônimo e local do autor, que foram preenchidos nos campos específicos. Obras que contenham no título, pseudônimo, ou corpo do texto, elementos que identifiquem o autor para a Comissão Julgadora serão desclassificadas.

3.10. Ao  efetuar  a  inscrição,  o participante assume  total  responsabilidade  pelas  informações prestadas.

3.11. A inscrição implicará no reconhecimento e concordância, por parte do proponente, de todas as condições estipuladas no presente edital.

3.12. Não serão aceitas inscrições após a data e horário de encerramento.

3.13. Não serão aceitas inscrições que não cumpram as exigências contidas no presente edital.

3.14. A Comissão Organizadora não se responsabiliza por propostas não submetidas por motivo de ordem técnica dos computadores, falhas de comunicação, congestionamento das linhas, sobrecarga nos sistemas, falta de energia elétrica, bem como outros fatores de ordem técnica que impossibilitem a transferência de dados.

DA AVALIAÇÃO


4.1. A seleção se realizará por Comissão designada pela Fundação Cultural, composta por no mínimo 5 (cinco) pessoas da área de literatura, entre os meses de março a junho de 2020;

4.2.  Cada poema será avaliado considerando-se os quesitos abaixo, que serão pontuados de 0 a 10:

4.2.1.     Critérios de avaliação da categoria Conto:

Critério    -    Descrição     -    Nota

I - Adequação ao Gênero Literário “Conto”
Uso adequado de técnicas características deste estilo literário.
0 a 10 pontos

II - Originalidade
Demonstração da habilidade criativa e inventividade do escritor. Podendo ser originalidade do tema, da forma ou estilo.
0 a 10 pontos

III - Estrutura textual e qualidade técnica e literária.
Estrutura do texto, tema e linguagem. Clareza e coerência e tratamento redacional morfossintático, semântico, ortográfico, formal, etc.
0 a 10 pontos

Nota final (média simples)
0 a 10

4.2.2.     Critérios de avaliação da categoria Poesia:

Critério    -    Descrição     -    Nota
I - Adequação ao Gênero Literário “Poesia”
Uso adequado de técnicas características deste estilo literário.
0 a 10 pontos

II - Originalidade
Demonstração da habilidade criativa e inventividade do escritor. Podendo ser originalidade do tema, da forma ou estilo.
0 a 10 pontos

III - Qualidade técnica/literária e uso de recursos poéticos
Figuras de linguagem, recursos imagéticos, ritmo, entre outros.
0 a 10 pontos

Nota final  (média simples)
0 a 10

4.3.  Após a pontuação de cada quesito, será tirada a média simples dos pontos e o  resultado será a nota final do conto/poema.

DA DIVULGAÇÃO DO RESULTADO

5.1.  O resultado preliminar do concurso será divulgado no Diário Oficial do Município;  também junto à imprensa local, na Sede da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu e no site https://culturafoz.pmfi.pr.gov.br/  a partir do dia 19 de julho de 2020.

5.2.  O resultado final, após período de recursos, será divulgado a partir do dia 06 de julho de 2020.

DA PREMIAÇÃO

6.1.  Os prêmios serão oferecidos para as categorias “Conto” e “Poesia”.

6.2.  A premiação será conferida através da publicação e lançamento de uma coletânea das 10 primeiras obras selecionadas em cada categoria; além de certificados de participação e prêmios em dinheiro.

6.3.  Em cada categoria, será conferida a seguinte premiação em dinheiro e em exemplares dos livros da coletânea lançada (valores brutos em reais):

6.3.1.     1º lugar: R$ 2.100,00 (dois mil e cem reais) e 200 exemplares;
6.3.2.     2º lugar: R$ 1.600,00 (mil e seiscentos reais) e 150 exemplares;
6.3.3.     3º lugar: R$ 1.100,00 (mil e cem reais) e 100 exemplares;

6.4.  Os participantes das duas categoriais, residentes em Foz do Iguaçu, PR, concorrem também à premiação na modalidade local.

6.4.1.     1º lugar: R$ 2.100,00 (dois mil e cem reais) e 200 exemplares;

6.5.  É vedada a acumulação de premiações na mesma categoria (conto/poesia). No caso em que o participante classificado no 1º lugar local também se classifique entre os 3 (três) primeiros lugares na categoria geral, este será contemplado com a premiação de maior valor.

6.6.  Os 10 (dez) primeiros colocados de cada categoria receberão Certificado de Participação.

6.7.  Os participantes premiados poderão receber os prêmios pessoalmente ou através de representante legal, durante a cerimônia de premiação, em data e local a serem definidos pela Comissão Organizadora da Fundação Cultural.

6.8.  A Fundação Cultural viabilizará até 2 (duas) hospedagens e 6 (seis) refeições para os 3 (três) primeiros escritores premiados em ambas as categorias, não residentes na cidade de Foz do Iguaçu.

6.9.  Será publicada pela Fundação Cultural de Foz do Iguaçu uma coletânea em formato impresso e eletrônico (e-book) com os poemas dos 10 (dez) primeiros colocados.

6.10. A pessoa física selecionada, ou seu responsável legal no caso de menor de 18 anos; deverá apresentar, obrigatoriamente, no momento do pagamento da premiação em dinheiro, os seguintes documentos válidos:

6.11. Cópia da Carteira de identidade e CPF ou Carteira de Habilitação;
•    Certidão Negativa de débitos MUNICIPAIS, ou Certidão Positiva com efeito de negativa do domicílio ou sede do participante ou responsável legal;
•    Certidão Negativa de débitos ESTADUAIS, ou Certidão Positiva com efeito de negativa do domicílio ou sede do participante ou responsável legal;
•    Certidão Negativa de débitos FEDERAIS ou Certidão Positiva com efeito de negativa. Disponível em: http://servicos.receita.fazenda.gov.br/Servicos/certidao/CNDConjuntaInter/InformaNICertidao.asp?tipo=2 ;
•    Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT). Disponível em: http://www.tst.jus.br/certidao;

•    Em caso de participante menor de 18 (dezoito) anos de idade, original da autorização dos pais ou responsáveis, com firma reconhecida, conforme modelo disponibilizado no anexo I deste edital.

6.12. No pagamento dos prêmios, serão descontados todos os impostos e contribuições que, por lei, devam ser retidos na fonte pagadora.

6.13. O pagamento da premiação será efetuado através de transferência bancária, diretamente na conta bancária do escritor premiado, ou seu representante legal, no caso de menores de 18 (dezoito anos); e ocorrerá até 05 (cinco) dias úteis após o evento de premiação.

6.14. As despesas do presente edital correrão por conta da dotação orçamentária da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu: 3101.133920310.2179 - 339031.

DOS DIREITOS AUTORAIS

7.1.  A participação no Concurso de Contos e Poesias “Prêmio Cataratas”, Foz do Iguaçu – PR, independente da premiação, não implica a cessão dos direitos autorais sobre as obras inscritas, apenas em autorização a título gratuito, exclusivamente à Fundação Cultural de Foz do Iguaçu – PR, para seu uso e distribuição em seus projetos e ações culturais em formato físico e digital, sem fins lucrativos, portanto sem a obrigação de indenização aos autores.

DOS DIREITOS DE IMAGEM, DIVULGAÇÃO E REGISTRO

8.1.  O participante autoriza, com o ato da inscrição, a Comissão Organizadora do Concurso Prêmio Cataratas de Contos e Poesias, a divulgar imagem, fotos, vídeos e trabalhos na mídia, assim como nos materiais de divulgação a serem produzidos.

8.2.  O participante, caso seja selecionado, autoriza o uso gratuito de sua imagem, som, voz e fonograma para fins de divulgação das ações e comunicação institucional da Fundação Cultural de Foz  do Iguaçu, inclusive no que concerne a eventual criação de peças institucionais de divulgação, a serem utilizados para fins não comerciais por período indeterminado

8.3.  Os participantes classificados autorizam, com o ato da inscrição, o registro gratuito, livre de qualquer taxa ou pagamento, da sua participação na cerimônia de Premiação do Prêmio Cataratas de Contos e Poesias, para fins de arquivo e divulgação da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, da presente e das futuras edições do Prêmio Cataratas, esteja ele associado ou não ao Prêmio Cataratas de Contos e Poesias. Para tanto, fica autorizada a Fundação Cultural de Foz do Iguaçu a promover o registro em fotografia e vídeo e a utilizar os materiais registrados.

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

9.1.  A participação no concurso implica a plena aceitação das normas constantes neste Regulamento.

9.2.  O presente Edital estará disponível nos endereços eletrônicos: site da Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu (http://pmfi.pr.gov.br),  site da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, (http://culturafoz.pmfi.pr.gov.br) e site do Prêmio Cataratas de Contos e Poesias (https://premiocataratas.com.br).

9.3.  Casos omissos, não previstos neste Regulamento, serão resolvidos pela Fundação Cultural, através de equipe designada pela Diretoria Executiva.

9.4.  Informações pelo telefone: (45) 3521-1511 e pelo e-mail: premiocataratas@gmail.com

9.5.  Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar este Edital, devendo, neste caso, protocolar pedido até 05 (cinco) dias úteis antes da data fixada para o início das avaliações, devendo o Diretor Presidente da Fundação Cultural julgar e responder à impugnação em até 03 (três) dias úteis.

9.6.  Decairá do direito de impugnar os termos deste Edital o licitante que não o fizer até o segundo dia útil que anteceder o início das avaliações, as falhas ou irregularidades que viciariam esse edital, hipótese em que tal comunicação não terá efeito de recurso, devendo o Diretor Presidente da Fundação Cultural julgar e responder à impugnação em até 03 (três) dias úteis.

9.7.  Caso a resposta ao pedido de impugnação importe em alteração do Edital, será designada nova data para a realização do concurso, exceto quando a alteração, inquestionavelmente, não afetar a formulação das propostas.

9.8.  As impugnações deverão ser protocoladas pessoalmente na sede da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, Rua Benjamin Constant, 62 – Centro, Foz do Iguaçu –PR.

9.9.  Os recursos quanto ao resultado deste edital poderão ser interpostos até 05 (cinco) dias úteis após a divulgação das obras selecionadas, endereçado à Comissão Organizadora do Concurso de Contos e Poesias - Prêmio Cataratas, através do e-mail recursosfcfi@gmail.com. A contrarrazão poderá ser interposta até 05 (cinco) dias úteis após o fim da interposição de recursos. Os recursos serão decididos em 05 (cinco) dias úteis pelo Diretor Presidente da Fundação Cultural , devendo seu resultado ser divulgado na página http://culturafoz.pmfi.pr.gov.br.

9.10. Fica eleito o Foro de Foz do Iguaçu para dirimir quaisquer dúvidas em relação a este Edital.

9.11. Integram este Edital, para todos os fins e efeitos, os seguintes anexos:

9.11.1.    ANEXO I - Termo de autorização para menores de 18 (dezoito) anos.
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9.11.2.    ANEXO II - Cronograma do Concurso de Contos e Poesias - Prêmio Cataratas 2019.
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Foz do Iguaçu, 19 de dezembro de 2019
Joaquim Rodrigues da Costa
Diretor Presidente
Fundação Cultural de Foz do Iguaçu

Fonte:
https://premiocataratas.com.br/regulamento

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Varal de Trovas n. 158


Isabel Furini (Saudade: O Grande Amor de Roberto)


Chuva intensa. Volto a Curitiba depois de 30 anos. Os relógios pararam no tempo. Meu coração se espalha pelas ruas e sobe pelos edifícios modernos procurando o passado.

O passado morreu. Só ficaram lembranças. Meu coração persistente, achatado, esticado, dilacerado, busca meus amigos, a cidade que foi minha...

Procuro até meu próprio rosto no espelho. O espelho mostra a verdade: os cabelos brancos. Cabelos não mentem, podem ser pintado mas voltam a crescer e a mostrar o passo do tempo. Tempo rápido, vagaroso, intenso, morno, indeciso. Tempo que cresce com as árvores e decresce com os prédios que envelhecem. Tempo que se esgota a si mesmo, que avança sem pressa mas que é impossível deter.

Meu coração de homem aventureiro estica seus olhos vermelhos pelas praças: Tiradentes, Osório, Rui Barbosa. Espiona nos shopping e nos cafés inaugurados há pouco tempo e se reencontra no Largo da Ordem e no Passeio Público. Tenho 51 anos, nasci nesta cidade num mês de setembro e também chovia. A chuva de Curitiba lava as casas, limpa as ruas, purifica as almas, grita nos telhados, ri espalhando-se pelos vidros dos carros. É uma chuva sapeca, como meus anos de criança. Já se foram os anos das alegrias simples.

Sinto-me velho, acho que tenho mais anos que a cidade. Onde está Taisha, meu grande amor? Onde está Taisha com seus olhos de amêndoas orientais e seu olhar tranquilo de japonês sábio que olha o monte Fuji? Onde está minha linda namoradinha filha de brasileira e japonês, que estudava comigo no Belas Artes e sonhava com renovar a pintura moderna?

Uma manhã, enquanto pintava uma tela do Paço Municipal, disse-me:

— Roberto... Gosto de Renoir, gosto de Monet, gosto de Picasso, mas acho que posso ser igual a qualquer deles, igual a quem eu quiser... – Fez uma pausa. — Até posso ser igual a mim mesma! — exclamou deixando de lado o pincel. Colocou as mãos na cintura e levantou a cabeça de forma arrogante, mas com um sorriso sapeca.

Menina de coração de mel e roupa preta, nunca esqueci teu sorriso. Teu riso iluminava as cores de teus quadros. Nunca esqueci tua atitude numa exposição de um pintor questionado — pois com seu modernismo chocava a moral provinciana da Curitiba dos anos 70. Você, num gesto de desafio, abriu a bolsa preta, pegou o batom vermelho e escreveu em português: "Exposição para loucos". Eu gostei. Assinou Taisha em caracteres japoneses. Era essa mistura de Oriente e Ocidente que fazia de você uma flor exótica e delicada.

Taisha, os teus olhos orientais sempre me seguiram pelo mundo afora. Estiveram diante de mim em Paris observando a torre Eiffel, descobriram comigo os mistérios celtas em Stonehenge, contemplaram o ocaso em Machu Picchu. Teus olhos negros, orientais, navegaram comigo pelos oceanos Atlântico e Pacífico.

Doe a saudade.

Onde estará minha menina sensível e rebelde? Minha flor de cerejeira. Sento-me sob uma árvore nas ruínas de São Francisco. Abro minha mala de viagem, pego uma folha de papel e com lápis de cores, desenho o relógio das Flores com o encanto de teu sorriso.

Fonte:
Blog de Isabel

Luiz Damo (Trovas do Sul) VI


A abelha durante o dia
não para de trabalhar,
nunca fez engenharia
e faz tudo sem falhar.

A grande e dura saudade
sob a lápide se esconde,
só nos traz perplexidade
e ao grito sequer responde.

Água por todos os lados
de ilha podemos chamar,
triste é ficarmos ilhados
sem que possamos nadar.

A justiça, embora tarde,
nunca deverá falhar,
inimiga do covarde
que não quer se revelar.

Altos montes ou baixadas
por florestas revestidas,
pelas fontes são regadas
prometendo novas vidas.

As gotículas de chuvas
descendo nos parreirais,
se misturam com as uvas
formando doces cristais.

Das flores gostamos tanto
pelo perfume que exalam,
são templos do puro encanto,
com ternura elas nos falam.

Distantes, porém profundos,
bons momentos de alegria,
pareciam de outros mundos
de tanta paz e harmonia.

Do semblante da criança
tão sorridente a brincar,
brotam raios de esperança
que ajudam a iluminar.

Doze meses o ano tem,
trinta dias tem um mês,
sete a semana contém
tempo que o mundo Deus fez.

Ecos podem ser ouvidos
num silêncio singular,
podendo ser confundidos
com distúrbio auricular.

Lares fartos de ternura,
campos cheios de verdor,
sobre a mesa da cultura
brilhe a chama do labor.

Muitas trilhas na floresta
feitas com foice e facão,
hoje, a lembrança nos resta,
da alavanca e do pilão.

Muitos sonhos são desfeitos
por falta de consistência,
buscamos os mais perfeitos
nos caminhos da existência.

Nas manhãs ensolaradas
cheirando restos de orvalho,
segue o obreiro nas estradas
para o local de trabalho.

Ninguém será condenado
com sentença proferida,
sem transitar em julgado
e a pena reconhecida.

No cantar dos passarinhos
Deus também se manifesta,
cantos cobrem os caminhos
e transformam as florestas.

Nos abismos do passado,
talvez um projeto antigo,
jaz em dores, transpassado,
esperando um solo amigo.

Nossa luta pela vida
no nascimento começa,
sendo apenas concluída
quando a morte se atravessa.

Nossos rios e lagoas
estão sendo poluídos,
quase ninguém canta loas
por julgarem já perdidos.

Nunca devemos correr
quando o certo é devagar,
antes, sempre socorrer,
que o socorro mendigar.

O homem tem a liberdade
de escolher e decidir;
seguir pela claridade,
ou nas trevas prosseguir.

Onde quer que a luz esteja
é lá que estaremos nós
e assim o mundo nos veja
conhecendo a nossa voz.

Os caminhos da verdade
às vezes não são floridos
e os espinhos da maldade
machucam nossos sentidos.

Outrora a "palavra" tinha
sotaque de um documento
e a fonte donde ela vinha
era mais que um testamento.

Pelos frutos conhecemos
a planta que os produziu,
se são bons, logo dizemos:
que ela já nos seduziu.

Quando os verbos conjugamos
nos três tempos consagrados,
vemos que nos subjugamos
aos problemas já passados.

Saí pelo mundo afora
em busca de soluções,
posso computar agora
conquistas e decepções.

Quem nunca soube plantar
como pode pretender,
algum sonho alimentar,
ou de bons frutos colher?

Se a resposta não retruca
demonstra ser verdadeira
e ao tê-la sequer machuca,
durará pra vida inteira.

Se as águas forem cercadas
pela terra firme e boa,
mesmo que estejam paradas
não passam duma lagoa.

Se o tempo nunca passasse
e assim nada envelhecesse,
com certeza, a nossa face,
a de um Anjo parecesse.

Se quisermos comer pão,
trigo devemos plantar,
para tê-lo sempre à mão
no almoço, café e jantar.

Tantas horas sem dormir,
ou dias sem trabalhar,
tudo nos faz presumir:
só vence quem batalhar.

Tão brilhantes, as estrelas,
neste universo espalhadas,
esperamos poder vê-las
em noites enluaradas.

Tem um tempo para tudo:
para dar e receber,
o melhor tempo, contudo,
é o que temos pra viver.

Tendo flores nos caminhos
bons perfumes vou sentir,
porém se tiver espinhos,
são dores: por quê mentir?

Toda a beleza do mundo
cabe na palma da mão,
quando num gesto fecundo
alguém ajuda um irmão.

Transformar a tempestade
em luzes para o futuro,
requer força de vontade
para até seguir no escuro.

Tudo passa tão depressa
que por vezes perde a graça,
quando a confiança cessa
um novo contexto traça.

Um terreno pedregoso
nunca se deve escolher,
pra não tornar-se oneroso
o fruto que for colher.

Fonte:
Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014.
Livro enviado pelo autor

Contos e Lendas do Mundo (Inglaterra: Tom Tit Tot)


Era uma vez, há muito, muito tempo, uma mulher que fez cinco empadas, mas, quando as retirou do forno, verificou que as tinha deixado lá tempo de mais, pelo que o revestimento estava demasiado duro para se poder comer.

Indicou então à filha:

- Coloca estas empadas na prateleira durante algum tempo, que já voltarão a estar.

Repare-se que se referia ao revestimento, o qual passado algum tempo, estaria mais mole, mas a jovem pensou: "Bom, se voltarão a estar, então como-as já." E não tardou a pôr a ideia em prática.

À hora de jantar, a mulher ordenou-lhe:

- Vai buscar uma das empadas. Suponho que já estarão...

A jovem foi lá, mas apenas viu a prateleira vazia.

- Ainda não estão! - comunicou à mãe.

- Nem ao menos uma?

- Nem ao menos uma! - confirmou.

- Paciência - decidiu a mulher -, estejam ou não, comerei uma ao jantar.

- Mas não podes, porque ainda não estão.

- Com certeza que posso. Traz a que estiver melhor.

- Não posso trazer a melhor nem a pior, porque comi todas. Portanto, só o poderás fazer quando voltarem a estar lá.

A mulher enfureceu-se, abandonou a mesa, pegou nos apetrechos de fiar e, enquanto trabalhava, cantarolava:

- A minha filha comeu cinco empadas! Cinco empadas num único dia! A minha filha comeu cinco empadas! Cinco empadas num único dia!

O rei, que naquele momento percorria a rua, como não conseguisse compreender os termos da canção, deteve-se e perguntou:

- Que cantiga é essa?

Como tinha vergonha de que ele se inteirasse da ação reprovável praticada pela filha, ela respondeu:

- A minha filha fiou cinco meadas! Cinco meadas num único dia! A minha filha fiou cinco meadas! Cinco meadas num único dia!

- Com a breca! - exclamou o monarca. - Nunca tinha ouvido falar de uma proeza dessas! - E acrescentou: - Bem, olha, como preciso de uma mulher, vou casar com ela. Mas presta atenção: durante onze meses por ano, será dado de comer tudo o que for do seu agrado, terá todos os vestidos que desejar e toda a companhia que lhe apetecer. Mas, no mês restante, terá de fiar cinco meadas por dia, de contrário mando matá-la.

- Combinado! - assentiu a mulher, ao mesmo tempo que refletia que se tratava de um casamento extraordinário e acabaria por descobrir uma solução para o problema das cinco meadas, embora estivesse confiada em que, até lá, o rei esquecesse o assunto.

Por conseguinte, eles casaram. Durante onze meses, a jovem esposa teve tudo o que quis para comer, todos os vestidos que pediu e toda a companhia que desejou. Como o tempo passava cada vez mais depressa, começou a pensar nas meadas e perguntava-se se o rei ainda se lembraria disso. Mas como ele nunca aludia ao fato, acabou por se convencer de que tombara no esquecimento.

No entanto, no derradeiro dia do penúltimo mês, ele mandou-a chamar e a conduziu a um aposento que ela nunca vira, cujo único conteúdo consistia numa roca e uma banqueta.

- Bem, minha querida - disse-lhe -, a partir de amanhã, ficas aqui encerrada com algo para comer e linho. Se, à noite, não tiveres fiado cinco meadas, perderás a cabeça.

E afastou-se, para tratar de assuntos de estado. Ela ficou então dominada por um medo atroz. Sempre fora uma moça despreocupada, pelo que nem sequer sabia fiar. Que aconteceria no dia seguinte, se ninguém a ajudasse? Sentou-se na banqueta e chorou como uma desesperada.

De repente, ouviu um ruído, como se estivessem a bater à porta. Levantou-se, foi abrir, e que viu? Um magro e pequeno ser negro, com uma longa cauda, que a olhou com curiosidade e perguntou:

- Porque choras?

- Que te importa?

- Não perdes nada em me dizer porque estás tão amargurada.

- Não lucraria nada com isso.

- Isso é que tu não sabes. - observou a criatura, movendo os dedos em torno da cauda.

- Muito bem - acedeu ela. - Não vou adiantar nada, mas também não posso ficar pior do que já estou.

Assim, recobrou o ânimo e descreveu o caso das empadas, meadas e tudo o resto.

- Acaba de me ocorrer uma ideia - declarou o pequeno ser.

- Virei todas as manhãs à tua janela, receberei o linho e à noite o trarei devidamente fiado.

- E que exiges em troca?

Piscou o olho e disse:

- Todas as noites, disporás de três oportunidades de adivinhar o meu nome. Se não o conseguires antes de o mês terminar, pertencer-me-ás.

Ela refletiu que decerto seria bem sucedida até ao fim do mês, pelo que concordou.

- Ótimo! - exclamou o pequeno ser, e gostava que vissem as voltas que dava à cauda!

Na manhã seguinte, o marido conduziu-a ao aposento onde se encontrava o linho e a comida para esse dia e lembrou-lhe:

- Se não o tiveres fiado todo até à noite, perderás a cabeça. - E afastou-se, depois de fechar a porta à chave. Pouco depois, soaram leves pancadas na janela. A jovem levantou-se, abriu-a e deparou-se-lhe o pequeno e bizarro ser, empoleirado no peitoril.

- Onde está o linho?

- Aqui o tens. Quando começava a anoitecer, tornaram a bater nos vidros da janela. Ela foi abrir e, com efeito, a pequena e bizarra criatura trazia cinco meadas sobre o braço.

- Aqui estão - anunciou, entregando-lhas. - Como me chamo?

- Bill? - aventurou ela.

- Não, não é Bill. - replicou ele, agitando a cauda em todas as direções.

- Ned?

- Também não. - replicou, agitando a cauda em todas as direções.

- Então, só pode ser Mark.

- Nem pensar.

Ele agitou ainda mais a cauda e retirou-se.

Quando o marido chegou, ela mostrou-lhe as cinco meadas.

- Bem, reconheço que não tenho motivos para te matar, esta noite. Amanhã, receberás a comida e linho para esse dia.

Continuaram a levar-lhe o linho e a comida, com a visita diária do pequeno ser de manhã e à noite. Entretanto, a jovem passava o tempo a tentar decidir que nome proferiria no final de cada dia, mas nunca acertava. A medida que o fim do mês se aproximava, ele olhava-a com malícia crescente e a agitação da cauda recrudescia ante as tentativas, infrutuosas, para adivinhar o nome.

Por fim, chegou o penúltimo dia. O ser apareceu à noite com as cinco meadas e perguntou:

- Descobriste como me chamo?

- Será Nicodemos?

- Não, não é Nicodemos.

- Samuel?

- Também não.

- Então, tem de ser Matusalém.

- Nem por sombras.

Em seguida, olhou-a com intensidade e pronunciou as seguintes palavras:

- Só falta a noite de manhã, e serás minha!

E retirou-se.

Nem imaginam como a jovem ficou alarmada. De repente, porém, ouviu aproximar-se o rei, que, pouco depois, entrava. Ao ver as cinco meadas, declarou:

- Bem, minha querida, estou a ver que amanhã também terás completado as cinco meadas, pelo que não haverá motivos para te mandar matar. Por conseguinte, quero jantar contigo aqui, esta noite.

Foi servido o jantar, depois de trazerem outra banqueta para ele, e sentaram-se à mesa.

O monarca apenas introduzira a primeira garfada na boca, quando começou a rir.

- Que se passa? - quis saber ela.

- É que, quando fui à caça, hoje, entrei numa área do bosque onde nunca tinha estado e havia uma mina de cal, da qual provinha uma espécie de murmúrio. Apeei-me do cavalo, aproximei-me sem produzir o menor ruído e espreitei. Sabes o que se me deparou? O ser negro mais pequeno e gracioso que vi até hoje. Calcula o que fazia. Estava sentado diante de uma pequena roca e fiava maravilhosamente depressa, ao mesmo tempo que agitava a longa cauda em todas as direções e cantava:

Nimmy, nimmy, not
O meu nome é... Tom Tit Tot.

Quando ouviu estas palavras, a jovem conteve-se com dificuldade de dar pulos de alegria, e manteve-se quieta e calada.

Na manhã seguinte, à hora de ir buscar o linho, a pequena criatura olhou para dentro descaradamente. E, quando anoitecia, ela ouviu que a chamavam do outro lado da janela. Abriu-a e o minúsculo ser saltou imediatamente para o peitoril e entrou. Exibia um sorriso trocista de orelha a orelha, e com que rapidez agitava a cauda!

- Como me chamo? - perguntou, enquanto entregava as meadas.

- Salomão? - disse ela, fingindo-se apreensiva.

- Não, não é Salomão - replicou ele, avançando alguns passos.

- Zebedeu?

- Também não. - Agitou a cauda tão depressa, que quase não se via.- Não te precipites. Mais uma oportunidade e ficarás a pertencer-me - acrescentou, estendendo as mãos negras para ela.

A jovem recuou dois passos, olhou-o em silêncio por um momento e pôs-se a rir, ao mesmo tempo que cantarolava:

Nimmy, nimmy, not
O teu nome é... Tom Tit Tot.

Quando ouviu estas palavras, a pequena criatura emitiu um guincho e, de um salto, desapareceu na escuridão. Ela nunca mais o voltou a ver.
_________________________________
Nota do Blog:
Este conto tem muita similaridade com o conto “Rumpelstichen”, dos Irmãos Grimm. Sendo os contos dos Irmãos Grimm compilações de contos mais antigos, provavelmente o deles tenha se inspirado neste conto tradicional inglês.

Fonte:
Contos Tradicionais da Europa

Lista de Novos Veteranos da União Brasileira dos Trovadores (Novembro de 2019)



Adamo Pasquarelli – São José dos Campos/SP (falecido)
Adilson Roberto Gonçalves – Campinas/SP
Aline Raquel Ribeiro – Natal/RN
Aluízio Alberto da Cruz Quintão – Belo Horizonte/MG
Antonio Francisco Pereira – Belo Horizonte/MG
Aparecida Gianello – Martinópolis/SP
Ari Santos de Campos – Blumenau/SC
Ariete Regina Fernandes Correia – Rio de Janeiro/RJ
Austregésilo de Miranda Alves – Senhor do Bonfim/BA
Canôas Netto – Bebedouro/SP
Carlos Henrique Silva Alves – Senhor do Bonfim/BA
Caterina B. Gaioski – Irati/PR
Cícero Matos de Castro – São Gonçalo/RJ
Cláudia V. Bergamini – Londrina/PR
Cláudio Moraes – Taubaté/SP
Clóvis Wilson Mattos Andrade – Senhor do Bonfim/BA
Danusa Almeida – Campos dos Goytacazes/RJ
Débora Novaes de Castro – São Paulo/SP
Denivaldo Piaia – Campinas/SP
Eduardo Lázaro de Barros – Bauru/SP
Eduardo Sussumo – Franca/SP
Edweine Loureiro da Silva – Saitama/Japão
Edy Soares – Vila Velha/ES
Elisa Alderani – Ribeirão Preto/SP
Emílio Soares da Costa – Vitória/ES
Eulinda Barreto Fernandes – Bauru/SP
Fátima Corrêa Daniel – São Gonçalo/RJ
Francisca Isabel Bastos – Cambuci/RJ
Francisco (Gabriel) Ribeiro de Lima – Natal/RN
Hélio Castro – São Paulo/SP
Janilce Simões –  Campos dos Goytacazes/RJ
Jaqueline Machado – Cachoeira do Sul/RS
Jerson Lima de Brito – Porto Velho/RO
João Wilson Faustini – Irati/PR
José Almir Loures – Astolfo Dutra/MG
José Arthur Basaglia – São Paulo/SP
José El-Jaick – Nova Friburgo/RJ
José Feldman -  Maringá/PR
José Manuel Veloso Galvão – São Paulo/SP
José Paulo Corrêa de Souza – Juiz de Fora/MG
José Roberto Canôas – Barretos/SP
José Rui Camargo – Taubaté/SP
Kátia Sentinaro – Campinas/SP
Leni Costa Siqueira – Cordeiro/RJ
Lília Maria Machado Souza – Curitiba/PR
Lu Narbot - Campinas/SP
Lucêmio Lopes da Anunciação – Canela/RS
Luisa Nelma Fillus – Irati/PR
Luiz Hélio Friedrich – Curitiba/PR
Luiz Moraes – São José dos Campos/SP
Luiz Parellada Ruiz – Londrina/PR
Luzia Brisolla Fuim – São Paulo/SP
Luzimagda Martin Ramos da Fonseca – Juiz de Fora/MG
Madalena Ferrante Pizzatto – Curitiba/PR
Marciano Batista de Medeiros – Serra de São Bento/RN
Marco Aurélio Goulart – Itapecuru-Mirim/MA
Marco Fietto – Juiz de Fora/MG
Marcos Antônio Campos – Natal/RN
Maria do Carmo Zerbinato – Niterói/RJ (falecida)
Maria Dulce Esteves da Carvalheira – Recife/PE
Maria Otília Marques Camilo – Niterói/RJ
Maria Zilnete de Moraes Gomes – Campos dos Goytacazes/RJ
Mariângela Tavares – São Gonçalo/RJ
Mário Moura Marinho – Sorriso/MT
Marly Barduco – Santos/SP
Marta Codeço – Campos dos Goytacazes/RJ
Maryland Faillace – Santos/SP
Maurício Norberto Friedrich – Curitiba/PR (falecido)
Max Reis – Belém/PA
Mifori – São José dos Campos/SP
Myrthes N. Spina de Moraes – Atibaia/SP
Nadja Cristina Lenzi Gadotti – Balneário Camboriú/SC
Nair Lopes Rodrigues – Santos/SP
Nelson de Souza – Atibaia/SP
Nilsa Alves de Melo – Maringá/PR
Odete Alves Macieira – Cambuci/RJ
Olga Maria Dias Ferreira – Pelotas/RS
Olinda da Silveira – Atibaia/SP
Paulo Maurício Gomes da Silva – Teresópolis/RJ
Paulo Roberto de Oliveira Caruso – Rio de Janeiro/RJ
Plácido Ferreira do Amaral Júnior – Caicó/RN
Reovaldo Paulichi – Atibaia/SP
Rita de Cássia Tozatto – Belo Horizonte/MG
Roderique Pedro Albuquerque – Itaboraí/RJ
Romilton Faria – Juiz de Fora/MG
Ronnaldo Andrade – São Bernardo do Campo/SP
Rosa Maria Gomes – Rio de Janeiro/RJ
Rozanni Garcia – Caicó/RN
Ruth Hellmann – Dourados/MS (falecida)
Sílvia Alice de Carvalho Figueiredo – Angra dos Reis/RJ
Sílvia Maria Svereda – Irati/PR
Sílvio Romero R. Tavares – Campinas/SP
Talita Batista – Campos dos Goytacazes/RJ
Valdemar Juvino de Araújo – Serra Negra do Norte/RN
Valdereis Ururahy Rodrigues – Rio de Janeiro/RJ
Valter Rodrigues Mota – Taubaté/SP
Venceslau Olival – Nova Friburgo/RJ
Zé Salvador – São Gonçalo/RJ
Zélia Maria de Nardi – Caxias do Sul/SC


Fonte da Imagem: Depositphotos

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Varal de Trovas n. 157


A. A. de Assis (Jardim do Imperador)


O jardim foi sempre uma espécie de sala vip da cidade, o espaço nobre onde tudo acontecia. O footing na calçada em torno; o coreto ao centro – palco para retretas, palanque para comícios, altar para missas campais; ambulantes vendendo sorvete, pipoca, mariola; crianças brincando de dia; namorados brincando de noite.

Segundo as atas, foi construído ainda na época da monarquia, em honra de Dom Pedro II, que naquele chão pisara. O nome aliás atesta-o: Jardim do Imperador, que edil nenhum até hoje ousou mudar. O povo diz às vezes “largo” ou “praça”, mas o nome oficial, de batismo, é “jardim” mesmo: Jardim do Imperador, orgulho do lugar.

O problema era a indisciplina dos passantes. Em vez de caminhar pelas trilhas cuidadosamente mantidas e varridas pela prefeitura, insistiam em passar por cima dos canteiros. Daí que o chamado “coração da urbe” precisou ser várias vezes reconstruído. Cada novo prefeito, logo que assumia, redesenhava o recanto, replantava a grama, renovava as flores, repodava as árvores. Houve um que chamou arquitetos da capital para orientar a reforma, entretanto infrutiferamente.

Campanhas nas escolas e através da rádio local, sermões do padre e do pastor, panfletos apelando à consciência da população, nada surtia efeito, sequer a ameaça de multas. Os passantes teimosamente continuavam passando por sobre defeituosos atalhos.  Só Seu Chiquinho entendia e explicava o fenômeno: “Falta de democracia acaba nisso. Me elejam prefeito e resolvo o caso”.

Até que um dia Seu Chiquinho enfim prefeito se fez. Primeira providência, em cumprimento da promessa: desmanchou o jardim. Deixou intatos somente o coreto e as árvores; no demais mandou passar o arado e com enorme gramado cobriu a área inteira.

Em poucas semanas os passantes, no seu contínuo vaivém, fizeram novas trilhas, só que dessa vez a seu jeito, sem desenho algum traçado em gabinetes. “Democracia é assim: o povo criando seus próprios caminhos”, confirmava o sábio burgomestre, ditando os lances para a conclusão da obra: “Agora resta apenas calçar e retocar com o devido capricho as passarelas que o povo marcou, depois fazer os canteiros ao lado... e pronto, estará resolvido o problema. As linhas poderão até parecer um pouco tortas, porém o importante é que foram definidas pelos donos delas, os cidadãos passantes, na mais absoluta liberdade. E é isso que de fato interessa”.

Seu Chiquinho estava certo: nunca mais indisciplinado algum pisou na grama nem chutou as flores, bastando hoje aos jardineiros aguar as plantinhas para conservá-las viçosas. “Democracia é assim”, insistia ele: “Quando o povo é que faz a lei, a lei se cumpre. Se o povo é que abre a trilha, por ela caminha o povo. Não há ninguém que obrigue ninguém a seguir sem vontade um rumo”.

Fonte:
A. A. de Assis. Vida, Verso e Prosa.
Livro entregue pelo autor

Heitor Stockler de França (Poemas Avulsos)


DENTRO DE UM GRANDE SONHO

Alma simples de poeta e coração sem jaça,
Nasci para ser bom, livre de preconceito,
Vivendo para amar, na beleza e na graça,
Tudo que é natural e tudo que é perfeito.

E sinto este meu ser já de tal afeito
A esse fino prazer, licor de azulea taça,
Que me julgo feliz, glorioso e satisfeito
Na artística emoção que todo me repassa.

Embora a aparecer na áurea legião da rima,
Não vislumbro fulgor no estro que me anima,
Nem sei se há vibração nos versos que componho.

E assim, tal como a névoa errante pela altura
Infinita do céu, a mim se me afigura
Que passo por aqui dentro de um grande sonho!

EU E A VIDA

Meu corpo, este conjunto singular,
Prodigioso na sua estruturação,
Foi definido para agasalhar
A vida no rigor da sua função.

Assim, a infância como a adolescência,
Inda a maturidade conceituosa,
Nele estiveram, em normal sequência,
Aguardando a velhice caprichosa.

Vê-se que quatro fases circunscritas,
Distinguem o ritual da vida humana
E que a nem toda gente por suas ditas,
Dado é atingir a escala soberana.

Eu, todavia, me sentindo em graça,
Três etapas venci conscientemente,
Porém, na última que exige raça,
É prêmio para mim estar presente.

A primeira chegou, era a esperança,
A alacridade em saltos de balé,
A puerícia a entrar na contradança
Do mundo, ainda, insciente a tomar pé.

A segunda, ardorosa sucessora,
De início encheu de sol todo o cenário
E esbanjou sensações como se fora
Eterno esse período extraordinário.

A terceira, entretanto, ponderada,
Sem se afastar do belo, da ventura,
Também sonhou, cantou emocionada,
Certa de que o melhor nem sempre dura.

A quarta, venerável, mas temida,
A estimular-me, atenta permanece,
Até quando não sei. Gosto da vida,
Por isso é que ela escuta a minha prece.

MAIS UM ANO

Mais um ano deflui e noto. se me amplia
O vinco natural dessa rude passagem.
Com esperança Imensa a vida se inicia.
Mas, é incógnita, sempre, o termo de uma viagem!

É certo que envelheço e passo, todavia.
Se meu físico cede e rola na voragem,
Tenho a alma intacta e nova, ainda, e quem diria?
Sempre atrás de um Ideal - a fúlgida miragem!

Parece-me que tudo o que tenho aspirado.
No lento decorrer desta jornada de anos,
De canseiras sem trégua e vagos desenganos.

Com armadura de aço e tal como um Cruzado,
A passos vou vencendo e, pelo algo que fiz,
Arrogo-me o direito a me julgar feliz!

MINHA DESPEDIDA

O meu estado de doente
Não aguenta mais a cama,
Sou por isso impertinente,
Não é comédia, isto é um drama.

Assistido como estou
Pela esposa, filhos, netos,
A moléstia se afastou,
Vencida pelos afetos.

Minha esposa é meu jardim
Não de avencas, nem junquilhos,
Flores d'alma, ramo afim,
Pelo amor de nossos filhos.

Das duas noras que temos
Eu e Brasília até agora,
Carinhosas, não sabemos,
Qual delas a melhor nora.

Dos genros, dois, nem se fala,
É uma parelha batuta
Feita ao requinte de sala,
Quanto da vida na luta!

REFLEXOS DA INFÂNCIA

Gosto de fazer versos quando chove
E ouço o marulho d'água nas sarjetas;
Esse fragor de indômitas maretas,
Tem não sei quê de estranho e me comove...
Não que eu seja um triste, um alma doente,
Às belezas da vida indiferente.

Mas, apenas porque
Minhas recordações da infância
Despertam meu passado
Que, embora distante,
Ainda mora no meu ser.

Revejo, então, contemplativo,
Como num cosmorama
Detalhes da época vivida
No lugarejo natal.

Agora, a casa paterna,
Depois, lá fora, na chácara,
A horta verde, o pomar,
O campo, a aguada, a mangueira,
A lida da criação;
O vento, a chuva, a bonança,
A enxurrada nos caminhos,
O sol dourando a paisagem,
E eu, como um rei de tudo,
Contente a gozar a vida.

Por isso, se está a chover
E se outra coisa não faço,
Faço poemas, versos traço,
Para a infância reviver!...

SEGUE O TEU MESTRE

É extensa a estrada real.
É largo esse caminho
Onde o sol espadana estranha luz,
Ora sendo de flor, ora de espinho,
Fulgindo em cada pétala um ideal
E em cada sombra uma maciez de arminho.

Por ela é que o destino te conduz!...

Essa estrada é o Caminho de São Thiago,
A Via-Láctea do sonho que te embala…
Mas, ante o ignota que é tão vago,
Que canseiras terás para alcançá-la!

Caminha e acautela-te, entretanto,
Ouvindo os ecos bons, desviando os maus,
O teu cérebro inculto, ainda, é um caos
E o passo é tardo e incerto, por enquanto.

Segue o teu Mestre que conhece a viagem…
Ouve-lhe a voz de apóstolo e de amigo;
É bem certo que estando ele consigo,
Aprenderá melhor toda a paisagem.

Verá através da ciência conhecida,
Tudo o que a mater natureza encerra:
Perfume, luz e som, o céu e a terra,
O mundo todo - o ritmo da vida!

Fonte:
Apollo Taborda França. Palmeira e o seu poeta Heitor Stockler. Palmeira/PR: A. T. França. 2004.
Livro enviado por Vânia Ennes.

Arthur de Azevedo (João Silva)


Em casa do comendador Freitas, na Fábrica das Chitas, andavam todos "intrigados" com aquele flautista misterioso que, em companhia de um preto velho, taciturno e discreto, morava, havia perto de dois meses, numa casinha cujos fundos davam para os fundos da chácara.

Quando digo "todos", não digo a verdade, porque o vizinho não era completamente estranho à srta. Sara, filha única do aludido comendador. Encontrara-o algumas vezes na cidade, ora nos teatros, ora em passeio, e sempre lhe parecera que ele a olhava com certa insistência e algum interesse.

Conquanto não fosse precisamente um Adônis, esse desconhecido começava a impressionar o seu espírito de moça, até então despreocupado e tranquilo, quando certa manhã os sons maviosos de uma flauta atraíram a sua atenção para a casinha dos fundos, e ela reconheceu no vizinho que, sentado num banco de ferro, sob uma velha latada de maracujás, soprava o sugestivo instrumento de Pã, o mesmo indivíduo cujos olhares a perseguiam na rua ou no teatro.

Dizer que esse encontro não produziu o romanesco efeito com que naturalmente contava o melômano seria faltar à verdade que devo a meus leitores. Não, a srta. Sara não se contrariou com avistar ali o moço que parecia distingui-la em toda a parte onde o acaso os reunia. Não quer isto dizer houvesse dentro dela outra coisa mais que uma sensação passageira, mas o caso é que a filha do comendador Freitas não fez a esse respeito a menor confidência a nenhuma pessoa da casa, e esta reserva era, talvez, o prenúncio de um sentimento mais decisivo.

Todavia, todos em casa, amos e criados, se preocupavam muito com o inquilino da casinha dos fundos.

A coisa não era para menos. O rapaz (era ainda um rapaz: poderia ter trinta anos) erguia-se muito cedo e punha-se a jardinar, plantando, enxertando, podando, regando, e gastava nisso duas horas. Quando ele foi ali residir, o quintal estava abandonado, o mato invadira e destruíra tudo, poupando apenas a latada de maracujás. Pouco a pouco, sozinho, sem o auxílio de ninguém, trabalhando das seis às oito horas da manhã, ele havia ajardinado o terreno, onde já se ostentavam lindíssimas flores.

Ás nove horas, o preto velho, que provavelmente acumulava as funções de criado de quarto, copeiro, cozinheiro, vinha chamá-lo para almoçar. Depois do almoço ele saía, esperava o bonde, e lá ia para a cidade. Voltava às quatro horas, jantava; depois do jantar acendia um charuto e passeava no quintal, examinando as plantas, que umas vezes regava e outras não. Ao cair da tarde pegava na flauta e saudava o crepúsculo com as suas músicas tristes e saudosas. Depois, vinham as trevas da noite, e ninguém mais o via senão no dia seguinte, de manhã muito cedo, recomeçando a existência da véspera.

Nada houvera de notar, se um dia ou outro sofresse qualquer modificação aquele gênero de vida, mas não! Aquilo passava-se diariamente com uma uniformidade cronométrica, e toda a gente em casa do comendador Freitas perdia-se em conjecturas.

O que havia de mais singular na existência daquele moço era, talvez, o fato de ele não receber visitas nem as fazer. Naquela idade, isso era inexplicável.

O comendador tinha-o na conta de um misantropo, enfezado contra a sociedade: na opinião de d. Andreza, sua esposa, era um viúvo inconsolável. D. Irene, irmã de d. Andreza, tinha, como em geral as solteironas, o mau vezo de dizer mal de todos, conhecidos e desconhecidos: por isso afirmava que o vizinho era um bilontra, que se escondia ali para escapar aos credores. Tinha cada qual a sua opinião, e divergiam todos uns dos outros.

O copeiro quis certificar-se da verdade interrogando o preto velho, mas este a todas as perguntas respondia invariavelmente que sabia de nada. A dar-lhe crédito, ele ignorava até o nome do patrão.

Entretanto, de olhadela em olhadela, de sorriso em sorriso, tinha-se estabelecido aos poucos um namoro em regra entre o flautista e a filha do comendador Freitas.

Da janela do seu quarto, a srta Sara podia namorá-lo, sem ser vista por ninguém, nem que ninguém suspeitasse, nem mesmo d. Irene, que via mosquitos na lua.

Naturalmente a moça ardia em desejos de verificar a identidade do vizinho, e não tardou que o fizesse. Uma tarde, quando os olhares e os sorrisos dela já se haviam longamente familiarizado com os dele, o solitário, depois de modular na flauta uma enternecedora melopeia, mostrou à srta. Sara um objeto que tinha na mão, e atirou-o por cima do muro na chácara, Era uma pedra, envolta num pedaço papel, em que vinha uma declaração de amor redigida em termos respeitosos.

A moça, que não era avoada, hesitou longos dias se devia ou ao responder, mas respondeu afinal, servindo-se da mesma pedra.

E durante muito tempo andou a pedra de cá para lá, de lá paca, da chácara para o quintal, do quintal para a chácara, aproximando um do outro aqueles dois corações separados por um muro.

Por um muro? Não! Por uma invencível muralha!

O namorado chamava-se João Silva, como toda a gente; não tinha parentes nem aderentes; era um empregado público paupérrimo, ganhando muito pouco; ainda assim, pediria imediatamente a mão da srta. Sara, se esta se sujeitasse a viver tão pobremente. Sabia a moça que o pai era ambicioso, desejava que ela se casasse com algum negociante em boas condições de fortuna ou pelo menos bem encaminhado, e participou a João Silva os seus receios.

Um velho amigo do comendador, o comandante Pedroso, oficial de Marinha reformado, padrinho de batismo da srta. Sara, infalível aos domingos na Fábrica das Chitas, havia se comprometido com a família Freitas a indagar e descobrir quem era o flautista.

Por esse tempo, o comandante apareceu em casa dos compadres, levando as mais completas informações acerca do misterioso vizinho, informações que concordavam inteiramente com o que já sabia a srta. Sara.

- É um empregadinho da Alfândega, disse o comandante com ar desdenhoso; não tem onde cair morto!

Mas acrescentou:

- Um esquisitão, muito metido consigo; entretanto, não é mau rapaz, nem mau funcionário.

Essas informações fizeram com que dali por diante o vizinho deixasse de ser objeto de curiosidade, o que facilitou extraordinariamente os seus amores, prosseguindo estes com tanta intensidade, que a srta. Sara, aconselhada por João Silva, resolveu dizer tudo à mãe.

D. Andreza, que desejava ser sogra de um príncipe, caiu das nuvens, zangou-se, bateu o pé, chorou, quis ter um ataque de nervos, e intimou a filha a acabar com "essa pouca-vergonha", pois do contrário o pai mandaria dar uma tunda de pau no tal patife!

D. Irene, a quem d. Andreza transmitiu a confidência que recebera, ficou furiosa, e aconselhou a irmã que contasse tudo ao marido. A outra assim fez.

O comendador Freitas, para quem a vida de família correra até então sem o menor incidente desagradável, e que não estava, portanto, preparado para essa crise doméstica, perdeu a cabeça, e deu por paus e por pedras. Em vez de chamar a filha e admoestá-la brandamente, fazendo-lhe ver que futuro a esperava em companhia de um homem sem recursos para mantê-la dignamente, esbravejou como um possesso, mandou fechar a pregos a janela do quarto da rapariga, ameaçou e insultou em altos brados o rapaz, que lhe não respondeu, e levou a toleima ao ponto de ir à delegacia queixar-se que lhe namoravam a filha! Foi um escândalo com que se regalou a vizinhança.

Esse tratamento desabrido fez com que despertassem na srta. Sara instintos de revolta, e aquele inocente capricho, que o carinho paterno poderia destruir, transformou-se em paixão indômita e violenta - tão violenta que a moça adoeceu.

Aproveitando o pretexto dessa doença, o pai levou-a para Jacarepaguá, onde alugou um sítio.

Foi em Jacarepaguá que o comandante Pedroso, aparecendo um belo domingo em que a convalescente devia fugir de casa - pois o João Silva, por artes do diabo, que só lembram aos namorados, achou meios e modos de se comunicar com ela -, foi em Jacarepaguá, dizíamos, que o comandante Pedroso deu parte ao compadre que tinha arranjado para a afilhada um casamento de truz: o Pedro Linhares, herdeiro de um dos agricultores mais abastados de São Paulo. O rapaz voltara da Europa e vira, num teatro, a srta. Freitas. Sabendo que ele, comandante, era padrinho da moça, procurara-o para pedir-lhe que o apresentasse à família.

- Esse casamento seria uma felicidade, disse o comendador; mas, infelizmente, a pequena continua apaixonada pelo flautista; não há meio de lho tirar da cabeça!

- Qual não há meio nem qual carapuça! Você vai logo às do cabo e quer levar tudo à valentona! Deixe-me falar com ela... verá como a decido a aceitar o paulista!

- Você!

- Eu, sim!

- Duvido!

- Não custa nada experimentar. Oh, Santa, vem cá, minha filha! Vamos aí à sala que te quero dar uma palavra!

E voltando-se para os compadres:

- Façam favor de não interromper a nossa conferência!

O padrinho fechou-se na sala com a afilhada, e tão persuasivo foi, que um quarto de hora depois - um quarto de hora apenas! - saíram ambos muito contentes. A srta. Sara parecia outra!

A estupefação foi geral.

- Conseguiste alguma coisa? - perguntou o pai ao padrinho.

- Consegui tudo. Agora peço-te licença para ir buscar o Pedro Linhares, que ficou esperando na estrada.

O comandante saiu e voltou logo com o rico paulista, que o esperava na cancela, à entrada do sítio.

Imaginem qual foi a surpresa da família vendo João Silva, o flautista!

O comendador começou a esbravejar, conforme o seu costume; d. Andreza e d. Irene caíram sentadas no canapé, dispondo-se a ter cada uma o seu ataque de nervos; mas o comandante serenou os ânimos, gritando com toda a força dos seus pulmões:

- Este é o senhor Pedro Linhares!

Houve um silêncio tumular, que o recém-chegado cortou com estas palavras:

- Senhor comendador, minhas senhoras, vou explicar-lhes tudo. Quando cheguei da Europa, fiquei perdido de amores por dona Santa desde o primeiro dia em que a vi; mas como sou muito rico, e muito desejado, entendi dever conquistá-la por mim e não pelos meus contos de réis. Por isso, e de combinação com o meu amigo aqui presente...

E apontou para o comandante, que sorriu.

- ... me fiz passar por um pobretão, representando uma comédia cujo desenlace foi o mais feliz que podia ser. Hoje que, a despeito da vigilância paterna, dona Santa deveria fugir deste sítio em companhia de João Silva, Pedro Linhares, tendo a certeza de que é amado, deixa o seu incógnito, e vem pedi-la em casamento.

A moralidade do conto é consoladora para os pobres: quem tem muito dinheiro não confia em si.

Fonte:
Arthur de Azevedo. Contos vários.

II Concurso de Trovas Cidade de Curitiba (Prazo: 31 de Maio de 2020)

Aviso do Blog: 
1- O Trovador só poderá participar em um âmbito
2- Amanhã será postada a lista de Novos Veteranos até final de 2019.
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REGULAMENTO

1. Do Tema. - Trovas líricas ou filosóficas

- Âmbitos Nacional/Internacional (Brasil e demais países de língua portuguesa):
“INCLUSÃO SOCIAL” (* Ver Notas ao final do regulamento)

- Âmbito Estadual (somente o Estado do Paraná):
“CIDADANIA” (** Ver Notas ao final do regulamento)

-Âmbito Estudantil (Ensino Fundamental e Médio):
“NÃO VIOLENCIA” (*** Ver Notas ao final do regulamento)

1.1. - A expressão ou palavra tema não precisa constar do corpo da trova.

1.2. - Nos âmbitos Nacional/internacional e Estadual, serão contemplados trovadores das categorias Novo Trovador e Veterano.

1.2.1. - Será considerado Novo Trovador aquele trovador que não obteve até a divulgação deste regulamento 03 (três) classificações em concursos de trova oficiais da UBT em nível nacional.

2 - Modo de Envio. –

As trovas deverão ser no máximo 02 (duas) por participante, inéditas, de autoria do próprio remetente e, enviadas:

 – Por sistema de envelopes, ou

 – Por e-mail.

2.1. - Pelo sistema de envelope, deverá constar no envelope pequeno o âmbito e a categoria pela qual concorre o trovador. As trovas deverão ser digitadas ou datilografadas. Não serão aceitas Trovas manuscritas, mesmo que sejam em letra de forma, tampouco envelopes coloridos.

2.2. - Por e-mail, devem ser encaminhadas aos cuidados do Fiel depositária do presente Concurso, o trovador Jerson Brito. Não serão aceitos anexos. As trovas, bem como, a categoria pela qual concorre o trovador deverão constar no corpo do e-mail.

2.3. – É obrigatória a informação pelo participante, sob pena de desclassificação, do nome e endereço postal completo (inclusive CEP, Telefones e e-mail se houver).

3. - Endereço para remessa:

3.1.: Todos os âmbitos e categorias - Sistema de envelopes:

II Concurso de Trovas Cidade de Curitiba
A/C Centro de Letras do Paraná.
Rua Fernando Moreira, 370. Centro.
CEP 80.410-120. Curitiba – Paraná.


3.1.1.: Para todas as categorias âmbito nacional/internacional/estadual e estudantil, deverá constar no envelope como remetente Luiz Otávio, e o mesmo endereço do destinatário.

3.2.: Todos os âmbitos e categorias - Por E-mail:

As trovas deverão ser encaminhadas para: jersonbrito.pvh@gmail.com
 

4. Do Prazo

Todos os Âmbitos: Serão consideradas as trovas que chegarem até 31/05/2019.

5 – Da Premiação

A premiação acontecerá no mês de setembro de 2020 em data, local e horário a ser definido.

5.1. – Será concedido Diploma para todos os classificados.

5.2. - A UBT-Curitiba não se responsabilizará por quaisquer despesas de locomoção e/ou hospedagem dos classificados para o recebimento da premiação.

5. - Da Comissão Organizadora

5.1 A Comissão Organizadora resolverá os casos omissos e suas decisões serão definitivas e irrecorríveis.

5.2 As trovas remetidas em desacordo com qualquer item, serão eliminadas automaticamente do concurso.

5.3 A simples remessa das trovas significa total conhecimento e completa aceitação deste Regulamento.

Maiores informações pelo e-mail: ubtctba@gmail.com
Ou pelo telefone (41) 99787-9485

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NOTAS

* Inclusão social:
(Tema âmbitos Nacional/internacional)


O que é Inclusão social:
Inclusão social é o conjunto de ações que garante a participação igualitária de todos na sociedade, independente da classe social, da condição física, da educação, do gênero, da orientação sexual, da etnia, entre outros aspectos.

Antes que as medidas de inclusão social sejam formuladas e aplicadas, é necessário observar quais são os grupos excluídos e o que deve ser melhorado para que possam estar plenamente inseridos na sociedade. Por exemplo, os deficientes físicos (principalmente os cadeirantes) precisam que as calçadas públicas estejam em boas condições e que tenham rampas. Caso contrário, essas pessoas passam a não se sentirem representadas na própria sociedade em que vivem, pois suas necessidades são simplesmente ignoradas. Construir rampas que facilitem o acesso dos deficientes físicos às calçadas passa a ser um exemplo de inclusão social, pois consiste numa medida que tem como objetivo promover a integração harmoniosa de um grupo, a princípio marginalizado, na sociedade.

Vejamos um exemplo: Inclusão social nas escolas Também chamada de inclusão escolar, consiste em ações inclusivas tomadas no âmbito de uma instituição de ensino, espaço este que deve ser parte primordial para a formação do ser humano como um cidadão. A inclusão social nas escolas visa eliminar o preconceito e a discriminação, independentemente do tipo (étnica, de deficientes, de gênero, de orientação sexual, etc).

Inclusão social no Brasil
O Brasil presencia grandes desigualdades sociais e, consequentemente, exclusão de diversos grupos dos seus direitos básicos como cidadãos. Para ajudar a amenizar estes casos, foram criadas algumas políticas assistencialistas como forma de inclusão social, como é o caso do Bolsa Família, Fome Zero, Minha Casa Minha Vida, entre outros programas governamentais. Leis que garantem os direitos de grupos tradicionalmente marginalizados pela sociedade, como a comunidade LGBT, negros e mulheres, por exemplo, também são exemplos de ações que visam a inclusão social.

** Cidadania
(âmbito estadual)


O que é Cidadania:
Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais estabelecidos na Constituição de um país, por parte dos seus respectivos cidadãos (indivíduos que compõem determinada nação).

A cidadania também pode ser definida como a condição do cidadão, indivíduo que vive de acordo com um conjunto de estatutos pertencentes a uma comunidade politicamente e socialmente articulada. Uma boa cidadania implica que os direitos e deveres estão interligados, e o respeito e cumprimento de ambos contribuem para uma sociedade mais equilibrada e justa.

Qual a importância da cidadania?

Teoricamente, a aplicação do conceito de cidadania é imprescindível para que haja uma melhor organização social. Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos e obrigações, garantindo que estes sejam colocados em prática.

Exercer a cidadania é estar em pleno gozo das disposições constitucionais. Preparar o cidadão para o exercício da cidadania é um dos objetivos da educação de um país.

Direitos e deveres
A cidadania é constituída pela junção de uma série de direitos e deveres, que variam de acordo com cada nação ou grupo social. No entanto, a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, alguns tópicos passaram a ser considerados universais para quase todos os seres humanos.

Entre alguns dos principais deveres e direitos dos cidadãos está:
Deveres do cidadão
• Votar para escolher os governantes;
• Cumprir as leis;
• Educar e proteger seus semelhantes;
• Proteger a natureza;
• Proteger o patrimônio público e social do País.

Direitos do cidadão
• Direito à saúde, educação, moradia, trabalho, previdência social, lazer, entre outros;
• O cidadão é livre para escrever e dizer o que pensa, mas precisa assinar o que disse e escreveu;
• Todos são respeitados na sua fé, no seu pensamento e na sua ação na sociedade;
• O cidadão é livre para praticar qualquer trabalho, ofício ou profissão, mas a lei pode pedir estudo e diploma para isso;
• Só o autor de uma obra tem o direito de usá-la, publicá-la e tirar cópia, e esse direito passa para os seus herdeiros;
• Os bens de uma pessoa, quando ela morrer, passam para seus herdeiros;
• Em tempo de paz, qualquer pessoa pode ir de uma cidade para outra, ficar ou sair do país, obedecendo a lei feita para isso

Exemplos de cidadania
Praticar a cidadania é usufruir dos direitos e deveres que, teoricamente, todos os cidadãos têm. Por exemplo, no Brasil é obrigatório o voto, mas em outros países esse ato é opcional. Porém, trata-se de um exemplo de cidadania exercer esse direito de escolher os representantes políticos através do processo de eleição. Outro exemplo de cidadania é o zelo que cada pessoa deve ter com os espaços de bem-comum, como praças, ruas e demais locais de acesso público.

Origem da cidadania
A concepção de cidadania teria surgido durante a Grécia Antiga, mas de um modo menos igualitário como é praticada hoje em dia. Naquela época eram considerados cidadãos apenas os homens livres que nasciam e viviam nas cidades. Estrangeiros e mulheres, por exemplo, não tinham os direitos e deveres que o regime político "democrático" concedia.

Aliás, etimologicamente a palavra cidadania se originou do latim civitas, que significa literalmente "cidade", pois estava diretamente relacionada com as pessoas dos centros urbanos. Atualmente, no entanto, o conceito de cidadão extrapola os limites das metrópoles. A partir do século XVIII, com influência dos ideais iluministas e do liberalismo econômico e político, o modo como a cidadania passa a ser interpretada começa a se assemelhar ao modelo contemporâneo.

*** Não Violência:
(âmbito estudantil – Ensino Médio e Fundamental)


O que é Violência:
Violência significa usar a agressividade de forma intencional e excessiva para ameaçar ou cometer algum ato que resulte em acidente, morte ou trauma psicológico. A violência se manifesta de diversas maneiras, em guerras, torturas, conflitos étnico-religiosos, preconceito, assassinato, fome, etc. Pode ser identificada como violência contra a mulher, a criança e o idoso, violência sexual, violência urbana, etc. Existe também a violência verbal, que causa danos morais, que muitas vezes são mais difíceis de esquecer do que os danos físicos.

A palavra violência deriva do Latim “violentia”, que significa “veemência, impetuosidade”. Mas na sua origem está relacionada com o termo “violação” (violare). Quando se trata de direitos humanos, a violência abrange todos os atos de violação dos direitos: civis (liberdade, privacidade, proteção igualitária); sociais (saúde, educação, segurança, habitação); econômicos (emprego e salário); culturais (manifestação da própria cultura) e
políticos (participação política, voto).

Fonte:
UBT-Seção Curitiba. Os Trovadores. Ano 29. Nº 97- Edição Janeiro/2020.