sábado, 11 de janeiro de 2020

Filemon F. Martins (Poemas Escolhidos) VI


MINHA PAIXÃO
Não consigo entender porque partiste,
deixando-me sozinho em terra estranha.
Hoje, não tenho a luz e sou mais triste,
porque sem ti, o amor não me acompanha.

Como esquecer a mágoa que me assiste,
— se a saudade chegou cheia de manha?
Teu perfume de flor ainda insiste
em aumentar a minha dor tamanha...

Por que fugiste assim, minha poesia,
eras tu meu querer, minha alegria,
a energia que vibra no meu ser.

Tu és da minha casa, a grande porta,
a inspiração ardente que conforta
para escrever meu verso até morrer.
* * * * * * * * * * * * * *

O BEIJA-FLOR
Levanto cedo e veja quem me espera,
um lindo beija-flor beijando a rosa.
Não para de adejar, ai quem me dera
sugar também aquela flor mimosa.

Quantas flores o beija-flor paquera
e baila no ar buscando a flor ditosa
e se exibe num voo que acelera
à procura da flor, a mais viçosa.

De flor em flor consegue seu intento,
mesmo voando em luta contra o vento
para beijar, feliz, mais uma flor...

Também o bardo — beija-flor certeiro,
de verso em verso vai buscar faceiro
dentro do peito uma canção de amor.
* * * * * * * * * * * * * *

SEM FRONTEIRAS

Viajo com as nuvens. Sou poeta.
Gosto de dar vazão ao pensamento,
Sou capaz de chegar ao firmamento
e voltar para a terra como atleta.

Na terra, pego a minha bicicleta,
vou pedalando mesmo contra o vento,
enquanto os versos nascem no acalento
de uma paixão suave e não secreta…

Não há fronteiras, pois o amor é brando,
poetas são assim, vivem sonhando
com um mundo feliz e mais humano.

Não importa se a vida é muito breve,
importa o amor que faz o peso leve,
quando o perdão se torna soberano.
* * * * * * * * * * * * * *

SOMOS UM

Hoje, voltas depois de tanto tempo
e enlaças outra vez a minha vida.
Meu coração de amor se faz sedento
e busca no teu seio uma acolhida.

E se te vejo esbelta, o sentimento
cresce no peito com paixão sofrida:
ficar longe de ti é meu tormento
e a noite fica longa e mal-dormida.

Desperta o sol. Os pássaros em festa,
o amor renasce e entoa uma seresta
à vida que sonhei te amando assim...

E quanto mais te beijo, mais te quero,
e em te querendo, mais eu te venero,
pois somos um e estás dentro de mim!
* * * * * * * * * * * * * *

SÚPLICA

Sou um estranho no Planeta Terra,
onde o certo nem sempre prevalece,
onde o forte se impõe, fazendo guerra,
e o amor no coração desaparece.

Vou fugir da cidade para a serra,
quero elevar meu pensamento em prece,
vou meditar, quem sabe assim encerra
a solidão que fere e não aquece.

Escárnio, ingratidão e desengano,
contaminam a terra e o ser humano,
ninguém escapa ileso a tanta dor.

Suplico, pois, Senhor, que ponha fim
ao desconforto de sofrer assim,
melhor viver à sombra de um amor.
* * * * * * * * * * * * * *

 VELHO MAR

Nasci longe do mar, mas seduzido
por seu fascínio belo, encantador,
fico ouvindo, na praia, o seu gemido
e os madrigais de um velho pescador.

Mas às vezes me sinto assim perdido
como um barco singrando sem motor,
ouço as ondas num grito dolorido,
uma angústia que cala a própria dor.

Vejo da praia, a imensidão do mar,
as ondas que o rochedo vêm beijar,
depois, voltam serenas sem rancor.

Cada onda que vem morrer na praia,
parece a minha vida que desmaia
ao pensar em perder o teu amor.

Fonte:
Filemon Francisco Martins. Anseios do coração. São Paulo: Scortecci, 2011.

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