Ah, quantos lindos castelos
põe a vida em nossa mão,
lembrando os sonhos mais belos
que temos no coração!
A saudade é a companhia
mais doce que Deus nos deu.
Sem ela, o que restaria
aos velhinhos como eu?...
A vida nem sempre é encanto;
para alguns é injusta e inglória...
– Quanta gente corre tanto,
porém perde o trem da história!
Brincante como um garoto,
planas no espaço sem fim...
– Só o poeta, irmão piloto,
consegue voar assim!
Canoando mar afora,
a esperança me conduz.
Já vejo lá adiante a aurora
trazendo uma nova luz.
Decerto, como um deserto
criado pela ambição,
deserto é também, decerto,
hoje o humano coração.
Deixando a infinita altura
e as honras da eternidade,
fez-se o Criador criatura,
por amor à humanidade.
Dê-se ao jovem liberdade
para sem medo ele ousar.
– É no ardor da mocidade
que o sonho aprende a voar!
Foi noite de lua cheia,
e que saudade deixou...
- Em dois corações, na areia,
sinais do que ali rolou!
Gondoleiro, meu amigo,
por favor, vai devagar...
Com minha amada comigo,
quero perder-me em teu mar!
Há celulares à farta,
iphone, computador...
Mas nada se iguala à carta
para os recados de amor!
Lei antibeijo é, no fundo,
uma forma de terror:
ajuda a matar, no mundo,
o que ainda resta de amor.
Mantenha a esperança alerta,
por mais que lhe pese a cruz.
– Há sempre uma porta aberta
para quem procura a luz.
Movido a sonho, eu poeta,
porque amo a estrada, não canso.
– Mais importante que a meta
é cada passo que avanço.
Nada na vida é mais triste
nem dói mais que a solidão:
– sentir que em redor existe
um mundo... e ouvir dele não!
Não chamem de mundo-cão
o feio mundo do mal.
No cão pulsa um coração
melhor que o nosso, em geral.
Nós dois num banquinho tosco,
num sítio sereno e lindo...
O amor se envolveu conosco,
e o sonho se fez infindo!
Nossa vida é um filme assim:
um roteiro abrasador...
Tem beijos do início ao fim,
cada qual com mais calor!
O rio, língua da serra,
se alonga abrindo uma trilha;
e afaga a face da terra,
qual fêmea lambendo a filha!
Poeta nenhum se priva
de certos dengos vitais:
– Sem pão talvez sobreviva,
mas sem ternura... jamais!
Que pena que a vida passa
sem que a gente, na corrida,
desfrute, com tempo, a graça
do tempo melhor da vida!
Que será que esse recado
na garrafa traz, e a quem?
– Vem de alguém que, apaixonado,
tem saudade do seu bem!...
Segura, peão, segura,
que a vida é um grande rodeio...
– É luta bela, mas dura,
com muitos trancos no meio!
Uma boca em cada ponta
de um fio de macarrão...
Ao fim, o encontro que conta:
boca na boca... e um beijão.
Venha, amor, vamos dançar
em meio à chuva, ao relento...
Sem medo, vamos deixar
que às nuvens nos leve o vento!
Vênus, Marte, o Sol e a Lua
talvez sejam mais vizinhos
que os que compõem na rua
a multidão dos sozinhos.
Fonte:
Vida, Verso e Prosa.
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