segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Amélia Luz (E o livro o que é?)


Este ensaio tem como objetivo mostrar a importância do livro ao longo dos anos, desde Gutenberg até a era da Informática como parceiros aliados à informação e à cultura universal.

Importante destacar o valor da iniciação à leitura para os pequeninos, mesmo em escolas públicas, pelo poder transformador que as letras têm aos olhos de uma criança que desenvolve seus estudos. Tesouro da Juventude, O Almanaque do Tico-Tico, Sítio do Picapau Amarelo e outros tantos mais que li quando criança ainda fazem parte de mim como mananciais de sabedoria e criatividade.

O livro exerce papel fundamental nos pilares da cultura brasileira. Sabemos da sua importância na construção histórica do país e, sem dúvida, ele é um instrumento especial na formação do cidadão consciente, socialmente produtivo, preparado para enfrentar e discutir a problemática do nosso tempo.

Questionamos frequentemente porque no Brasil lê-se tão pouco. Preocupamo-nos com os nossos jovens que, divorciados do hábito de uma boa leitura, poucas chances têm na construção do futuro. Os índices de aprovação nos vestibulares, lamentavelmente, nos mostram esta realidade. Entretanto, os livros influenciam, mexendo com coisas importantes. Nossas obras consagradas registram estudos da nossa sociedade. Análises e interpretações de fatos históricos definem um interesse em diagnosticar nossas mazelas, nosso subdesenvolvimento, suas causas e consequências.

Com o cultivo do conhecimento através da leitura, ampliam-se as fronteiras do saber, expande-se a capacidade da imaginação criadora e alarga-se o desenvolvimento do campo de informações, propiciando ao leitor condições para a formação de opiniões, posicionamentos que advêm da crítica, capaz de lhe dar suporte para conviver no mundo que instantaneamente se transforma em função da aldeia global em que vivemos. Ressaltamos a importância do diálogo autor x leitor em que o primeiro influi decisivamente no campo das ideias, atingindo a consequência do segundo.

Um livro fechado é um “pororoca represada”, é um rio de leito enxuto onde as águas não podem abruptamente jorrar e correr na força da natureza. O texto é instigador e na consciência humana funciona como ponto de partida, para que o cidadão cresça, se estabeleça e se faça construtor da própria história. Apontamos sempre a educação como base para ao futuro país, mas destacamos o livro como ferramenta básica para levar o nosso povo a sair do atraso cultural e alcançar melhores condições nos árduos caminhos que o levam a uma sociedade moderna e esclarecida, mais justa e progressiva. É dos livros que vem nossa herança cultural. Estimulados por eles saímos da ignorância em busca do saber que ilumina.

Do prefácio à conclusão, o livro é sempre a grande e sedutora aventura, oferecendo ao leitor requisitos básicos que o levam a compreender, analisar, criticar e relacionar dados, fazendo suas próprias inferências no sentido de fazê-lo consciente e participativo. Textos literários, jornais, instrucionais, científicos, informativos e até humorísticos, num trabalho intertextual norteiam sempre para a reflexão construtiva de um país preocupado com o crescimento cultural. Daí, as campanhas do Ministério da Educação levando nossas escolas a repensarem a respeito dos hábitos. O livro é o sacerdote cultural do povo!

Da leitura de literatura de informação, a começar pela carta de Caminha, às obras literárias contemporâneas percebe-se a trajetória histórico-literária do Brasil, observando-se em quinhentos anos a velocidade da evolução cultural, destacando o livro como a principal fonte divulgadora de ideias na expansão da consciência e da consolidação desta terra como nação independente no “verde-amarelismo”, do nosso próprio jeito de agir e pensar.

É necessário frisar a influência da Semana da Arte Moderna (1922), que veio tirar o país do atraso cultural em que se encontra, levando a inteligência brasileira a refletir sobre seus problemas, libertando o Brasil do vinculo europeu. Dos manifestos polêmicos, recheados de lutas ideológicas, o país tem se firmado com homens e livros. Num processo natural de transformação vão incorporando à mentalidade do nosso povo condições de descobertas, visando preservar tradições culturais num país multirracial onde, por milagre, convivem harmoniosamente índios, portugueses, negros e povos oriundos da imigração. Cada um com seu rosto étnico, suas influências culturais de origem, numa miscigenação de corpo e alma que resulta nos mais diferentes tipos humanos e populares. Nesse contexto, assistimos a um desfile de desigualdades num país continente cheio de problemas político-sociais onde o livro, carregador, formador e transmissor de opiniões vale mais que armamentos sofisticados de guerra. Ele exerce a função de integrador cultural de norte a sul do país em tão vasta extensão territorial.

Criador da nossa consciência histórica é no “Era uma vez...” de cada dia que o livro continuará a relatar os episódios que marcaram a história da sociedade brasileira, narrando nossa verdade, realçando nossa essência de povo, mostrando nossos valores, decidindo nosso destino como nação soberana nas diversas exigências deste século que iniciou-se há pouco.

Definitivamente é preciso que abandonemos nossas “grutas particulares”, que através do livro saiamos das cavernas do subdesenvolvimento para nos entregarmos à missão participativa da evolução cultural brasileira, que nas suas bases filosóficas já possui suas características próprias num perfil que vai se definindo, digno de ser visto no cenário das grandes nações.

O livro, sem sombra de dúvidas, é a alavanca que impulsiona num processo crescente o desenvolvimento das artes e das ciências, num envolvimento produtivo com a sociedade, determinando a consciência nacionalista de um novo Brasil.

Fonte:
A autora

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