domingo, 12 de janeiro de 2020

Edy Soares (Cristais Poéticos) I


ILHA MALDITA
Quem já nasce em prisão perpétua,
Raramente tem salvação,
Ou se rende a seu carrasco,
Ou se arrisca em evasão,

Pelo destino, já condenado
A viver em troca do pão,
Tem dono, é desgraçado
Por um diabo sem coração.

Na farsa de ser um herói,
Seu dono sufoca e prende,
Não conhece o que é liberdade
E de tanto sofrer se rende.

Sua pátria é Seu cativeiro,
Sua vida, por pouco é ceifada.
Melhor não tivesse nascido,
Já que a morte é desejada.

Fingindo-se Deus, o diabo aparece
Em discursos tão planejados!
Quem aplaude o faz com desdém;
Quem não o faz já fica marcado.

Ó povo de alma mansa,
A ti me rendo em homenagem.
Eu sei que não há esperança,
Nem tampouco adianta a coragem.
* * * * * * * * * * * * * *

MEUS MEDOS, MINHAS DORES

Eu tenho medo!
Mas, sem meus medos,
Não conheceria os limites da minha coragem.
Eu tenho dor!
Mas, sem minhas dores,
Não teria conhecido a transição de uma perda.
Conhecendo meus medos, me fortaleci
Para as novas batalhas,
Conhecendo a dor da perda,
Eu conheci a saudade
E aprendi a valorizar mais
O que ainda me resta.
* * * * * * * * * * * * * *

MINHA “ROSA”

Quando vacilo,
Tu me arranhas, ó Rosa!
Mas mesmo assim não deixas de ser rosa.

Tens espinhos, mas és perfeita;
Perfuma todo o jardim e enfeita,
Inspiração dos meus versos e prosas!

Sem ti eu não sobreviveria, minha Rosa.
Lembro-me do dia que te colhi,
Flor linda que me fez sorrir;
Perfume que embriagou minh'alma.

Eras linda flor cheirosa;
Tens ainda a mesma beleza
E continuas bela e formosa.
* * * * * * * * * * * * * *

O CHORO

Ah, eu já chorei!!!
Chorei de tristeza
Na despedida,
Na partida de alguém,
Por perdas de pessoas queridas.
Já chorei por derrotas, vitórias.
Chorei de alegria, também.
Aprendi chorar por chorar,
Porque chorar, às vezes faz bem.
O choro não é o inverso do riso;
É apenas uma forma diferente
De expressar sentimentos que a gente,
por vezes, nem sabe que tem.
É bom chorar
Por amor,
Pela dor
Por quem for,
Por alguém.
No choro
O coração se acalma,
Apascenta-se a alma,
O choro é a manifestação de quem nasce,
A última expressão por quem parte,
A saudação de quem chega,
O adeus de quem vai,
E quiçá, a forma de amor mais sincera
Que do âmago sai.
* * * * * * * * * * * * * *

SONO BOM

Às vezes sorrateiro chega,
Desprevenido me pega,
Me afaga, me apaga,
Me desliga do mundo.

Traz a calma
Que acompanha minha alma,
Descansa meu corpo
Do cansaço profundo.

Quando de volta,
Entrega-me a consciência,
Um novo dia começa.
Continuidade da vida!

Alternando
Entre noites e dias,
Você me vigia
E me descansa da lida.

Quando enfim,
De mim não se apartar
E eu não mais despertar,
Terei cumprido minha sina.

Será em você
Meu eterno descanso.
E que seja calmo e manso,
Pois será o fim dessa vida.
* * * * * * * * * * * * * *

VAGA-LUME

Flashes no meio da noite,
Lampejos esparsos de luz,
Desvio do desatento,
Carrega-me noite adentro,
Pra onde quer me conduz.
Não vê que a noite escura,
Pra quem não brilha vira tortura
E nem todo ser reluz.
Me ensina uma boa prece
Pois quando desapareces
Meu corpo tremula e sua,
Ou então fique aqui por perto
Clareando o caminho certo
Até clarear a rua,
O sol que virá ardente
Ou ela agora ausente
A minha companheira lua.
Aí então pode ir vaga-lume!
Riscando a noite escura,
Vestindo sua armadura,
Já que você não tem medo.
Eu não tenho seus artifícios,
Se não posso tirar seus vícios
Eu guardo nossos segredos.
* * * * * * * * * * * * * *

VIDA PLENA

Eu não quero deixar de viver plenamente essa vida,
Na esperança de ganhar outra vida mesmo que eterna.
Se no presente o presente que ganho é a vida,
Que ela seja vivida e aplaudida por ser tão bela.
Eu nunca acreditei que quando morremos tudo se acaba.
Somos bem feitos e bonitos demais pra sermos descartados,
Pode ser que, nesse mundo, estejamos apenas de passagem,
Mas tenho duvidas se na próxima viagem serei convidado,
Por bondade e amor, acredito que fomos criados
Por um Criador que acredito, não nos impor sacrifícios.
É certeza que um pai se alegra na alegria dos filhos
E jamais os oferece algo pedindo em troca o suplício.
Se outra vida após essa existe, eu acredito, e gostaria de tê-la,
Farei o possível pra merecer e aceitarei de bom grado, com certeza,
Mas faço o possível pra viver bem, a vida que por hora me foi dada,
Outras... Sou pequeno demais pra conjecturar tamanha grandeza.
É impossível descrever a beleza e o mistério da vida.
É grandioso e esplêndido o presente que nos foi dado.
Se após a morte eu merecer viver eternamente junto ao Criador,
Serei grato eternamente por ser duas vezes agraciado.

Fonte:
Edy Soares. Flores no deserto. Vila Velha/ES: Ed. do Autor, 2015.
Livro enviado pelo autor

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