CACOS DE VIDRO
Quando caminhas,
tua indiferença
de teus passos escorre,
como cacos de vidro
que se espalham no asfalto
por onde te seguem
meus passos cansados.
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DE REPENTE
No vão da noite
a luz se acende
estrela cadente
de repente
cai
cai e mente
que se esvai
a dor da saudade
e quem mais se espera
vai chegar, afinal,
de repente.
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FEITO FACA
No meio da noite do quarto
um raio de quarto de lua
força a vidraça
rompe a renda da cortina
feito faca
fere o silêncio
perfura o escuro.
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GRÃOS
Cômoda
no canto do sótão.
Gaveta aberta,
fotos, fitas.
Caixa de Pandora...
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MARCELA
Depois que ela descia à praia,
é que começava o dia,
e ao seu caminhar
cada flor pra ela se abria.
Matava sua sede
com algas e águas salgadas
e trocava de rendas
com as rendas brancas do mar.
O corpo, por todo o tempo,
cheirando a manjericão;
fazia amor com o Vento
em inusitada dimensão.
Dentro da concha fechada,
era uma Ostra desperta.
Ela, na ilha encerrada,
e toda a ilha era ela;
enquanto a noite gritava
pra sempre, ao Vento: Marcela!!
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PLASMA
Na veia cava a larva
e planta e lavra
o plasma das inquietações
e tinge de sangue
o sangue que corre
na veia e cava
um oceano onde desaguar
- sem jamais encontrar.
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SILÊNCIOS
Teus silêncios de água
calaram vozes tranquilas
de tempos, de almas.
Teus líquidos versos
despertaram silêncios
de saudades antigas.
Teus versos silentes
acordaram os ventos
de doridas cantigas.
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TANTAS ÁGUAS
Pudesse voltar no tempo
voltava por mesmas águas
até dissolver as mágoas
cravadas nas pedras do leito.
Voltava até os confins
das águas de outros tempos
banhando primevos leitos
de rios dentro de mim.
Voltava e matava a saudade
que corre transborda se espraia
no leito de muitas águas
do peito - longínqua cidade.
Fonte:
Lilia Souza (org.) Coletânea: Academia Paranaense da Poesia. Curitiba/PR: APP, 2012.
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