sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Lucília A. Trindade Decarli (Versos Diversos) 1


Em versos, semente espalho;
meu solo é o papel, que aceita…
Entrego a Deus o trabalho
e espero pela colheita!…


BENDIÇÃO

Bendigo, aqui, a grandiosa obra de Deus;
o sol, a lua, estrelas — maravilhas.
Todo o ar da Terra; a vida em jubileus;
montanhas, vales, rios, mares e ilhas!

Bendigo os homens — nobres a plebeus
e os outros animais em suas trilhas;
todas as plantas que em seus apogeus
se reproduzem entre vastas milhas!

Da Natureza, assim, bendigo a lida,
com força ativa, segue destemida
a perpetuara criação, perfeita.

Bendito o grão, que é dado a semear,
bendita a chuva, pois faz germinar...
Bendito o lavrador, pela colheita!
* * * * * * * * * * * * * *

Deixando em mim forte anseio
pelo seu jeito de amar,
você se foi como veio:
– numa noite de luar!


NOITES DE LUAR

A tarde finda expondo o escuro véu;
raios de sol se apagam no poente...
Impetuosa, a lua, lá do céu
vem clarear a noite intermitente.

Ante o cenário, pensamento ao léu,
lembro um afeto imenso, transcendente...
Do amor não sei dizer quem foi o réu,
o fato é que o fim veio... intransigente.

Cada palavra ou ato do passado,
afloram na alma e tudo está gravado
no coração de, ao menos, um dos dois.

Hoje, entretanto, eu penso que, talvez
os dois se lembrem que a primeira vez
teve luar... e, em noite de um depois!...
* * * * * * * * * * * * * *

Deploro o tempo, arbitrário,
que em frente vai, sem parar,
pois se ele andasse ao contrário
voltaria a te encontrar!…


AMOR INESQUECÍVEL

Como apagar o amor inesquecível
quando as lembranças teimam em voltar...
Ao mesmo tempo, ver como é terrível
aos anos idos não poder tornar!

Os dias ágeis de um mundo insensível,
seguem seu curso sem jamais parar;
porém constato ainda ser possível
pausar na noite para, então, sonhar.

Sonhar que tu retornas aos meus braços,
que independente de outros fortes laços,
o nosso amor ressurge vitorioso!

Enquanto sonho vem um novo dia,
desfaz depressa a minha fantasia
e o tempo corre em seu giro impiedoso!...
* * * * * * * * * * * * * *

Mantenho este sonho louco
sem deixa-lo esmorecer;
se decair, pouco a pouco,
será bem triste o viver!

SONHO LOUCO

Anos a fio me persegue um sonho,
um sonho louco, cheio de paixão,
que mantém vivo o antigo amor risonho,
indiferente ao tempo e à solidão...

Meu sonho louco não quer ser tristonho
e nem, tampouco, ver lançada ao chão
esta esperança, à qual eu não me oponho,
mas dela escondo o sonho... e a dimensão.

Mas sufocado, estando ele oprimido,
há muito tempo atento ao meu gemido,
o sonho sai, liberta-se de mim...

Meu sonho louco voa, ganha espaços
para pousar-me, um dia, nos teus braços,
viver contigo um grande amor, enfim!
* * * * * * * * * * * * * *

Sanar miséria contida
no coração do indigente,
não consiste em dar comida,
mas trata-lo como gente!


MISÉRIA HUMANA
Caminhava sozinho esse ser peregrino,
que em silêncio ingeria o bem pouco que davam;
parecia treinado em ser grato ao destino,
quando, pelo caminho, as migalhas sobravam...

Era a própria miséria a trazer desatino,
um declínio evidente, o qual muitos miravam,
avistando, somente, o boçal figurino:
veste suja, rasgada e que aos pés se arrastavam.

E ninguém percebia, atrás dessa "moldura":
a alma triste, ferida, a isenção de estrutura,
coração injuriado — ambos fracos, vencidos...

Sem lutar se curvara ante a longa jornada;
por jamais rebelar-se à má sorte traçada,
integrara, o indigente, o vil rol dos perdidos...
* * * * * * * * * * * * * *

O tempo, marcas deixou
entalhados em meu rosto,
mas o amor, que perdurou,
minimiza o meu desgosto!

MARCAS DO TEMPO

Do escuro túnel de um tempo passado,
ressurge, audaz, o amor adormecido!
Relembro alguém sorrindo, e do meu lado,
mas que perdi sem querer ter perdido.

Em transe está meu ego e, arrebatado,
canta o passado em ode, destemido,
indo aportar num tempo afortunado
que conheci, porém, sem ter vivido.

Ao desalento o meu amor resiste,
tento esquecer reminiscência triste,
marcas do tempo em minha pele impressas…

O meu viver, repleto de saudade,
exige agora: vem felicidade,
liberta o meu destino das avessas!…

Fonte:
Lucília Alzira Trindade Decarli. Inquietude: poesias. Bandeirantes/PR: Sthampa, 2008.
Livro entregue pela autora.

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