Um anjo não é um ser mitológico com asas, mas é um ser de carne e osso que nos auxilia, ama, ampara, fazendo de nossa existência um lugar melhor para se viver. Este texto pretende falar sobre um desses anjos, uma mulher que, entre tantos nomes, poderia se chamar de Ana, Maria, Tereza, Lecir, Edna, Regina, Solange, Érica, Madalena, Santina, Nelsi, mas que dispõe de um nome único, um nome que bem poderia ser realmente de um anjo.
Sua história começa no interior de um dos estados deste imenso País, mais precisamente na roça. Trabalho árduo que compartilhava com o resto de sua família. Ainda muito nova perdeu o pai. Família grande, de muitos irmãos e irmãs. O campo era seu pequeno mundo e o resto do universo uma incógnita.
Sua frágil figura de semblante sereno, ainda jovem, foi desposada, iludida, tirada do seio de seu lar para viver o sonho das mulheres de sua mocidade, de poder se casar, quem sabe até partir para uma vida melhor. Triste ilusão, a inocência encontra a desilusão. O calvário do anjo começa. Quantos anjos já padeceram igualmente dessa deprimente sina?
Na infelicidade do matrimônio, sofreu desprezos, angústias, dores e desenganos, parindo seus filhos em meio a cruel abandono. Pela miséria passou, sem estudo, sem dinheiro, sem apoio. Uma de suas primeiras casinhas era pouco mais que um caixote. Quando chovia, colocava seu filho ainda bebê embaixo da mesa em um berço improvisado, pois as goteiras eram tantas que parecia não ter telhado. A mulher segurava sua outra criança, uma menina também pequena no colo, sobre a proteção de uma sombrinha velha, e ali ficavam até a chuva passar.
O mundo, agora gigante aterrorizante, bem que tentou minar suas forças. Ela apanhou tantas e tantas vezes da vida, mas mesmo assim seguiu em frente. Sem ter asas para voar, marcou seu destino com os próprios pés firmados no chão, forçando seu caminho ao encontro do futuro.
Catou quinquilharias que para outros era lixo, plantou, fez faxina, trabalhou como copeira, servente, costureira. Divorciou-se em um tempo em que ter a coragem de viver sozinha era algo mal visto e mal falado. Muitos dos amigos que pensava que tinha viraram-lhe as costas por ela ter ousado esse ato de liberdade.
Com muita luta, esta mulher, meio anjo meio gente, conseguiu criar seus dois filhos, superando as dificuldades que eram lançadas diante de si. Hoje a menina que ela segurava nos braços em noites de temporal é gerente de banco, mãe e esposa dedicada, uma pessoa especial. E o bebê que era colocado embaixo da mesa para se proteger, também cresceu, virou pretenso escritor, e resolveu neste dia das mães contar um pouco da história dessa mulher, sua mãe, seu anjo protetor. Um anjo de amor que poderia ter vários nomes, mas que para seus dois filhos, se chama Valdira, ou simplesmente MÃE.
Fonte:
Antonio Brás Constante. Hoje é o seu aniversário! “Prepare-se” : e outras histórias. Porto Alegre, RS : AGE, 2009.
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