sexta-feira, 22 de abril de 2022

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 2

 

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 5

Antes que tu me respondas,
me antecipo, ao confirmar,
que a cabeleira das ondas
são as cãs brancas do mar!
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Ao vê-la assim, debruçada,
na janela, olhando ao léu...
Lembra-me o olhar da alvorada
nos olhos azuis do céu!
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A vida em muitas propostas,
nos atos mais arredios..,
foge e não deixa respostas
para os grandes desafios!
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Derramam pranto de molhos,
esses verdes olhos teus;
e o verde desses teus olhos,
é a luz desses olhos meus!
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Em silêncio, eu lhe proponho,
ó entardecer que me afeta:
Nunca!... Jamais roube o sonho
do coração de um poeta!
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Eu peço sempre de joelhos,
que a sorte não vire as costas;
quem pede santos conselhos
quer sempre santas respostas!
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Minha alma, mesmo à distância,
na velhice, não reclama,
por manter vivo, da infância,
o coração de quem ama!
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Não temo a velhice... Enfim,
percebi que não há fuga,
quando o rosto riu de mim
mostrando a primeira ruga!
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No parque, todas cantando,
e eu, brincando entre as crianças,
vi minha infância passando,
num carrossel de esperanças!...
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Nos sonhos, tantos desejos,
na vida, mil sonhos vãos;
e entre os restos, vis sobejos
da maldade de outras mãos!
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Num berço humilde de palha,
no olhar da pobre criança,
brilha uma luz que se espalha
e enche a vida de esperança!
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O espelho do meu passado
que ria tanto ao me ver...
Ao ver meu rosto enrugado
não quis me reconhecer!
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O olhar de um velho descrente
que à justiça não se apega...
Percebe que, humanamente,
a humanidade está cega!
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O poeta nunca se cansa
de enfrentar o entardecer;
se é feliz como criança,
é criança até morrer!
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O tédio que te agrilhoa
é o mesmo que te entedia.
Esquece-o, que o tédio voa,
e ao teu lar volta a alegria!
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Passei a vida ensinando
a velhos, crentes e ateus,
que a vida, é um ventinho brando
soprando das mãos de Deus!
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Pelo afeto que nos tinha,
por teu amor tão profundo,
és mãe eterna rainha
em qualquer trono do mundo!
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Quando a infância apressa os passos
de nossa vida se afasta,
prende a canseira nos braços
da cruz que a velhice arrasta!
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Se for loucura, que importa!
Parece as palmas de alguém!...
Corro e depressa abro a porta,
olho e não vejo ninguém!
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Se o teu pensamento é vário,
não te diz coisa nenhuma...
Segue o teu itinerário
mesmo sem resposta alguma!
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Se quem canta afasta as penas
das mágoas do coração...
Eu canto as mágoas pequenas,
que as grandes, nunca se vão!
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Sobre os braços da tristeza,
no topo da velha cruz,
há sempre uma vela acesa
chorando gotas de luz!
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Tapera!... Por teus lamentos,
teu pranto!... E, neste abandono...
Até no sopro dos ventos,
ouve-se a voz do teu dono!
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Um galanteio, uma flor,
às vezes, um olhar qualquer,
pode despertar o amor
nos olhos de uma mulher!
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Um velho sino plangente,
tange na velha abadia.,.
Notas de sonhos da gente
nas preces finais do dia!

Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.

Luís da Câmara Cascudo (O frade e a freira)

(Lenda do Sudeste)


QUANDO A REGIÃO se povoava no trabalho da terra, vieram também os semeadores da Fé, pregando e sofrendo ao lado dos homens pecadores.

Um frade ali missionou, ensinando orações e espalhando exemplos de esperança. Era moço, forte, soldado da milícia que vencia o mundo, batalhando por Jesus Cristo.

Na aldeia, não mais acampamento indígena e ainda não Vila-del-Rei, freiras divulgavam a ciência do esforço e do sacrifício, silenciosa e contínua como o correr de um rio na solidão.

Aqueles que se deram a Deus, só a Ele pertencerão eternamente. O amor divino é absoluto e completo. Nada restará para a esmola a outros amores.

Frade e Freira, servo e esposa de Cristo, amaram-se, tendo os sinais visíveis do juramento a um outro amor, inviolável e severo.

Foram amando e padecendo, abafando no coração a chama alta do desejo fremente, invasora, sonora de paixão. As razões iam desaparecendo na marcha alucinante de um amor tão vivo e maravilhoso como a terra virgem que o acolhia.

De furto, orando, chorando, penando, encontravam-se para um olhar mais demorado e uma recordação mais cruel e deliciosa. Nas margens do Itapemirim andavam as duas sombras negras, juntas, numa procissão de martírio, resistindo às tentações da floresta, do silêncio e da vontade envolvedora.

Se foram ou não um do outro, num milagre humano de esquecimento, não recorda a memória popular. Apenas, uma vez, não voltaram às suas casas. Faltou um frade nas matinas e houve um lugar vago entre as freiras.

Às margens do Itapemirim, claro e rápido, sobre fundamentos de granito, ergueu-se o casal, num diálogo que atravessa os séculos, ouvido pelas tempestades e compreendido pelos passarinhos.

É o grupo do Frade e a Freira...

Transformou-os Deus em duas estátuas de pedra-, reconhecíveis, identificáveis, perfeitas. Não os separou nem os uniu num abraço perpétuo à face dos homens.

Deixou-os próximos e distanciados, nas atitudes de meditação e de reza, de sonho e de resignação, frente a frente, imagem da imóvel fidelidade, da obstinação amorosa, esperando o infinito.

E assim, eternamente, ficarão...

Fonte:
Luís da Câmara Cascudo. Lendas brasileiras para jovens. Projeto Livro para Todos.

Antologia Literária “Mitos e Lendas do Brasil” (Prazo: 30 de abril)


ORGANIZADOR: Glaucio Oliveira e Bianca Oliveira

Não há nenhum mal em apreciar aspectos culturais de outros povos, no entanto passa a ser preocupante quando notamos que parcela substancial das gerações mais jovens o faz em detrimento de sua própria cultura. Podemos enxergar esse fenômeno claramente quando nos lembramos do nosso folclore.

Embora práticas e eventos regionais são preservados diligentemente — sobretudo no Norte e no Nordeste —, tudo que compõe as lendas (mesmo as mais famosas) está se perdendo. Os adolescentes mais sabem sobre mitos gregos e até mesmo nórdicos, do que sobre a "mitologia brasileira". O que é uma lástima, tendo em vista que a nossa — baseada na amálgama dos povos que as originou: europeu, indígena e africano — além de vasta é bastante peculiar, com personagens e causos com originalidade de invejar qualquer estrangeiro.

Essa modesta obra surge como uma forma de mitigação desse fenômeno e valorização das nossas raízes. Um legítimo convite ao mundo folclórico brasileiro. Inicialmente aos autores, que redigirão contos, poemas e crônicas sobre as peripécias do Saci, o magnetismo e sedução do Boto cor-de-rosa e da Iara, a impetuosidade do Boitatá e do Curupira em defesa de seu habitat, entre outros. E posteriormente ao leitor, que terá mais uma publicação disponível em circulação, que resgata mitos tão interessantes e que dizem tanto sobre nossas origens como nação e povo autodeterminado.

A antologia intitulada “Mitos e Lendas do Brasil” tem como objetivo publicar um E-book a fim de divulgar trabalhos de diversos autores de diferentes regiões do Brasil (e por que não do mundo?) que enalteçam os personagens do folclore brasileiro.

A participação é aberta para escritores acima de 16 anos, com inscrição gratuita, sendo necessário o pagamento de R$30 por texto selecionado para custos de editoração.

CRONOGRAMA

10/11/21 - 30/04/22: Inscrições abertas.

— Período de recebimento de inscrições (podendo ser prorrogado);

— Notificação de aprovação e pagamento da taxa de participação;

— Envio de certificados e divulgação dos selecionados nas redes sociais.

01/05/22 - 31/05/22: Publicação da obra.

— Envio do livro diagramado para aprovação dos selecionados;

— Envio do E-book e publicação de versão impressa sob demanda no Clube dos Autores.

REGULAMENTO

1. A INSCRIÇÃO


1.1. Para participar, o autor deve encaminhar uma mensagem de e-mail contendo até 3 textos (sendo poesias e/ou contos) em anexo para inscricao@bandeiranteeditorial.com.br, com o assunto “INSCRIÇÃO – MITOS E LENDAS DO BRASIL”. O total de páginas por autor deve ser de até 5 páginas seguindo a formatação do arquivo (veja item 3).

1.2. No corpo da mensagem, exige-se a inclusão das seguintes informações: Nome completo, pseudônimo (se houver), quantidade de textos, títulos dos textos e telefone/WhatsApp.

1.3. Além do texto autoral, o participante deve enviar uma foto pessoal e uma breve biografia de até 600 caracteres escrita em terceira pessoa. Seja em anexo como arquivos separados, ou incluídos dentro do pdf/doc.

1.4. A princípio serão disponibilizadas 30 vagas, havendo a possibilidade de menos ou mais autores dependendo da procura por parte dos participantes e a composição da obra durante o recebimento de inscrições.

2. O AUTOR

2.1. Esta antologia destina-se a autores de qualquer nacionalidade, desde que sejam maiores de 16 anos e proficientes em português.

2.2. Todos os participantes selecionados receberão gratuitamente o certificado de participação por e-mail e terão seus nomes/pseudônimos divulgados tanto nas redes sociais da Bandeirante Editorial, quanto em diversos grupos de antologias literárias.

3. O TEXTO

3.1. Os textos enviados não precisam ser necessariamente inéditos, podendo ser de qualquer estilo e estruturação, incluindo versos livres no caso de poesias, desde que respeitam as margens do arquivo exemplo.

3.2. Os arquivos devem ser enviados com extensão doc, docx ou pdf.

3.3. Devem estar formatados em fonte Arial, tamanho 12.

3.4. Devem estar redigidos em língua portuguesa e previamente revisados, embora enviemos o livro para apreciação e aprovação dos autores antes de sua publicação.

3.5. Devem ser enviados dentro do prazo de inscrição, para que sendo selecionados por nossa equipe a tempo, possam compor a obra.

3.6. Respeitando estritamente o tema abordado nesta obra, ou seja, homenageando, narrando ou fazendo referência às lendas do folclore, como Saci, Curupira, entre outros.

4. OS CUSTOS

4.1. Embora a inscrição seja gratuita, os selecionados comprometem-se a pagar a quantia de R$ 30 (trinta reais) por texto enviado visando custear as despesas de editoração, diagramação, capa e artes de divulgação, registro de ISBN e afins.

4.2. A forma de pagamento deverá ser via depósito, transferência bancária ou pix mediante apresentação de comprovante, em uma das seguintes contas:

Caixa Econômica Federal - Ag. 1942, Op. 001, C. C. 75460-1
Nome: Bianca de Oliveira Santos CPF: 396.125.918-65

Nubank - Ag. 0001, C. C. 4328672-3 ou Pix via chave 396.125.918-65
Nome: Bianca de Oliveira Santos CPF: 396.125.918-65

4.3. Encerraremos o prazo estabelecido para pagamento da taxa de participação no dia do término das inscrições, com o intuito de manter o cronograma original de publicação da obra.

5. DIREITOS AUTORAIS

5.1. Os selecionados estarão cientes de que não há remuneração de direitos autorais.

6. FORMATO DA OBRA E PUBLICAÇÃO

6.1. A antologia intitulada “Mitos e Lendas do Brasil” será publicada em formato digital (Ebook) e enviada em formato pdf por e-mail para cada participante selecionado.

6.2. Atendendo ao interesse dos que assim preferem, será também publicada para venda em formato físico sob demanda na plataforma Clube de Autores, não sendo obrigatória a aquisição. Vale ressaltar que embora sempre nos coloquemos a disposição para ajudar em caso de dúvidas ou necessidades no trato com essa plataforma, não temos nenhuma relação comercial com a referida.

7. ORGANIZADOR

Glaucio Oliveira tem 28 anos, é casado, natural de Ribeirão Preto – SP e viveu durante quatro anos em Boston (EUA) até recentemente. Embora seja um profissional que trabalhe com TI há vários anos, sempre escreveu desde a mais tenra idade. Há dois anos passou a compartilhar seus textos autorais por meio de coletâneas de poesias e contos, sendo selecionado em inúmeras obras. Além dos trabalhos de coautoria supracitados, possui um livro de terror zumbi intitulado “Tutor — Sobrevivendo entre Irmãos”, publicado em formato físico e digital, um livro de poemas — prestes a ser disponibilizado — sobre sua experiência imigratória denominado “Tropical Forasteiro”, além de quatro antologias previamente publicadas (“Belezas de Santa Cruz”, “Pátria Mãe Gentil”, “Arroz Feijão & Brasil” e “Tributo à Noite Feliz”).
Sua esposa, Bianca Oliveira, tem 30 anos, é extremamente dedicada, organizada, metódica, e possui vasta experiência no setor administrativo/financeiro. Por esse motivo, juntou-se à Bandeirante de modo a ajudar na organização e nas relações públicas, atuando como gerente de projetos, para que Glaucio possa dedicar-se exclusivamente à parte literária/editorial.
Valendo-se dos conhecimentos de ambos — sobretudo nas áreas de design gráfico e TI — e o amor pela leitura, desempenham essas atividades como uma forma de participar ativamente do ramo literário ajudando mais pessoas a terem espaços de divulgação de seus textos em livros publicados com extremo zelo e qualidade. Além de trazer à voga, projetos com temas pouco abordados por grandes editoras.

8. DISPOSIÇÕES FINAIS

Em caso de dúvidas não hesite em contatar o responsável pela obra através de um dos seguintes canais de comunicação:

E-mail: contato@bandeiranteeditorial.com.br

WhatsApp: +55 (16) 98193-5293

Site: bandeiranteeditorial.com.br

Facebook/Instagram: /bandeiranteeditorial
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Nota do Blog Singrando Horizontes: Somos meros divulgadores dos concursos e antologias, qualquer problema ou dúvida que venha a ter, contate os organizadores do concurso/antologia.

Fonte:
https://bandeiranteeditorial.com.br/bandeirante-editorial/

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Adega de Versos 78: Amilton Maciel Monteiro


 

Luiz Damo (Trovas do Sul) XXIX

A fortuna acumulada
no decurso da existência,
não pode ser comparada
com a eterna providência.
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Aos gritos, se multiplica,
dos seus ecos, o ruído,
ressoando identifica
a fonte que o tem gerido.
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À terra a semente desce,
pra vida então renascer,
no seu verdor transparece
a promessa de crescer.
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A um perfumado jardim
possa o mundo se igualar,
misto de rosa e jasmim
num sem fim, céu singular.
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Cada gesto tem seu preço
pago no tempo aprazado,
às vezes, noutro endereço,
ou com juros e atrasado.
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Como um pássaro voando
na mais plena liberdade,
nos campos sigo espalhando
mensagens à humanidade.
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Em toda a oportunidade
o ladrão se manifesta,
tão ruim pra sociedade,
a humanidade o detesta.
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Entre o corredor da morte
e o leito da extrema dor,
o homem deixa de ser forte
pra ser frágil sofredor.
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Luz crepuscular se pondo
fim de tarde, volta ao lar,
o poeta, em paz compondo,
a ode, ao sol crepuscular.
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Muito obrigado. Senhor!
Pelo que tem concedido,
a esse humilde trovador
mesmo sem ter merecido.
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Muito tenho me esforçado,
em meu sonho transformar,
mesmo sem tê-lo alcançado,
não deixo de me esforçar.
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Na Bíblia, o Livro Sagrado,
vem o Pai falar aos seus,
desde o santo ao desgarrado,
todos são filhos de Deus...
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Na mesa, o pão fragmentado,
junto ao vinho, em refeição,
passa a ser um dom sagrado,
força à vida, além de pão.
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Nos vastos campos mundanos
deixamos nossos sinais,
de inteligentes e humanos,
ou de simples animais.
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Nunca seja um motorista
que vagueia em ziguezague,
mas um condutor na pista,
que a segurança propague.
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Nunca tema em levantar
quando a dor leva a cair,
tem mais Deus para somar
que o maligno a subtrair.
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O sol empresta o suporte
para à noite a lua entrar,
também cede o passaporte
para o seu norte encontrar.
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Outrora, à ponta da mesa,
num debate, o pai falava,
no acato e delicadeza,
toda a família o escutava.
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Quando uma meta buscares,
ou seguires, dela um plano,
à luz a verás nos ares,
se olhares de forma lhano.
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Quão suave como a bruma
da relva, à noite se ascende,
tal lene lençol de espuma
que sobre a terra se estende.
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Quem viver cada momento
como sendo o derradeiro,
vê no outro o prolongamento,
numa extensão do primeiro.
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Sempre que leres um texto
lê tudo para entenderes,
não fujas do seu contexto
nem do tema enquanto leres.
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Sobre a areia movediça
frágil pedra se alicerça,
se pontiaguda ou roliça,
sob os éolos se dispersa.
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Terra que não produz fruto
seja com amor tratada,
pra não se tornar reduto
de uma planta rejeitada.
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Toda a luminosidade
que da aurora se irradia,
pode ser a claridade
do fulgor de um novo dia.
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Toda vez que o ocaso aponta
vem a noite em disparada,
ela apenas fica pronta
depois do fim da jornada.
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Todo o fim de uma amizade,
arde igual chama na mente,
transforma em brasa a saudade
e a alma numa cinza ardente.
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Tudo o que à vida alcançamos
com trabalho e com suor,
talvez não reconheçamos,
sempre tem algo melhor.
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Fonte:
Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014.
Livro enviado pelo autor.

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Francisco José Pessoa (Na contramão do destino)

Ele era um velho forte, apesar da idade avançada. Seus amigos, coabitantes do Lar Torres de Melo, faziam roda para ouvi-lo. Grande proseador, gabava-se por ter sido um exímio caçador de calangos e bem-te-vis. Cedo, aos quatorze anos, foi pai, fruto de aventuras amorosas infanto-juvenis. Responsabilidade contraída, súbito, torna-se um adulto com cabeça de menino. Foram-se as bolas de gude e a baladeira. Os calangos, com desdém, meneavam em desafio. Os bem-te-vis não mais se esvoaçavam. Precoce aposentadoria para um jovem caçador de sonhos. A lagoa esquivou-se de lhe dar banhos e cangapés*. Não se fizeram valer os sábios conselhos maternos. O menino mostrava-se com a mesma aptidão sexual do avô paterno.

— "Parece que tô é vendo o garanhão do teu avô... Não sei por que não puxaste ao teu pai"... Os conselhos da Dona Santa não ecoavam aos ouvidos de Quintino.

Choro novo com nove meses de preparo. Vagido de quem já nasce prepotente. Um novo homem. E que homem!

A vida continuava que nem antes para os Caetanos. Não houve alvoroço. O filho de Quintino era um Caetano por parte de mãe. Os Caetanos eram a terra, a água, o ar e o fogo do pedaço, Quintino era um sem-terra, sedento, asmático... Mas tinha fogo. Não pôde conhecer o filho. Castigo lhe imposto sem apelação. Humilhado pelos "de posse", tomou o expresso rumo à cidade grande sem nem mesmo se despedir de Quitéria, mãe do seu filho.

A revolta que sentia apagou seu passado. Nem de Dona Santa se lembrava. Morando com um primo bem mais velho, logo se interessou em trabalhar. O primo conseguiu-lhe uma colocação nos serviços gerais na empresa da qual era funcionário. Com o passar do tempo, Quintino decidiu estudar de noite. Esperto, disciplinado, tornou-se querido entre os colegas de turma. Seu interesse no aprendizado era motivo de contentamento entre seus professores. Cada período de estudo era vencido com louvor pelo Quintino. A solenidade de conclusão do nível médio estava para acontecer, Quintino não parou por aí, não! Foi promovido na empresa, teve aumento de salário e continuou mais um período de estudo. Em três anos, concluiria o Segundo Grau.

Resolveu escrever para a mãe convidando-a para visitá-lo. Nunca mais poria os pés naquela terra que foi seu berço. Ainda amargava a dor daquela humilhação, Nem mesmo se lembrava de que era pai. O castigo como que diminuiu sua libido. Já não era mais aquele Quintino que quanto mais comia mais sentia fome. Parece até que se tornara usuário de cilício.

Numa das viagens que Dona Santa fazia para renovar as bênçãos ao filho distante, trouxe-lhe um presente especial... O neto veio para acompanhá-la e conhecer o pai, enfim.

— Oi de casa!... Nenhuma resposta. — Tu estás aí, Tino? E só se ouvia o silêncio vindo de dentro da casa.

Lá pelo cair da tarde, com passos largos de quem tem pressa, chega Quintino. Sua mãe o aguardava pacientemente no banco da pracinha que fazia frente à casa do sobrinho.

— A bênção, mãe! Quintino saudava-a enquanto corria para o rumo da praça. Depois dos longos abraços e beijos saudosos, Quintino muda a vista para o garoto, e se vê como aos dez anos de idade. O recordar daquela humilhação eriça-lhe os pelos. A lembrança de Quitéria adocica-lhe o peito. Seus braços se laçam em torno do filho que herdara seu nome por imposição materna. Direito de posse, de posse roubada.

— E meu... E só meu! Gritava Quintino, perdendo seu tino que não era seu.

E a vida seguiu como de costume. Três dias bastaram para que Quintino tomasse pé do que é a sensação de ser pai. Avô e neto tomaram o caminho de volta à Vila. O aceno incontido de dor de um pai que fica, e a lágrima nos olhos de um filho que se vai... Outro encontro, até quando, só Deus sabe.

Se a vida nos mostra hiatos, é para que possamos construir ditongos. Na antiga Vila dos Caetanos, corria o ano da graça de 2008. Um grande vazio havia entre a vida de Quintino e a de seu filho, que o vira por uma única vez.

O progresso é de uma velocidade tão medonha que já nem tinha jeito de Vila as terras dos Caetanos. Duas Igrejas disputavam dízimos dos que ansiavam por salvação.

Os jegues se aposentaram do serviço de botar água, pois, sob as ruas da Vila, ela corria encamisada em tubos enormes... Promessa de campanha cumprida.

O rádio perdeu terreno para a televisão. As cachimbeiras vestiram brancas batas, pois, uma casa de parto havia sido inaugurada. A Vila crescia sem rédeas. O nome da banca de sanduíches da Dona Mazé mudou para "mequidonalde", A internet sem pedir permissão dava um "enter" nas casas da Vila. E haja progresso!

Os Caetanos, cabisbaixos, apreciavam o desbotar do seu brasão. Famílias abastadas de cidades vizinhas proprietárias de muitas léguas de terra ofuscavam-lhes o poder. Quintino das Chagas Filho, homem dos seus trinta anos, pequeno proprietário, dono de uma nesga de terra molhada que ainda lhe dava sessenta anos de vida. Aquele mundão de terra que era só seu, se encolhera.

Nas caladas da noite, resolve fugir da escravidão que o mantivera até então vassalo nas suas próprias terras.

Toma o rumo da cidade grande, sozinho, pois, sua mãe há dois anos falecera. Não tivera irmãos. Sua mãe nunca se casara. Seu pai havia tempos, poucas lembranças lhe deixara nos seus longínquos dez anos de idade.

Procura um canto onde se fizesse ouvir seu cantar triste, o acauã sofrido. Lar Torres de Melo... eis sua nova gaiola de portas sempre abertas.

Lá, um velho proseador rodeado por seus pares, protegido pela sombra de uma mangueira centenária, sombreia os olhos com a mão direita para enxergar melhor quem se aproxima. Todos se viram na direção do novo hóspede.

“Seja bem-vindo!” Diz Quintino, o pai… – Cante seu canto!... Eu lhe ouço!
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* Cangapé = Ato de mergulhar e dar uma cambalhota com uma das pernas batendo sobre a superfície da água.

Fonte:
Francisco José Pessoa de Andrade Reis. Isso é coisa do Pessoa: em prosa e verso. Fortaleza/CE: Íris, 2013.
Livro enviado pelo autor.

XXI Concurso de Trovas do CTS e UBT Seção Caicó-RN (Prazo: 31 de Julho)


Nota do Blog: 
Para o envio aos concursos que há a opção de enviar por email, dê preferência a este meio, pois o envio por correios estão com muitos atrasos. No caso de Concursos de Trovas da UBT não são aceitos anexos, tudo deve constar no corpo do email.

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Concurso promovido pelo Clube dos Trovadores do Seridó – CTS e UBT Seção Caicó-RN

Tema Nacional / Internacional
Trova Lírica/Filosófica:   LABIRINTO (S)

Tema Estadual
Trova Lírica/Filosófica: ABRIGO (S)


1. Apenas UMA TROVA por participante;

2. A palavra tema deverá constar na Trova;

3. Deverá haver menção à categoria VETERANO ou NOVO TROVADOR, tanto no âmbito Nacional/Internacional quanto no âmbito Estadual;

4. Enviar a identificação com nome, endereço, telefone e e-mail ;

5. A participação será por Sistema de Envelopes ou por E-mail:

5.1. Para o âmbito Nacional / Internacional Língua Portuguesa

Sistema de Envelopes:
A/C de Eva Yanni Garcia
Rua Major Camboim, 801
Bairro Paraíba
CEP: 59.300-00 Caicó-RN

Por e-mail: Enviar para
franciscoribeiro.natal@gmail.com

5.2. Para o âmbito Estadual
Sistema de Envelopes
A/C de Maria das Dores Monteiro
Rua Joel Damasceno, 367
Bairro Centro
CEP: 59.300-00   Caicó-RN

Por e-mail: Enviar para
jersonbrito.pvh@gmail.com

6. Prazo máximo para recebimento das trovas: 31/07/2022.

Atenciosamente,
Prof. Garcia (Presidente)
Clube dos Trovadores do Seridó (CTS) e UBT Seção Caicó-RN.

Fonte:
Enviado por Solange Colombara

Jaqueline Machado (Morte em Veneza, de Thomas Mann)

Não pensemos jamais que para se obter êxito, precisamos trabalhar feito escravos. O trabalho não deve ser massacrante e, sim, benéfico a nossos sentidos. Fazendo de nós, seres prósperos e felizes. Bendito seja o equilíbrio, a razão e a decência. No entanto, não façamos confusão, tais potências nada têm a ver com moralidade. A Moral é uma senhorinha de óculos e vestido longo cuja a alma usa fio dental. Sua língua dispara veneno. E seus olhos, FOGO!

Não há frase mais falsa que a desculpa usada pelos hipócritas quando em público dizem:  “Salve a moral e os bons costumes”.

Aproximem-se que vou lhes contar um segredinho em surdina: esses que vivem a pregar o que é certo e errado, são os que mais cometem os ditos pecados ...

Vejamos o exemplo do escritor Gustave Aschenbach, personagem da novela: Morte em Veneza, de autoria de Thomas Mann, que só enxergava a sua redenção através da severidade, do trabalho árduo e da busca incessante e obcecada pela perfeição, que de tanto corrigir o próprio comportamento foi abduzido por uma cruel demência.

Com suas células cansadas, implorando por um momento de descanso, ele resolve fazer um passeio por Munique, cidade alemã onde morava. E ao passar por um cemitério, fixa os olhos num homem muito estranho, que tinha uma face esquelética que se assemelhava a uma caveira usando roupas de turistas. A esquisita figura lhe causou um desejo repentino de viajar. E nesse momento enigmático ele começa a devanear imaginando conhecer lugares diferentes e exóticos. Com certa resistência interior, decide acatar a sua vontade, mas sempre comprimindo com as regras de seus instintos limitantes, escolhe um único lugar para tirar férias: Veneza.

Chegando lá, ele conhece um adolescente chamado Tadzio, que de tão belo, arrebata a sua alma. Enfim, seus olhos haviam encontrado de forma inimaginável, através da imagem daquele jovem, ainda menor de idade, a figura de uma perfeição que ele nunca conseguiu encontrar em nenhuma pintura, escultura, música ou fonte literária. Mais do que isso, a imagem do menino lhe remetia a face da perfeição das almas em seu estado de evolução plena. Mas ele nunca ousou tocar em Tadzio. A sua paixão era platônica e vivida apenas no campo das ideias... Pois sendo ele um homem corretíssimo, envergonhava–se dos novos sentimentos que torturavam a sua consciência. Tragicamente ou propositalmente, nessa mesma viagem, Aschenbach contrai cólera e morre.

Morte em Veneza, é uma metáfora que nos remete à seguinte mensagem: – Por traz da nossa consciência comum, existe o subconsciente e depois do subconsciente, existem outras camadas do nosso “eu” oculto. Quando nos reprimimos a todo instante, as células formadoras dessas camadas vão enlouquecendo.

O protagonista se impedia de viver, amar, viajar. Pensava em trabalho e em exatidão noite e dia. Por isso, suas vontades que de início eram sadias, adoeceram, provocando nele um sentimento quase pedófilo pelo tal menino que o estremeceu. Ou seja, quando decidiu relaxar, era tarde demais, já havia enlouquecido.

Pessoas nascem para viver e serem muito felizes, pois as depressões, amarguras, aneurismas, o câncer, crimes e imoralidades nascem justamente de uma certa soberba repressora, e da ilusão em querer atingir uma conduta perfeita. Não somo anjos. Somos meros mortais.

Muito cuidado ao seguir todas as regras ditadas pela MORAL! Ela é uma senhorinha muito distinta, mas TRAIÇOEIRA...

Fonte:
A autora.

terça-feira, 19 de abril de 2022

Varal de Trovas n. 556

 

Samuel da Costa (A dama do aspirador de pó)

— Tu vais compor uma música pra mim! E só pra mim!

— Como vive dizendo o meu avô: — Que marmota é esta?

— Marmota nenhuma, meu anjo bom, mereço e mais que mereço por ter que te aturar tanto!

— Que tal a letra: Vamos para Itaipava tomar cerveja e escutar música sertaneja?

— Cretino, que letra horrível!

— Que horas são, minha querida amada?

— Por quê?

— Saudades da nobre Dama do aspirador de pó, ora essa!

E o som, que parecia ser de uma turbina de avião a jato, toma conta no ambiente, um estrondo que veio da casa ao lado! Veio acompanhado de a uma cantoria esganiçada, um sucesso descartável do carnaval soteropolitano do ano passado!

Era sempre assim, quando Clarisse Cristal recebia o namorado para passar a noite em casa. A vizinha, parente distante de Clarisse coloca o aparelho doméstico para funcionar ao máximo, pela manhã bem cedo. Faça chuva ou faça sol, independente do dia da semana, sempre assim.

O som estridente vinha junto um martelar infernal, de notas desafinadas de um sucesso instantâneo e descartável qualquer, de uma música popular. E ambos eram acordados pela sinfonia estridente pós-modernista da querida vizinha ao lado. Trazia-os assim, para a dura realidade em que viviam, depois de uma noite de amor.

Antônio, que é músico, poeta e compositor de profissão e se divertia muito com a cara amarrada da namorada, toda a vez que eram acordados com o abrupto som infernal, que variava entre as cinco e seis horas da manhã.

— Sai ou não sai Toninho, a minha música? A minha ode divina, compasso com acordes quatro por quatro com solos de guitarra, baixo estalando, vocal estridente e bateria a mil por hora.

— Vocal power metal creio eu, com passagens de flautas, celos, pianos e violinos!

— Não esqueça de colocar a tal marmota, meu amor! Um vocal speed metal já basta!

Um silêncio mortal se abateu entre o jovem casal depois do diálogo nada frugal. Antônio sabia que ela viria com uma letra da música e depois ele que se virasse para compor a pequena sinfonia em homenagem a sua amada musa.

Os dois se entreolharam e se beijaram ardentemente enquanto lá fora a vida acordava aos poucos. A cantoria e o aspirador de pó que davam o tom, não demoraram a chegar. E assim seria mais um dia na pequena agrovila poeirenta e atrasada.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Filemon Martins (Paleta de Trovas) 1

 

A. A. de Assis (Maringá Gota a Gota) O Automovinho do Reitor

O professor paulistano Pedro Melo, doutor em língua portuguesa, poeta de primeiro time, esteve em Maringá uns anos atrás, juntamente com outros escritores vindos de vários estados. O grupo veio participar de uma festa literária promovida pela nossa Academia e um dos itens do evento foi um almoço oferecido na UniCesumar pelo reitor Wilson Matos. No dia seguinte, ao deixar o hotel para viajar de volta a São Paulo, perguntaram ao poeta Pedro o que mais o emocionara durante sua permanência na cidade. Ele respondeu: “Passear no câmpus no automovinho do reitor”.

O câmpus-sede da UniCesumar é um espaço enorme, daí ser fácil entender que o professor Wilson precise mesmo de um veículo para se locomover de um setor para outro. O que chama, porém, a atenção é observar a alegria dele ao fazer seus giros pilotando um automovinho que parece de brinquedo.

Ele é um homem de posses, portanto pode comprar e pilotar qualquer carro que escolher na vitrina dos mais chiques. Pode também, se quiser, a qualquer momento comprar um jatinho, um helicóptero, o que achar necessário. Tá, mas gosto é gosto, e o que ele gosta com mais gosto é de guiar aquele automovinho charmoso.

Recentemente saiu nos jornais uma foto do reitor Wilson percorrendo as ruas do câmpus no seu carrinho, levando de carona o arcebispo de Maringá, Dom Severino. Pareciam dois meninos brincando numa colônia de férias. Cada qual mais feliz da vida.

Brincar é muito bom. A gente deveria brincar mais. Fazer pelo menos uma pequena pausa por dia para dar corda ao nosso lado criança.

Wilson Matos foi criança na Maringá pioneira. Deve ter galopado bastante pelos carreadores de café montado num cavalo de pau. Deve ter passeado de carro de boi e charrete. Deve ter apostado corrida de bicicleta com a garotada vizinha. Eu também fiz isso, você também talvez. Era gostoso, divertido, saudável.

Então é muito legal a gente agora, já com os cabelos brancos ou sem eles, encontrar alguma desculpa para deixar de lado essas tarefas estressantes de adultos e ocupar algum tempo curtindo as delícias da descontração.

A UniCesumar, além de ser hoje um dos maiores centros de ensino superior do Brasil, tem também uns lances de cultura e arte especialmente enobrecedores, com destaque para o Museu, o Coro e a Orquestra Filarmônica, que mostram o bom gosto e a sensibilidade dos seus diretores.

Mas o simpático automovinho é demais. Passou a ser uma das marcas do câmpus e no futuro deverá ser tombado como patrimônio histórico da instituição, com uma estátua do professor Wilson no volante.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 7-4-2022)

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Laurindo Rabelo (Poemas Escolhidos) X

À MINHA MULHER
Lembranças do nosso amor


Da morte o sopro gelado,
Não me apagando a existência,
No coração com veemência
Sinto seu passado apressado.
Ai quando, bem adorado,
Minha alma daqui se for,
Disfarça teu dissabor,
Resiste à força veemente,
Mas nunca risques da mente
Lembranças do nosso amor.

Nada tenho que deixar-te
De fortuna nem de glória,
Nada me aponta a memória
Que possa morto legar-te;
Se nada deve ficar-te
Mais que saudades e dor,
Bálsamo consolador
À dolorosa ferida
Hão de ser-te nesta vida
Lembranças do nosso amor.

Lembrar um bem adorado
Na dor da saudade ausente,
É mesmo sê-lo presente,
Inda que seja passado.
Ser por ti sempre lembrado,
Como em vida morto for,
Por influxo encantador
Deste mistério profundo,
Hão de ser-te nesse mundo
Lembranças do nosso amor
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ANGÚSTIA

Quando morta a f’licidade,
A fé expira também!
Saudades de que se nutrem?
Os suspiros, que alvo têm?

Morta a fé, vai-se a esperança;
Como pois, viver pudera
Saudade que não tem crença,
Saudade que desespera?

Onde as graças do passado,
Se altivo gênio sanhudo
O ceticismo nos brada,
Foi mentira, engano tudo?

Em nada creio do mundo:
Ludibrio da desventura,
A felicidade me acena
Só de um ponto — a sepultura.

Morreram minhas saudades,
E nem suspiros calados
Dentro d’alma pouco a pouco
Vão morrendo sufocados.
= = = = = = = = = = =

O QUE FAZ MINHA DOR

Um pensamento de morte,
Uma lembrança de amor,
Uma esperança perdida,
Eis o que faz minha dor!...


Tive no mundo da mente
Formosos dias serenos,
Como os do céu sempre amemos
Em doce paz inocente.
Dos desgostos a torrente
Em um rápido transporte,
Por má vontade da sorte,
Me fizeram num momento
Do meu feliz pensamento
“Um pensamento de morte!”

A minha alma escureceu-se
Do pensamento nublada,
E a mente desnorteada
Em negro caos converteu-se!
Um mar de pranto — estendeu-se
Naquele mundo de horror;
E no medonho fragor
Da tormenta desabrida
Vaga nas ondas, perdida,
“Uma lembrança de amor!”

Cresce a celeste batalha,
E na vasta escuridade
Sem cessar, da tempestade
O raio o manto retalha
A flutuante mortalha,
Vaga sempre! Convertida
Aquela ideia de vida
Num sudário desta sorte,
Retrata, emblema da morte
“Uma esperança perdida.”

Em pé firme e solitária,
Minh’alma fora insensível
À tempestade terrível,
Contínua, crescente e vária!...
Mas a veste mortuária,
Que das ondas vai na flor,
Mortalha do meu amor,
Dantes saudosa lembrança...
Hoje perdida esperança...
“Eis o que faz minha dor!...”
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Mote
Ainda no mar do ciúme
Fervem centelhas de amor.

Glosa
Do amor o ardente lume
Eterno nunca se apaga
Arde por baixo da vaga;
Da suspeita o azedume
Ainda no mar do ciúme.

Não lhe dissipa o fulgor,
Tanto que quando o amador
Chora da ingrata o quebranto,
Por entre as bagas do pranto
Fervem centelhas de amor.
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Mote
Dois corações que se amam,
Sem falar se comunicam.

Glosa
A freira, que madre chamam,
E o frade, que é frei Carvalho,
Sustentam com seu trabalho
Dois corações que se amam.

E tão bem se verificam
Com manobras tão seguras
Que, trabalhando às escuras,
Sem falar se comunicam.

Fonte:
Laurindo Rabelo. Poesias completas. Ministério Da Cultura. Fundação Biblioteca Nacional

Hans Christian Andersen (O jardim do paraíso)


Era uma vez um príncipe que tinha a maior e mais linda coleção de livros do que qualquer outra pessoa no mundo, e cheio de belíssimas gravuras reproduzidas em placas de cobre.

Ele podia ler e conseguir informações sobre os povos de todos os países, mas ele não encontrava nenhuma palavra para explicar a situação do jardim do paraíso, e isto era exatamente o que ele mais queria saber. Quando ele era ainda um belo garotinho, mas com idade suficiente para ir à escola, a avó dele havia lhe dito que cada flor no jardim do paraíso era um bolo doce, e que os pistilos das plantas eram ricos em sucos, onde a história da vida de uma flor estava escrita, numa outra a geografia ou as tabelinhas de fazer multiplicação, de modo que aqueles que queriam aprender suas lições tinham apenas de comer alguns pedaços de bolos, e quanto mais comiam, mais sabiam sobre história, geografia ou tabelas de multiplicação.

Ele acreditava em tudo até então, mas conforme ele foi crescendo, e aprendia cada vez mais, ele ficou sábio o bastante para entender que a beleza do jardim do paraíso deveria ser muito diferente de tudo aquilo. "Oh, porquê Eva teria colhido o fruto da árvore do conhecimento? Porquê Adão teria comido o fruto proibido?” - pensava o filho do rei: "Se eu estivesse lá isso jamais teria acontecido, e não haveria pecado no mundo."

O jardim do paraíso era a sua maior preocupação até que ele completou dezessete anos. Um dia, ele estava caminhando sozinho na floresta, o que ele gostava muito de fazer, quando de repente ficou noite. As nuvens ficaram mais densas, e a chuva começou a cair como se o céu fosse uma imensa tromba d’água, e à meia noite tudo estava tão escuro como o fundo de um poço, algumas vezes ele escorregava sobre a relva lisa, e caía sobre pedras que se projetavam sobre o chão rochoso. Em todos os lugares a água pingava, e o pobre do príncipe não tinha um único fio de cabelo seco. Ele era obrigado a subir grandes blocos de pedra, com água vertendo dos musgos espessos. Ele começou a se sentir muito fraco, quando ouviu um barulho muito estranho, e viu diante dele uma imensa caverna, de onde vinha um clarão de luz.

No meio da caverna um fogo imenso estava queimando, e um cervo nobre, com seus chifres em formato de galhos, estava entre os troncos de dois pinheiros. Ele se movimentava lentamente diante da fogueira, e uma velhinha, tão grande e forte como se fosse um homem disfarçado, se sentou perto da fogueira, e jogava um pedaço de madeira atrás do outro dentro das chamas. "Aproxime-se," disse ela para o príncipe, "sente-se perto do fogo e seque-se um pouquinho."

"Aqui tudo está seco," disse o príncipe, enquanto procurava um lugar no chão para sentar.

"Vai piorar quando os meus filhos chegarem," respondeu a mulher, "você está agora na caverna dos Ventos, e os meus filhos são os quatro Ventos do céu: você consegue entender isto?"

"Onde estão os teus filhos?" perguntou o príncipe.

"É difícil responder perguntas bobas," disse a mulher. "Meus filhos são pessoas muito ocupadas, eles estão brincando de jogar peteca com as nuvens lá em cima no salão do rei," e ela apontava para cima.

"Oh, é verdade," disse o príncipe, "mas a senhora fala de uma maneira bruta e não é tão gentil como as mulheres com que estou acostumado."

“Sim, isso acontece porque não tenho nada para fazer, e sou obrigada a ser dura, para poder educar os meus filhos, e estou conseguindo, porque eles são cabeças-dura. Você está vendo aqueles quatro sacos pendurados na parede? Bem, eles tem muito medo daqueles sacos, como você costumava ter do rato que ficava atrás do espelho.

“Pois fique sabendo que eu consigo dobrar os garotos, e os coloco dentro dos sacos sem qualquer resistência da parte deles. Eles ficam lá dentro, e não ousam sair até que eu permita que eles façam isso. E aí está chegando um deles."

Era o Vento Norte que estava chegando, trazendo com ele o frio, numa rajada cortante, grandes pedras de granizo faziam estrondos ao tocar o chão, e flocos de neve espalhavam-se em todas as direções. Ele usava trajes e um manto feito com pele de urso, seu boné de pele de foca cobria as orelhas, longos pingentes de gelo caíam de sua barba, e um granizo após o outro rolavam do colarinho de sua jaqueta.

"Não chegue muito perto do fogo," disse o príncipe, "ou as suas mãos e o rosto ficarão queimados pelo gelo."

"Queimados pelo gelo!" disse o Vento Norte, dando uma forte gargalhada, "Ora, o gelo é o meu maior prazer. Que coisa mais insignificante você é, e como você encontrou o caminho para a Caverna dos Ventos?"

"Ele é meu convidado," disse a velhinha, "e se você não ficou satisfeito com a explicação, pode entrar dentro do saco. Está me entendendo?"

Isso resolveu a situação. Então, o Vento Norte começou a contar suas aventuras, de onde ele tinha vindo, e onde ele tinha estado o mês inteiro.

"Venho dos mares polares," disse ele, "Estive na ilha dos Ursos com os caçadores de morsa da Rússia. Sentei-me e dormi ao comando do navio, quando eles navegaram do Cabo Norte. Algumas vezes quando eu acordava, os pássaros da tempestade voavam agarrados nas minhas pernas. Eles são pássaros curiosos, eles fazem um movimento com suas asas, e lá vão eles com suas asas estendidas voando cada vez mais alto."

"Não fique aí inventando histórias," disse a mãe dos ventos, "que tipo de lugar é essa Ilha dos Ursos?"

"Um lugar muito lindo, com uma pista de dança tão lisa e plana como se fosse uma placa. Neve meio derretida, parcialmente coberta de musgo, pedras afiadas, com esqueletos de morsas e ursos polares, espalhados por toda parte, com seus braços e pernas cobertos por uma vegetação verde. Parecia que o sol jamais havia estado naquelas paragens. Soprei suavemente, para desfazer a névoa, e de repente encontrei uma pequena cabana, que havia sido construída com a madeira de uma destruição, e era coberta com as peles de morsas, com o lado da carne voltado para fora, tinha uma aparência verde e vermelha, e no teto estava sentado um urso rosnando. Depois eu fui para o litoral, para procurar os ninhos das aves, e vi os filhotinhos ainda pequeninos abrindo suas bocas e gritando por comida.

"Soprei dentro de suas pequenas gargantas, e rapidamente eles pararam de gritar. Mais adiante, estavam as morsas com cabeças de porco, e com dentes que tinham um metro de comprimento, rolando em cima de enormes micróbios."

"Você sabe contar histórias muito bem, meu filho," disse a mãe, "quando escuto você, fico morrendo de curiosidade."

"Depois disso, – continuou o Vento Norte, – começou a temporada de caça. O arpão penetrou o peito da morsa, de modo que um pequeno jato de sangue jorrava como uma fonte, respingando sobre o gelo. Então eu pensei nas brincadeiras que gostava, e comecei a soprar, e movimentar meus próprios navios, balançar os enormes icebergs, para que eles esmagassem os barcos.

"Oh, como os navegantes gritavam e reclamavam! Mas eu gritava mais alto que eles. Eles eram obrigados a jogar fora suas cargas, e jogar fora suas caixas e morsas mortas no gelo. Depois eu espalhava neve em cima deles, e os deixava em seus barcos destruídos à deriva para o vento sul, bebendo água salgada. Eles jamais retornarão para a Ilha dos Ursos."

"Então você tem agido mal," disse a mãe dos Ventos.

"Mas eu deixei que outros vivessem para contarem as coisas boas que eu fiz. – respondeu ele - Mas aí vem o meu irmão do Oeste, eu gosto mais dele, porque ele traz consigo o cheiro de mar, e o ar fica fresco e gelado quando se aproxima."

"Seria ele o pequeno Zéfiro?" perguntou o príncipe.

"Sim, ele é o pequeno Zéfiro, – disse a velhinha,  – mas agora ele não é mais pequeno. Em anos passados ele era um lindo garoto, agora, tudo isso já passou."

Ele entrou, parecia um homem selvagem, e usava um chapéu velho para proteger a cabeça de ferimentos. Nas mãos ele trazia um açoite, feito de um pé de mogno retirado das florestas americanas, ele não levava qualquer açoite.

"De onde você vem vindo?" perguntou a mãe.

"Estou vindo do coração das florestas, onde as sarças espinhosas formam cercas vivas densas por entre as árvores, onde as cobras d’água serpenteiam entre a relva úmida, e as pessoas jamais ouviram falar."

"O que você estava fazendo lá?"

"Eu estava olhando o rio profundo, e ficava olhando quando ele jorrava no meio das rochas. As gotas d'água subiam até as nuvens e ficavam brilhando no arco-íris. Vi o búfalo selvagem nadando no rio, mas a maré forte o levou embora misturado com um bando de patos, que voaram pelos ares quando as águas avançavam com força, deixando que o búfalo fosse arremessado sobre a catarata. Isso me deixava tão feliz, então eu provoquei uma tempestade, que arrancava as árvores mais velhas pela raiz, e elas iam flutuando rio abaixo."

"E o que mais você fez?" perguntou a velhinha.

"Corri que nem louco pelas savanas, fiz carinhos nos cavalos selvagens, e sacudi os cocos derrubando-os de cima das árvores.

"Sim, eu tenho muitas histórias para contar, mas eu não preciso dizer tudo o que sei. A senhora sabe disso muito bem, não sabe, minha velhinha?"

E ele beijou a sua mãe de uma maneira tão bruta, que ela quase caiu para trás. Oh, ele era, de fato, um bom menino. Agora, quem se aproximava era o Vento Sul, usando um turbante e um roupa de beduíno flutuante.

"Como está frio aqui! – disse ele, jogando mais lenha na fogueira - É fácil perceber que o Vento Norte chegou aqui antes de mim."

"Porque aqui está quente o bastante para assar um urso," disse o Vento Norte.

"Você é mesmo um urso," disse o outro.

"Vocês querem ser colocados dentro do saco, vocês dois?" disse a velhinha. "Sente-se, agora, sobre aquela pedra que está ali, e me conte por onde você tem andado."

“Estive na África, mãe. Passeei com os hotentotes, que eram caçadores de leões na terra do Kaffir, onde as planícies são cobertas por uma vegetação da cor verde da oliva, e lá eu apostei corridas com os avestruzes, mas logo eu os superei em agilidade. Finalmente, cheguei ao deserto, onde ficam as areias douradas, que se parecem com o fundo do mar. E lá eu encontrei uma caravana, e os viajantes tinham acabado de matar o último camelo, para conseguirem água, eles eram um grupo muito pequeno, e continuaram sua jornada dolorosa sob o sol escaldante, caminhando sobre as areias quentes, que se estendiam diante deles, em meio ao deserto vasto e infinito.

"Depois rolei nos lençóis de areia, e rodopiei em colunas de fogo acima da cabeça deles. Os dromedários paravam assustados, ao passo que os mercadores tiravam as cafetãs por cima de suas cabeças, e se atiravam no chão diante de mim, assim como fazem diante de Allah, o deus deles. Depois, eu os sepultei debaixo de uma pirâmide de areia, cobrindo todos eles. Quando eu soprar desse jeito na minha próxima visita, o sol alvejará os ossos deles, e os viajantes saberão que outros estiveram ali antes deles, caso contrário, no deserto árido, eles não conseguiriam acreditar que isso fosse possível."

"Então, você não tem feito outra coisa além de maldades," disse mãe. "Já para dentro do saco," e, antes que ele percebesse, ela já tinha agarrado o Vento Sul, e o colocado dentro do saco. Ele ficou rolando pelo chão, até que ela sentou em cima dele, para que ficasse parado.

"Esses seus filhos são muito ativos," disse o príncipe.

"Sim," respondeu ela, "mas eu sei como corrigi-los, quando necessário, e aí vem o quarto deles."

De repente chegou o Vento Leste, vestido como se fosse um chinês.

"Oh, você vem vindo de lá, não vem?" disse ela, "Eu pensei que você tivesse ido até o jardim do paraíso."

“Estou indo para lá amanhã. - disse ele - Faz mais de cem anos que não vou lá. Acabo de chegar da China, onde fui dançar ao redor da torre de porcelana até que todos os sinos voltassem a tocar. Nas ruas havia um açoitamento público oficial, e canas de bambus eram quebradas nas costas das pessoas de todas as hierarquias sociais, da primeira até a última classe. Eles gritavam, "Muito obrigado, meu benfeitor paterno," mas eu tinha certeza de que suas palavras não vinham do coração, então eu tocava os sinos até que eles soassem: "ding, ding-dong."

“Você é um garoto malvado, – disse a velhinha – ainda bem que amanhã você estará indo para o jardim do paraíso, você melhora sempre com a sua educação quando vai lá. Beba bastante da fonte da sabedoria quando você estiver lá, e traga para mim uma garrafa bem cheia."

"Pode deixar, - disse o Vento Leste – mas, porquê você colocou o meu irmão do Sul dentro do saco? Solte-o, porque eu quero contar para ele sobre o pássaro fênix. A princesa sempre gosta de ouvir sobre este pássaro quando eu a visito a cada cem anos. Se você abrir o saco, minha mãezinha querida, eu lhe darei dois sacos cheios de chá verde e fresco que eu colhi do lugar onde ele nasceu."

"Bem, por causa do chá, e porque você é meu filhinho, eu vou abrir o saco e soltá-lo."

Ela fez isso, e o Vento Sul foi saindo devagar, parecendo muito abatido, porque o príncipe tinha visto o que ela tinha feito com ele.

"Trouxe aqui uma folha de palmeira para entregar para a princesa. - disse ele – O velho fênix, que é o único no mundo, trouxe ele mesmo para mim. Ele escreveu com seu bico toda a história durante os cem anos que ele viveu. Ela então poderá saber como o velho fênix tocou fogo no próprio ninho, e sentou nele enquanto estava queimando, como uma viúva hindu. Os galhos secos em torno do pescoço crepitavam até que as chamas surgiram e consumiram o fênix até as cinzas. No meio do fogo estava um ovo, vermelho como o fogo, que estourou fazendo um barulho estrondoso, e um pássaro saiu voando. Ele é o único fênix do mundo, e é o rei de todos os outros pássaros. Ele fez um buraco na folha que eu dei para você, e essa é a saudação dele para a princesa."

"Agora, vamos comer alguma coisa," disse a mãe dos Ventos.

Então, todos se sentaram para comemorar comendo veado assado, e como o príncipe estava sentado ao lado do Vento Leste, eles logo se tornaram bons amigos.

"Por favor, me diga," disse o príncipe, "quem é essa princesa de quem vocês estão falando! e onde fica o jardim do paraíso?"

"Ho! ho!" disse o Vento Leste, "Você gostaria de ir lá? Bem, você poderia ir voando comigo amanhã, mas eu devo lhe dizer uma coisa — nunca, nenhum ser humano esteve lá desde o tempo de Adão e Eva. Eu suponho que você tenha lido sobre eles na sua Bíblia."

"Lógico que li," disse o príncipe.

"Bem, – continuou o Vento Leste – quando eles foram expulsos do jardim do paraíso, ele veio parar aqui na Terra, mas o jardim manteve o calor do sol, o seu ar balsâmico e todo o seu esplendor. A rainha das fadas vive lá, na ilha da Felicidade, onde a morte nunca vai, e tudo é muito lindo. Eu posso levar você até lá amanhã, se você se sentar nas minhas costas. Mas, agora não diga mais nada, porque eu quero dormir." E então todos dormiram.

Quando o príncipe acordou bem cedo, de manhã, ele não ficou nada surpreso quando se viu lá no alto acima das nuvens. Ele estava sentado nas costas do Vento Leste, que o segurava com firmeza, e eles estavam tão altos no espaço que as florestas e campos, os rios e os lagos, que estavam debaixo deles, pareciam os pontos de localização de um mapa.

"Bom dia. - disse o Vento Leste – Você deve ter dormido bastante, pois há muito pouco para ver nesta região plana que estamos atravessando agora a menos que você goste de contar igrejas, elas se parecem com palitos de giz sobre um quadro verde."

Quadro verde era o nome que ele dava para os campos e prados repletos de vegetação.

"Foi muito rude de minha parte não me despedir de sua mãe e de seus irmãos," disse o príncipe.

"Eles perdoarão você, porque você estava dormindo," disse o Vento Leste, e então ele continuaram voando mais rápidos do que antes. As folhas e os galhos das árvores assobiavam quando eles passavam. Quando eles voavam sobre os mares e os lagos, as ondas subiam mais altas, e os enormes navios afundavam no meio da água como se fossem cisnes mergulhando. Quando tudo ficou escuro, ao anoitecer, as grandes cidades pareciam encantadoras, luzes jorravam por todos os lados, ora eram vistas, ora se apagavam, assim como as fagulhas desaparecem umas depois das outras em um pedaço de papel queimado.

O príncipe batia palmas de alegria, mas o Vento Leste o alertou para que não expressasse sua alegria dessa maneira, porque ele poderia cair, e de repente poderia ficar pendurado no campanário de uma igreja. A águia nas florestas escuras voava com agilidade, porém, ele voava mais rápido com o Vento Leste. O cossaco, em seu pequeno cavalo, cavalgava levemente sobre as planícies, mas, com mais leveza ainda passava o príncipe sobre os ventos do vento.

"Veja lá o Himalaia, a montanha mais alta da Ásia. - disse o Vento Leste – Logo vamos chegar no jardim do paraíso."

Então, eles viraram para o sul, e o ar ficou cheiroso com os perfumes das especiarias e das flores. Aqui, figos e romãs cresciam livremente, e as parreiras estavam cobertas com uvas azuis e púrpuras. Nesse instante, os dois desceram em direção à terra, e se deitaram na grama macia, enquanto as flores se curvavam sob o sopro do vento como se dessem as boas vindas para eles.

"Já chegamos no jardim do paraíso?" perguntou o príncipe.

"Não, ainda, – respondeu o Vento Leste - mas logo estaremos lá. Você está vendo aquela muralha de pedras, e a caverna debaixo dela, onde as parreiras de uvas ficam suspensas como se fossem uma cortina verde? É através daquela caverna que temos que passar.

"Enrole o manto ao redor do seu corpo, pois embora o sol aqui seja escaldante, mais alguns passos e ele estará frio como o gelo. O pássaro que entra voando pela porta da caverna sente como se uma asa estivesse na estação do verão, e a outra nas profundezas do inverno."

"Então, seria este o caminho para o jardim do paraíso?" perguntou o príncipe, enquanto adentravam a caverna.

Estava de fato muito frio, mas o frio logo passou, pois o Vento Leste abriu as suas asas, e elas brilharam como o fogo mais quente. E a medida que atravessavam a maravilhosa caverna, o príncipe podia ver grandes blocos de pedras, de onde escorria as águas, suspensas acima de suas cabeças, criando formatos estupendos.

Algumas vezes, o caminho era tão estreito, que eles tinham de rastejar usando as mãos e os joelhos, ao passo que outras vezes, era largo e alto, permitindo a livre passagem do ar. A aparência era o de uma capela para os mortos, coberta com organismos petrificados e órgãos silenciosos.

"Parece que estamos atravessando do vale da morte para o jardim do paraíso," disse o príncipe.

Mas o Vento Leste não dizia nenhuma palavra, somente apontava para a frente em direção a uma luz azul clara que brilhava ao longe. Os blocos de pedras criavam uma aparência nebulosa, até que finalmente pareciam com nuvens brancas ao luar.

O ar era fresco e balsâmico, como a brisa das montanhas perfumada com flores de um vale de rosas. Um rio, muito cristalino, cintilava aos seus pés, enquanto que em suas claras profundezas podiam ser vistos peixes dourados e prateados brincando nas águas brilhantes, e enguias púrpuras emitiam fagulhas de fogo a todo instante, enquanto que as folhas gigantescas dos lírios d'água, que flutuavam na superfície, tremulavam com todas as cores do arco-íris. A flor com suas cores ígneas pareciam receber o alimento da água, assim como o lampião é alimentado pelo combustível.

Uma ponte de mármore, com acabamento tão requintado, que parecia ter sido construída de laços e pérolas, conduzia até a ilha da felicidade, onde resplandecia o jardim do paraíso. O Vento Leste pegou o príncipe nos braços, e passeava com ele, enquanto as flores e as folhas cantavam canções dulcíssimas da sua infância em acordes completos e sonoros que nenhuma voz humana poderia se arriscar a imitar. Dentro do jardim cresciam árvores imensas, cheias de seiva, mas se eram palmeiras ou plantas d'água gigantescas, o príncipe não sabia.

As plantas trepadeiras penduravam-se em guirlandas verdes e douradas, como as iluminuras nas margens dos velhos missais ou retorcidas por entre as letras iniciais. Pássaros, flores, e ramalhetes pareciam entrelaçados em aparente confusão. Ao redor, sobre a relva, havia um bando de pavões, com suas caudas radiantes estendidas ao sol. O príncipe tocou neles, e descobriu, para sua surpresa, que eles não eram pássaros de verdade, mas folhas do pé de bardana, que brilhavam com as cores do rabo do pavão. O leão e o tigre, gentis e mansos, brincavam ao redor como se fossem gatos travessos entre os arbustos verdejantes, cujo aroma era como a flor perfumada da oliveira.

As plumas do pombo-torcaz brilhavam como pérolas, quando eles tocavam com suas asas a juba do leão, e o antílope, normalmente tão arredio, ficava por perto, balançando a cabeça como que desejando participar da brincadeira. A fada do paraíso, em seguida, fez questão de marcar presença. Suas roupas eram brilhantes como o sol, e seu semblante sereno explodia de felicidade, assim como uma mãe se alegra com seu filho. Ela era jovem e linda, e um séquito de garotas adoráveis seguiam atrás dela, cada uma delas usando uma estrela brilhante no cabelo. O Vento Leste ofereceu a ela a folha da palmeira, onde estava grafada a história do fênix, e os olhos dela resplandeceram de alegria.

Nesse momento, ela pegou o príncipe pela mão, e o conduziu até o palácio, cujas paredes eram ricamente coloridas, como a folha da tulipa quando está voltada para o sol. O teto tinha o aspecto de uma flor invertida, e as cores ficavam mais fortes e mais brilhantes para quem olhava. O príncipe caminhou até uma janela, e viu o que parecia ser a árvore do conhecimento do bem e do mal, com Adão e Eva passeando nos arredores, e a serpente deitada ao lado deles.

"Eu achei que eles tinham sido expulsos do paraíso," disse ele. O príncipe sorriu, e lhe falou que o tempo havia gravado cada acontecimento em um painel da janela sob a forma de uma imagem, mas, ao contrário das outras imagens, tudo o que ela representava tinha vida e movimento, — as folhas tremulavam, e as pessoas iam e vinham, como se estivessem num espelho.

Ele olhou através de um outro painel, e viu a escada do sonho de Jacó, onde os anjos subiam e desciam com suas asas abertas. Tudo o que já tinha acontecido aqui no mundo tinha vida e movimentos nos painéis de vidro, com imagens que somente o tempo conseguiria produzir. A fada agora levou o príncipe até uma sala grande e alta com paredes transparentes, através das quais a luz brilhava. Ali haviam muitos retratos, cada um parecendo mais belo que o outro — milhões de seres felizes, cujo riso e canção se misturavam com uma doce melodia: alguns deles estavam numa posição tão elevada que pareciam menores do que o menor botão de rosa, ou como os pontos de um lápis no papel.

No meio do salão havia uma árvore, com galhos suspensos, onde ficavam penduradas maçãs douradas, grandes e pequenas, que pareciam laranjas no meio das folhas verdes. Essa era a árvore do conhecimento do bem e do mal, de onde Adão e Eva haviam colhido e comido o fruto proibido, e de cada folha escorria uma gota de orvalho brilhante e vermelho, como se a árvore estivesse derramando lágrimas de sangue por causa do pecado que eles haviam cometido.

"Vamos agora pegar um barco, - disse a fada - um passeio de barco pelas águas frias irá nos refrescar. Mas nós não sairemos do lugar, embora o barco possa balançar sobre as ondas das águas, os países do mundo irão desfilar diante de nossos olhos, mas ainda assim estaremos parados."

Era realmente maravilhoso ver tudo aquilo.

Primeiro apareceram os altíssimos Alpes, cobertos de neve, e escondido pelas nuvens e os pinheiros escuros. A corneta voltou a tocar, e os pastores cantavam alegremente nos vales. Os pés de bananeiras faziam reverências com seus galhos dobrando-se sobre o barco, cisnes negros flutuavam em cima da água, e animais e flores singulares surgiam à distância na praia. A Nova Holanda, a quinta divisão do mundo, desfilava agora ao nosso lado, cheia de montanhas em segundo plano, que de longe pareciam azuis. Eles ouviram o canto dos sacerdotes, e assistiram a dança livre dos selvagens ao som de tambores e trombetas feitas de osso, as pirâmides do Egito subindo até as nuvens, colunas e esfinges, que tinham sido derrubadas e estavam sepultadas nas areias, seguiram-se por sua vez, enquanto as luzes boreais piscavam sobre os vulcões extintos do norte, num espetáculo com fogos de artifícios que jamais poderiam ser imitados.

O príncipe estava encantado, contudo, ele ainda viu centenas de outras coisas maravilhosas que poderiam ser contadas.

"Posso ficar aqui para sempre?" perguntou ele.

"Isso depende de você mesmo. - respondeu a fada – Se você não desejar o que é proibido, como fez Adão, você pode ficar aqui para sempre."

"Eu não tocaria no fruto da árvore do conhecimento, – disse o príncipe – há aqui uma abundância de frutas igualmente belas."

"Consulte o seu coração, – disse a princesa - e se você não tiver certeza da sua vontade, volte com o Vento Leste que o trouxe até aqui. Ele está prestes para voltar, e retornará para cá somente depois de cem anos. O tempo para você não parecerá maior que cem horas, mesmo assim, é um tempo bastante longo para tentações e resistências. Todas as noites, que eu me despeço de você, terei de dizer: "Venha comigo," e acenarei para você com a minha mão. Mas você não deve ouvir, nem se mover do lugar para me seguir, pois a cada etapa você achará que a sua vontade de resistir ficará mais fraca. Se uma única vez você tentar me seguir, você se veria no salão, onde cresce a árvore do conhecimento, porque eu durmo debaixo de seus galhos perfumados.

"Se você se curvar sobre mim, eu seria forçada a sorrir. Caso você beije os meus lábios, o jardim do paraíso apareceria na terra, e para você ele não existiria mais. O vento agudo do deserto ficaria uivando perto de você, a chuva gelada cairá na sua cabeça, e a tristeza e a aflição seriam a sua sorte futura."

"Eu ficarei," disse o príncipe.

Então o Vento Leste o beijou na fronte, e disse: "Seja resistente, pois somente assim nos encontraremos novamente quando cem anos tiverem passados. Adeus, adeus."

Então, o Vento Leste abriu suas asas enormes, que brilhavam como o relâmpago durante a colheita, ou como as luzes boreais de um inverno gelado.

"Adeus, adeus," repetiram as árvores e as flores. Cegonhas e pelicanos voaram atrás dele como um bando de aves, e o acompanharam até as fronteiras do jardim.

"Agora, vamos começar o baile, - disse a fada – e quando o por do sol estiver quase terminando, e eu estiver dançando com você, eu farei um sinal, e pedirei para você me seguir: mas você não deve obedecer. Eu serei forçada a repetir a mesma coisa durante cem anos, e cada vez que você passar no teste, e se você resistir, você ganhará forças, até que resistir será fácil, e finalmente a tentação será totalmente dominada.

"Esta noite, como será a primeira vez, eu alertei você."

Depois disto, a fada o levou até um salão imenso, repleto de lírios transparentes. O estame amarelo de cada flor formava uma minúscula harpa dourada, de onde vinham os acordes musicais como os tons misturados da flauta e da lira. Belas donzelas, esbeltas e graciosas na forma, e vestidas com gaze transparente, flutuavam pela dança, cantando a vida feliz no jardim do paraíso, onde a morte não podia entrar, e onde tudo florescia eternamente numa juventude imortal.

E enquanto o sol ia descendo, todo o céu ficava vermelho e dourado, manchando os lírios com tons de rosa. Então, as belas donzelas ofereceram ao príncipe vinho cintilante, e depois que ele bebeu, ele sentiu uma felicidade maior do que jamais havia sentido antes. Nesse instante, o fundo do salão se abriu e a árvore do conhecimento apareceu, rodeada por um halo de glória que quase o deixou cego. Vozes, suaves e melodiosas, como as de sua mãe, soaram-lhe aos ouvidos, como se ela estivesse cantando para ele, "Meu filho, meu filho querido." Então a fada fez sinal para ele, e disse com doce encantamento: "Venha comigo, venha comigo." Esquecendo a promessa, esquecendo-a mesmo na primeira noite, ele correu em direção a ela, enquanto ela continuava a acenar para ele e a sorrir.

A fragrância ao seu redor tomou conta dos seus sentidos, a música das harpas soavam mais fascinantes, enquanto que em torno da árvore surgiam milhões de faces sorridentes, acenando e cantando. "O homem deve saber tudo, o homem é o senhor da terra." A árvore do conhecimento não chorava mais lágrimas de sangue, pois as gotas de orvalho brilhavam como estrelas cintilantes. "Venha, venha," continuava aquela voz emocionante, e o príncipe seguia o chamado. A cada passo suas faces brilhavam, e o sangue desenfreadamente afluía-lhe pelas veias.

"Eu devo seguir," exclamava ele, "não é pecado, não pode ser, seguir a beleza e a alegria. Eu apenas quero vê-la dormir, e nada acontecerá a menos que eu a beije, e isso eu não farei, porque eu tenho força para resistir, e firmeza em meus desejos."

A fada jogou fora seus trajes deslumbrantes, dobrou os galhos para trás, e num instante escondeu-se entre eles.

"Eu não pequei ainda," disse o príncipe, "e não irei pecar," e nesse momento ele empurrou de lado os galhos para continuar seguindo a princesa. Ela estava deitada e já dormia, linda como somente uma fada do paraíso poderia ser. Ela sorriu quando ele se inclinou sobre ela, e viu que lágrimas tremulavam de seus lindos cílios.

"Você está chorando por minha causa? - murmurou  – Oh, não chores, pois és a mais bela das mulheres. Agora, começo a compreender a felicidade do paraíso, sinto isso no íntimo de minha alma, em cada pensamento. Uma vida nova nasceu dentro de mim. Um minuto de tão grande felicidade vale por uma eternidade de trevas e aflição."

Ele se curvou e beijou as lágrimas que caíam de seus olhos, e tocou os lábios dela com os seus. O ribombar de um trovão, alto e assustador, ressoou aos ecos pelo ar. Tudo ao redor dele caiu em ruína. A bela fada, o jardim encantador, tudo desabava para além das profundezas.

O príncipe percebeu que tudo desaparecia na escuridão da noite até que toda aquela beleza brilhou como se fosse uma estrela na distância diante dele. Depois, ele sentiu o frio, como se fosse a morte, avançando sorrateiramente sobre ele, seus olhos se fecharam, e ele perdeu toda a sensibilidade. Quando ele acordou, uma chuva refrescante caía sobre o seu corpo, e um vento cortante batia em sua cabeça.

"Oh, meu Deus! o que foi que eu fiz? - suspirou – Pequei como Adão, e o jardim do paraíso veio parar na terra."

Ele abriu os olhos, e viu a estrela à distância, mas era a estrela da manhã no céu que brilhava na escuridão.

Nesse momento, ele se levantou e percebeu que estava nas profundezas da floresta, perto da caverna dos Ventos, e a mãe dos Ventos estava sentado ao lado dele. Ela parecia nervosa, e levantava o braço para o ar enquanto falava:

"Bem na primeira noite! - disse ela – Na verdade, eu esperava isso! Se você fosse meu filho, eu o colocaria dentro do saco." 
 
"E lá ele teria de ficar afinal. - disse um homem velho e forte, com enormes asas negras, e uma foice na mão, e cujo nome era Morte – Ele será colocado no caixão, mas, não ainda. Deixarei que vagueie pelo mundo durante algum tempo, para expiar os seus pecados, e para dar-lhe tempo de se melhorar. Porém, retornarei quando ele menos esperar. E o deitarei num caixão preto, o colocarei sobre minha cabeça, e voarei com ele para além das estrelas. Lá também floresce o jardim do paraíso, e se ele for bom e piedoso ele será admitido, mas, se seus pensamentos forem maus, e seu coração estiver cheio de pecado, ele irá afundar com seu caixão para regiões mais profundas do que o jardim do paraíso. Uma vez a cada mil anos eu irei buscá-lo, onde ele será condenado a afundar ainda mais, ou será alçado para uma vida mais feliz no mundo além das estrelas.”

Fonte:
Wikisource. Contos de Andersen. Publicado originalmente em 1838.

domingo, 17 de abril de 2022

Silmar Böhrer (Gamela de Versos) 16

 

Therezinha Dieguez Brisolla (Pobre Professor...)

Azáfama* geral!

Durante toda a semana a escola se mobilizara para a festa do Dia das Crianças e todos se esforçavam para que tudo saísse bem...

Era sábado e ... a apoteose! Pais, mães, filhos e professores fariam um jogo de futebol encerrando as atividades. Mas, como todo craque que se preza, o professor de Educação Física fez questão do aquecimento, incluindo ginástica e, é claro, uma dança. E... surpresa! Trouxe para comandar os exercícios, nada mais nada menos que... o Pato Donald! Fizera absoluto segredo e só ele sabia quem encarnava o famoso personagem de Walt Disney.

Enquanto os pais aplaudiam, entusiasmados, a entrada triunfal do gracioso pato, as crianças, extasiadas, mal podiam acreditar... E ele, com grande desenvoltura, alinhou-se à frente de pais e filhos e iniciou os exercícios: Um... dois... três.... quatro...

O patinho lépido, saltava de um lado para o outro, flexionava os braços, abaixava-se e levantava-se seguidas vezes. As crianças, os vivos olhos muito abertos, o acompanhavam radiantes! Os pais, ainda moços e de vida sedentária, já sentiam o cansaço. O patinho, certo de que o aquecimento duraria apenas alguns minutos, extrapolava!...

Mas, o professor de Educação Física que deveria substituí-lo para dar início à dança, entusiasmado com sua criação, anunciou empolgado:

– Como todos gostaram muito do Pato Donald ele comandará também todo restante do espetáculo.  

Colocou um disco da Elba Ramalho e deu a ordem:

– Todo mundo dançando... Mais rápido...

O sol estava a pino. Já meio trôpego, o suor a molhar a máscara, onde havia apenas um pequeno orifício para os olhos, o patinho recomeçou os exercícios... Mas a fantasia pesava demais, pois não absorvia o suor que escorria do couro cabeludo, dava-lhe um calafrio na espinha e ia alojar-se no cós da bermuda que, umedecida, lhe tolhia os movimentos.

A professora, a Tia Lu, como era chamada carinhosamente na escola, dentro da fantasia sentia-se morrer! O ar lhe faltava e o seu coração batia descompassado... Estava prestes a desmaiar quando foi salva pelo gongo. A música terminou e ela ouviu quando o professor de Educação Física gritou entusiasmado: - Palmas para o Pato Donald!...

Ouviu o som das palmas, apesar do zumbido forte no ouvido e pelo orifício da máscara viu o aceno alegre das crianças.

Mal teve forças para levantar a mão para a despedida. Desnorteada, entrou na primeira porta que encontrou aberta e percebeu que era a sala da diretoria. Vagarosamente tirou a fantasia de pato, deitou-se no sofá e tentou respirar fundo e devagar até que o coração se acalmasse.

Levantou-se, ainda cambaleante, enxugou o suor, tomou um gole de água, recompôs-se e dirigiu-se ao campo de futebol para participar, com pais e alunos, do jogo que estava programado. Tentou apressar os passos ao divisar a quadra já repleta e os jogadores à sua espera. Todos acenavam e pediam que se apressasse.

Ao acercar-se do grupo que a olhava com ar reprovador, ouviu a voz estridente da diretora:

– Chegando atrasada, Tia Lu? A festa começou há mais de uma hora, já fizemos o aquecimento comandado pelo gracioso e simpático Pato Donald e agora estamos à sua espera para dar início ao jogo de futebol...

E, em voz baixa, completou: - Depois do jogo passe pela sala da Diretoria que precisamos conversar...
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* Azáfama = alvoroço, algazarra,

Fonte:
Texto enviado por Luzia Brisolla Fuim.

LXIII Jogos Florais de Nova Friburgo (Trovas Premiadas)


Obs: Menções Honrosas e Menções Especiais os premiados estão por ordem alfabética.


NACIONAL

Tema: Engano (Humorística)


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VENCEDORES
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1. Lugar
CARLA ALVES DA SILVA
Curitiba/PR

- Oferta dos concorrentes!
- Ledo engano, cidadão ...
Óculos, sem par de lentes,
só pode ser armação.
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2. Lugar
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Melhor idade a velhice?...
Quem tal engano propala?
Só pode ser gaiatice
do vendedor de bengala...
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3. Lugar
ANTONIO COLAVITE FILHO
Santos/SP

“Para a tosse, eu dou purgante!”
E o doutor morreu de rir...
- “Eu não me engano, garante,
pois não pode mais tossir...”
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4. Lugar
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

Intrigada com o assédio,
do vovô e tanta audácia,
vovó notou que o remédio
era engano da farmácia.
- - - - - - - - - - - - - - - -  

5. Lugar
MARCIANO BATISTA DE MEDEIROS
Parnamirim/RN

Engana e o chama de “vida”,
mas ele ouviu num boato,
que a sua musa fingida,
tem mais “vidas” do que um gato...

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MENÇÕES HONROSAS
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ALBA HELENA CORRÊA
Niterói/RJ

Pelo engano... os dissabores,
trocou os cartões, garante:
para a esposa, mandou flores,
e a vassoura... para a amante!!!
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CÉLIA M. G. MENDONÇA DE MELO
Juiz de Fora MG

Bebum entrou na festança...
Ledo engano do simplório!
Chamou viúva pra dança,
bateu palmas pro velório.
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GERALDO TROMBIN
Americana/SP

Que fora Dona Gertrudes
deu... "mamada" de cerveja:
por engano postou "nudes"
no grupo da sua igreja!
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MARIA MADALENA FERREIRA
Magé/RJ

Passei mal – tive até febre! –
pois, “por engano”, o chinês
serviu-me gato por lebre
em vez de... frango xadrez!!!
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PEDRO MELO
União da Vitória/PR

A tribo toda é enganada,
quando o noivo canibal
pede a mão da namorada...
em sentido literal...!

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MENÇÕES ESPECIAIS
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GERSON SILVESTRE ALENCAR GONÇALVES
Belo Horizonte/MG

Na cena triste, um ator
gemeu de dor, mas eu ri,
pois na frase "Ai, não, doutor!",
por engano, disse "Aí ".
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JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
Casei-me por mero engano,
num inverno, num abrigo
ofereci a um fulano:
- Você quer casaco, "migo"?

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MÁRCIA JABER
Juiz de Fora/MG

Com um nervosismo insano,
procura por um calmante
e a atendente, por engano,
dá para o noivo, um purgante.
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RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

O dentista se desmancha
num engano crucial,
pois fez, no Canal da Mancha,
tratamento de canal!
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ROBERTO TCHEPELENTYKY
São Paulo/SP

Por enganos da memória,
com doutor me consultei...
E ao final da minha história,
"por engano"... Não paguei!
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NACIONAL

NOVOS TROVADORES

Tema: Confissão (Lírica/Filosófica)


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VENCEDORES
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1. Lugar
ADEMARCOS DANTAS SANTANA
Nossa Senhora Aparecida/SE

Hoje minha alma se encontra
em ato de confissão,
pois meu corpo pecou contra
minha lógica e razão!

2. Lugar
WANDA CUNHA
São Luiz/MA

Confissão: foi só tristeza
a saudade que deixaste.
Mas também tenho a certeza
de que no adeus me levaste.

3. Lugar
ANETE SIMÕES
Taubaté/SP

Minha vida está passando
e não mereço perdão,
é o futuro me lembrando
que falta uma confissão!
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NACIONAL

VETERANOS

Tema: Confissão (Lírica/Filosófica)


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VENCEDORES
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1. Lugar
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Há um medo que me angustia
e à confissão, não me oponho...
É o temor de que algum dia
a idade me roube o sonho!
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2. Lugar
MARA MELINNI
Caicó/RN

Confissão é a dor da farsa
da mãe que, sem nada ter,
chora de fome e disfarça
para o filho não saber!
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3. Lugar
GILVAN CARNEIRO DA SILVEIRA
São Gonçalo/RJ

Confissão dos meus pecados...
Mas, como esconder enfim,
os silêncios camuflados
que gritam dentro de mim?...
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4. Lugar
ELIANA RUIZ JIMENEZ
Balneário Camboriú/SC

Na confissão me liberto,
ao declarar de bom grado
que conheço o rumo certo,
mas tomei o atalho errado.
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5. Lugar
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Silenciosa, tu partiste
sem bilhete e eu, sem saber
que era a confissão mais triste
do silêncio a me escrever!

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MENÇÕES HONROSAS
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ADILSON COSTA
São Lourenço da Mata/PE

Quando o amor chegar, nem tente
enganar o coração,
pois se a voz aflita mente,
os olhos confessarão.
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ALINE RIBEIRO
Natal/RN

Deste um sim por covardia,
e a mentira evoluiu,
confessando, todo dia,
um sim que nunca existiu.
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ELIANA RUIZ JIMENEZ
Balneário Camboriú/SC

Confessa o espelho a razão
dos traços envelhecidos:
A vida esculpiu o “Não”
nesses sulcos ressequidos...
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MARA MELINNI
Caicó/RN

Nossos passos, pelo chão,
ante a estrada percorrida,
são a própria confissão
de quem nós somos na vida!
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PAULO CÉZAR TÓRTORA
Rio de Janeiro/RJ

Nem por um breve momento
soube ela o quanto eu a quis.
Hoje, sozinho, eu lamento
a confissão que não fiz.
 
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MENÇÕES ESPECIAIS
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ADILSON COSTA
São Lourenço da Mata/PE

Quando a noite abre as retinas
e põe no dia os grilhões,
resvalam, pelas esquinas,
sussurros de confissões.
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MARA MELINNI
Caicó/RN

O silêncio que palpita,
num beijo dado, sem pressa,
é uma confissão não dita
que ao amor tudo confessa...!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

MARIA HELENA OLIVEIRA COSTA
Ponta Grossa/PR

Meus tropeços eu confesso,
já que é longa a caminhada...
Não são as quedas que eu meço,
mas a fé na minha estrada!
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CÉZAR AUGUSTO DEFILIPPO
Astolfo Dutra/MG

A confissão que me vale
quando erras e ficas mudo,
mesmo que a boca se cale
teus olhos me contam tudo.
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CÉZAR AUGUSTO DEFILIPPO
Astolfo Dutra/MG

Nosso amor foi censurado,
ato falho, louco, em suma:
até confesso o pecado,
mas, sem contrição alguma.
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CONCURSO LOCAL (NOVA FRIBURGO)

Tema : Coragem (Lírica/Filosófica)


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VENCEDORES
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1. Lugar
SÉRGIO BERNARDO

Força e fraqueza interagem
dentro de nós, desde cedo;
e, assim, quem sabe a coragem
seja um disfarce do medo.
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2. Lugar
SÉRGIO BERNARDO

Num mundo que exalta o riso
e onde a dor não tem lugar,
muitas vezes é preciso
coragem para chorar.
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3. Lugar
CLENIR NEVES RIBEIRO

A coragem me permite
qualquer caminho transpor...
Um sonho não tem limite
nem limites um amor!
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4. Lugar
ELISABETH SOUZA CRUZ

De coragens e de medos
nosso amor é sempre assim:
quando a sorte cruza os dedos,
a razão faz o motim!
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5. Lugar
SÉRGIO BERNARDO

Com medo da consequência,
quantos, às vezes, não agem,
fazendo com que a prudência
mude o nome da coragem.

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MENÇÕES HONROSAS
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ADILSON CALVÃO
A coragem me fez ver
que sem a sabedoria,
eu não consigo vencer
as lutas do dia a dia!
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CLENIR NEVES RIBEIRO
Enfim, eu volto a lutar...
E a custo, me recomponho
na coragem de sonhar,
quando não se tem mais sonho!
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ELISABETH SOUZA CRUZ
Eu penso...invento e me iludo...
Faço planos, mas suponho:
- Sem coragem, falta tudo
para avançar no meu sonho!
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IVONE MARQUES MOREIRA
Neste mundo pequenino,
de percalços e de dor,
na balança do destino
pesa a coragem do amor!
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SÉRGIO FERRAZ DOS SANTOS
O orgulho bateu em mim,
mudou minha vida rica...
Faltou coragem de, enfim,
trocar o "vai" pelo "fica"!

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MENÇÕES ESPECIAIS
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ANTÔNIO ROSALVO ACCIOLY
Vejam só que bela imagem
- a imagem desse doutor-
que no amparo da coragem
rompe os mistérios da dor!
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IVONE M. MOREIRA
Ante a súplica vencida,
sem coragem de impedir,
pela porta de saída
deixei meu amor partir!
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JOÃO BATISTA VASCONCELLOS
Vivo a buscar na lembrança
a coragem destemida,
que, num fio de esperança,
trouxe luz a minha vida...
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THEREZINHA TAVARES
Pelo tempo e pelo espaço
na fantasia me ponho
e com coragem eu faço
a vida ser belo sonho!
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THEREZINHA TAVARES
Por onde fores passando
planta amor, planta carinho...
com coragem vai deixando
estrelas em teu caminho!
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CONCURSO LOCAL(NOVA FRIBURGO)

Tema: Medo (Humorística)


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VENCEDORES
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1. Lugar
CLENIR NEVES RIBEIRO

Diz o marido, sisudo,
que a esposa não tem segredo,
que confia nela em tudo,
mas, que tem medo, tem medo!
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2. Lugar
CLENIR NEVES RIBEIRO

O escuro não me seduz...
Na infância, medo e tristeza...
Mas, hoje, que eu pago a luz,
tenho medo é dela acesa!
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3. Lugar
IVONE MARQUES MOREIRA

Com a sogra ele se empenha,
enchendo a velha de joias,
pois seu medo é que ela venha
a entregar suas tramoias!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

4. Lugar
ELISABETH SOUZA CRUZ

A moça é tão precavida,
de barata é tanto o medo,
que ela pôs inseticida
na barata de brinquedo!
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5. Lugar
CLENIR NEVES RIBEIRO

Ela em moda é tão focada,
mas o medo do marido
é que ela saia pelada,
dizendo: “É moda, querido!”.

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MENÇÕES HONROSAS
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ELISABETH SOUZA CRUZ
Entra o rato na cozinha...
Foi aquele bafafá!
Com medo, grita a vizinha:
- Vá tapar o vatapá!!!
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ELISABETH SOUZA CRUZ
Agora virou rotina
sair de casa, e sem medo...
Diz que vai tomar vacina,
mas a picada é um segredo!
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IVONE MARQUES MOREIRA
É corajosa a donzela
ao contar sua façanha:
não tem grades na janela,
nem medo de homem aranha!
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SÉRGIO BERNARDO
De tanto medo, coitada,
não faz nem canja a vizinha,
porque crê que alma “penada”
é fantasma... de galinha.
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THEREZINHA TAVARES
Enfrento tudo, isso eu juro,
que medo não tenho não,
eu só não ando no escuro
por causa de assombração!

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MENÇÕES ESPECIAIS
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JOÃO BATISTA VASCONCELLOS
O namoro era atrevido
e sempre lá no escurinho...
Mas o medo do cupido
era o farol do vizinho!
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JOÃO BATISTA VASCONCELLOS
Na paquera da vizinha
debrucei sobre o telhado...
Mas todo medo que eu tinha,
era o marido estressado!
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SÉRGIO FERRAZ DOS SANTOS
– "Esse exame é "nóis" sozinho?",
pergunta o "véio", ao doutor.
– Tais com medo? - É rapidinho!
– "É no meu, não no senhor!!!"....
- - - - - - - - - - - - - - - -  

THEREZINHA TAVARES
Meu medo é tão esquisito,
não sei nem mesmo explicar,
quando me dá faniquito,
eu só quero é desmaiar!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

THEREZINHA TAVARES
Com medo de estar obeso
se pesava todo mês,
mas largou de ver o peso...
da balança se desfez!
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MAGNÍFICOS TROVADORES

Tema: Confronto (Líricas/Filosóficas)

Conjunto de 5 trovas


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VENCEDORES
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1. Lugar
PEDRO MELO
União da Vitória/PR


Sou peão que, em desatino,
não viu que estava iludido...
Contra o touro do destino,
todo confronto é perdido...!
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A briga passa do ponto,
mas nosso beijo a termina...
O amor, depois de um confronto,
é movido a adrenalina...
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Eu tenho a resposta pronta
e digo que o Amor é findo...
Mas o espelho me confronta...
e sabe que estou mentindo...!
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A folha em branco é cruel...
O Nada é a sua artimanha...
Ao confrontar o papel,
nem sempre o poeta ganha...!
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Tanto a Maldade se eleva
num mundo contrário e horrendo,
que, em confronto com a Treva,
hoje é a Luz que está perdendo...
- - - - - - - - - - - - - - - -   

2. Lugar
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP


Não confrontei a paixão,
fugi, prevendo o perigo...
Magoado, meu coração
nunca mais falou comigo...
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Antes de dar os descontos
a uma culpa que carrego,
preciso calar confrontos
que atingem meu “ponto cego”...
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Os confrontos decididos
no calor dos cobertores
mostram, no fim, dois vencidos
com ares de vencedores!
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Esse confronto que eu travo
comigo mesmo é pungente:
toda vez que as mãos eu lavo,
vejo um Cristo à minha frente...
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“Nunca mais” é “não” à beça,
você sabe: o tempo voa!
Nosso confronto tem pressa
de definir quem perdoa!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

3. Lugar
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG


Nos desafios do amor,
confrontar eu não confronto;
me declaro perdedor,
entrego os pontos e pronto!
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Para que fui recordar
o passado de repente.
Não se pode confrontar
a saudade impunemente!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Cansado de confrontar
e sem vitória nenhuma,
estende na praia o mar
brancas bandeiras de espuma.
- - - - - - - - - - - - - - - -  

O poeta nasce pronto
mas só se sente completo
vivendo o eterno confronto
com as letras do alfabeto.
- - - - - - - - - - - - - - - -  

No amor encerro os confrontos
mas a saudade quer mais
e acrescenta outros dois pontos,
após meus pontos finais!
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MAGNÍFICOS TROVADORES

TROVAS ISOLADAS


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VENCEDORES
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1. Lugar
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP

Não confrontei a paixão,
fugi, prevendo o perigo...
Magoado, meu coração
nunca mais falou comigo...

2. Lugar
PEDRO MELO
União da Vitória/PR

A folha em branco é cruel...
O Nada é a sua artimanha...
Ao confrontar o papel,
nem sempre o poeta ganha...!

3. Lugar
SÉRGIO FERREIRA DA SILVA
São Paulo/SP

Tomado de insanidade,
num etéreo Coliseu,
eu confrontei a Saudade,
e a Saudade me venceu.
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MAGNÍFICOS TROVADORES

Tema: Cilada (Humorísticas)

CONJUNTO DE 5 TROVAS


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VENCEDORES
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1. Lugar
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP


Cilada: veio a polícia
e uma militar (loiraça!)
me agarrou (Ai, que delícia!)
e algemou (Ai, que sem graça!)
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- Amante no guarda-roupa?
É cilada e eu não sou tonto.
Ah, mulher, vê se me poupa:
me apresenta o cara e pronto!
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Cilada, boa, não nego:
gêmeas, esposa e cunhada,
sei quem é quem, quando eu pego,
porque esta tem mais pegada!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Um perfume conhecido
passou por minha janela...
Que cilada: era o marido
usando o perfume dela!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

A gravidez da empregada
me põe de cabelo em pé;
tá na cara que é cilada:
se o pai não é o pai... quem é???!
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2. Lugar
SÉRGIO FERREIRA DA SILVA
São Paulo/SP


Foi de mão dupla a cilada
entre a Vovó e o Gatão:
ela, toda endividada;
e, ele, sem nenhum tostão.
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Uma cilada fatal
o fez, no abismo, cair:
ele, morreu no hospital;
e, a sogra, morreu... de rir.
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Transbordando seu veneno,
arma a cilada; e eu desdenho:
que a cobra é peixe pequeno,
perto da sogra que eu tenho.
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Era perfeita a cilada
para caçar o leão...
Mas, por uma vacilada,
hoje, jaz um vacilão!
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Ela: mal-intencionada...
Ele: idoso e milionário...
Ele: notou a cilada...
Mas otário... é sempre otário!
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MAGNÍFICOS TROVADORES
 
TROVAS ISOLADAS

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VENCEDORES
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1. Lugar
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP

- Amante no guarda-roupa?
É cilada e eu não sou tonto.
Ah, mulher, vê se me poupa:
me apresenta o cara e pronto!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

2. Lugar
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP

Um perfume conhecido
passou por minha janela...
Que cilada: era o marido
usando o perfume dela!
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3. Lugar
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG

Que cilada a da vizinha:
toda vez que à praia vem,
põe biquini de bolinha
mas não dá bola a ninguém!