domingo, 17 de abril de 2022

Therezinha Dieguez Brisolla (Pobre Professor...)

Azáfama* geral!

Durante toda a semana a escola se mobilizara para a festa do Dia das Crianças e todos se esforçavam para que tudo saísse bem...

Era sábado e ... a apoteose! Pais, mães, filhos e professores fariam um jogo de futebol encerrando as atividades. Mas, como todo craque que se preza, o professor de Educação Física fez questão do aquecimento, incluindo ginástica e, é claro, uma dança. E... surpresa! Trouxe para comandar os exercícios, nada mais nada menos que... o Pato Donald! Fizera absoluto segredo e só ele sabia quem encarnava o famoso personagem de Walt Disney.

Enquanto os pais aplaudiam, entusiasmados, a entrada triunfal do gracioso pato, as crianças, extasiadas, mal podiam acreditar... E ele, com grande desenvoltura, alinhou-se à frente de pais e filhos e iniciou os exercícios: Um... dois... três.... quatro...

O patinho lépido, saltava de um lado para o outro, flexionava os braços, abaixava-se e levantava-se seguidas vezes. As crianças, os vivos olhos muito abertos, o acompanhavam radiantes! Os pais, ainda moços e de vida sedentária, já sentiam o cansaço. O patinho, certo de que o aquecimento duraria apenas alguns minutos, extrapolava!...

Mas, o professor de Educação Física que deveria substituí-lo para dar início à dança, entusiasmado com sua criação, anunciou empolgado:

– Como todos gostaram muito do Pato Donald ele comandará também todo restante do espetáculo.  

Colocou um disco da Elba Ramalho e deu a ordem:

– Todo mundo dançando... Mais rápido...

O sol estava a pino. Já meio trôpego, o suor a molhar a máscara, onde havia apenas um pequeno orifício para os olhos, o patinho recomeçou os exercícios... Mas a fantasia pesava demais, pois não absorvia o suor que escorria do couro cabeludo, dava-lhe um calafrio na espinha e ia alojar-se no cós da bermuda que, umedecida, lhe tolhia os movimentos.

A professora, a Tia Lu, como era chamada carinhosamente na escola, dentro da fantasia sentia-se morrer! O ar lhe faltava e o seu coração batia descompassado... Estava prestes a desmaiar quando foi salva pelo gongo. A música terminou e ela ouviu quando o professor de Educação Física gritou entusiasmado: - Palmas para o Pato Donald!...

Ouviu o som das palmas, apesar do zumbido forte no ouvido e pelo orifício da máscara viu o aceno alegre das crianças.

Mal teve forças para levantar a mão para a despedida. Desnorteada, entrou na primeira porta que encontrou aberta e percebeu que era a sala da diretoria. Vagarosamente tirou a fantasia de pato, deitou-se no sofá e tentou respirar fundo e devagar até que o coração se acalmasse.

Levantou-se, ainda cambaleante, enxugou o suor, tomou um gole de água, recompôs-se e dirigiu-se ao campo de futebol para participar, com pais e alunos, do jogo que estava programado. Tentou apressar os passos ao divisar a quadra já repleta e os jogadores à sua espera. Todos acenavam e pediam que se apressasse.

Ao acercar-se do grupo que a olhava com ar reprovador, ouviu a voz estridente da diretora:

– Chegando atrasada, Tia Lu? A festa começou há mais de uma hora, já fizemos o aquecimento comandado pelo gracioso e simpático Pato Donald e agora estamos à sua espera para dar início ao jogo de futebol...

E, em voz baixa, completou: - Depois do jogo passe pela sala da Diretoria que precisamos conversar...
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* Azáfama = alvoroço, algazarra,

Fonte:
Texto enviado por Luzia Brisolla Fuim.

Um comentário:

Anônimo disse...

Magnífico texto.!