quinta-feira, 28 de abril de 2022

Altino Afonso Costa (Fazenda Santa Rosa)


Terra dos meus sonhos que me viu nascer, com minha própria mãe fazendo o parto; sentiste meus pés descalços nas incansáveis caminhadas de moleque, caçador de passarinhos, com estilingue no pescoço e bornal repleto de bolas de argila secadas ao sol.

As andanças à toa, cavalgando a mula Roseira, sem arreios, com o espírito povoado de temores de almas de outro mundo, quando eu atravessava na frente do cemitério...

Como eras o meu mundo de fantasia, quando à noite ia dormir na casa grande de madeira, coberta de folhas de zinco, cheias de buracos e que nos dias de chuva enchia as salas e os quartos de goteiras compassadas.

E o barulho monótono da chuva no telhado e o terror de ouvir os trovões que sacudiam o chão e os raios que riscavam o céu, em tons ameaçadores.

O colchão de palha de milho, desfiada, que fazia um barulho inesquecível quando movia o nosso corpo para acomodá-lo no sono que custava a chegar.

E o cheiro de urina de moleque mijão...

E as pulgas que incomodavam à noite, mesmo com os galhos de erva santa maria, que minha mãe jogava sob a cama rústica.

A lamparina a querosene, o fogão caipira de lenha; a linguiça portuguesa defumada e exalando um cheiro de carne de porco, temperada com vinho tinto.

E a carne de porco cozida, mergulhada em lata de gordura.

E a broa sobre a mesa, e o aroma de vinho tinto que vinha da adega... e o caldo verde transbordando da tigela...

Minha velha Fazenda Santa Rosa, quanta saudade da minha mãe, do meu pai e dos meus irmãos.

E os assados na noite de Natal e as fogueiras de S. João, S. Pedro e Santo Antônio, com o estouro dos rojões, busca-pés, e o amendoim, batata doce e mandioca assados na brasa tardia da fogueira...

Quanta lembrança e saudades me trazes, terra da minha infância feliz…

Fonte:
Altino Afonso Costa. Buquê de estrelas: crônicas e poemas. Paranavaí/PR: Olímpica, 2001.
Livro enviado por Dinair Leite.

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