Costuma-se dizer que ouvir conversa alheia é falta de educação. Concordo. Mas e quando a conversa vem até você? Vinícius de Moraes já dizia que “a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida”. Vinícius era poeta ou profeta? Seguramente os dois. Não sei em quais circunstâncias os escritores, músicos, compositores criam suas obras… Humm, está certo! Não posso dar-me como o poeta de Pessoa a fingir dores ou mesmo dissabores! É porque durante certo período acreditava que esses magos da palavra entravam em estado de nirvana, banhavam-se em algum rio ou subiam alguma espécie de montanha imaginária, talvez até real, e acessavam o ápice da criação. Deuses da palavra ou escultores da controvérsia: eis a questão para, como Shakespeare, ficar entre o ser e o não ser. Todas essas possibilidades, porém, caíram por terra frente o acaso do meu copo de cerveja pousado ao lado do meu bloco de notas em um bar de quinta, onde tentava, até então em vão, escrever seja lá o que fosse a fim de tornar-me o novo best seller, como se isso representasse alguma coisa…
“Certa vez, a rosa se enfeitara de flores para ser percebida. Nem assim conseguia.”
Foi o que ouvi dito por uma mulher, muito bonita por sinal, a um homem supostamente seu marido ao se aproximarem da mesa em que eu estava. Não digo isso pelas alianças em seus dedos, mas pela experiência mística — porque não há outra forma de definir aquilo — revelada bem ao alcance dos meus olhos e ouvidos. Eles ainda nem tinham se sentado à mesa ao lado quando, ao fazerem, presenciei um curtíssimo diálogo ou, pelo menos, uma tentativa iniciada por aquela pérola de declaração muito, muito verdadeira:
— Certa vez, a rosa se enfeitara de flores para ser percebida. Nem assim conseguia.
— Como?!
— Certa vez, a rosa se enfeitara de flores para…
— O que? Só um minuto, por favor, o celular… […] Sim, agora pode falar.
— Certa vez, a rosa se enfeitara…
— Nossa, lembrei que tinha que ter postado aquela foto ontem! Desculpe, meu bem… Então…
— Certa vez, a rosa se…
— Preciso trocar esse telefone… Ah, desculpe. O que estava mesmo dizendo?
— Certa vez…
— Será que pedimos batata frita ou macarrão na chapa? Bem, parece que você estava dizendo alguma coisa…
— Certa… mente.
— O que?
— Nada. Quero ir embora.
— Você é sempre assim! Depois diz que não te dou atenção…
Saíram tão rápido quanto chegaram. Terminei meu copo de cerveja, guardei meu bloco de notas, paguei a conta e fui-me embora com essa — meu estado de nirvana — cantarolando o “Samba da bênção” enquanto outros best sellers da vida provavelmente estariam a serem escritos por aí, ou, quem sabe, cantados.
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração…
A bênção, Vinícius.
“É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe…”
“Certa vez, a rosa se enfeitara de flores para ser percebida. Nem assim conseguia.”
Foi o que ouvi dito por uma mulher, muito bonita por sinal, a um homem supostamente seu marido ao se aproximarem da mesa em que eu estava. Não digo isso pelas alianças em seus dedos, mas pela experiência mística — porque não há outra forma de definir aquilo — revelada bem ao alcance dos meus olhos e ouvidos. Eles ainda nem tinham se sentado à mesa ao lado quando, ao fazerem, presenciei um curtíssimo diálogo ou, pelo menos, uma tentativa iniciada por aquela pérola de declaração muito, muito verdadeira:
— Certa vez, a rosa se enfeitara de flores para ser percebida. Nem assim conseguia.
— Como?!
— Certa vez, a rosa se enfeitara de flores para…
— O que? Só um minuto, por favor, o celular… […] Sim, agora pode falar.
— Certa vez, a rosa se enfeitara…
— Nossa, lembrei que tinha que ter postado aquela foto ontem! Desculpe, meu bem… Então…
— Certa vez, a rosa se…
— Preciso trocar esse telefone… Ah, desculpe. O que estava mesmo dizendo?
— Certa vez…
— Será que pedimos batata frita ou macarrão na chapa? Bem, parece que você estava dizendo alguma coisa…
— Certa… mente.
— O que?
— Nada. Quero ir embora.
— Você é sempre assim! Depois diz que não te dou atenção…
Saíram tão rápido quanto chegaram. Terminei meu copo de cerveja, guardei meu bloco de notas, paguei a conta e fui-me embora com essa — meu estado de nirvana — cantarolando o “Samba da bênção” enquanto outros best sellers da vida provavelmente estariam a serem escritos por aí, ou, quem sabe, cantados.
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração…
A bênção, Vinícius.
“É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe…”
Fonte:
Árvore das Letras
Árvore das Letras
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