Ananias (muito sério e com a fala compenetrada):
— Bertolto, meu amigo, deixa eu te contar, antes que me esqueça. Achei hilária a cena, até certo ponto. Depois cheguei a conclusão que a pessoa era completamente fora do juízo normal...
Bertolto (abrindo a caixa da abelhudice):
— Estou me mordendo de curiosidade. Vamos, canta a parada.
— No sábado fui almoçar na casa de um amigo meu, o Buferato, que não via há uns seis meses. Chegando lá, na hora dos comes e bebes, me deparei com um rapaz de modos estranhos. Fiquei passado como ele comia...
Bertolto (mostrando um espanto meio zombeteiro):
— Como assim passado, Ananias? Acaso o sujeito enfiava a comida pelos buracos do nariz?
Ananias (furioso, com a observação maldosa):
— Fala sério, Bertolto. Tudo você leva na brincadeira... que saco!
Bertolto (apaziguando o amigo):
— Pra descontrair, meu prezado. Ok. Tá legal. Me perdoa. Por que ficou passado?
— Acredita que a criatura devorou, de uma só vez, na minha frente e diante de meus olhos esbugalhados e, claro, de outros figurões à mesa posta, dois bifes à milanesa sem fazer uso do garfo e da faca?
Bertolto (coçando o lóbulo da orelha direita e querendo rir):
— De que maneira? Com as mãos?
Ananias (mais sério que lagartixa na parede):
— Com os cotovelos... e o mais espetaculoso. Com uma destreza jamais vista. Confesso à você, nunca me deparei com uma coisa igual. O sujeito é um gênio. Pelo menos eu o vi assim e o elegi herói. Não fosse estar envergonhado, e espantado, eu me levantaria do meu assento e daria os parabéns à ele.
Bertolto (novamente pretendendo cair na gargalhada e ponderando as palavras a serem ditas):
— Admiro você, meu caro Ananias, um homem viajado, chamar a isso, ou achar tal cena de comer fazendo uso dos cotovelos de modo estranho. Não vejo nada demais ou de anormal. Cada louco com a sua mania. Grosso modo, cada mania com seu louco. Eu mesmo adoro encher a barriga sem usar os apetrechos normais. Você sabe disso. É feio? Sim! É chato? Também! Pareço um neurastênico recém saído de algum manicômio. Entretanto, você que me conhece não é de hoje, tem pleno conhecimento de minha tara, e, inclusive, já cansou de me ver fazendo as refeições com os pés. Eu adoro comer com os pés...
— Concordo plenamente com você, Bertolto. Cada louco com a sua mania. Penso como você, ou seja, também sou adepto de comer dessa forma bem primitiva. Com os pés. Lembra meus pais e avós. Que Deus os tenha...
— Eles também comiam com os pés?
Ananias (rindo de maneira ponderada com a observação feita pelo amigo):
— Se liga, Bertolto. Eles nunca deixaram os pés em algum lugar escondido da casa, para se sentarem à mesa.
Bertolto (muito sério demonstrando não ter gostado nem um pouquinho da insinuação):
— Deixa de ser palhaço, Ananias. Não se faça de idiota. Você está mudando o rumo da prosa. Não respondeu ao que perguntei. E pior: por que todo esse espanto e alvoroço desnecessários com o pobre do indivíduo matando a sua fome com os cotovelos?
Ananias (voltando à seriedade e se fechando em copas):
— É que depois desse fato, o infeliz fez algo que considerei inusitado. Pasme, Bertolto. A figura mandou para dentro da barriga o garfo e a faca misturados com feijão tropeiro, arroz, farinha de mandioca acompanhado de um copo de refrigerante.
Bertolto (desta feita, o olhar interrogativamente cético):
— Credo! Ai, realmente tenho que concordar com você. A coisa passou dos limites. Se você não estiver me sacaneando com suas pegadinhas... que situação incrível! Apenas uma pulguinha atrás da orelha me intriga. Peço que me esclareça esse pormenor. O abestalhado, em nenhum momento passou mal, ou, sequer se atrapalhou com essas peças?
— A certa altura, sim.
— Entendo! E como foi?
— Imagine!
— Estou tentando desenhar um quadro da cena no interior de minha mente. Contudo, realmente, não faço a mínima.
— Pense, Bertolto... cabeça não foi feita só pra usar chapéu... e juntar caspas...
— Sem chance. Fala de uma vez. Como o desajuizado se saiu dessa? Engasgou, se entalou, sei lá...?
— Na verdade, Bertolto, ele se sufocou. Igual quando uma espinha de peixe empaca no gogó. Começou a virar os olhos, ficou branco... passou a não respirar. Meu chapa, pensei com meus botões: esse doido varrido vai empacotar. Precisaram chamar o SAMU...
Bertolto (coçando a cabeça e tentando digerir aquele papo furado):
— Não enrola. Parta para os finalmentes, Ananias. Em consequência de todo esse vexame, como a confusão acabou...?
— Os socorristas conseguiram pinçar o garfo e a faca.
Bertolto (Soltando um suspiro de alívio):
— Graças à Deus! Dos males, o pior.
— Engano seu. Em questão de segundos tudo mudou da água para o vinho...
— Desenhe. Estou voando... acho que você está tirando uma com a minha cara...
— Jamais faria isso, Bertolto. O que estou lhe falando é a mais pura verdade.
— Ok. Então fale com mais clareza.
— Vou tentar...
— Estou esperando...
— No segundo à frente, Bertolto, após um breve descuido dos socorristas, o maldito do rapaz engoliu o estetoscópio... e, de lambuja, o aparelho de medir pressão…
— Bertolto, meu amigo, deixa eu te contar, antes que me esqueça. Achei hilária a cena, até certo ponto. Depois cheguei a conclusão que a pessoa era completamente fora do juízo normal...
Bertolto (abrindo a caixa da abelhudice):
— Estou me mordendo de curiosidade. Vamos, canta a parada.
— No sábado fui almoçar na casa de um amigo meu, o Buferato, que não via há uns seis meses. Chegando lá, na hora dos comes e bebes, me deparei com um rapaz de modos estranhos. Fiquei passado como ele comia...
Bertolto (mostrando um espanto meio zombeteiro):
— Como assim passado, Ananias? Acaso o sujeito enfiava a comida pelos buracos do nariz?
Ananias (furioso, com a observação maldosa):
— Fala sério, Bertolto. Tudo você leva na brincadeira... que saco!
Bertolto (apaziguando o amigo):
— Pra descontrair, meu prezado. Ok. Tá legal. Me perdoa. Por que ficou passado?
— Acredita que a criatura devorou, de uma só vez, na minha frente e diante de meus olhos esbugalhados e, claro, de outros figurões à mesa posta, dois bifes à milanesa sem fazer uso do garfo e da faca?
Bertolto (coçando o lóbulo da orelha direita e querendo rir):
— De que maneira? Com as mãos?
Ananias (mais sério que lagartixa na parede):
— Com os cotovelos... e o mais espetaculoso. Com uma destreza jamais vista. Confesso à você, nunca me deparei com uma coisa igual. O sujeito é um gênio. Pelo menos eu o vi assim e o elegi herói. Não fosse estar envergonhado, e espantado, eu me levantaria do meu assento e daria os parabéns à ele.
Bertolto (novamente pretendendo cair na gargalhada e ponderando as palavras a serem ditas):
— Admiro você, meu caro Ananias, um homem viajado, chamar a isso, ou achar tal cena de comer fazendo uso dos cotovelos de modo estranho. Não vejo nada demais ou de anormal. Cada louco com a sua mania. Grosso modo, cada mania com seu louco. Eu mesmo adoro encher a barriga sem usar os apetrechos normais. Você sabe disso. É feio? Sim! É chato? Também! Pareço um neurastênico recém saído de algum manicômio. Entretanto, você que me conhece não é de hoje, tem pleno conhecimento de minha tara, e, inclusive, já cansou de me ver fazendo as refeições com os pés. Eu adoro comer com os pés...
— Concordo plenamente com você, Bertolto. Cada louco com a sua mania. Penso como você, ou seja, também sou adepto de comer dessa forma bem primitiva. Com os pés. Lembra meus pais e avós. Que Deus os tenha...
— Eles também comiam com os pés?
Ananias (rindo de maneira ponderada com a observação feita pelo amigo):
— Se liga, Bertolto. Eles nunca deixaram os pés em algum lugar escondido da casa, para se sentarem à mesa.
Bertolto (muito sério demonstrando não ter gostado nem um pouquinho da insinuação):
— Deixa de ser palhaço, Ananias. Não se faça de idiota. Você está mudando o rumo da prosa. Não respondeu ao que perguntei. E pior: por que todo esse espanto e alvoroço desnecessários com o pobre do indivíduo matando a sua fome com os cotovelos?
Ananias (voltando à seriedade e se fechando em copas):
— É que depois desse fato, o infeliz fez algo que considerei inusitado. Pasme, Bertolto. A figura mandou para dentro da barriga o garfo e a faca misturados com feijão tropeiro, arroz, farinha de mandioca acompanhado de um copo de refrigerante.
Bertolto (desta feita, o olhar interrogativamente cético):
— Credo! Ai, realmente tenho que concordar com você. A coisa passou dos limites. Se você não estiver me sacaneando com suas pegadinhas... que situação incrível! Apenas uma pulguinha atrás da orelha me intriga. Peço que me esclareça esse pormenor. O abestalhado, em nenhum momento passou mal, ou, sequer se atrapalhou com essas peças?
— A certa altura, sim.
— Entendo! E como foi?
— Imagine!
— Estou tentando desenhar um quadro da cena no interior de minha mente. Contudo, realmente, não faço a mínima.
— Pense, Bertolto... cabeça não foi feita só pra usar chapéu... e juntar caspas...
— Sem chance. Fala de uma vez. Como o desajuizado se saiu dessa? Engasgou, se entalou, sei lá...?
— Na verdade, Bertolto, ele se sufocou. Igual quando uma espinha de peixe empaca no gogó. Começou a virar os olhos, ficou branco... passou a não respirar. Meu chapa, pensei com meus botões: esse doido varrido vai empacotar. Precisaram chamar o SAMU...
Bertolto (coçando a cabeça e tentando digerir aquele papo furado):
— Não enrola. Parta para os finalmentes, Ananias. Em consequência de todo esse vexame, como a confusão acabou...?
— Os socorristas conseguiram pinçar o garfo e a faca.
Bertolto (Soltando um suspiro de alívio):
— Graças à Deus! Dos males, o pior.
— Engano seu. Em questão de segundos tudo mudou da água para o vinho...
— Desenhe. Estou voando... acho que você está tirando uma com a minha cara...
— Jamais faria isso, Bertolto. O que estou lhe falando é a mais pura verdade.
— Ok. Então fale com mais clareza.
— Vou tentar...
— Estou esperando...
— No segundo à frente, Bertolto, após um breve descuido dos socorristas, o maldito do rapaz engoliu o estetoscópio... e, de lambuja, o aparelho de medir pressão…
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Texto enviado pelo autor.
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