Mil novecentos e trinta e dois, em plena Revolução.
Minha família foi uma das poucas que permaneceram na cidade. O pânico geral fazia com que todo mundo a abandonasse.
Apesar dos protestos de Seu Victorino que também não queria sair, a insistência de seu sogro fez com que ele finalmente se decidisse, levando Dona Davina e Odette a refugiar-se no sítio do sogro.
Estava, contrariado. Não conseguia dormir à noite, devido ao ronco dos porcos, e não conseguia suportar o odor que vinha do chiqueirão. Mas em atenção a Seu Emídio, ali estava, firme.
A saúde de Seu Victorino era delicada. Passava às vezes a noite inteira puxando o fôlego em penosas crises de bronquite asmática. E por esse motivo era extremamente cauteloso, não tomava sol, não tomava chuva, nem vento, garoa, sereno...
No terceiro ou quarto dia de sítio, alguém levou-lhe uma notícia: seu amigo Claro Jansson estava doente. Não quis saber de mais nada. Partiu imediatamente em socorro do amigo.
O tempo era de chuvas intermináveis e as estradas eram péssimas. Ele encapotou-se como pôde para empreender a longa caminhada a pé. Ao chegar ao ribeirão, viu que a pinguela que o atravessava havia rodado com a enchente.
Sem hesitar um minuto, Seu Victorino — que não tomava sol, não tomava chuva, nem vento, garoa, sereno — tirou os sapatos, arregaçou as calças e corajosamente enfrentou a correnteza, passando o ribeirão e continuando a penosa jornada até o fim.
Chegando à nossa casa, viu com satisfação que meu pai já estava melhor. Dr. Onofre Di Giacomo, médico veterinário que havia ficado na cidade com a família, e que residia ao lado da farmácia de Seu Victorino, já o havia medicado. Ele arrombara uma das portas da farmácia e de lá tirara os remédios necessários. Meu pai estava fora de perigo, e até brincou com Seu Victorino, fazendo piada por ter sido tratado por um veterinário...
Eram assim as amizades daquele tempo.
Era assim o nosso querido Seu Victorino. Amigo - literalmente — até debaixo d'água!
(Tribuna de Itararé- 25/12/84)
Minha família foi uma das poucas que permaneceram na cidade. O pânico geral fazia com que todo mundo a abandonasse.
Apesar dos protestos de Seu Victorino que também não queria sair, a insistência de seu sogro fez com que ele finalmente se decidisse, levando Dona Davina e Odette a refugiar-se no sítio do sogro.
Estava, contrariado. Não conseguia dormir à noite, devido ao ronco dos porcos, e não conseguia suportar o odor que vinha do chiqueirão. Mas em atenção a Seu Emídio, ali estava, firme.
A saúde de Seu Victorino era delicada. Passava às vezes a noite inteira puxando o fôlego em penosas crises de bronquite asmática. E por esse motivo era extremamente cauteloso, não tomava sol, não tomava chuva, nem vento, garoa, sereno...
No terceiro ou quarto dia de sítio, alguém levou-lhe uma notícia: seu amigo Claro Jansson estava doente. Não quis saber de mais nada. Partiu imediatamente em socorro do amigo.
O tempo era de chuvas intermináveis e as estradas eram péssimas. Ele encapotou-se como pôde para empreender a longa caminhada a pé. Ao chegar ao ribeirão, viu que a pinguela que o atravessava havia rodado com a enchente.
Sem hesitar um minuto, Seu Victorino — que não tomava sol, não tomava chuva, nem vento, garoa, sereno — tirou os sapatos, arregaçou as calças e corajosamente enfrentou a correnteza, passando o ribeirão e continuando a penosa jornada até o fim.
Chegando à nossa casa, viu com satisfação que meu pai já estava melhor. Dr. Onofre Di Giacomo, médico veterinário que havia ficado na cidade com a família, e que residia ao lado da farmácia de Seu Victorino, já o havia medicado. Ele arrombara uma das portas da farmácia e de lá tirara os remédios necessários. Meu pai estava fora de perigo, e até brincou com Seu Victorino, fazendo piada por ter sido tratado por um veterinário...
Eram assim as amizades daquele tempo.
Era assim o nosso querido Seu Victorino. Amigo - literalmente — até debaixo d'água!
(Tribuna de Itararé- 25/12/84)
Fonte:
Dorothy Jansson Moretti. Instantâneos. São Paulo: Dialeto, 2012.
Livro enviado pela escritora.
Dorothy Jansson Moretti. Instantâneos. São Paulo: Dialeto, 2012.
Livro enviado pela escritora.
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