Simbolizando a ausência do filho que o destino levou para longe, há mais de 10 anos, uma cadeira vazia dava um toque de tristeza nas refeições daquela humilde família do Passo da Caveira, em Gravataí. A decisão tinha sido da mãe: o lugar preferido do garoto não seria ocupado até que ele voltasse para casa. Mas o tempo ia passando, passando, e nem notícias do seu eterno “menino”.
O marido e os outros três filhos menores não concordavam, mas aceitavam a saudade da mãe. Saudade que virava pranto nas madrugadas, quando acordava sonhando com o filho e ficava de joelhos, rosário entre as mãos, mandando orações aos céus para garantir saúde e proteção para o seu “menino”.
Nestas horas, relembrava a história do garoto: aos 16 anos, se envolveu com drogas e com amigos bastante suspeitos. Foi parar na delegacia. A vergonha de encontrar o filho enjaulado foi substituída pelo medo, quando ela ouviu as duras palavras do delegado: “Se a senhora não quer ver o seu filho no cemitério, leve ele para bem longe da nossa cidade, pois não vai sobrar ninguém desta quadrilha de traficantes”.
O delegado estava certo. Os “amigos” do filho começaram a aparecer mortos nos becos da vila. “Desacerto entre traficantes causa mais uma morte”, repetia a manchete do Correio de Gravataí. E a pobre mãe ficava cada vez mais apavorada: o filho poderia ser o próximo. A decisão de mandar o rapaz para morar com uma irmã dela, em Cuiabá, no Mato Grosso, foi conjunta com o pai e aceita pelo o filho, que já estava consciente dos perigos que corria.
O embarque aconteceu na noite de Natal, na rodoviária de Porto Alegre. Quando o ônibus iniciou aquela viagem de mais de 40 horas, o coração da mãe disparou. Ela sabia que tão cedo não veria mais o seu “menino”. Nos primeiros meses ainda conseguiu falar por telefone com o rapaz, hospedado na casa da irmã. Um dia, porém, ficou sabendo que ele havia sumido. A história se repetia: o rapaz voltou a usar drogas e trilhar o mau caminho. Quando se sentiu ameaçado, fugiu sem deixar rastros. E ninguém mais soube dele...
Na noite do último Natal, não tinha festa na casinha do Passo da Caveira: o pai, desempregado, não conseguira comprar presentes para os filhos. O que a mãe ganhava com as faxinas dava somente para a comida. Apesar disso, tinham saúde.
Jantavam, pelas 11 horas da noite, quando um carro, dirigido por uma mulher, parou no portão da casa. Um Papai Noel, gordo e desajeitado, desceu e foi pedindo licença para entrar. A moça explicou que estavam entregando presentes para famílias carentes.
O Papai Noel entrou na casa humilde e sentou exatamente naquela cadeira que ficava eternamente vazia. Ela até ia protestar, mas foi impedida pelo marido. Antes de entregar os presentes para cada uma das crianças, o Papai Noel perguntava o nome, idade e outros detalhes. Por alguns segundos, os olhos que estavam por trás da máscara se cruzaram com os olhos daquela mãe sofrida. E ela sentiu um calafrio. Foi exatamente naquele momento que o Papai Noel, pegando nas mãos um pacote colorido, chamou pelo seu nome. Quando ela se aproximou, sem nem notar que o “velhinho” sabia o seu nome, o Papai Noel não aguentou mais: retirou a máscara e abraçou, em prantos, a mãe que não via há mais de 10 anos.
Choraram juntos, pai, mãe e filho, neste reencontro inesperado. Parecia um milagre de Natal. Em poucos minutos, tudo foi esclarecido: a moça que dirigia o carro era a esposa do filho, considerada por ele a responsável pelo seu afastamento do mau caminho. Moravam em São Paulo, estavam bem de vida, e resolveram voltar a Sul exatamente na noite de Natal, para terminar com aquela longa saudade. Nem foi preciso botar mais água no feijão: o filho trouxera um estoque de comidas prontas para garantir a ceia de Natal.
Ainda estavam abraçados, chorando, quando os primeiros rojões subiram aos céus avisando que o Deus Menino estava nascendo nos lares de Gravataí. E que um “menino”, que sempre foi deus no coração daquela mãe, já ocupava o seu lugar na mesa, onde não havia mais nenhuma cadeira vazia...
O marido e os outros três filhos menores não concordavam, mas aceitavam a saudade da mãe. Saudade que virava pranto nas madrugadas, quando acordava sonhando com o filho e ficava de joelhos, rosário entre as mãos, mandando orações aos céus para garantir saúde e proteção para o seu “menino”.
Nestas horas, relembrava a história do garoto: aos 16 anos, se envolveu com drogas e com amigos bastante suspeitos. Foi parar na delegacia. A vergonha de encontrar o filho enjaulado foi substituída pelo medo, quando ela ouviu as duras palavras do delegado: “Se a senhora não quer ver o seu filho no cemitério, leve ele para bem longe da nossa cidade, pois não vai sobrar ninguém desta quadrilha de traficantes”.
O delegado estava certo. Os “amigos” do filho começaram a aparecer mortos nos becos da vila. “Desacerto entre traficantes causa mais uma morte”, repetia a manchete do Correio de Gravataí. E a pobre mãe ficava cada vez mais apavorada: o filho poderia ser o próximo. A decisão de mandar o rapaz para morar com uma irmã dela, em Cuiabá, no Mato Grosso, foi conjunta com o pai e aceita pelo o filho, que já estava consciente dos perigos que corria.
O embarque aconteceu na noite de Natal, na rodoviária de Porto Alegre. Quando o ônibus iniciou aquela viagem de mais de 40 horas, o coração da mãe disparou. Ela sabia que tão cedo não veria mais o seu “menino”. Nos primeiros meses ainda conseguiu falar por telefone com o rapaz, hospedado na casa da irmã. Um dia, porém, ficou sabendo que ele havia sumido. A história se repetia: o rapaz voltou a usar drogas e trilhar o mau caminho. Quando se sentiu ameaçado, fugiu sem deixar rastros. E ninguém mais soube dele...
Na noite do último Natal, não tinha festa na casinha do Passo da Caveira: o pai, desempregado, não conseguira comprar presentes para os filhos. O que a mãe ganhava com as faxinas dava somente para a comida. Apesar disso, tinham saúde.
Jantavam, pelas 11 horas da noite, quando um carro, dirigido por uma mulher, parou no portão da casa. Um Papai Noel, gordo e desajeitado, desceu e foi pedindo licença para entrar. A moça explicou que estavam entregando presentes para famílias carentes.
O Papai Noel entrou na casa humilde e sentou exatamente naquela cadeira que ficava eternamente vazia. Ela até ia protestar, mas foi impedida pelo marido. Antes de entregar os presentes para cada uma das crianças, o Papai Noel perguntava o nome, idade e outros detalhes. Por alguns segundos, os olhos que estavam por trás da máscara se cruzaram com os olhos daquela mãe sofrida. E ela sentiu um calafrio. Foi exatamente naquele momento que o Papai Noel, pegando nas mãos um pacote colorido, chamou pelo seu nome. Quando ela se aproximou, sem nem notar que o “velhinho” sabia o seu nome, o Papai Noel não aguentou mais: retirou a máscara e abraçou, em prantos, a mãe que não via há mais de 10 anos.
Choraram juntos, pai, mãe e filho, neste reencontro inesperado. Parecia um milagre de Natal. Em poucos minutos, tudo foi esclarecido: a moça que dirigia o carro era a esposa do filho, considerada por ele a responsável pelo seu afastamento do mau caminho. Moravam em São Paulo, estavam bem de vida, e resolveram voltar a Sul exatamente na noite de Natal, para terminar com aquela longa saudade. Nem foi preciso botar mais água no feijão: o filho trouxera um estoque de comidas prontas para garantir a ceia de Natal.
Ainda estavam abraçados, chorando, quando os primeiros rojões subiram aos céus avisando que o Deus Menino estava nascendo nos lares de Gravataí. E que um “menino”, que sempre foi deus no coração daquela mãe, já ocupava o seu lugar na mesa, onde não havia mais nenhuma cadeira vazia...
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