Sua terra tem palmeiras?... Pois a minha também tem. Palmeiras e sabiás. Tem um rio, o Paraíba do Sul, que algumas léguas adiante se junta ao mar. Tem montanhas, tem coreto com banda-retreta-discursos, tem uma igreja bonita que os capuchinhos ergueram quando há mais de duzentos anos descanoaram no lugar. Tem seresta a noite inteira quando é noite de luar. Tem festa do padroeiro – 24 de abril. E como se não bastasse se apelida e é conhecida como “Cidade Poema”, por conta das coisas belas e dos poetas que nascem muitos por lá.
Por falar nisso, me deem licença para brincar um pouco de saudade. Afinal, se todos cantam sua terra, posso também cantar a minha. E aposto que em quase tudo ela é igualzinha à sua, se é que você viu pela primeira vez o mundo num lugarinho sereno, cheiroso, limpinho, em qualquer um dos tantos charmosos rincões deste gostoso Brasil.
Minha terra tem nome de santo – São Fidélis, alegre cidadezinha crescida (graças a Deus não muito) no norte/noroeste do estado do Rio. Bem no ponto onde termina a planície de Campos dos Goytacazes e começa a subir a serra de Nova Friburgo.
A cidade tem também os seus orgulhos: lá nasceram algumas pessoas importantes que o Paraná conheceu, como o ex-governador José Richa; o craque de futebol Nilo, que nos bons tempos jogou pelo Grêmio de Maringá; o engenheiro Teixeira Soares, que dirigiu a construção da ferrovia Curitiba-Paranaguá. Também deixou lá o umbigo o pintor Pereira da Silva. Lá morou por vários anos o escritor Euclides da Cunha. E houve até um nobre ilustre, o Barão de Villa Flor, que em seu solene casarão, até hoje existente na praça principal, hospedou por duas ou três vezes o imperador Pedro 2º.
Quando José Richa era governador, foi convidado a visitar a terrinha onde nasceu. Aceitou e foi. Fizeram uma festa enorme para recebê-lo. Seu pai, um libanês muito simpático, começou a vida no Brasil em São Fidélis, onde tinha uma bicicletaria. Vendia e alugava bicicletas. Numa das vezes em que voltei lá, veio conversar comigo um senhor de cabelos bancos que levantou a calça e mostrou uma cicatriz que carregava como um troféu na perna direita. Era a marca de um tombo que ele levara de uma bicicleta alugada na loja do velho Richa.
Se algum dia você passar lá por perto, dê uma entradinha na cidade. Vai comer uma deliciosa lagosta ou robalo do rio Paraíba; saborear na sobremesa uma fatia de banacaxi da fábrica de doces Passarinho, com um bom pedaço do melhor requeijão do mundo; ou, se preferir, poderá experimentar o irresistível sorvete do Luizinho Maia. Vai também ter o privilégio de conhecer a belíssima igreja de São Fidélis de Sigmaringa e, se ficar para dormir, terá a chance de ouvir uma serenata no capricho. Foi nesse cenário que passou a infância e parte da juventude um menino até hoje lá conhecido como Gutinho.
- - - - - - - - - - - - - - - -
(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 21-4-2022)
Por falar nisso, me deem licença para brincar um pouco de saudade. Afinal, se todos cantam sua terra, posso também cantar a minha. E aposto que em quase tudo ela é igualzinha à sua, se é que você viu pela primeira vez o mundo num lugarinho sereno, cheiroso, limpinho, em qualquer um dos tantos charmosos rincões deste gostoso Brasil.
Minha terra tem nome de santo – São Fidélis, alegre cidadezinha crescida (graças a Deus não muito) no norte/noroeste do estado do Rio. Bem no ponto onde termina a planície de Campos dos Goytacazes e começa a subir a serra de Nova Friburgo.
A cidade tem também os seus orgulhos: lá nasceram algumas pessoas importantes que o Paraná conheceu, como o ex-governador José Richa; o craque de futebol Nilo, que nos bons tempos jogou pelo Grêmio de Maringá; o engenheiro Teixeira Soares, que dirigiu a construção da ferrovia Curitiba-Paranaguá. Também deixou lá o umbigo o pintor Pereira da Silva. Lá morou por vários anos o escritor Euclides da Cunha. E houve até um nobre ilustre, o Barão de Villa Flor, que em seu solene casarão, até hoje existente na praça principal, hospedou por duas ou três vezes o imperador Pedro 2º.
Quando José Richa era governador, foi convidado a visitar a terrinha onde nasceu. Aceitou e foi. Fizeram uma festa enorme para recebê-lo. Seu pai, um libanês muito simpático, começou a vida no Brasil em São Fidélis, onde tinha uma bicicletaria. Vendia e alugava bicicletas. Numa das vezes em que voltei lá, veio conversar comigo um senhor de cabelos bancos que levantou a calça e mostrou uma cicatriz que carregava como um troféu na perna direita. Era a marca de um tombo que ele levara de uma bicicleta alugada na loja do velho Richa.
Se algum dia você passar lá por perto, dê uma entradinha na cidade. Vai comer uma deliciosa lagosta ou robalo do rio Paraíba; saborear na sobremesa uma fatia de banacaxi da fábrica de doces Passarinho, com um bom pedaço do melhor requeijão do mundo; ou, se preferir, poderá experimentar o irresistível sorvete do Luizinho Maia. Vai também ter o privilégio de conhecer a belíssima igreja de São Fidélis de Sigmaringa e, se ficar para dormir, terá a chance de ouvir uma serenata no capricho. Foi nesse cenário que passou a infância e parte da juventude um menino até hoje lá conhecido como Gutinho.
- - - - - - - - - - - - - - - -
(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 21-4-2022)
Fonte:
Texto enviado pelo autor.
Texto enviado pelo autor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário