sábado, 16 de fevereiro de 2008

Hélder Santana (Conto: A Mocréia)

Quando entrou naquele ônibus lotado e percebeu que todos a olhavam, Gisele teve contato com um prazer maior que o sexual por alguns instantes. A cada olhada, discreta ou escancarada, cada comentário cochichado no ouvido ao lado, ela sentia um prazer indescritível, e até mesmo alívio por saber que sua qualidade mais marcante e mais querida estava lá,firme e forte: ela era feia. Incomparavelmente feia. E cada dia mais feia. Isso era seu orgulho, seu ponto de honra, sua filosofia de vida e sua glória.

Quando nasceu, era uma criança bonita, como outra qualquer. A medida que foi crescendo,foi se tornando terrivelmente feia. Seu rosto era a demonstração da crueldade e do mau gosto que a natureza pode exprimir em alguns casos. Um infortúnio, um verdadeiro castigo estético.

Certo dia voltou para casa chorando. Desesperada e aos prantos, gritou para a mãe:

— Nunca mais volto àquele lugar.

— Mas por quê?

— Não cansam de me chamar de mocréia, horrorosa. Ninguém gosta de ficar ao meu lado, porque eu sou feia.

A mãe não sabia mesmo como reagir. Se acostumara com o desastre que era o rosto da filha, passara a achar aquilo tão normal que nem pensara que na escola, sob os olhos cruéis dos inocentes, a história seria outra. Mas se Gisele era realmente tão horrorosa, por que então...? Foi direto ao ponto:

— E daí? Você deveria se orgulhar disto. Ser feia é um diferencial. Todo mundo quer ser bonito. Você não precisa ser escrava deste padrão. Quando alguém te chamar de mocréia, reaja com um sorriso. Mostre toda a sua feiúra e diga obrigado. Ser feia não é pecado. Se existe feiúra no mundo, ela tem o seu lugar. Imponha-se. Seja feia e seja feliz.

A partir desse dia ela mudou. Passou a olhar sua falta de beleza como um ponto forte. Toda vez que alguém a chamava de feia, Gisele recebia como um elogio. A feiúra era seu ponto de honra, seu toque original, sua marca registrada.

Nada a deixava mais irritada e deprimida que a idéia de receber cantadas.

Detestava que notassem qualquer traço de beleza em seu corpo. E cresceu feliz assim, já que ninguém a elogiava mesmo, muito menos recebia cantada de homem algum.

Os anos transcorriam tranqüilos. Gisele, trancada no seu mundo, estava satisfeita com sua feiúra, seu orgulho. Até que...

— Oi, a gatinha está sozinha?

Pânico! “Gatinha? Quem é esse animal? De onde saiu essa criatura grotesca e com quem ele pensa que está falando? Gatinha é a mãe!”

— Sim, estou sozinha e vou continuar assim.

— Mas por quê? Que desperdício. Uma mulher tão bonita assim, sozinha!

“Eu vou dar na cara desse animal. Pensa que está falando com quem? Mulher bonita é a puta que pariu.”

— Porque eu quero. Escuta, tem tanta mulher nesta festa e você cismou justamente comigo. Vai procurar outra pra cantar, vai.

Não adiantou. O cara cismou com Gisele. Descobriu seu celular, mandava cartões por correio eletrônico. E sempre com elogios: linda, gata. Não adiantava responder mal, ignorar, dizer desaforos.

Um dia ligou o computador e deparou com uma mensagem que a deixou emocionada, mais tocada que nunca. Mudou tudo em relação aquele homem. O texto de e-mail era curto mais contundente:

“Você é realmente uma estúpida. Grossa, insensível e além de tudo um canhão.
Não sei se alguém já te disse isso com todas as letras, mas você é uma
mocréia.”

Não. Ninguém jamais havia dito isso antes, pelo menos desta forma. Não! Como alguém tão insosso e inoportuno poderia ter mudado tanto a ponto de dizer coisas tão maravilhosas?

Ligou imediatamente para ele:

— Ricardo? Sou eu, Gisele.

— Desculpe, pela mensagem, eu estava nervoso e...

— Não, eu adorei.Adorei mesmo.

— Adorou...?

— É. Ninguém jamais tinha falado assim comigo antes!

Ele, desconfiando que tinha acertado no alvo:

— É... você é mesmo uma mocréia, mas eu gosto de você assim mesmo. Gosto desde a primeira vez que vi você.

— Jura?

— Juro!

— Eu quero te ver.

— Também quero te ver meu canhãozinho. Minha mocreinha!

O romance tomou pé. Os dois estavam cada vez mais apaixonados. Se viam todos os dias, sem falta. Toda vez que saia para encontrar o namorado, Gisele fazia questão de ir de ônibus. Tinha mais gente para reparar sua feiúra. Ela se sentia bem e chegava feliz da vida pra encontrar Ricardo. Principalmente naquele dia. Ela sabia que seria pedida em casamento.

Por isso, quando entrou naquele ônibus e percebeu o espanto de algumas pessoas, os olhares de estranhamento de outras. Ficou especialmente animada. Uma onda de euforia tomou-a de surpresa. Levantou-se do seu assento, foi para a frente do ônibus e gritou com toda força que pôde:

— Sou feia, mas sou feliz!

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Nota sobre o Autor:
Hélder Santana (1976) nasceu em Salvador (BA) e cresceu em Macaé (RJ). Formou-se em publicidade e propaganda pela Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro e passou a trabalhar como redator em uma agência de publicidade. Apesar de escrever há algum tempo, só agora passou a enviar textos para publicação, tendo seu conto “Helena” publicado no Macaé Jornal.
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Fontes:
http://www.releituras.com/

Plinio Marcos (1935 - 1999)

Plínio Marcos de Barros nasceu em Santos (SP) em 29 de setembro de 1935. Filho de família modesta, não gostava de estudar e terminou apenas o curso primário. Foi funileiro, sonhou ser jogador de futebol, serviu na Aeronáutica e chegou a jogar na Portuguesa Santista, mas foram as incursões ao mundo do circo, desde os 16 anos, que definiram seus caminhos. Aos 19 anos, já fazia o palhaço Frajola e pequenos papéis como ator em diversas companhias circenses e de teatro de variedades. Atuou em rádio e também na televisão local em Santos.

Em 1958, conhece a jornalista e escritora modernista Pagu — Patrícia Galvão. Ela e seu marido Geraldo Ferraz, também jornalista e escritor, abriram os horizontes intelectuais dos jovens atores envolvidos no movimento de teatro amador de Santos, inclusive Plínio, apresentando-lhes textos de dramaturgia moderna.

Nesse mesmo ano, impressionado pelo caso verídico de um jovem currado na cadeia, escreve "Barrela", cuja carreira seria premonitória da vida profissional do autor: por sua linguagem ela permaneceria proibida durante 21 anos.

Em 1960, com 25 anos, está em São Paulo, atuando inicialmente como camelô. Logo estaria trabalhando em teatro, como ator, administrador, faz-tudo em grupos como o Arena, a companhia de Cacilda Becker, o teatro de de Nídia Lycia. Desde 1963, produz textos para a TV de Vanguarda, programa da TV Tupi, na qual também atua como técnico. No ano do golpe militar, faz o roteiro do show "Nossa gente, nossa música". Em 1965, consegue encenar "Reportagem de um tempo mau", colagem de textos de vários autores, que fica um dia em cartaz.

Sob o signo da Censura, Plínio Marcos viverá até os anos 80 sem fazer concessões, sendo intensamente produtivo e sempre norteado pela cultura popular. "Dois perdidos numa noite suja" (1966), "Navalha na carne" (1967), "O abajur lilás" (1969) são sistematicamente perseguidos. Ele luta pela expressão com peças musicais como "Balbina de Iansã" (1970) e "Noel Rosa, o poeta da Vila e seus amores" (1977).

Escreve nos jornais “Última Hora”, “Diário da Noite”, “Guaru News”, “Folha de S. Paulo” (cadernos "Folhetim" e "Folha Ilustrada") e “Folha da Tarde” e também na revista “Veja”, além de colaborar com diversas publicações, como “Opinião”, “Pasquim”, “Versus”, “Placar” e outras. Em forma de livro, publica suas peças, os contos de “Histórias das quebradas do mundaréu” (1973) e o romance “Querô, uma reportagem maldita” (1976), depois adaptado para o teatro. O argumento original de “A rainha diaba” (1974) consegue chegar às telas.

Depois do fim da Censura, Plínio volta a impressionar com o romance “Na barra do Catimbó” (1984), peças como “Madame Blavatsky” (1985), textos de teatro infantil, a noveleta e depois peça “O assassinato do anão do caralho grande” (1995). Paralelamente, cresce sua presença como palestrante em várias cidades do país: ele chega a fazer 150 palestras-shows por ano, vestindo negro, com um bastão encimado por uma cruz e a aura mística de leitor de tarô — espécie de nova "personagem de si mesmo", como fora antes a imagem do palhaço.

Traduzido, publicado e encenado em francês, espanhol, inglês e alemão; estudado em teses de sociolingüística, semiologia, psicologia da religião, dramaturgia e filosofia em universidades do Brasil e do exterior; Plínio Marcos recebeu os principais prêmios nacionais em todas as atividades que abraçou em teatro, cinema, televisão e literatura, como ator diretor escritor e dramaturgo.

Desde sua morte aos 64 anos em São Paulo, em 29 de novembro de 1999, as homenagens ao autor e o interesse em torno de sua obra só fizeram crescer, alcançando suas parcerias musicais com alguns dos mais importantes nomes do samba paulista, bem como novas montagens e filmagens de seus textos. Ao mesmo tempo, seu nome foi adotado para batizar prêmios e espaços culturais pelo país afora — inclusive o Teatro Nacional Plínio Marcos, de Brasília.

Fonte:
http://www.releituras.com/

Plínio Marcos (Conto: Alvinho, bom palpite)

O Alvinho encarava um batente que não era mole. Se virava mais que charuto em boca de bêbado por uma grana muito mixuruca, que mal dava pra ele escorar os repuxos. Coisa que não é mole, hoje em dia, com a vida custando os olhos da cara como anda. Muito nego se abilola. Principalmente se o pinta é casado e tem montes de filhos pra sustentar. Às vezes, entra em bobeira e sai falando sozinho. E esse era o lance do Alvinho. Cheio de bronca com a sinuca de bico em que estava, ficava pelos botecos cavernosos e biroscas escamosas fazendo o maior quás-quás-quás da paróquia:

— Estou na piorada. Sei que estou. Mas um dia vira o jogo. Tem que virar. Do jeito que está não pode ser. Vê eu? Mino linha de frente, me atucanando nessa zorra encardida. Tá direito? Tá, não. Eu, Alvinho boa cuca, cheio de embaixada, perdido aqui nessa joça. Entregue às traças. A perigo perpétuo. Um dia tem que mudar.

E como esse papo que ele engrenava não dizia nada a ninguém, o jeito era ele mesmo continuar charlando:

— Nasci pra ser tratado a pão-de-ló. E, no entanto, estou só comendo capim pela raiz. Não dá pedal. Um dia me arrumo. Nem que precise fazer uma desgraça.

Claro que era conversa de bêbado. Nem o mais loque dos ouvintes botava fé. Estava tão escancarado que o bafo de boca do Alvinho era só desabafo que a curriola nem se tocava. E assim foi por anos e anos a fio. O Alvinho, na volta do trampo, parava na tendinha, enchia a fuça de cachaça e chorava as pitangas. Mas até araruta tem seu dia de mingau. Certa tarde, o Alvinho piou na parada e só deu um alô:

— Manda a penúltima.

O português do boteco fez a vontade do freguês. Botou a pinga, o Alvinho virou num gole e deu uma dica que fundiu a cuca de muito xereta:

— Inté. Vou cuidar de mim, que tou na bica pra ficar rico. E, sem maiores explicações, se picou. Largou a patota se badalando no seu destino:

— Não gostei dessa história do Alvinho.

— Nem eu. Ele não é de sair daqui antes das nove.

— Não vai ele, com essa mania de se acertar, entrar em canoa furada.

— Que ele pode fazer?

— Sei lá. Com essa mania de ficar rico, ele pode aprontar.

— Quê? Meter a mão grande em cima dos outros?

— E não pode querer sair por aí?

— Não ele. O Alvinho é de coisa nenhuma.

— Já vi muito papagaio enfeitado endoidar e fazer façanha.

— Isso eu também vi. Mas deixa andar. A cabeça dele é o seu guia. Se arrumar sarna, que se coce.

Mas não tinha chaveco nenhum na esperança do Alvinho. Acontece que, naquela semana, inaugurava a Loteria Esportiva. E como todo o povão das quebradas do mundaréu, desde onde o vento encosta o lixo até onde o vagau pisa devagarinho, o Alvinho via naquele babado a chance de tirar o pé do lodo. E, na cisma firme, se vidrou na loteria. Dali pra frente, até deixou de beber. Nem estrilava mais. Seu negócio era saber quem era o A.B.C. do escambau, o Lagarto da Barra do Catimbó, Nacional do fim da linha e tal e coisa. Então, era tentar a sorte. Sacrificava a família, deixava os mumus sem gororoba, mas arriscava seu palpite. Se alguém botava areia, ele descurtia:

— Que nada! Um dia eu faço treze pontos. Um dia dá eu na cabeceira. E tem um negócio: se eu beliscar uma nota, que nem precisa ser grande, pode ser dividida com um gango, eu nunca mais fico duro. Podem crer. Eu sei de mim. Se meu orixá me valer, eu faço e aconteço. Juro por essa luz que me ilumina.

E por nada desse mundo saía da cola. Estava rente. Fazia doze, onze, nunca menos de dez pontos. E, com essas e outras, o bruto sofria. Torcia. Passava o fim de semana inteiro com um brinco de malandro pendurado na orelha. Só de radinho de pilha, conferindo o resultado. E, remando a catraia em águas barrentas, o Alvinho ficava plantado na boca de espera.

E ficou nesse chove-não-molha até que veio o teste 44. Fanático como era, o Alvinho manjou o cartão e urrou. Se pudesse fazer três triplos, era barbada. Não teria erro. Contou sua grana e se apavorou: só tinha dois pixulés muito sem-vergonhas. No desespero, saiu caitituando pra cima do seu irmão e do seu cunhado. Azucrinou tanto os parentes que conseguiu dobrá-los. Conseguiu a bufunfa, apostou. Ficou na moita e se deu bem. Treze pontos. Uma glória! Treze pontos. Porém (e sempre tem um porém), mais novecentos e sessenta e oito negos, além dele, fizeram os treze pontos. A parte que lhe tocou foi de treze mil e novecentas jiripocas. Como teve que rachar por três, ficou com quatro milhos e caqueiradas. Quase nada. Mas, pra ele, que era salário-mínimo, era uma fortuna. E, sem se afobar, anunciou pros cupinchas:

—Como falei, nunca mais vou ficar duro.

E, mesmo a moçada do pedaço estranhando, o Alvinho meteu os peitos. Jogou o emprego pro alto. Comprou uma bicheira Buick 58, se encheu de roupas e virou outro Alvinho. Se embandeirou. Estava sempre à vontade. Sem ter que levantar cedo pra trabalhar, o pinta ficou um alegrão. E, de tanta folga que ele tinha, despertou inveja. Os bochichos começaram:

— Pombas! Quatro milhos dá pra tanto luxo?

— Sei lá. Eu nunca tive.

— Já faz tempo que ele ganhou na loteria.

— Pra tu ver. Já dava pra ter torrado a bufunfa.

— Principalmente gastando como gasta.

— E sem trampo.

— Deixa ele. Está com a vida que pediu a Deus.

E tanto o povaréu cortou o assunto que a pala bateu nas antenas de um cachorrinho. O cagüeta alertou o tira que era seu chapa. O tira precisava mostrar serviço e se botou na campana do Alvinho. O pesqueiro dele era maconha. Sem rodeio, o tira deu a dura. Flagrou o vencedor da loteria com a boca na botija. E foi cana dura.

No aperto, o Alvinho se abriu:

— Sabe como é. Arrumei a grana, me botei no comércio. Agora, ele vai puxar um tempão na galera gelada. Talvez dê pra ele se mancar que grana em bolso de otário atrapalha paca.

Fonte:
Histórias das quebradas do mundaréu", Mirian Paglia Editora de Cultura Ltda. - São Paulo, 2004. http://www.releituras.com/

Plínio Marcos (Conto: Amor é Amor)

Mulher gamada é fogo. Elas, quando se vidram e se amarram num homem, são capazes de fazer das tripas coração pra defender seus interesses. Uma mulher apaixonada se transforma dos pés à cabeça. Se é classuda, cai da panca e, sem vacilar, apronta os maiores salseiros. Se é acanhada, endoida e não regateia pra fazer um escândalo. Esse lance de que a mulher mesmo muito ligada num homem e tal e coisa, se enruste e se fecha em copas porque tem categoria é papo furado. Mulher que deixa o amor no barato não está toda na parada. Que nada! Às vezes, está por solidão, por simpatia, por conveniência e os cambaus. Nunca por gama. É isso. Não tem erro. Sou eu que afirmo, e de mulher eu entendo. Mas deixa isso de lado. O que quero contar e o que pesa na balança é a história da Dilma Fuleira e da Celeste Bicuda, duas flores da Barra do Catimbó que se unharam e se dentaram por amor ao Ariovaldo Piolho, um vagau de pouca presença física, mas de muita embaixada. Ele lidava com seu rebanho com mil e um macetes e, por essas e outras, sempre foi muito considerado pelo mulherio. É verdade que esse perereco se deu nas quebradas do mundaréu, onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos, mas, se acontecesse nos salões da mais fina gente da sociedade, não me causava nenhum espanto. Mulher é mulher em qualquer lugar. Mestre Zagaia, velho cabo-de-esquadra que navegou sem bandeira por muita água barrenta e que bateu perna à toa pelos caminhos mais escamosos, esquisitos e estreitos do roçado do bom Deus, viu quizilas de assombrar negos de patuá forte, embrulhou sua solidão em muito lençol encardido e escancarou nas Tabuadas das Candongas uma dica sobre o assunto:

— Depois dos panos arriados, o espetáculo é sempre o mesmo.

E, se Mestre Zagaia falou, tá falado. Mulher é sempre mulher. E a Dilma Fuleira e a Celeste Bicuda também são, embora à primeira vista não pareçam. Sabe como é. Elas nasceram lesadas da sorte e só pegaram a pior. Bagulho catado no chão da feira nunca fez bem à beleza de ninguém.

Porém (e sempre tem um porém), não foi a condição de bagulho que impediu que elas tivessem grandes ilusões a respeito de amor. E o galã dos sonhos das duas era, como já disse, o Ariovaldo Piolho. Esse vagau se serviu das duas sem a mínima cerimônia. Foi ali na base do agrião. Como as duas estavam a fim dele, o danado negociou. Fez valer a velha e tinhosa lei da oferta e da procura. Se fingia de morto e esperava pra ver quem comparecia no seu enterro.

Como quem não quer nada, pegava a grana na mão da Dilma, cumpria a obrigação e ia buscar os pixulés com a Celeste. E se o dinheiro compensava, não deixava ela em falta. Até que o caldo engrossou.

Bateu sujeira. O doutor Delerusca resolveu acabar com o pesqueiro das piranhas e a Dilma Fuleira e a Celeste Bicuda se viram no papo-de-aranha. Escaparam da cana, mas o faturamento caiu às pamparras. E, no meio disso tudo, o Ariovaldo Piolho sentiu o aroma da perpétua. Vagau escolado por muitos anos de janela é sempre cem por cento profissional. Sem pagório, deixou as mulheres na saudade. E se deu o esquinapo.

A Dilma Fuleira achou que o Piolho não queria nada com ela porque estava enredado pela Celeste Bicuda. Procurou a rival e, sem conversa, deu-lhe uma tremenda biaba. A Celeste Bicuda era encardida. Encarou, mas não deu nem pra saída. A Dilma Fuleira era gordona e alta. A Celeste, baixinha e só pele e osso. Teve que apanhar e correr. Porém, como não era de engolir nada enrolado, a Celeste Bicuda tramou a forra. Foi na macumba levar o nome da Dilma Fuleira pra sua mãe-de-santo enterrar no cemitério. Feita a façanha, a Celeste Bicuda se botou a boquejar nos botecos. Garantia pra quem duvidasse que a Dilma Fuleira ia murchar até morrer. E não faltou fuxiqueiro pra ir rapidinho envenenar a Dilma. E ela, que já estava atolada até o gogó no pântano, acreditou que a bananosa toda que curtia era devido à mandinga da Celeste. Se picou de raiva e jurou pela luz que a iluminava que ia pegar a inimiga e dar pancada até ela desenterrar seu nome. E foi pra guerra.

A Dilma encontrou a Celeste no seu barraco e nem pediu licença. Entrou na força bruta e foi botando pra quebrar. De repente, a Celeste Bicuda deu uns gritos, uns pulos pro alto e, quando desceu, era uma fera batusquela. Passou a mão numa enxada e tocou o bumba-meu-boi no lombo da Dilma, que se viu obrigada a dar pinote. Mas a Celeste foi na captura e derrubou o barraco da Dilma a enxadada. Em desespero e apavorada com a fúria da Celeste Bicuda, a Dilma se refugiou na casa do Piolho. A Celeste não tomou conhecimento. Aliás, ainda ficou mais endoidada de ver a rival junto do homem da sua gama. Aumentou o escarcéu.

O Ariovaldo, sem se afobar saiu de fininho e chamou a polícia. A cana chegou e ferrou a Celeste e a Dilma. No Distrito, a Celeste falou que não tinha nada com a briga. Foi o exu da sua crença que encarnou nela pra acabar com a Dilma. A Dilma, de zoeira, entregou tudo como era. Disse pro doutor que a bronca era por causa do Piolho, que estava na fita como testemunha. O delegado quis saber se o Piolho tinha emprego. Não tinha. Entrou em pua e as mulheres foram dispensadas. Mas continuam pelejando por amor. Uma visita o vagau às quartas-feiras; a outra, aos domingos. E todas as duas levam o santo dinheirinho de presente pro Ariovaldo Piolho, o bom amante.

Fonte:
Histórias das quebradas do mundaréu", Mirian Paglia Editora de Cultura Ltda. - São Paulo, 2004, págs. 153.
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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

John Ronald Reuel Tolkien (O Senhor dos Anéis)

O Senhor dos Anéis (The Lord of the Rings) é um romance de fantasia criado pelo escritor e acadêmico inglês J.R.R. Tolkien. A história começa como seqüência de um livro anterior de Tolkien, O Hobbit (The Hobbit), e logo se desenvolve numa história muito maior. Foi escrito entre 1937 e 1949, com muitas partes criadas durante a Segunda Guerra Mundial. Embora Tolkien tenha planejado realizá-lo em volume único, foi originalmente publicado em três volumes entre 1954 e 1955, e foi assim, em três volumes que se tornou popular. Desde então foi reimpresso várias vezes e foi traduzido para pelo menos 38 línguas, tornando-se um dos trabalhos mais populares da literatura do século XX.

A primeira edição em português, da extinta editora Artenova (tradução de Antônio Rocha e Alberto Monjardim), era constituída por seis volumes, o primeiro dos quais intitulava-se "Terra Mágica". A segunda edição em português foi editada em Portugal durante os anos de 1980, pela editora Europa América.

A história de O Senhor dos Anéis ocorre em um tempo e espaço imaginários, a Terceira Era da Terra Média, que é um mundo inspirado na Terra real, mais especificamente, segundo Tolkien, numa Europa mitológica, habitado por Humanos e por outras raças humanóides: Elfos, Anões e Orcs. Tolkien deu o nome a esse lugar a palavra do inglês moderno, Middle-earth (Terra-Média), derivado do inglês antigo, Middangeard, o reino onde humanos vivem na mitologia Nórdica e Germânica. O próprio Tolkien disse que pretendia ambientá-la na nossa Terra a aproximadamente 6000 anos atrás, embora a geografia e a historia correspondentes com a geografia e a história do mundo real fosse frágil.

A história se foca em várias raças, Humanos, Anões, Elfos, Ents e Hobbits lutando contra Orcs para evitar que o "Anel do Poder" volte às mãos de seu criador Sauron, o Senhor do Escuro, e no conflito contra o mal que se alastra pela Terra-média. Partindo dos começos quietos no Condado, a história muda através da Terra-média e segue o curso da Guerra do Anel através dos olhos de seus personagens, especialmente do protagonista, Frodo Bolseiro. A história principal é seguida por seis apêndices que fornecem uma riqueza do material de fundo histórico e lingüístico.

Junto com outras obras de Tolkien, O Senhor dos Anéis foi objeto de extensiva análise de seus temas e origens literários. Embora um grande trabalho tenha sido feito, a história é meramente o resultado de uma mitologia na qual Tolkien trabalhava desde 1917. As influências neste antigo trabalho, e na história do Senhor dos Anéis, englobam a filologia, mitologia, industrialização e religião e também trabalhos de fantasia antigos e as experiências de Tolkien na Primeira Guerra Mundial. O Senhor dos Anéis teve um efeito grande na fantasia moderna, e o impacto de trabalhos de Tolkien é tal que o uso das palavras “Tolkienian” e “Tolkienesque” ("Tolkieniano" e "Tolkienesco") ficou gravado no dicionário Oxford English Dictionary.

A enorme e permanente popularidade de O Senhor dos Anéis levou a numerosas referências na cultura popular, a fundação de muitas sociedades de fãs do trabalho de Tolkien e à publicação de muitos livros sobre Tolkien e seu trabalho. O Senhor dos Anéis inspirou (e continua inspirando) trabalhos de arte, a música, cinema e televisão, os jogos de vídeo games e uma literatura paralela. As adaptações do livro foram feitas para o rádio, o teatro e o cinema. Em 2001 – 2003 foi lançado o extensamente aclamado filme A Trilogia de O Senhor dos Anéis (The Lord of the Rings film trilogy), que promoveu uma nova explosão de interesse pelo Senhor dos Anéis e pelas outra obras de Tolkien.

Escrevendo

O Senhor dos Anéis foi iniciado como um seqüência para o Hobbit, história publicada em 1937 que Tolkien tinha escrito e tinha sido lida originalmente por muitos jovens. A popularidade de O Hobbit levou seu editor a pedir por mais histórias sobre hobbits, de modo que o mesmo ano Tolkien, com 45 idade, começou a escrever a história que se transformaria no Senhor dos Anéis. A história não seria terminada até 12 anos mais tarde, em 1949, e não foi publicado antes de 1954, quando Tolkien tinha 63 anos de idade.

Tolkien originalmente não pretendia escrever um seqüência para O Hobbit, e nesse tempo dedicou-se mais a histórias infantis, tais como Roverandom e Mestre Gil de Ham. Como seu trabalho principal, Tolkien esboçava a história de Arda, das Silmarils e das raças que habitavam a Terra. Tolkien morreu antes de terminar e unir este trabalho, conhecido hoje como o Silmarillion, mas seu filho Christopher Tolkien editou o trabalho do seu pai e publicou-o em 1977. Alguns biógrafos de Tolkien consideram O Silmarillion como o verdadeiro “trabalho de seu coração", fornecendo o contexto histórico e lingüístico para seu trabalho mais popular e para suas línguas criadas, que ocupavam a maior parte do tempo de Tolkien. Em conseqüência O Senhor dos Anéis terminou acima dos últimos movimentos do legendário de Tolkien e em sua própria opinião “muito maior, e eu espero também na proporção do melhor, do ciclo inteiro.”

Persuadido por seus editores, começou “um novo Hobbit” em dezembro de 1937. Depois que diversos começos falsos, a história do Um Anel logo emergiu e o livro mudou de uma seqüência do Hobbit, para mais uma seqüência do ainda não publicado Silmarillion. A criação do primeiro capítulo (Uma festa muito esperada) sucedeu bem, embora as razões por atrás do desaparecimento de Bilbo, do significado do anel e do título do Senhor dos Anéis não chegassem até a primavera de 1938. Originalmente, planejou escrever uma outra história em que Bilbo tinha esgotado todo seu tesouro e procurava uma outra aventura para ganhar mais; entretanto, recordou-se do anel e seus poderes e decidiu-se escrever preferivelmente sobre ele. Começou com o Bilbo como personagem principal, mas decidiu-se que a história era demasiada séria usar um hobbit divertido e amoroso e assim que Tolkien procurou usar um membro da família de Bilbo. Pensou sobre usar um filho de Bilbo, mas isto gerou algumas perguntas difíceis, tais como local onde encontrou sua esposa e se esta deixaria seu filho entrar em perigo. Assim procurou um personagem alterno para carregar o anel. Nas legendas gregas, era o sobrinho do herói que ganhava o artigo de poder, e assim que o hobbit Frodo surgiu.

A escrita era lenta devido ao perfeccionismo de Tolkien e foi interrompida freqüentemente, por suas obrigações como professor e por outros deveres acadêmicos.

Ele abandonou O Senhor dos Anéis durante a maior parte de 1943 e o reiniciou somente em abril de 1944. Christopher Tolkien e C.S. Lewis recebiam notícias sobre a história freqüentemente - Tolkien enviava para o filho uma série de cópias dos capítulos enquanto os escrevia, quando Christopher estava servindo na África do Sul na Força Aérea Real. Prosseguiu outra vez em 1946, e mostrou uma cópia do manuscrito a seus editores em 1947. A história foi eficazmente terminada o ano seguinte, mas Tolkien não terminou de revisar as últimas partes do trabalho até 1949.

Uma disputa com seus editores Allen & Unwin fez com que Tolkien oferecesse o livro à Collins em 1950. Tolkien pretendia que o Silmarillion (com a maior parte ainda não revisada até neste momento) fosse publicado junto com O Senhor dos Anéis, mas a Allen & Unwin se recusava a fazer isto, e mais: queriam que O Senhor dos Anéis fosse dividido em três partes para baratear os custos. Depois que seu contato em Collins, Milton Waldman expressou a opinião de que O Senhor dos Anéis "necessitava urgentemente de uma redução", e exigiu finalmente que o livro fosse publicado em 1952. Não fizeram isso, e assim Tolkien escreveu a Allen & Unwin novamente, dizendo que "consideraria satisfatória a publicação de qualquer parte do material.". Desse modo, A Sociedade do Anel e As Duas Torres foram publicados em 1954 e O Retorno do Rei, depois de revisões nos apêndices, foi publicado em 1955.

Publicação

Na publicação, a maior parte dos custos foi devido à falta (e preço) do papel no pós-guerra, mas para manter o preço baixo da primeira edição, o livro foi dividido em três volumes: A Sociedade do Anel, publicado em 1954, As Duas Torres, publicado alguns meses depois, O Retorno do Rei e mais seis apêndices, publicado em 1955. O atraso na produção dos apêndices, dos mapas e especialmente os índices resultou que fossem publicados mais tarde do que esperado - em 21 de julho de 1954, em 11 de novembro de 1954 e em 20 de outubro de 1955, respectivamente, no Reino Unido. O Retorno do Rei foi especialmente atrasado. Tolkien inclusive não gostou muito do título de O Retorno do Rei, acreditando que era demasiado afastado da linha da história. Tinha sugerido originalmente o título A Guerra do Anel, que foi rejeitada por seus editores.

Os livros foram publicados sob um arranjo de “partipação nos lucros”, por meio do qual Tolkien não receberia um adiantamento ou direitos autorais até que os livros cobrissem os gastos, depois do qual teria uma parte grande dos lucros. Um índice para os três volumes, que viria no fim do último, já fora prometido à época do lançamento do primeiro volume, mas provou-se ser imprático para compilá-lo num período razoável. Em 1966, quatro índices, não compilados por Tolkien, foram adicionados ao Retorno do Rei.

O Senhor dos Anéis sempre foi um livro bastante controverso. Sob rótulos de "Lixo Juvenil", mas também alumiado por elogios fervorosos, essa obra ainda sobrevive para que possa receber as mais diversas opiniões.

Começando pelas críticas favoráveis (que, diga-se, são mais numerosas), destacamos algumas das mais importantes.

O jornal Sunday Telegraph se manifestou à época do lançamento do livro dizendo que ele estava "entre os maiores trabalhos de ficção do século XX". A conclusão parecida, conquanto mais teatral, chegou o Sunday Times, afirmando que "o mundo do Inglês está dividido entre aqueles que leram O Senhor dos Anéis e O Hobbit, e aqueles que ainda vão ler".

W.H.Auden escreveu ao New York Times: "A primeira coisa que pedimos é que a aventura seja [...] empolgante; sob este aspecto a inventividade do Sr. Tolkien é incansável [...e] o leitor exige que pareça real [...] O Sr. Tolkien tem a sorte de possuir um espantoso dom de dar nomes e um olho [...] exato para descrições. [...] O conto mostra no espelho a única natureza que conhecemos: a nossa própria; também nisto o Sr. Tolkien teve um êxito soberbo. O que ocorreu no Condado [...] na Terceira Era [...] não somente é fascinante em A.D. 1954, mas é também um alerta e uma inspiração." Sobre a capacidade de inventar nomes, O Senhor dos Anéis conta com 301 nomes de pessoas e animais, e 433 nomes de lugares.

Donald Barr falou, no New York Times também, sobre uma coisa que Tolkien muito amava: "O Sr. Tolkien é um afamado filólogo britânico, e a linguagem de sua narrativa nos recorda que um filólogo é um homem que ama a língua."

E John Gardner escreve sobre o livro, falando sobre a rica caracterização, o brilho imagético, um senso de lugar vigorosamente imaginado e detalhado, e [a] aventura brilhante.

Mas nem tudo era elogios. Richard Jenkyns escreveu ao The New Republic que os personagens e o próprio trabalho de Tolkien são "anêmicos, e carentes de fibra".

A crítica mais ácida veio talvez de Edmund Wilson, ao The Nation: "Ficamos perplexos ao pensar por que o autor terá suposto que escrevia para adultos. [...] Exceto quando é pedante e também aborrece o leitor adulto, há pouca coisa no Senhor dos Anéis acima da inteligência de uma criança de sete anos. [...]A prosa e o verso estão no [...] nível de amadorismo profissional. [...]Os personagens falam uma língua de livro de histórias [...e] não se impõe como personalidades. Ao final deste [...] romance, eu ainda não tinha uma concepção do mago Gandalph [sic]. [...] Esses personagens estão envolvidos em intermináveis aventuras, a pobreza de invenção demonstrada nas quais, é [...] quase patética. [...] Como é que esses extensos volumes de [...] baboseiras provocam tais tributos [...]? A resposta [...] é que certas pessoas [...] têm um apetite vitalício por lixo juvenil."."

Repare em como ele escreveu o nome do mago Gandalf, chamando-o Gandalph. Além disso, as línguas de livros de histórias geralmente não possuem uma estrutura sólida gramatical, fonológica e de vocabulário, que é o que acontece com as línguas élficas Quenya e Sindarin.

Influência

O Senhor dos Anéis começou como uma exploração pessoal de Tolkien de seus interesses na Filologia, religião (particularmente Igreja Católica), Contos de fadas, assim como a Mitologia nórdica, mas também foi influenciado, de forma crucial, pelos fatos que ocorreram do seu serviço militar durante a Primeira Guerra Mundial. Tolkien criou um universo fictício completo e altamente detalhado (Eä), onde O Senhor dos Anéis ocorreu, e muitas partes deste mundo eram, como ele admitia livremente, influenciado por outras origens.

Uma vez, Tolkien descreveu O Senhor dos Anéis ao seu amigo, o padre jesuíta Robert Murray, como “um trabalho fundamental religioso e Católico, inconscientemente no início, mas cientemente na reavaliação.” Há muitos temas teológicos subjacentes na narrativa, incluindo a luta de bem contra o mal, o triunfo do excesso vaidade na humanidade e a atividade da Graça Divina. Além disso a orações do Senhor “e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal” estava sempre presente na mente de Tolkien quando descreveu luta de Frodo de contra o poder do Um Anel.

Os motivos religiosos não Cristão também tiveram fortes influências na terra média de Tolkien.

Impacto na cultura popular

O Senhor dos Anéis promoveu uma grande mudança bastante grande na cultura popular, desde os anos 50, quando foi publicado, mas principalmente nos anos 60 e 70. Pode-se encontrar tal influência em exemplos como jogos de tabuleiro baseados no livro e em paródias como Bored of the Rings (no Brasil, O Fedor dos Anéis), o episódio de South Park, O Retorno do Senhor dos Anéis às Duas Torres, e o musical da Revista Mad nomeado O Anel e Eu. Graças ao trabalho de Peter Jackson, muita dessa influência voltou a ser sentida hoje.

Música

Muitos músicos e bandas também inspiraram-se não só no Senhor dos Anéis como em outras obras de Tolkien. As letras de músicas de algumas bandas dos anos 70 é recheada de referências à obra do autor. Led Zeppelin é provavelmente o mais famoso grupo diretamente inspirado em Tolkien, e possui quatro músicas com referências explícitas, como Ramble On e The Battle of Evermore. Outras bandas dos anos 70 inspiradas no autor são Camel, Rush e Styx. The Beatles pode até não ter sido musicalmente influenciados, mas eles tinham a intenção de fazer um filme baseado em O Senhor dos Anéis. A idéia não saiu do papel, se é que chegou a ele.

Mais tarde, nos anos 80 e 90, bandas de metal encontraram lugar para Tolkien em suas músicas, muitas vezes usando a parte má da obra dele, os personagens e hostes ruins. A banda alemã Blind Guardian possui, entre outras referencias a Tolkien, o álbum Nightfall in Middle-Earth, que conta a história das Silmarils e a finlandesa Nightwish (que possui a música Elvenpath, que faz alusão a Elbereth e a Lórien) são duas famosas bandas de metal.

Fora do rock, muitos artistas New Age foram influenciados pelo trabalho Tolkieniano. Enya escreveu uma música chamada Lothlórien, e compôs duas músicas para o filme A Sociedade do Anel: May It Be, cantada em Inglês e em Alto-élfico e Aníron, cantada em Élfico-cinzento. Além dela outros muitos artistas encontraram na obra de Tolkien a inspiração para sua música.

Adaptações do Livro

O Livro foi adaptado para o rádio três vezes. Em 1955 e em 1956, a BBC passou O Senhor dos Anéis, uma adaptação em doze partes da história para o rádio, da qual nenhuma gravação sobrou. Em 1979, uma dramatização da história foi transmitida nos Estados Unidos e depois colocadas em fita e CD. Em 1981, a BBC transmitiu uma nova dramatização em 26 partes de meia hora.

As adaptações para a tela incluem uma animação em 1978, quando Ralph Bakshi produziu a primeira versão em desenho animado sobre o Senhor dos Anéis. A produção não foi um sucesso. Seguindo o enredo de A Sociedade do Anel e de As Duas Torres, devia ser dividido em duas partes. O desenho tinha muitos cortes e a qualidade da animação não era muito boa, mas serviu como uma alavanca para uma maior abrangência dos livros. Porém, mesmo e principalmente entre os fãs, nunca houve grande aceitação sobre essa animação. A outra parte, O Retorno do Rei, em 1980, foi um especial animado para a TV por Rankin-Bass, que tinha produzido uma versão similar a O Hobbit em 1977.

Em 1999, o diretor Peter Jackson resolveu adaptar O Senhor dos Anéis para o cinema. A trilogia foi filmada simultaneamente, e está entre os recordes de bilheteria, além de ter acumulado dezessete Oscars, 4 para o primeiro, 2 para o segundo e 11 para o terceiro. A empresa que realizou os filmes chama-se WETA Workshop Ltd..

Já houve muitas produções teatrais baseadas nos livros. Três foram apresentadas em Cincinnati, Ohio, Estados Unidos: A Sociedade do Anel (2001), As Duas Torres (2002) e O Retorno do Rei (2003). Um musical de O Senhor dos Anéis foi apresentado em 2006 em Toronto, Ontario, Canadá.

Os Livros
O Senhor dos Anéis, A Sociedade do Anel. Livraria Martins Fontes Editora Ltda.. ISBN 85-336-1337-7.
O Senhor dos Anéis, As Duas Torres. Livraria Martins Fontes Editora Ltda.. ISBN 85-336-1338-5.
O Senhor dos Anéis, O Retorno do Rei. Livraria Martins Fontes Editora Ltda.. ISBN 85-336-1339-3.

Estrutura da obra e pano de fundo da história

Já foi dito que a obra deveria ser lançada em um único volume, mas foi dividido em três como forma de baratear os custos (havia racionamento de papel na Inglaterra do pós-guerra). Cada volume é dividido em dois tomos ou "livros".

O primeiro volume, A Sociedade do Anel, publicado em 1954 contém um prólogo, no qual são dadas as características dos Hobbits.

O segundo volume, as Duas Torres, publicado alguns meses depois de A Sociedade do Anel, também em 1954, continua a história original com mais personagens.

A saga termina com a publicação em 1955 do terceiro volume, intitulado O Retorno do Rei que contém diversos apêndices explicativos sobre a história, as línguas, a cronologia da narrativa e outras informações adicionais sobre a mitologia criada por Tolkien para a sua Terra-Média.

O pano de fundo da história é revelada enquanto o livro progride, e elaborada também nos apêndices e no Silmarillion e em Contos Inacabados, os últimos publicados após a morte de Tolkien. Começa milhares dos anos antes da ação no livro, com a ascensão do epônimo senhor dos anéis, senhor escuro Sauron, um encarnação de uma malévola entidade espiritual imortal possuidora de grandes poderes supranaturais, que governava o temido reino de Mordor. No fim da primeira era da Terra Média, Sauron sobreviveu à catastrófica derrota e o exílio de seu mestre, a figura fundamental do mal, Morgoth e durante a segunda era Sauron planejou ganhar o domínio sobre a Terra Média. Sob aparência de "Annatar" ou senhor dos presentes; ajudou os elfos ferreiros de Eregion, e fomentou a forja dos anéis mágicos que conferenciaram vários poderes e habilidades aos seus portadores, mas Celebrimbor, líder dos elfos ferreiros (era talentosíssimo, e era neto de Fëanor, um importante elfo da primeira era), os tinha forjado independentemente de Sauron. Os mais importantes destes foram os dezenove anéis do poder ou os grandes anéis.

Então Sauron forjou secretamente um grande anel para si próprio, o Um Anel, pois planejava escravizar os portadores dos outros anéis do poder. Este plano falhou em parte porque os elfos tomaram ciência dele e esconderam seus anéis, os Três Anéis Élficos, dando-os aos Sábios de seu tempo (Galadriel, Círdan e Gil-Galad). Esses, Sauron jamais voltou a tocar. Sauron lançou se então a guerra, durante a qual capturou dezesseis dos anéis do poder e os distribuiu aos senhores e aos reis dos anões e dos homens, estes anéis foram conhecidos como os sete e os nove respectivamente. Os Senhores Anões se provaram demasiado resistente a escravização, embora seu desejo natural para a riqueza, especialmente ouro, aumentasse; isto trouxe muitos conflito entre eles e outras raças. Dos sete Anéis que tinham sido dados aos Senhores Anões, Sauron recuperou os que não tinham sido destruídos, e dos nove Anéis presenteados aos Homens, Sauron trouxe todos para sua custódia. Esses humanos portadores dos Nove Anéis lentamente se corromperam com tempo e transformaram-se consequentemente nos morto-vivos Nazgûl, os Espectros do Anel, os servos mais temidos de Sauron.

Após 1.500 anos, o Númenorianos enviaram uma grande força para destruir Sauron, conduzida por seu poderoso monarca Ar-Pharazôn, o Dourado. abandonado por seus servos, Sauron rendeu-se e foi feito prisioneiro de Númenor. Entretanto, com o perspicácia e força de vontade, começou a aconselhar o rei e envenenou as mentes do Númenorianos contra os Valar. Iludiu seu rei, aconselhando-o a invadir as Terras Imortais para conseguir ser imortal como os Valar e os elfos. Os Valar, ao saberem da invasão, invocaram Eru Ilúvatar, que causou um deslizamento de terras sobre os Númenorianos, e abriu uma grande abismo no mar, destruindo Númenor e separando as Terras Imortais das Mortais. O corpo físico de Sauron foi destruído, mas seu espírito retornou a Mordor e assumiu um nova e terrível forma. Algum Númenorianos (chamados de Fiéis por não terem deixado de adorar Ilúvatar) também obtiveram sucesso em escapar para a Terra-média. Foram conduzidos por Elendil e seus filhos Isildur e Anárion.

Depois de cem anos, Sauron lançou um ataque de encontro aos Númerianos exilados. Elendil formou a Último Aliança dos Elfos e dos Homens com o Elfo-rei Gil-galad. Marcharam de encontro a Mordor, derrotando os exércitos de Sauron na planície de Dagorlad e sitiaram a fortaleza Barad-dûr, onde Anárion morreu. Após sete anos sitiado, o próprio Sauron foi forçado a vir para fora e entrar num combate com os líderes. Gil-galad e Elendil foram mortos enquanto lutavam com Sauron e a espada de Elendil, Narsil, quebrou-se. O corpo de Sauron foi subjugado e morto [3] e Isildur cortou o Um Anel de sua mão com que sobrara da espada, Narsil; quando isto aconteceu, o espírito de Sauron fugiu e não reapareceu por muitos séculos. Isildur foi aconselhado a destruir o Um Anel arremessando-o no vulcão da Montanha da Perdição onde foi forjado, mas atraído pela sua beleza Isildur preferiu conservá-lo para que fosse a herança de seu povo.

Começou assim a Terceira Era da Terra-média. Dois anos mais tarde Isildur e seus soldados foram atacados em uma emboscada por um bando de Orcs no que foi chamado posteriormente do Desastre dos Campos do Lis. Quase todos os homens foram mortos, mas Isildur escapou pondo o Anel, que torna invisível quem o coloca. Mas o Anel traiu o seu portador, escapando do dedo de Isildur, que foi visto e flechado pelos orcs, e o anel foi perdido por dois milênios.

Foi então encontrado, por acaso, no rio por um ancestral dos hobbits chamado Déagol. Seu parente e amigo Sméagol o estrangulou para roubar o Anel. Sméagol fugiu para a Montanhas Sombrias depois de ter sido expulso de casa, e nas raízes das montanhas se transformou numa criatura repulsiva e nojenta chamada Gollum.

Em O Hobbit, aproximadamente 60 anos antes dos eventos do Senhor dos Anéis, Tolkien relacionou a história do encontro aparentemente acidental do Anel por um outro hobbit, Bilbo Bolseiro, que o leva para seu casa, o Bolsão. Foi somente durante a criação de O Senhor dos Anéis que Tolkien relacionou as histórias. Nem Bilbo nem o mago Gandalf estavam cientes neste momento que o anel mágico de Bilbo era o Um Anel, forjado pelo senhor do escuro, Sauron.

A Saga do Anel conta, no final da Terceira Era, a luta entre os povos livres da Terra-média contra Sauron, que procura pelo Um Anel e tem o intuito de dominar toda a Terra-média, assim como seu mestre, Morgoth, tentara.
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Nota: A biografia de Tolkien foi postada em 29 de dezembro de 2007.

John Ronald Reuel Tolkien (O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel)

Frodo Bolseiro é um hobbit do Condado, que recebe de seu tio Bilbo um anel de rara beleza. Esse anel tem uma longa história: foi roubado de uma criatura chamada Gollum (como relatado no livro O Hobbit), e desde então ele tem sido guardado por Bilbo.

O Mago Gandalf, um velho amigo de Bilbo, percebe o poder que aquele anel possui, não sendo um anel comum, mas sim o Um Anel, artefato mágico forjado por Sauron, o Senhor do Escuro, e que fora perdido numa batalha muito tempo antes. Se recuperado, o Um Anel permitiria a Sauron o domínio definitivo sobre toda a Terra-média. O Um Anel, ou Anel do Poder, dera longevidade fora do comum a seu antigo dono, Bilbo, e possuía consciência, uma vontade própria que o conduzia sempre na direção do seu criador e senhor. Gandalf aconselha Frodo a deixar o Condado pois servos de Sauron conhecidos como Nazgûl estão à procura do Um Anel. Gandalf parte em busca de ajuda mas não manda notícias durante vários meses. Frodo decide então deixar o Condado furtivamente, levando consigo seu fiel amigo e jardineiro, Samwise Gamgee, mais conhecido como Sam. Os dois companheiros viajam a pé rumo a Bri, uma vila habitada por Homens, perto da fronteira do Condado.

No caminho, juntam-se a eles dois outros hobbits, Merry e Pippin. Os hobbits resolvem pegar um atalho que passa através da Floresta Velha, lar de árvores que se comunicam entre si. Dentro da Floresta, os hobbits são salvos de uma árvore violenta por um estranho ser que adora cantar: o enigmático Tom Bombadil, um dos maiores mistérios de Tolkien.

Passando por outros perigos, os hobbits chegam a Bri, e lá aceitam a ajuda de um Guardião chamado Passolargo, amigo de Gandalf, que os guia até Valfenda, um reino ainda habitado por elfos, seres imortais, detentores de grande poder, beleza e sabedoria. Mas o caminho ainda é perigoso: o grupo é emboscado no Topo do Vento e Frodo acaba apunhalado por um Nazgûl, Espectro do Anel. Passolargo consegue repelir a ofensiva do Inimigo e foge com Frodo, que está gravemente ferido, e os outros hobbits. Quando estão sendo alcançados novamente pelos Espectros do Anel, o elfo Glorfindel os encontra e os conduz em segurança até Valfenda. Os Nazgul tentam detê-los mas são varridos pela inundação súbita do rio Baraduin.

Já curado, Frodo descobre as maravilhas de Valfenda e lá é realizado um conselho liderado por Elrond, o meio-elfo mestre de Valfenda e pai de Arwen, a amada de Passolargo, cujo verdadeiro nome é Aragorn, que se revela descendente de Isildur e herdeiro do Trono de Gondor.

No Conselho de Elrond são expostos os problemas relacionados ao Um Anel. Boromir, filho do regente de Gondor, sugere usar o Anel do Poder contra Sauron. Elrond e Gandalf rejeitam a idéia imediatamente e explicam os vários motivos pelos quais não podem usá-lo contra o "Senhor dos Anéis": Sauron é o único e verdadeiro mestre do Anel, pois o forjou, sendo portanto totalmente maligno, além disso, seu poder é grande demais para ser controlado por mortais comuns e mesmo os poderosos entre os povos livres da Terra-Média, como os imortais elfos (Elrond) e os magos (Gandalf), temem inclusive tocá-lo. O poder quase absoluto do anel corrompe o caráter e deforma a personalidade daquele que se atreve a empunhá-lo, ainda que movido por boas intenções. Quem quer que tente derrotar Sauron utilizando magia, acabará se tornando o próximo Senhor do Escuro.

Dada a impossibilidade de utilizar o Um Anel como arma de guerra, é imposta a tarefa de levá-lo até a Montanha da Perdição, um vulcão localizado no centro de Mordor, a Terra Negra do Inimigo, onde o anel fora forjado e também o único lugar onde poderia ser destruído.

Para essa missão, de sucesso improvável, é formada a Sociedade do Anel, composta por nove companheiros:quatro hobbits (Frodo,Sam,Merry e Pippin), dois humanos (Aragorn e Boromir), um elfo (Legolas), um anão (Gimli) e um mago (Gandalf). Frodo seria o Portador do Anel, aquele que deveria lançar o Anel nos fogos de Orodruin.

A Sociedade do Anel parte em direção ao sul. Cientes que essa rota está sendo vigiada pelo Inimigo, o grupo faz um desvio para Leste através das Montanhas Nebulosas, mas são obrigados a voltar por causa da neve e do frio. Um caminho alternativo os leva até a temida Moria, reino subterrâneo dos anões, onde Gandalf é morto lutando com um Balrog, um demônio do mundo antigo. Os outros companheiros escapam e chegam em segurança a Lothlórien, reino da rainha élfica Galadriel, temida por seu poder mas dotada de rara beleza e sabedoria. Nesse reino encantado, onde o tempo parece não passar, os viajantes recebem auxílio e conselhos. Após algumas semanas de descanso, a Sociedade do Anel, agora liderada por Aragorn, parte de Lothlorien em direção ao sul, navegando o grande rio Anduin em canoas construídas pelos elfos da Floresta Dourada. Quando param para descansar próximo às cataratas de Rauros, Boromir tem uma discussão com Frodo, e tenta roubar-lhe o Anel do Poder. Frodo foge e decide ir sozinho para Mordor. Quando os outros membros da Sociedade do Anel vão em busca de Frodo, são atacados por Uruk-hai (subespécie de Orc, mais alta e forte) enviados por Saruman, um mago renegado que se aliou a Sauron, mas que também ambiciona o Anel do Poder.

Na luta que se segue, a Sociedade é rompida:Merry e Pippin são capturados pelos uruk-hai, Boromir morre ao defendê-los, Aragorn, Legolas e Gimli decidem resgatar os hobbits aprisionados, Frodo e Sam partem sozinhos para a Montanha da Perdição.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
http://www.valinor.com.br/

John Ronald Reuel Tolkien (O Senhor dos Anéis: As Duas Torres)

Aragorn, Legolas e Gimli seguem os rastros dos hobbits capturados e o caminho os conduz até a Floresta de Fangorn. Nela encontram o Mago Branco que inicialmente pensam ser Saruman, o traidor. No entanto, o velho enigmático revela-se Gandalf, que morreu enfrentando o Balrog e retornou da morte para cumprir sua missão na Terra-Média. Os quatro seguem então para Rohan, Terra dos Cavalos. Sua capital Edoras fica no alto de uma colina, onde os rohirrim ergueram Meduseld, O Palácio Dourado. Nele vive o rei Théoden , cuja mente fora envenenada por Saruman através de um agente infiltrado, o conselheiro Gríma Língua-de-cobra. Gandalf expulsa Grima, cura o rei de seus males, e o aconselha a enfrentar a ameaça de Saruman e partir rumo a Isengard, fortaleza de Saruman, com todos os guerreiros disponíveis.

Enquanto isso, os hobbits Merry e Pippin conseguem escapar dos uruk-hais, e fogem para o interior da Floresta de Fangorn. Lá encontram Barbárvore, um Ent, um gigante em forma de árvore, e cujas origens remontam a tempos muitíssimo mais antigos que a Terceira Era, na qual se passa essa história.

Barbárvore leva Merry e Pippin a sua casa, onde descansam enquanto os Ents são convocados para uma reunião (o "Entebate") no qual se discute, na lentíssima língua dos ents, o que fazer com o Inimigo Saruman. Os Ents decidem ir à guerra e partem rumo a Isengard. Os Ents invadem a fortaleza de Saruman, massacram os odiados orcs, que haviam derrubado muitas árvores de Fangorn, e apagam as fornalhas de Isengard desviando o curso do Rio Isen. Todo o círculo de Orthanc é inundado, ficando Saruman isolado pelas águas em sua Torre de pedra.

De volta a Rohan, o rei Theoden envia velhos, mulheres e crianças para a segurança do Templo da Colina, um refúgio nas montanhas, enquanto os cavaleiros de Rohan partem em direção a Isengard. Entretanto, são obrigados a fazer um desvio que os leva até o Abismo de Helm, um estreito desfiladeiro onde os rohirrim construíram uma fortaleza de pedra (o "Forte da Trombeta"). Nela, as tropas de Rohan buscam refúgio mas acabam sitiadas pelos Uruk-hai de Saruman. Após horas de batalha sangrenta, os orcs são derrotados com a ajuda de outras tropas de Rohirrim, trazidas por Gandalf. Os Orcs remanescentes fogem mas são massacrados pelos Huorns, Ents mais arvorescos, que buscam vingança pela destruição da Floresta de Fangorn.

Finda a Batalha do Abismo de Helm, o rei Theoden, Gandalf, Aragorn, Legolas e Gimli, cavalgam até Isengard. Ao chegarem lá, encontram Merry e Pippin sãos e salvos, e se surpreendem com os hobbits se fartando com as provisões de comida, vinho e fumo da fortaleza do Inimigo. Numa última e desesperada tentativa, Saruman procura seduzir o grupo com sua voz persuasiva, quase hipnótica, mas Gandalf anula o feitiço e ainda o expulsa da ordem dos Istari, quebrando seu cajado. Nesse momento, Gríma língua de cobra atira da Torre de Orthanc um Palantír, pedra vidente que é capaz de comunicar-se com outras semelhantes. Gandalf a recolhe para posterior averiguação.

À noite no acampamento, Pippin, em sua incontrolável curiosidade, agarra o Palantír e olha em seu interior, e numa visão, vê o próprio Sauron, mas por sorte não revela nada dos planos dos povos livres, e ainda vê uma parte dos planos do Senhor dos Anéis: seu primeiro ataque será contra a capital do Reino de Gondor, a cidade de Minas Tirith.

Gandalf parte então com Pippin para Minas Tirith a fim de alertar Gondor da guerra iminente, encerrando assim a primeira parte de As Duas Torres.

A segunda parte do livro, que fala sobre Frodo e Sam, inicia-se com a captura de Gollum. Em troca de sua liberdade, ele promete levar os dois até Mordor, onde fica a Montanha da Perdição. Assim é feito.

Mas Gollum não é totalmente fiel, nem totalmente sincero. Apenas Sam é capaz de perceber suas verdadeiras intenções. Gollum é uma criatura velha e "pegajosa" que já foi um hobbit, mas que foi possuído pelo poder do Um Anel, e jamais conseguiu libertar-se dessa atração: um lado de sua personalidade dividida quer levar os hobbits até Mordor em segurança, mas a outra pretende matá-los e apossar-se do Anel que lhe foi roubado.

Atravessando vários lugares, os hobbits são guiados até o Portão Negro de Mordor, mas este está fechado, e os hobbits, conduzidos por Gollum, seguem outro caminho.

Ao pararem para descansar e comer, Frodo e Sam testemunham uma batalha entre Homens de Gondor e os Haradrim, aliados de Sauron. Gollum desaparece e os hobbits são capturados por uma patrulha chefiada por Faramir, irmão de Boromir. Frodo e Sam são levados até um esconderijo situado atrás de uma cachoeira onde Sam inadvertidamente revela o objetivo da missão (a destruição do anel do poder).

Frodo repreende Sam e teme que Faramir seja como seu falecido irmão e queira tomar o anel para si. Entretanto, para sua surpresa, Faramir revela grande força de caráter e nobreza de coração, e os liberta para que possam cumprir sua tarefa.

Os hobbits reiniciam sua jornada para Mordor, com Gollum como seu guia, e decidem atravessar as montanhas através de Cirith Ungol, local de má fama, considerado maldito e perigoso. Este caminho os leva até uma escada talhada em um paredão de rocha, que termina num túnel. O plano de Gollum, que se rendeu ao mal, é guiá-los através desse túnel e lá dentro entregá-los a Laracna, uma aranha gigantesca, descendente da terrível Ungoliant. O esquema de Gollum funciona em parte: Frodo é picado por Laracna, mas Sam luta desesperadamente contra o terrível aracnídeo e acaba derrotando-o com um golpe de espada num ponto fraco de sua couraça.

Convicto da morte de Frodo, Sam decide assumir o fardo do anel e completar a missão de seu mestre. Nesse ínterim, uma patrulha de orcs se aproxima, e Sam volta para evitar que o cadáver de Frodo vire carniça de orcs. Sam ouve a conversa dos servos de Sauron e tem um choque ao saber que Frodo na verdade não estava morto, apenas inconsciente (Laracna preferia comer seu lanche vivo!). As Duas Torres termina com os orcs levando o adormecido Frodo para a Torre de Cirith Ungol e com o Hobbit Samwise Gamgee em desespero, que tem de escolher entre continuar a missão do Anel ou tentar salvar Frodo das garras dos orcs.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
http://www.valinor.com.br/

John Ronald Reuel Tolkien (O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei)

Gandalf e Pippin entram na cidade de Minas Tirith, onde se encontram com Denethor, regente do reino de Gondor. Gandalf o avisa da guerra próxima, e o regente pede a ajuda de Rohan, mas revela seu rancor por Aragorn, que, sendo filho do último rei, é o herdeiro legítimo do trono de Gondor. Merry, entretanto, permanece com os rohirrim, para servir ao rei Théoden, que reúne todos os guerreiros aptos de seu reino e parte para a guerra em Minas Tirith. Junto com ele vão Aragorn, Legolas e Gimli.

Enquanto isso, Sam penetra na torre de Cirith Ungol, e resgata Frodo, que era mantido prisioneiro. Com muita sorte, ambos escapam dos muitos orcs, e adentram Mordor, uma imensa terra devastada, coberta de pó, cinza e fogo, cujo próprio ar é carregado de fumaça venenosa.

Após receberem uma mensagem de Elrond, Aragorn, Legolas e Gimli deixam o exército de Rohan e viajam então para as Sendas dos Mortos. Lá Aragorn convoca um exército de almas penadas/ mortos-vivos (o livro não deixa muito claro ) a cumprirem um antigo juramento de lealdade para com Isildur, o primeiro rei de Gondor e seu ancestral direto. Os mortos haviam jurado lutar ao lado de Gondor mas fugiram para as montanhas quando foram chamados à guerra. Isildur então os amaldiçoou a não terem paz, nem na vida nem na morte, até que sua promessa fosse cumprida.

Quando a guerra se abate sobre Gondor, o exército dos mortos, liderado por Aragorn, liberta um porto no grande rio Anduin, dominado pelos Haradrim (habitantes do sul da Terra-Média), o que permite o embarque de tropas aliadas que vão em auxílio de Minas Tirith, sitiada pelas Tropas de Sauron. Terminada a batalha dos Campos do Pelennor,que ainda não fora a batalha definitiva, os exércitos de Gondor e Rohan, marcham rumo ao Portão Negro de Mordor. O objetivo da arriscada manobra é atrair os exércitos remanescentes do Inimigo e esvaziar a Terra Negra, possibilitando a passagem de Frodo e Sam até a Montanha da Perdição, onde o Anel do Poder poderia ser destruído.

Tudo ocorre como previsto: os exércitos de Mordor caem na armadilha. Frodo e Sam conseguem passar, todavia antes de entrarem na Montanha da Perdição, encontram Gollum em seu caminho. Os hobbits se separam, Frodo adentra as Fendas da Perdição, uma câmara no vulcão que dá acesso à lava chamejante. Quando já está à beira do precipício, surpreendentemente, Frodo é dominado pelo Anel do Poder e o reivindica para si: "o anel é meu, não vou destruí-lo!". Nisso, Gollum intervém, ele e Frodo lutam ferozmente, até que Gollum arranca o anel das mãos de Frodo. Gollum escorrega e cai acidentalmente (ou não) na lava ardente, levando consigo o Um Anel, que é destruído, assim como Sauron, cujo espírito estava vinculado ao anel, e seus servos orcs, que dependiam de sua força e comando.

Aragorn então assume o trono de Gondor com o nome élfico Elessar, sendo coroado Rei por Gandalf, e se casa com a meia-elfa Arwen. Tem início assim a Quarta Era, a era do Domínio dos Homens. Os elfos remanescentes da Terra-Média decidem partir para Aman, morada dos deuses Valar.

Os quatro Hobbits então retornam para o Condado, tendo que enfrentar um último inimigo: Saruman que se apossou do Condado. Mas o mago acaba morto pelas mãos de Grima Língua-de-cobra, e a paz volta à terra dos hobbits.

O livro termina com a partida para as Terras Imortais (Aman) de Gandalf, Galadriel, Elrond assim como dos hobbits Frodo e seu tio Bilbo, que, embora mortais, conquistam o direito de viver o resto de seus dias junto aos Elfos e aos Valar, como reconhecimento de sua lealdade e sacrifício durante a Guerra contra Sauron e por terem sido portadores do Um Anel.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
http://www.valinor.com.br/

As Diversas Facetas das Personagens (Danilo Corci)

O celebrado estudioso Antonio Candido apresenta em seu texto “A personagem do romance” algumas maneiras de se perceber as minúcias que cercam a construção fictícias de diversos estilos e tipos de personagens. E como se dá isto? Em primeiro lugar, o professor apresenta a íntima relação entre enredo e personagens, uma vez que o primeiro existe somente em função do segundo e o segundo vivem diretamente do primeiro.

Nesta linha de raciocínio, Antonio Candido apresenta os três elementos centrais do desenvolvimento novelístico, os dois já citados, que exprimem a matéria da obra e a idéia, que exprime o significado. Como a comunhão entre as três formas é tão intrínseca, o resultado final só pode ser a combinação de maneira eficaz delas. Porém, a personagem é o elemento mais atuante e mais comunicativo enquanto a construção estrutural é a força do romance.

Após fazer estas considerações, o autor mergulha na comparação entre o ser vivo e o ser fictício. Acentuadas diferenças e essenciais semelhanças entre os dois podem ser notadas, o que é o ponto de apoio para a verossimilhança vital que depende o romance. Assim, quais seriam as diferenças e as semelhanças? Enquanto um ser vivo é fragmentado, misterioso, inesperado. O de ficção também pode ser assim, mas é o único que pode, de certa maneira, se apresentar completo, por inteiro, diferente do ser vivo. Isto depende exclusivamente de certos dados colocados pelo escritor na montagem racionalmente dirigida de sua personagem.

Ou seja, a sua combinação, a sua repetição, a sua evocação nos diversos contextos permite surgir a idéia completa e convincente da criação. Coisa que, na vida real, é absolutamente impossível. Isto torna a personagem mais lógica que o ser vivo.

Depois desta explanação sobre a comparação entres vida real e ficção, Antonio Candido revela duas das maneiras mais comuns de se criar uma personagem: o universo dos seres íntegros e delimitados (costumes, planas) ou o universo dos seres complicados, inesgotáveis (natureza, esféricas). O uso de cada tipo dependeria da proposta a se seguir. Os de costumes se baseiam mais propriamente na caricatura e funciona diretamente em textos que necessitem desta forma. Os de natureza precisam de suportes analíticos para funcionarem de maneira correta em um texto.

O professor também discute a relação de proximidade, de realidade entre romance e mundo. Quanto mais próximo à realidade, mais próximo do fracasso estará a obra, uma vez que ela depende exclusivamente do mundo interno criado pelo autor. Ou seja, o romance transfigura a vida. Desta maneira, algumas considerações sobre os tipos de personagens são possíveis. Alguns são frutos de transposição com relativa fidelidade, outras transpostas de modelos anteriores, ou construídas a partir de um modelo ideal, ou construídas em torno de um modelo ou vários modelos com um dominante ou até mesmo personagens criadas pela realidade, mas de tal maneira que as raízes deste ser real está praticamente desaparecida.

Com isto por base, chega-se ao ponto nevrálgico da questão – a coerência interna. Sem isto, qualquer caracterização fica seriamente comprometida, uma vez que o autor tem que ter em mente seus objetivos finais para se utilizar das várias possibilidades. E com isto, conclui-se que as personagens são convencionalizações, de exposição, são existências não totais, mas que se forjam desta maneira por serem fechadas e centradas no objetivo do enredo e da idéia.

Fonte:
http://www.speculum.art.br/module.php?a_id=511#

Machado de Assis (Conto: O Empréstimo)

Vou divulgar uma anedota, mas uma anedota no genuíno sentido do vocábulo, que o vulgo ampliou às historietas de pura invenção. Esta é verdadeira; podia citar algumas pessoas que a sabem tão bem como eu. Nem ela andou recôndita, senão por falta de um espírito repousado, que lhe achasse a filosofia. Como deveis saber, há em todas as coisas um sentido filosófico. Carlyle descobriu o dos coletes, ou, mais propriamente, o do vestuário; e ninguém ignora que os números, muito antes da loteria do Ipiranga, formavam o sistema de Pitágoras. Pela minha parte creio ter decifrado este caso de empréstimo; ides ver se me engano.

E, para começar, emendemos Sêneca. Cada dia, ao parecer daquele moralista, é, em si mesmo, uma vida singular; por outros termos, uma vida dentro da vida. Não digo que não; mas por que não acrescentou ele que muitas vezes uma só hora é a representação de uma vida inteira? Vede este rapaz: entra no mundo com uma grande ambição, uma pasta de ministro, um Banco, uma coroa de visconde, um báculo pastoral. Aos cinqüenta anos, vamos achá-lo simples apontador de alfândega, ou sacristão da roça. Tudo isso que se passou em trinta anos, pode algum Balzac metê-lo em trezentas páginas; por que não há de a vida, que foi a mestra de Balzac, apertá-lo em trinta ou sessenta minutos?

Tinham batido quatro horas no cartório do tabelião Vaz Nunes, à rua do Rosário. Os escreventes deram ainda as últimas penadas: depois limparam as penas de ganso na ponta de seda preta que pendia da gaveta ao lado; fecharam as gavetas, concertaram os papéis, arrumaram os livros, lavaram as mãos; alguns que mudavam de paletó à entrada, despiram o do trabalho e enfiaram o da rua; todos saíram. Vaz Nunes ficou só.

Este honesto tabelião era um dos homens mais perspicazes do século. Está morto: podemos elogiá-lo à vontade. Tinha um olhar de lanceta, cortante e agudo. Ele adivinhava o caráter das pessoas que o buscavam para escriturar os seus acordos e resoluções; conhecia a alma de um testador muito antes de acabar o testamento; farejava as manhas secretas e os pensamentos reservados. Usava óculos, como todos os tabeliães de teatro; mas, não sendo míope, olhava por cima deles, quando queria ver, e através deles, se pretendia não ser visto. Finório como ele só, diziam os escreventes. Em todo o caso, circunspecto. Tinha cinqüenta anos, era viúvo, sem filhos, e, para falar como alguns outros serventuários, roia muito caladinho os seus duzentos contos de réis.
- Quem é? perguntou ele de repente olhando para a porta da rua.

Estava à porta, parado na soleira, um homem que ele não conheceu logo, e mal pôde reconhecer daí a pouco. Vaz Nunes pediu-lhe o favor de entrar; ele obedeceu, cumprimentou-o, estendeu-lhe a mão, e sentou-se na cadeira ao pé da mesa. Não trazia o acanho natural a um pedinte; ao contrário, parecia que não vinha ali senão para dar ao tabelião alguma coisa preciosíssima e rara. E, não obstante, Vaz Nunes estremeceu e esperou.
- Não se lembra de mim?
- Não me lembro...
- Estivemos juntos uma noite, há alguns meses, na Tijuca... Não se lembra? Em casa do Teodorico, aquela grande ceia de Natal; por sinal que lhe fiz uma saúde... Veja se lembra do Custódio.
- Ah!

Custódio endireitou o busto, que até então inclinara um pouco. Era um homem de quarenta anos. Vestia pobremente, mas escovado, apertado, correto. Usava unhas longas, curadas com esmero, e tinha as mãos muito bem talhadas, macias, ao contrário da pele do rosto, que era agreste. Notícias mínimas, e aliás necessárias ao complemento de um certo ar duplo que distinguia este homem, um ar de pedinte e general. Na rua, andando, sem almoço e sem vintém, parecia levar após si um exército. A causa não era outra mais do que o contraste entre a natureza e a situação, entre a alma e a vida. Esse Custódio nascera com a vocação da riqueza, sem a vocação do trabalho. Tinha o instinto das elegâncias, o amor do supérfluo, da boa chira, das belas damas, dos tapetes finos, dos móveis raros, um voluptuoso, e, até certa ponto, um artista, capaz de reger a vila Torloni ou a galeria Hamilton. Mas não tinha dinheiro; nem dinheiro, nem aptidão ou pachorra de ganhá-lo; por outro lado, precisava viver. Il faut bien que je vive, dizia um pretendente ao ministro Talleyrand. Je n'en vois pas la nécessité, redargüiu friamente o ministro. Ninguém dava essa resposta ao Custódio; davam-lhe dinheiro, um dez, outro cinco, outro vinte mil-réis, e de tais espórtulas é que ele principalmente tirava o albergue e a comida.

Digo que principalmente vivia delas, porque o Custódio não recusava meter-se em alguns negócios, com a condição de escolhê-los, e escolhia sempre os que não prestavam para nada. Tinha o faro das catástrofes. Entre vinte empresas, adivinhava logo a insensata, e metia ombros a ela, com resolução. O caiporismo, que o perseguia, fazia com que as dezenove prosperassem, e a vigésima lhe estourasse nas mãos. Não importa; aparelhava-se para outra.

Agora, por exemplo, leu um anúncio de alguém que pedia um sócio, com cinco contos de réis, para entrar em certo negócio, que prometia dar, nos primeiros seis meses, oitenta a cem contos de lucro. Custódio foi ter com o anunciante. Era uma grande idéia, uma fábrica de agulhas, indústria nova, de imenso futuro. E os planos, os desenhos da fábrica, os relatórios de Birmingham, os mapas de importação, as respostas dos alfaiates, dos donos de armarinho, etc., todos os documentos de um longo inquérito passavam diante dos olhos de Custódio, estrelados de algarismos, que ele não entendia, e que por isso mesmo lhe pareciam dogmáticos. Vinte e quatro horas; não pedia mais de vinte e quatro horas para trazer os cinco contos. E saiu dali, cortejado, animado pelo anunciante, que, ainda à porta, o afogou numa torrente de saldos. Mas os cinco contos, menos dóceis ou menos vagabundos que os cinco mil-réis, sacudiam incredulamente a cabeça, e deixavam-se estar nas arcas, tolhidos de medo e de sono. Nada. Oito ou dez amigos, a quem falou, disseram-lhe que nem dispunham agora da soma pedida, nem acreditavam na fábrica. Tinha perdido as esperanças, quando aconteceu subir a rua do Rosário e ler no portal de um cartório o nome de Vaz Nunes. Estremeceu de alegria; recordou a Tijuca, as maneiras do tabelião, as frases com que ele lhe respondeu ao brinde, e disse consigo que este era o salvador da situação.
- Venho pedir-lhe uma escritura...

Vaz Nunes, armado para outro começo, não respondeu: espiou para cima dos óculos e esperou.
- Uma escritura de gratidão, explicou o Custódio; venho pedir-lhe um grande favor, um favor indispensável, e conto que o meu amigo...
- Se estiver nas minhas mãos...
- O negócio é excelente, note-se bem; um negócio magnífico. Nem eu me metia a incomodar os outros sem certeza do resultado. A coisa está pronta; foram já encomendas para a Inglaterra; e é provável que dentro de dois meses esteja tudo montado, é uma indústria nova. Somos três sócios, a minha parte são cinco contos. Venho pedir-lhe esta quantia, a seis meses, - ou a três, com juro módico...
- Cinco contos?
- Sim, senhor.
- Mas, Sr. Custódio, não disponho de tão grande quantia. Os negócios andam mal; e ainda que andassem muito bem, não poderia dispor de tanto. Quem é que pode esperar cinco contos de um modesto tabelião de notas?
- Ora, se o senhor quisesse...
- Quero, decerto; digo-lhe que se tratasse de uma quantia pequena, acomodada aos meus recursos, não teria dúvida em adiantá-la. Mas cinco contos! Creia que é impossível.

A alma do Custódio caiu de bruços. Subira pela escada de Jacó até o céu; mas em vez de descer como os anjos no sonho bíblico, rolou abaixo e caiu de bruços. Era a última esperança; e justamente por ter sido inesperada, é que ele supôs que fosse certa, pois, como todos os corações que se entregam ao regime do eventual, o do Custódio era supersticioso. O pobre-diabo sentiu enterrarem-se-lhe no corpo os milhões de agulhas que a fábrica teria de produzir no primeiro semestre. Calado, com os olhos no chão, esperou que o tabelião continuasse, que se compadecesse, que lhe desse alguma aberta; mas o tabelião, que lia isso mesmo na alma do Custódio, estava também calado, girando entre os dedos a boceta* de rapé, respirando grosso, com um certo chiado nasal e implicante. Custódio ensaiou todas as atitudes; ora pedinte, ora general. O tabelião não se mexia. Custódio ergueu-se.
- Bem, disse ele, com uma pontazinha de despeito, há de perdoar o incômodo...
- Não há que perdoar; eu é que lhe peço desculpa de não poder servi-lo, como desejava. Repito: se fosse alguma quantia menos avultada, não teria dúvida; mas...

Estendeu a mão ao Custódio, que com a esquerda pegara maquinalmente no chapéu. O olhar empanado do Custódio exprimia a absorção da alma dele, apenas convalescida da queda que lhe tirara as últimas energias. Nenhuma escada misteriosa, nenhum céu; tudo voara a um piparote do tabelião. Adeus, agulhas! A realidade veio tomá-lo outra vez com as suas unhas de bronze. Tinha de voltar ao precário, ao adventício, às velhas contas, com os grandes zeros arregalados e os cifrões retorcidos à laia de orelhas, que continuariam a fitá-lo e a ouvi-lo, a ouvi-lo e a fitá-lo, alongando para ele os algarismos implacáveis de fome. Que queda! e que abismo! Desenganado, olhou para o tabelião com um gesto de despedida; mas, uma idéia súbita clareou-lhe a noite do cérebro. Se a quantia fosse menor, Vaz Nunes poderia servi-lo, e com prazer; por que não seria uma quantia menor? Já agora abria mão da empresa; mas não podia fazer o mesmo a uns aluguéis atrasados, a dois ou três credores, etc., e uma soma razoável, quinhentos mil-réis, por exemplo, uma vez que o tabelião tinha a boa vontade de emprestar-lhos, vinham a ponto. A alma do Custódio empertigou-se; vivia do presente, nada queria saber do passado, nem saudades, nem temores, nem remorsos. O presente era tudo. O presente eram os quinhentos mil-réis, que ele ia ver surdir da algibeira do tabelião, como um alvará de liberdade.
- Pois bem, disse ele, veja o que me pode dar, e eu irei ter com outros amigos... Quanto?
- Não posso dizer nada a este respeito, porque realmente só uma coisa muito modesta.
- Quinhentos mil-réis?
- Não; não posso.
- Nem quinhentos mil-réis?
- Nem isso, replicou firme o tabelião. De que se admira? Não lhe nego que tenho algumas propriedades; mas, meu amigo, não ando com elas no bolso; e tenho certas obrigações particulares... Diga-me, não está empregado?
- Não, senhor.
- Olhe; dou-lhe coisa melhor do que quinhentos mil-réis; falarei ao ministro da justiça, tenho relações com ele, e...

Custódio interrompeu-o, batendo uma palmada no joelho. Se for um movimento natural, ou uma diversão astuciosa para não conversar do emprego, é o que totalmente ignoro; nem parece que seja essencial ao caso. O essencial é que ele teimou na súplica. Não podia dar quinhentos mil-réis? Aceitava duzentos; bastavam-lhe duzentos, não para a empresa, pois adotava o conselho dos amigos: ia recusá-la. Os duzentos mil-réis, visto que o tabelião estava disposto a ajudá-lo, eram para uma necessidade urgente, - "tapar um buraco". E então relatou tudo, respondeu à franqueza com franqueza: era a regra da sua vida. Confessou que, ao tratar da grande empresa, tivera em mente acudir também a um credor pertinaz, um diabo, um judeu, que rigorosamente ainda lhe devia, mas tivera a aleivosia de trocar de posição. Eram duzentos e poucos mil-réis; e dez, parece; mas aceitava duzentos...
- Realmente, custa-me repetir-lhe o que disse; mas, enfim, nem os duzentos mil-réis posso dar. Cem mesmo, se o senhor os pedisse, estão acima das minhas forças nesta ocasião. Noutra pode ser, e não tenho dúvida, mas agora...
- Não imagina os apuros em que estou!
- Nem cem, repito. Tenho tido muitas dificuldades nestes últimos tempos. Sociedades, subscrições, maçonaria... Custa-lhe crer, não é? Naturalmente: um proprietário. Mas, meu amigo, é muito bom ter casas: o senhor é que não conta os estragos, os consertos, as penas-d'água, as décimas, o seguro, os calotes, etc. São os buracos do pote, por onde vai a maior parte da água...
- Tivesse eu um pote! suspirou Custódio.
- Não digo que não. O que digo é que não basta ter casas para não ter cuidados, despesas, e até credores... Creia o senhor que também eu tenho credores.
- Nem cem mil-réis!
- Nem cem mil-réis, pesa-me dizê-lo, mas é verdade. Nem cem mil-réis. Que horas são?

Levantou-se, e veio ao meio da sala. Custódio veio também, arrastado, desesperado. Não podia acabar de crer que o tabelião não tivesse ao menos cem mil-réis. Quem é que não tem cem mil-réis consigo? Cogitou uma cena patética, mas o cartório abria para a rua; seria ridículo. Olhou para fora. Na loja fronteira, um sujeito apreçava uma sobrecasaca, à porta, porque entardecia depressa, e o interior era escuro. O caixeiro segurava a obra no ar; o freguês examinava o pano com a vista e com os dedos, depois as costuras, o forro... Este incidente rasgou-lhe um horizonte novo, embora modesto; era tempo de aposentar o paletó que trazia. Mas nem cinqüenta mil-réis podia dar-lhe o tabelião. Custódio sorriu; - não de desdém, não de raiva, mas de amargura e dúvida; era impossível que ele não tivesse cinqüenta mil-réis. Vinte, ao menos? Nem vinte. Nem vinte! Não; falso tudo, tudo mentira.

Custódio tirou o lenço, alisou o chapéu devagarinho; depois guardou o lenço, concertou a gravata, com um ar misto de esperança e despeito. Viera cerceando as asas à ambição, pluma a pluma; restava ainda uma penugem curta e fina, que lhe metia umas veleidades de voar. Mas o outro, nada. Vaz Nunes cotejava o relógio da parede com o do bolso, chegava este ao ouvido, limpava o mostrador, calado, transpirando por todos os poros impaciência e fastio. Estavam a pingar as cinco, enfim, e o tabelião, que as esperava, desengatilhou a despedida. Era tarde; morava longe. Dizendo isto, despiu o paletó de alpaca, e vestiu o de casimira, mudou de um para outro a boceta de rapé, o lenço, a carteira... Oh! a carteira! Custódio viu esse utensílio problemático, apalpou-o com os olhos; invejou a alpaca, invejou a casimira, quis ser algibeira, quis ser o couro, a matéria mesma do precioso receptáculo. Lá vai ela; mergulhou de todo no bolso do peito esquerdo; o tabelião abotoou-se. Nem vinte mil-réis! Era impossível que não levasse ali vinte mil-réis, pensava ele; não diria duzentos, mas vinte, dez que fossem...
- Pronto! disse-lhe Vaz Nunes, com o chapéu na cabeça.
- Quer ver?

E o tabelião desabotoou o paletó, tirou a carteira, abriu-a, e mostrou-lhe duas notas de cinco mil-réis.
- Não tenho mais, disse ele; o que posso fazer é reparti-los com o senhor; dou-lhe uma de cinco, e fico com a outra; serve-lhe?

Custódio aceitou os cinco mil-réis, não triste, ou de má cara, mas risonho, palpitante, como se viesse de conquistar a Ásia Menor. Era o jantar certo. Estendeu a mão ao outro, agradeceu-lhe o obséquio, despediu-se até breve, - um até breve cheio de afirmações implícitas. Depois saiu; o pedinte esvaiu-se à porta do cartório; o general é que foi por ali abaixo, pisando rijo, encarando fraternalmente os ingleses do comércio que subiam a rua para se transportarem aos arrabaldes. Nunca o céu lhe pareceu tão azul, nem a tarde tão límpida; todos os homens traziam na retina a alma da hospitalidade. Com a mão esquerda no bolso das calças, ele apertava amorosamente os cinco mil-réis, resíduo de uma grande ambição, que ainda há pouco saíra contra o sol, num ímpeto de águia, e ora habita modestamente as asas de frango rasteiro.
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* À guisa de esclarecimento: Boceta: s.f. Pequena caixa redonda ou oval. / Caixa de rapé. / Casta de tangerina. / Variedade de manga. / Bras. Determinado aparelho de pesca. / Pop. Vulva. // Boceta de Pandora, origem de todos os males.
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Fonte:
ASSIS, Machado de. Contos: uma antologia. São Paulo: Cia. das Letras, 1998, introdução e notas de John Gledson. Disponível em
http://www.releituras.com/

Machado de Assis (Resumo: Quincas Borba)

Inicialmente o livro tem como tema a loucura despertada, através de um processo que ativa fatores latentes. Com isso, o autor joga com palavras que simulam oscilações da estrutura que o substancia, transformando de repente a personagem de "professor em capitalista", constitui presa fácil para ser enganada, atraída pelo fascínio da Corte graças à gorda herança conquistada
A História gira em torno da vida de Rubião, amigo e enfermeiro particular do filósofo Quincas Borba (maruja em "MP de BC"-1881) Quincas Borba vivia em Barbacena e era muito rico, e ao morrer deixa ao amigo toda a sua fortuna herdada de seu último parente. Trocando a pacata vida provinciana pela agitação da corte, Rubião muda-se para o Rio de Janeiro, após a morte de seu amigo, causado por infecção pulmonar.
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Leva consigo o cão, também chamado de Quincas Borba, que pertencera ao filósofo e do qual deveria cuidar sob a pena de perder a herança. Durante a viagem de trem para o Rio de Janeiro, Rubião conhece o casal Sofia e Palha, que logo percebem estar diante de um rico e ingênuo provinciano. Atraído pela amabilidade do casal e, sobretudo, pela beleza de Sofia, Rubião passa freqüentar a casa deles, confiando cegamente no novo amigo. Palha, este novo amigo, se destaca como um esperto comerciante e administra a fortuna de Rubião, tirando parte de seus lucros. Com o tempo, Rubião sente-se cada vez mais atraído por Sofia, que mantém com ele atitude esquiva, encorajando-o e ao mesmo tempo impondo uma certa distância.
Por outro lado, a ingenuidade de Rubião torna-o presa fácil de várias outras pessoas interessadas e oportunistas, que se aproximam dele para explorá-lo financeiramente. Aos poucos, acompanhando a trajetória de Rubião, percebe-se como funciona a engrenagem social da época. Como ocorre a disputa entre as pessoas, as lutas pelo poder político e pela ascensão econômica da época, dessa maneira, o romance projeta um quadro também bastante crítico das relações sociais da época. A Corte era a capital, o Rio de Janeiro, cuja a moda era ditada pela tendência Francesa. Depois de algum tempo, Rubião começa a manifestar sintomas de loucura, que o levara a morte, a mesma loucura de que fora vítima o seu amigo, o filósofo Quincas Borba, de quem herda a fortuna. Louco e explorado até ficar reduzido à miséria, o destino trágico de Rubião exemplifica a tese do Humanitismo.
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Seguindo a trajetória do Humanitismo, a filosofia inventada por Quincas Borba, de que a vida é um campo de batalha onde só os mais fortes sobrevivem. Os fracos e ingênuos, como Rubião, são manipulados e aniquilados pelos mais fortes e mais espertos, como Palha e Sofia, que no final, estão vivos e ricos, tal como dizia a teoria do Humanitismo. “HUMANITAS” Esse Principio de Quincas Borba: nunca há morte, há encontro de duas expansões, ou expansão de duas formas. Explicando de uma melhor maneira, criou a frase: "Ao vencedor às Batatas!", principio este, que marcou e é o enfoque principal do enredo. - "Supõe-se em um campo e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentam somente uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutri-se suficientemente e morrerão de inanição. A paz, neste caso, é a destruição; a guerra, é a esperança. Uma das tribos extermina a outra recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, as aclamações. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se. Ao vencido, o ódio ou compaixão... Ao vencedor, as batatas !"

Fonte:
http://www.resumosdelivros.com.br/

Machado de Assis (Resumo: Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Memórias Póstumas de Brás Cubas foi nosso primeiro romance realista e aquele que deu a Machado a chance de demonstrar, enfim, toda a sua genialidade. Trata-se de um Livro de memórias, mas póstumas. O autor é um defunto autor e conta-nos suas memórias depois de já ter sido roído pelos vermes. O ritmo da narração é lento, pois o autor, lá na eternidade, tem todo o tempo do mundo. Uma vez que ele já morreu, não precisa mais temer a repercussão de tudo o que vai dizer, pode ser absolutamente franco e sincero. Machado de Assis encontra, assim, uma posição segura e confortável para desmascarar a hipocrisia das relações sociais. Vejam alguns exemplos retirados do romance:

CRÍTICA AO ROMANTISMO

“Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicotes nas mãos e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz como o corcel das antigas baladas, que o romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, aonde o realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por compaixão, o transportou para os seus livros.” (cap.XIV)
Ou ainda:
“Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas.” (Cap. XXVII)

A VIDA
“Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirto que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo. Porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há platéia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá e não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do vexame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados.” (cap.XXIV)

O AMOR
“Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis, nada menos”. (Cap. XVII)
Ou ainda:
“Esse foi, cuido eu, o ponto máximo do nosso amor, o cimo da montanha, donde por algum tempo divisamos os vales de leste e oeste, e por cima de nós o céu tranqüilo e azul. Repousado nesse tempo, começamos a descer a encosta, com as mãos presas ou soltas, mas a descer, a descer...” (Cap. LXXXV)

O NEGATIVISMO
“Somadas umas coisas a outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente, que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque, ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: _ Não tive filhos, não transmitir a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” (Cap. CLX)

Sobre os personagens, vamos destacar duas mulheres, importantes na vida de Brás Cubas: Marcela e Virgília, e um grande amigo: Quincas Borba. Marcela foi uma amante gananciosa, queria tudo. Brás Cubas foi enviado a Europa, a pretexto de estudar, para que se livrasse dela. Virgília, namorada de Brás Cubas, casou-se com outro e só mais tarde tornou-se sua amante.

Fonte:
http://www.resumosdelivros.com.br/

Machado de Assis (Resumo de Algumas Obras)

A Cartomante
A cartomante é a historia de Vilela, Camilo e Rita envolvidos em um triângulo amoroso. A historia começa numa Sexta-feira de novembro de 1869 com um dialogo entre Camilo e Rita. Camilo nega-se veementemente a acreditar na cartomante e sempre desaconselha Rita de maneira jocosa. A cartomante está caracterizada neste conto como uma charlatã, destas que falam tudo o que serve para todo mundo. É um personagem sinistro, que apesar não ter nem o seu nome revelado (característica machadiana), destaca-se como um personagem que ludibria os personagens principais. Rita crê que a cartomante pode resolver todos os seus problemas e angústias. Camilo já no fim do conto, quando está prestes a ter desmascarado seu caso com Rita, no ápice de seu desespero, recorre a esta mesma cartomante, que por sua vez o ilude da mesma forma como ilude todos os seus clientes, inclusive Rita. A mulher usa de frases de efeito e metáforas a fim de parecer sábia e dona do destino de Camilo, este que sai de lá confiante em suas palavras e ao chegar ao apartamento de Vilela encontra Rita morta e é morto a queima roupa pelo amigo de infância, que já está sabendo da traição da esposa e o esperava de arma em punho.

Iaiá Garcia
Iaiá era filha de Luís Garcia, viúvo e funcionário público, que nela concentrava todos os seus afetos. Quando a história principia, ele está com quarenta e um anos, e Iaiá com onze anos estuda em colégio interno e, nos fins de semana, é a fonte de toda a alegria do pai, em cuja casa reina a solidão. Luís Garcia tem uma amiga, também viúva, Valéria Gomes, mãe de Jorge. Jorge está apaixonado pela filha de um ex-empregado de seu falecido pai, Estela, que vive na mesma casa. Para afastá-lo de Estela, por não julgar digna de sua posição social, a mãe força-o a alistar-se como voluntário para lutar na guerra do Paraguai. Mas Jorge não esquece a sua amada e tem um verdadeiro choque ao saber que ela se casara com Luís Garcia, que isso foi levado, entre outras razões, pelas boas relações entre Estela e sua filha Iaiá. A partir daí, a história evolui ao longo do tempo, com o regresso de Jorge, sua mãe já morta, a influência do novo amigo que fizera no Paraguai, encontros e desencontros, risos e lágrimas, até a morte de Luís Garcia. E Jorge acaba-se por se casar com Iaiá.

Ressurreição
Narra a história de Félix , emocionalmente instável e sacudido a todo momento por impulsões de ciúme na conquista da viúva Lívia. Cansada do comportamento de Félix , Lívia decide tornar definitiva a separação. “Não sei o que deva pensar deste livro, ignoro sobretudo, que pensará dele o leitor. A benevolência com que foi recebido em volume de contos e novelas, que há dois anos publiquei me animou a escrevê-lo. É um ensaio. Vai despretensiosamente às mãos da crítica e do público, que o tratarão com a justiça que merecer." E, concluindo a Advertência:” Minha idéia ao escrever este livro foi pôr em ação aquele pensamento de Shakespeare : Our doubts are trauitor , And make us lose the good we oft might win By fearing to attempt. Não quis fazer romance de costumes; tentei o esboço de uma situação e o contraste de dois caracteres; com esses simples elementos busquei o interesse do livro. A crítica decidirá se a obra corresponde ao intuito, e sobretudo se o operário tem jeito para ela. É o que lhe peço com o coração nas mãos"

Dom Casmurro
Bento Santiago, um advogado de meia idade, vive sozinho numa boa casa, em bairro distante do centro do Rio de Janeiro onde é conhecido como Dom Casmurro. Para preencher a vida pacata de viúvo sem filhos, Dom Casmurro resolve contar suas lembranças, isto é, atar as duas pontas da vida, a adolescência e a maturidade. Adolescente, Bentinho descobre-se apaixonado pela menina da casa ao lado, a Capitu. Inteligente, com idéias atrevidas, Capitu convence Bentinho a não concordar com o projeto de sua mãe, Dona Glória, senhora viúva e rica, que queria fazê-lo padre. Bentinho tanto se encanta pela firmeza de Capitu quanto fica fascinado por seus cabelos, pelos olhos de ressaca e começa a conhecer as regras do amar. A vida toma o rumo que desejam os apaixonados: depois do seminário, do curso de Direito em São Paulo, casam-se. A vida corre feliz até o dia em que brota o ciúme, de tudo e de todos. A história de amor transforma-se numa história de suspeita de traição. O ciúme faz de Bento Santiago um homem cruel e perverso. Mordido pela dúvida de que o pequeno Ezequiel seja não seu filho, mas de seu amigo Escobar, com que aparenta visível semelhança, impõe a separação à Capitu. Para todos os efeitos, o bacharel rico enviava o filho, acompanhado da mãe para estudar na Suíça. Nunca mais Bentinho encontrou Capitu, que morre na Europa. Só revê o filho uma vez, antes de o rapaz morrer de tifo, numa viagem científica a Jerusalém.

Esaú e Jacó
A obra, de 1904, é o penúltimo livro machadiano. O romance apresenta como motivação a estória de Pedro e Paulo, os gêmeos, filhos de Agostinho Santos e Natividade. Os irmãos sempre foram rivais, pois desde o ventre materno brigavam. Para os desgostos da mãe, Pedro e Paulo se desentendiam por qualquer coisa. Pedro, estudante de Direito, era republicano; enquanto Paulo, estudante de Medicina, era monárquico (conservador). Os rapazes adversos se apaixonam pela mesma senhorita, a Flora Batista, a qual deveria escolher entre um deles. Contudo, a inexplicável "namorada" não conseguiu se decidir. Pressionada por esse conflito emocional, ela começa a delirar que esses dois amigos fundiam-se em uma única pessoa, pois para ela, um sem o outro não fazia sentido. O insolúvel triângulo amoroso se desfez diante à morte da moça. O trato de paz durou pouco, como era de suas naturezas, retornaram a brigar. Nem os pedidos da mãe, nem os conselhos de Aires, possuíam forças para estabelecer uma concórdia entre Pedro e Paulo. Eles seguiam na vida, cumprindo a mesma sina dos irmãos bíblicos "Esaú e Jacó", entretanto, em comoção, perante o leito de morte da mãe, prometem tréguas de paz. Já eleitos deputados, moviam todos os esforços para não entrarem em conflito. Os gêmeos de partidos políticos opostos, começaram a se contradizer politicamente frente aos companheiros partidários. Poucos meses depois. Pedro e Paulo voltaram ao estado natural: completamente irreconciliáveis. As profecias da cabocla do castelo (mensagem do destino irrevogável) confirmam-se: os filhos de Natividade tornam-se grandes homens e implacáveis inimigos.

Memorial de Aires
Memorial de Aires, última obra de Machado de Assis, foi publicada em 1908, mesmo ano da morte do escritor. Como Memórias Póstumas de Brás Cubas, esta obra não tem propriamente um enredo: estrutura-se em forma de um diário escrito pelo Conselheiro Aires (personagem que já aparecera em Esaú o Jacó), onde o narrador relata, miudamente, sua vida de diplomata aposentado no Rio de Janeiro de 1888 e 1889. Sucedem-se, nas anotações do conselheiro, episódios envolvendo pessoas de suas relações, leituras do seu tempo de diplomata e reflexões quanto aos acontecimentos políticos. Destaca-se, dando uma certa unidade aos vários fragmentos de que o livro é composto, a história de Tristão e Fidélia. Fidélia, viúva moça e bonita, é grande amiga do casal Aguiar, uma espécie de filha postiça de D. Carmo. Tristão, afilhado do mesmo casal, viajara para a Europa, em menino, com os pais. Visitando, agora, o Rio de Janeiro, dá muita alegria aos velhos padrinhos. Tristão e Fidélia acabam por apaixonar-se e, depois de casados, seguem para a Europa, deixando a saudade e a solidão como companheiros dos velhos Aguiar e D. Carmo. Memorial de Aires é apontado como o romance mais projetivo da personalidade e da vida de Machado de Assis. Escrito após a morte de Carolina, revela uma visão melancólica da velhice, da solidão e do mundo. D. Carmo, esposa do velho Aguiar, seria a projeção da própria esposa de Machado, já falecida. A ironia e o sarcasmo dos livros anteriores são substituídos por um tom compassivo e melancólico, as personagens são simples e bondosas, muito distantes dos paranóicos e psicóticos dos romances anteriores. Alguns vêem no Memorial de Aires uma obra de retrocesso a concepções romantizadas do mundo; outros tomam o romance como o testamento literário e humano de Machado de Assis.

O Alienista
O Doutor Simão Bacamarte, cientista de nomeada, monta, em Itaguaí, um hospício, a Casa Verde, onde pretende executar seus projetos científicos. Pretende separar o reino da loucura do reino do perfeito juízo, mas a confusão em que ambas se misturam acaba aborrecendo o Doutor, que, para levar a efeito a seleção dos loucos, tem que saber o que é a normalidade. Assim, qualquer desvio do que era o comportamento médio, a aparência pública, qualquer movimento interior, que diferisse da norma da maioria era objeto de internação. O hospício é a Casa do Poder, e Machado de Assis sabia disso muito antes da antipsiquiatria de Lacan e das teses de Foucould. No início, o projeto do Dr. Simão Bacamarte é bem recebido pela população de Itaguaí, mas a aprovação cessa quando o médico passa a recolher na Casa Verde, pessoas em cuja loucura a população não acredita. O barbeiro Porfírio lidera uma rebelião contra o hospício que é sufocada. Numa primeira etapa, são internados os que, embora manifestassem hábitos ou atitudes discutíveis, eram tolerados pela sociedade: os politicamente volúveis, os sem opiniões próprias, os mentirosos, os falastrões, os poetas que viviam escrevendo versos empolados, os vaidosos, etc. Para pasmo geral dos habitantes de ltaguaí, Simão Bacamarte, um dia, solta todos os recolhidos no hospício e adota critérios inversos para a caracterização da loucura: os loucos agora são os leais, os justos, os honestos etc. A terapêutica para esses casos de loucura consistia em fazer desaparecer de seus pacientes as "virtudes", o que o Dr. Simão Bacamarte consegue com certa facilidade. Declara curados todos os loucos, os solta todos e, reconhecendo-se como o único louco irremediável, o médico tranca-se na Casa Verde, onde morre alguns meses depois.

A Causa Secreta (conto)
Fala de dois homens que, após um salvar a vida do outro e passar-se algum tempo, tornam-se sócios. Mas pouco a pouco um deles vai demonstrando tendências sádicas, torturando animais, fato que atordoa a esposa. Quando ela morre, Fortunato, o sádico, presencia o amigo beijar a testa da mulher e derreter-se em choro, saboreando o momento de dor do amigo que lhe traía.

Anedota Pecuniária (conto)
É uma pequena crítica a ganância. Nela um homem "vende" suas sobrinhas aos homens que as amam por causa de sua fascinação com o dinheiro.

A Sereníssima República (conto)
É uma crítica ao processo eleitoral, feito como um discurso de um cônego que afirma ter achado uma espécie de aranha que fala e criado uma sociedade delas, uma república chamada Sereníssima República. Ele escolhe como sistema de eleição um baseado no da República de Veneza, onde se retirava bolas de um saco com o nome dos eleitos. Este sistema vai sendo fraudado pelas aranhas, corrigindo-se, adaptando-se e variando-se diversas vezes e de diversos modos, eternamente corrupto.

D. Paula (conto)
Conta sobre um casal que realiza uma separação temporária por ciúmes, com fundos, do marido. O caso é mediado pela tia da esposa, Dona Paula, que quando descobre quem é o outro, fica abalada. É o filho do homem com quem teve caso análogo, fato que deixa seus sentimentos bem abalados em relação ao caso.

Fulano (conto)
Beltrão é um homem que vai aos poucos se tornando mais um homem público que privado após receber elogios públicos e acaba deixando seu dinheiro para a posteridade e não a família.

O Espelho (conto)
Conta sobre um homem falando de sua opinião sobre a alma humana num grupo de amigos que realizam discussões metafísicas. Ele descreve uma situação de sua juventude onde, após ter sido engrandecido pelo recém-conquistado posto de alferes, encontra-se sozinho. Solitário, passa a ter medo até a que um dia veste-se com seu uniforme de alferes e encara o espelho, encontrando assim o outro lado de sua alma (sua opinião é que temos duas almas, uma externa que nos vigia e a nossa que vigia o exterior). Isso o retira da solidão. Portanto, este conto evidencia o conflito entre a essência (a alma interior) e a aparência (alma exterior).

Teoria do Medalhão (conto)
É um pai aconselhando um filho no dia de seus 21 anos. Ele lhe diz que um futuro lhe espera, que pode ter várias carreiras diferentes, mas que devia ter uma de resguardo, preferencialmente a de medalhão. Para isto devia ter pouquíssimo conhecimento, originalidade, ironia, gosto ou qualquer idéia própria. E nisso disserta sobre a necessidade do filho de sempre manter-se neutro, usar e abusar de palavras sem sentido, conhecer pouco, ter vocabulário limitado, etc. Ao final, é uma bela ironia machadiana sobre como se encontram os valores da sociedade de sua época.

O Enfermeiro (conto)
Conta sobre um homem que, a beira da morte, conta um caso de seu passado. Ele foi em 1860 ser enfermeiro de um velho e mau coronel, que acaba esganando alguns dias antes de partir por não mais o suportar. Quando se abre o testamento ele é declarado herdeiro universal e distribui lentamente o dinheiro em esmolas. Enquanto isto se passa, vai lentamente se convencendo de sua inocência, apoiado pela sociedade que odiava o velho e suas ações que considera redentoras

Pai Contra Mãe (conto)
Cândido Neves, caçador de escravos fujões. Não o é por opção, apenas o é porque não agüenta qualquer outro emprego. Casa e passa a adquirir dívidas, com clientela cada vez menor; quando engravida a mulher, as dívidas aumentam. Depois de despejados vão morar em um quarto emprestado e o menino nasce. Após ceder às pressões da tia da esposa, Candinho vai por a criança na Roda dos enjeitados. Mas no caminho captura uma escrava, recebendo uma gorda recompensa, mantendo assim a criança. Mas a escrava estava grávida, e provavelmente abortou com os castigos recebidos, ficando a vida do filho de Candinho em troca da de outra

Missa do Galo (conto)
Fala de uma singular conversa entre uma senhora de 30 anos e um jovem 17, que tinha que manter-se acordado para acordar o amigo para irem à missa do galo. Eles conversam, ele apieda-se dela (o marido traía e ela resignava-se), admira-a e distrai-se. Por fim o amigo lhe chama, já que já havia passado da meia-noite e ele nunca mais tem outra conversa profunda com ela.

A Mão e a Luva
Narra a história de Guiomar, moça altiva e segura de si, que procura, com frieza e calculismo, realizar o ambicioso plano de ascender socialmente, compensando a sua modesta origem. Três homens pretendem a mão de Guiomar: Estevão , Jorge e Luis Alves. O primeiro sincero, porém simplório; o segundo indolente e superficial. Luis Alves, ambicioso e sagaz, acaba sendo o eleito, pois personificava as qualidades que se sintonizavam com o espírito de Guiomar, que, ao escolhê-lo, faz, segundo suas próprias palavras, “a fria eleição do espírito”. O fragmento que transcrevemos ilustra o caráter do casal GUIOMAR/LUIS ALVES e oferece a justificativa do título: “Um mês depois de casados, como eles estivessem a conversar do que conversam os recém-casados, que é de si mesmos , e a relembrar a curta campanha do namoro.
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Guiomar confessou ao marido que naquela ocasião lhe conhecera todo o poder de sua vontade. - Vi que você era homem resoluto, disse a moça a Luis Alves, que assentado, a escutava. - Resoluto e ambicioso, ampliou Luiz Alves sorrindo: você deve ter percebido que sou uma e outra cousa. - A ambição não é defeito. - Pelo contrário, é virtude; eu sinto que a tenho, e que hei de fazê-la vingar. Não me fio só na mocidade e na força moral: fio-me também em você, que há de ser para mim uma força nova. - Oh! Sim! Exclamou Guiomar. E com um modo gracioso continuou: - Mas que me dá você em paga? Um lugar na câmara? Uma pasta de ministro? - O lustre do meu nome, respondeu ela. Guiomar, que estava de pé defronte dele, com as mãos presas nas suas, deixou-se cair lentamente sobre os joelhos do marido , e as duas ambições trocaram o ósculo fraternal. Ajustavam-se ambas, como se aquela luva tivesse sido feita para aquela mão.

Helena
A história de uma moça que, de uma forma inesperada, sobe na escala social: morre o Conselheiro Vale e, no seu testamento, consta que Helena, moça internada num colégio de Botafogo, é sua filha, cujo segredo o conselheiro o mantivera até a morte. Helena passa a viver com Úrsula, irmã do conselheiro, Estácio, agora meio-irmão, Dr. Camargo, amigo de Vale e médico da família, e Eugênia, filha do Dr. Camargo.
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Helena em face de seu temperamento expansivo e comunicativo, conquista a afeição de D. Úrsula e de Estácio. Mendonça, amigo de Estácio, apaixona-se pela moça. Helena passa a ser objeto de afeição do próprio irmão, que, no entanto, está noivo de Eugênia. O padre Melchior, guia espiritual da família, suspeita dos freqüentes encontros entre Helena e Salvador.
O mistério é esclarecido: Salvador é o pai de Helena, que fora arrebatada pelo conselheiro,- encarregando-se de sua educação. Helena, profundamente chocada com o estado de coisas, mesmo com a possibilidade de poder casar com Estácio, não agüenta a emoção, adoece e morre.

Histórias sem Data
A Igreja do Diabo

(publicado no livro Histórias sem Data) é uma nova idéia do diabo: fundar uma Igreja e organizar seu rebanho, tal qual Deus. Após comunicar Deus de seu futuro ato, vai à Terra e funda com muito sucesso uma Igreja que idolatra os defeitos humanos. Mas aos poucos os homens vão secretamente exercitando virtudes, Furioso, o Diabo vai falar com Deus, que lhe aponta que aquilo faz parte da eterna contradição humana. Anedota Pecuniária (publicado no livro Histórias sem Data) é uma pequena crítica a ganância. Nela um homem "vende" suas sobrinhas aos homens que as amam por causa de sua fascinação com o dinheiro.

Capítulo dos Chapéus
(publicado no livro Histórias sem Data) é um conto onde aparece a frivolidade e ostentação da época de Machado. Mariana, após pedir ao marido que troque o seu simples chapéu, testemunha a sociedade (na famosa rua do Ouvidor) e acaba pedindo que ele permaneça com seu chapéu. Fulano (publicado no livro Histórias sem Data) Beltrão é um homem que vai aos poucos se tornando mais um homem público que privado após receber elogios públicos e acaba deixando seu dinheiro para a posteridade e não a família. Galeria Póstuma (publicado no livro Histórias sem Data) é uma crítica a hipocrisia, onde o sobrinho de um falecido recente lê em seu diário as verdadeiras opiniões do tio sobre aqueles que o cercavam em vida, incluindo o rapaz.

Singular Ocorrência
(publicado no livro Histórias sem data) é o relato de um homem a um amigo sobre o caso extraconjugal de outro amigo. Ele conta que esse amigo e a amante eram apaixonados (ela abandonou a difícil vida fácil por ele) e que, numa única vez, o traiu. E foi este caso que gerou um grande turbilhão emocional que quase acabou no rompimento e suicídio dela, mas eles por fim se reconciliam e vivem felizes até que ele muda de província e morre antes de voltar. Último Capítulo (publicado no livro Histórias sem data) é o bilhete de um suicida. Azarado a vida toda (ele literalmente caiu de costas e quebrou o nariz), sua vida foi povoada de desgraças. Quando estava inventariando os bens da esposa morta, achou cartas de amor de seu sócio. Decidiu matar-se e deixar em seu testamento a cláusula que deveriam ser comprados sapatos e distribuídos, já que vira um pobre coitado (mais que ele) feliz a contemplar seus calçados.

Fontes:
http://www.oportaldosestudantes.com.br/
http://www.resumosdelivros.com.br/