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sábado, 14 de agosto de 2021
Adega de Versos 41: A. A. de Assis
Marques de Carvalho (No baile do Comendador)
– Desculpe, mas não creio, doutor, da sinceridade das suas palavras!
E a bela Arcelina tapou os rubros lábios, entreabertos em zombeteiro sorriso, com as rendas finíssimas do seu leque amarelo canário, de varetas de madrepérola.
— E por que, não me dirá? insistiu o doutor Machado, debruçado sobre a cadeira da interlocutora, a fixar-lhe os seios semi vísiveis com um ardente olhar vibrado através o cristal do monóculo petulante.
— Por quê? — respondeu ela, com uma curta gargalhada de chasco, a fitá-lo bem na menina dos olhos, falando-lhe por cima do ombro esquerdo, polvilhado de recendente velutina – Porque... a vida é uma boa mestra, doutor, e eu tenho recebido dela bem duros e cruéis exemplos!
— Apesar de ser tão nova assim?
— A vida não escolhe discípulos entre aqueles que apresentam a cabeça encanecida. Bem ao contrário, parece que aos moços dá, por vezes, preferência, como compensando-os de não terem o discernimento preciso para bem conhecer e evitar os revezes da sorte.
— Mas — é maravilhoso tudo quanto estão a dizer-me os seus divinos lábios com a música angelical da sua voz, minha adorável senhora! Se já não sentisse por sua pessoa — e pelo seu espírito — este indomável afeto de que falei-lhe há pouco, penso que deveria experimentá-lo agora — e bem profundamente! — depois de ouvir-lhe tão razoáveis e inesperados conceitos.
— Deveras?
— Por certo.
— Oh! é muito amável...
— Digo a verdade.
— E, todavia, continuo a não crer...
— Faz muito mal!
— Por quê?
— Ah! Já faz perguntas? Porque quem confessa descrença em semelhante assunto, deseja crer, ou, pelo menos, não quer descrer...
— O que redunda no mesmo. Errou, porém, estabelecendo até mim a regra geral, doutor. Dificilmente se engana a mulheres como eu, convença-se. O mundo tem sido para mim uma grande escola, Sr. dr. Machado. Lições bem ríspidas tenho recebido nele, para agora, sem discrepância das suas opiniões, fazer que o senhor acredite nas suas próprias ilusões fantasiosas. Pois quê! Persuade-se acaso de que jamais poderei tomar ao sério as banalidades da confissão que me cantou há instantes o seu lirismo? Estará o senhor, efetivamente, tão enamorado de si mesmo, que se julgue irresistível, fatal? Vaidade sem razão, doutor!
— Como é cruel, minha senhora!
— Não sou cruel, não, cavalheiro. Sou justa apenas, e porque simpatizei inexplicavelmente com o senhor, é que desejo trabalhar para extorquir-lhe do espírito esse orgulho desarrazoado que lhe embota o sentimento. Permite-me a liberdade duma franqueza?
— Ora essa! Por que não?...
— Muito bem! Pretendo matar-lhe na alma o seu ilimitado... pedantismo.
— Como diz?
— Ouça bem: o… seu…ilimitado… pedantismo.
— e... mas...
— Olhe, sente-se aqui, a meu lado. Assim conversaremos com tranquilidade, enquanto essa quadrilha d'Offenbach absorve todas as atenções da sala. Escute-me.
***
“Eu era menina, dez anos apenas, uma simples criança insignificante. Seriam nove horas da noite. A chuva caía sem parar desde que anoitecera, uma triste chuva hibernal, que dava arrepios intercadentes, sob a luz oscilante do gás. Estávamos ao serão, reunidos na varanda, umas dez pessoas, eu, minhas duas irmãs, algumas escravas, e uma preta velha, muito velha e alquebrada, que o tráfico da escravatura arrancara aos sertões africanos para transplantar no Brasil.
“Costuravam umas, outras faziam rendas. Eu e minhas duas irmãs brincávamos a vassourinha, formando círculos sobre a mesa, em torno da qual trabalhavam as escravas.
“De repente, um silêncio operou-se na varanda inteira e nós interrompemos o brinquedo, ao tempo que as raparigas erguiam as cabeças, detinham no ar a mão que empunhava a agulha, ou descansavam cautelosas os bilros sobre as almofadas onde pregavam-se as rendas incipientes.
“A velha Eufrásia anunciara que ia contar uma história da cabanagem, o que era o suficiente para lhe hipotecarmos a mais absoluta tranquilidade. Porque, fique desde já sabendo, a Eufrásia era autoridade na matéria! A sua narração tinha alguma coisa de lúgubre, de compungente, de parceria com certo tom verídico e muito expressivo na concatenação dos fatos e na flagrância da nota, ou épica ou bucólica, de que pretendia ocupar a atenção dos ouvintes.
“Todos aconchegaram-se mais, fitando os olhos da velha, iluminados duma fulguração estranha, que parecia o reflexo derradeiro dos belicosos tempos de que ela ia tratar.
“Estabelecido o mais completo silêncio, tanto quanto era possível obter-se com o ruído da chuva a desabar nas telhas, a boa preta começou a referir a pequena história que passarei a expor à sua atenta bondade, sucintamente, para o não enfastiar com imprudentes delongas.
“Da outra banda do rio, à margem esquerda deste mesmo Guajará que rola suas turvas águas aos pés de Belém, uma roça havia, naquele tempo, em 1835, que era o abrigo de uma simples família de modestos caboclos agricultores: pai, mãe e um filho, rapaz esbelto, no pleno vigor duns 20 anos sadios e bem desenvolvidos.
“Viviam todos na mais lata felicidade que poderiam almejar em sua simplicidade medíocre de lavradores remediados. A farinha da sua roça era a mais afamada na praça de Belém e a seriedade com que tratavam os negócios tinha-lhes aberto largo crédito na casa do seu correspondente na cidade.
“O rapaz, Aniceto, andava de casamento justo com a Tomásia, uma rapariga da margem oposta do rio, moradora num sítio quase fronteiro à roça. Pelo São João deveriam vir à capital da província, efetivar perante um padre a mais persistente aspiração que em peitos amazônicos jamais palpitou e que dava-lhes, na sua só lembrança, uma como ebriedade olímpica de soberanas venturas transcendentes.
“Uma vez por semana, aos sábados, a pequena montaria do jovem caboclo rasgava, cheia de vigor, o claro seio do rio e transportava-o rejubilado à pequenina casa da venturosa amante sequiosa de mirar-lhe as suaves transparências do olhar e ouvir-lhe a incomparável meiguice das longas falas singelas e apaixonadas.
“Horas inteiras de intensíssimo contentamento, eram as que passava ao lado da rapariga, a tecer com ela o gracioso debuxo da sua risonha existência por vir, quando a sós, no copiar de mãos entrelaçadas e o olhar perdido ao longe, nas aquosas sinuosidades esbatidas nas sombras do fundo, compraziam-se em acastelar ilusões, numas inflorescências de amplas fantasiais admiráveis.
“Semelhante existência, parecia abençoá-la o céu, na sua clemente bondade rejubilada pelo edificante espetáculo de tão acrisolada (purificada) paixão.
“Mas houve um dia em que a sorte,— sempre inclemente e cínica, doutor! — pareceu querer zombar da voz geral, corrente a respeito daquela invejável bonança de duas vidas felicíssimas.
“A cabanagem assolava esta parte da província. As aguerridas guerrilhas dos revoltosos percorriam sedentas de sangue povoados e roças, buscando e fazendo vítimas por toda a parte, com o desabrimento impudico da mais ousada barbaridade.
“Em tais condições, a casa dos pais de Tomásia não poderia escapar à visita dos desalmados. Esta foi sujeita à mais torpe violência que se pode intentar contra uma donzela, e os pais da rapariga, por haverem querido dissuadi-los da infâmia,— após assistirem à perpetração selvática do atentado sem nome, sofreram inermes a pena última, dependurados, um defronte do outro, em dois galhos de sombrosa sumaumeira!
“Escaparam ao rápido furor dos revoltosos Aniceto e seus pais, que embrenharam-se precavidos nos profundos recessos da floresta. De sua casa haviam presenciado o que passava-se na roça fronteira e nem um só momento o rapaz, aquele mesmo namorado férvido da véspera, sentiu um assomo de correr a vingar o ultraje a que tinham-lhe submetido a noiva! Admire que sinceridade a daquela paixão, doutor, dias antes apresentada em labiosos floreados de fantásticos arremessos idílicos! Que grande coração, o daquele homem!
“Fugiu, poltronamente, cheio de medo, sem um remorso que, exprobrando-lhe a indignidade, propelisse-o a ir morrer no sítio onde haviam insultado a sua noiva, sem ir arrebentar os miolos de um dos abjetos infames, ainda mesmo quando tivesse a certeza de ser feito pedacinhos pela tropa dos sicários!
“Anos depois, quando estabelecera-se a pacificação na província, a Eufrásia encontrou-o em casa, muito satisfeito e cínico, a viver na companhia de torpe mulata animalizada por uma vida de largas materializações soezes (vulgares) e gordurosas.
“Ainda podia rir, ainda tinha canções para zangarrear* ao som do cavaquinho!
“Lá defronte, porém, a roça, tão florescente dantes, convertera-se em matagal e a infeliz Tomásia, apatetada e envelhecida, coberta de andrajos e chorosa, tinha simplesmente como testemunha da sua desgraça, uma criança inconsciente, um filho que dentro dela semeara a hedionda selvageria dos revoltosos.”
***
Calou-se a bela Arcelina, ofegante e ruborizada. Vibrando toda de emoção, teve um momento de silêncio empregado em fitar longamente o rosto do dr. Machado. Depois, abrindo o leque amarelo canário, agitando-o vagaroso, com uma certa majestade de soberana vencedora, perguntou sorrindo irônica:
— E crê, depois disto, que eu acredite na existência de um só homem sincero e verdadeiramente amante, capaz de efetuar todas essas palavrosas mentiras que o senhor cantarolou por aí?
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
*Zangarrear = tocar (instrumento de corda, esp. viola ou similar) de maneira desafinada, sem arte, monótona, repetindo os mesmos acordes em rasgado;
E a bela Arcelina tapou os rubros lábios, entreabertos em zombeteiro sorriso, com as rendas finíssimas do seu leque amarelo canário, de varetas de madrepérola.
— E por que, não me dirá? insistiu o doutor Machado, debruçado sobre a cadeira da interlocutora, a fixar-lhe os seios semi vísiveis com um ardente olhar vibrado através o cristal do monóculo petulante.
— Por quê? — respondeu ela, com uma curta gargalhada de chasco, a fitá-lo bem na menina dos olhos, falando-lhe por cima do ombro esquerdo, polvilhado de recendente velutina – Porque... a vida é uma boa mestra, doutor, e eu tenho recebido dela bem duros e cruéis exemplos!
— Apesar de ser tão nova assim?
— A vida não escolhe discípulos entre aqueles que apresentam a cabeça encanecida. Bem ao contrário, parece que aos moços dá, por vezes, preferência, como compensando-os de não terem o discernimento preciso para bem conhecer e evitar os revezes da sorte.
— Mas — é maravilhoso tudo quanto estão a dizer-me os seus divinos lábios com a música angelical da sua voz, minha adorável senhora! Se já não sentisse por sua pessoa — e pelo seu espírito — este indomável afeto de que falei-lhe há pouco, penso que deveria experimentá-lo agora — e bem profundamente! — depois de ouvir-lhe tão razoáveis e inesperados conceitos.
— Deveras?
— Por certo.
— Oh! é muito amável...
— Digo a verdade.
— E, todavia, continuo a não crer...
— Faz muito mal!
— Por quê?
— Ah! Já faz perguntas? Porque quem confessa descrença em semelhante assunto, deseja crer, ou, pelo menos, não quer descrer...
— O que redunda no mesmo. Errou, porém, estabelecendo até mim a regra geral, doutor. Dificilmente se engana a mulheres como eu, convença-se. O mundo tem sido para mim uma grande escola, Sr. dr. Machado. Lições bem ríspidas tenho recebido nele, para agora, sem discrepância das suas opiniões, fazer que o senhor acredite nas suas próprias ilusões fantasiosas. Pois quê! Persuade-se acaso de que jamais poderei tomar ao sério as banalidades da confissão que me cantou há instantes o seu lirismo? Estará o senhor, efetivamente, tão enamorado de si mesmo, que se julgue irresistível, fatal? Vaidade sem razão, doutor!
— Como é cruel, minha senhora!
— Não sou cruel, não, cavalheiro. Sou justa apenas, e porque simpatizei inexplicavelmente com o senhor, é que desejo trabalhar para extorquir-lhe do espírito esse orgulho desarrazoado que lhe embota o sentimento. Permite-me a liberdade duma franqueza?
— Ora essa! Por que não?...
— Muito bem! Pretendo matar-lhe na alma o seu ilimitado... pedantismo.
— Como diz?
— Ouça bem: o… seu…ilimitado… pedantismo.
— e... mas...
— Olhe, sente-se aqui, a meu lado. Assim conversaremos com tranquilidade, enquanto essa quadrilha d'Offenbach absorve todas as atenções da sala. Escute-me.
***
“Eu era menina, dez anos apenas, uma simples criança insignificante. Seriam nove horas da noite. A chuva caía sem parar desde que anoitecera, uma triste chuva hibernal, que dava arrepios intercadentes, sob a luz oscilante do gás. Estávamos ao serão, reunidos na varanda, umas dez pessoas, eu, minhas duas irmãs, algumas escravas, e uma preta velha, muito velha e alquebrada, que o tráfico da escravatura arrancara aos sertões africanos para transplantar no Brasil.
“Costuravam umas, outras faziam rendas. Eu e minhas duas irmãs brincávamos a vassourinha, formando círculos sobre a mesa, em torno da qual trabalhavam as escravas.
“De repente, um silêncio operou-se na varanda inteira e nós interrompemos o brinquedo, ao tempo que as raparigas erguiam as cabeças, detinham no ar a mão que empunhava a agulha, ou descansavam cautelosas os bilros sobre as almofadas onde pregavam-se as rendas incipientes.
“A velha Eufrásia anunciara que ia contar uma história da cabanagem, o que era o suficiente para lhe hipotecarmos a mais absoluta tranquilidade. Porque, fique desde já sabendo, a Eufrásia era autoridade na matéria! A sua narração tinha alguma coisa de lúgubre, de compungente, de parceria com certo tom verídico e muito expressivo na concatenação dos fatos e na flagrância da nota, ou épica ou bucólica, de que pretendia ocupar a atenção dos ouvintes.
“Todos aconchegaram-se mais, fitando os olhos da velha, iluminados duma fulguração estranha, que parecia o reflexo derradeiro dos belicosos tempos de que ela ia tratar.
“Estabelecido o mais completo silêncio, tanto quanto era possível obter-se com o ruído da chuva a desabar nas telhas, a boa preta começou a referir a pequena história que passarei a expor à sua atenta bondade, sucintamente, para o não enfastiar com imprudentes delongas.
“Da outra banda do rio, à margem esquerda deste mesmo Guajará que rola suas turvas águas aos pés de Belém, uma roça havia, naquele tempo, em 1835, que era o abrigo de uma simples família de modestos caboclos agricultores: pai, mãe e um filho, rapaz esbelto, no pleno vigor duns 20 anos sadios e bem desenvolvidos.
“Viviam todos na mais lata felicidade que poderiam almejar em sua simplicidade medíocre de lavradores remediados. A farinha da sua roça era a mais afamada na praça de Belém e a seriedade com que tratavam os negócios tinha-lhes aberto largo crédito na casa do seu correspondente na cidade.
“O rapaz, Aniceto, andava de casamento justo com a Tomásia, uma rapariga da margem oposta do rio, moradora num sítio quase fronteiro à roça. Pelo São João deveriam vir à capital da província, efetivar perante um padre a mais persistente aspiração que em peitos amazônicos jamais palpitou e que dava-lhes, na sua só lembrança, uma como ebriedade olímpica de soberanas venturas transcendentes.
“Uma vez por semana, aos sábados, a pequena montaria do jovem caboclo rasgava, cheia de vigor, o claro seio do rio e transportava-o rejubilado à pequenina casa da venturosa amante sequiosa de mirar-lhe as suaves transparências do olhar e ouvir-lhe a incomparável meiguice das longas falas singelas e apaixonadas.
“Horas inteiras de intensíssimo contentamento, eram as que passava ao lado da rapariga, a tecer com ela o gracioso debuxo da sua risonha existência por vir, quando a sós, no copiar de mãos entrelaçadas e o olhar perdido ao longe, nas aquosas sinuosidades esbatidas nas sombras do fundo, compraziam-se em acastelar ilusões, numas inflorescências de amplas fantasiais admiráveis.
“Semelhante existência, parecia abençoá-la o céu, na sua clemente bondade rejubilada pelo edificante espetáculo de tão acrisolada (purificada) paixão.
“Mas houve um dia em que a sorte,— sempre inclemente e cínica, doutor! — pareceu querer zombar da voz geral, corrente a respeito daquela invejável bonança de duas vidas felicíssimas.
“A cabanagem assolava esta parte da província. As aguerridas guerrilhas dos revoltosos percorriam sedentas de sangue povoados e roças, buscando e fazendo vítimas por toda a parte, com o desabrimento impudico da mais ousada barbaridade.
“Em tais condições, a casa dos pais de Tomásia não poderia escapar à visita dos desalmados. Esta foi sujeita à mais torpe violência que se pode intentar contra uma donzela, e os pais da rapariga, por haverem querido dissuadi-los da infâmia,— após assistirem à perpetração selvática do atentado sem nome, sofreram inermes a pena última, dependurados, um defronte do outro, em dois galhos de sombrosa sumaumeira!
“Escaparam ao rápido furor dos revoltosos Aniceto e seus pais, que embrenharam-se precavidos nos profundos recessos da floresta. De sua casa haviam presenciado o que passava-se na roça fronteira e nem um só momento o rapaz, aquele mesmo namorado férvido da véspera, sentiu um assomo de correr a vingar o ultraje a que tinham-lhe submetido a noiva! Admire que sinceridade a daquela paixão, doutor, dias antes apresentada em labiosos floreados de fantásticos arremessos idílicos! Que grande coração, o daquele homem!
“Fugiu, poltronamente, cheio de medo, sem um remorso que, exprobrando-lhe a indignidade, propelisse-o a ir morrer no sítio onde haviam insultado a sua noiva, sem ir arrebentar os miolos de um dos abjetos infames, ainda mesmo quando tivesse a certeza de ser feito pedacinhos pela tropa dos sicários!
“Anos depois, quando estabelecera-se a pacificação na província, a Eufrásia encontrou-o em casa, muito satisfeito e cínico, a viver na companhia de torpe mulata animalizada por uma vida de largas materializações soezes (vulgares) e gordurosas.
“Ainda podia rir, ainda tinha canções para zangarrear* ao som do cavaquinho!
“Lá defronte, porém, a roça, tão florescente dantes, convertera-se em matagal e a infeliz Tomásia, apatetada e envelhecida, coberta de andrajos e chorosa, tinha simplesmente como testemunha da sua desgraça, uma criança inconsciente, um filho que dentro dela semeara a hedionda selvageria dos revoltosos.”
***
Calou-se a bela Arcelina, ofegante e ruborizada. Vibrando toda de emoção, teve um momento de silêncio empregado em fitar longamente o rosto do dr. Machado. Depois, abrindo o leque amarelo canário, agitando-o vagaroso, com uma certa majestade de soberana vencedora, perguntou sorrindo irônica:
— E crê, depois disto, que eu acredite na existência de um só homem sincero e verdadeiramente amante, capaz de efetuar todas essas palavrosas mentiras que o senhor cantarolou por aí?
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*Zangarrear = tocar (instrumento de corda, esp. viola ou similar) de maneira desafinada, sem arte, monótona, repetindo os mesmos acordes em rasgado;
Fonte:
Jornal A Província do Pará. Coluna Folhetim. 1889.
Jornal A Província do Pará. Coluna Folhetim. 1889.
Vanice Zimerman (Lançamento do livro Saudade, sábado 14 de agosto)
14 de agosto (sábado)
18hs
Google Meet: https://meet.google.com/cff-xcah-cqg
O livro “Saudade...” de Vanice Zimerman e Gustavo Henao Chica, apresenta 157 poemas em Português e Espanhol, em 139 páginas, que abordam o amor, o desamor e a morte. As lembranças contidas em imagens, aromas e sons, teceram em versos cada emoção e suas leituras de mundo.
Para Vanice a saudade é uma palavra encantada que não aceita um ponto final, mas sim, a bem-vinda companhia das reticências...
Lágrima – espelho
Imóvel em meu olhar,
A imagem do teu rosto...
Imóvel em meu olhar,
A imagem do teu rosto...
Vanice Zimerman, também criou a capa do livro, e escreveu o prefácio. Nascida em Curitiba, PR, é professora, escritora e artista plástica. Participa de diversas Antologias – livros impressos - e com textos publicados na Revista Carlos Zemek, Haicais publicados no Brasil e na Croácia.
Acadêmica da Academia Virtual Internacional da Poesia, Artes e Filosofia (Cadeira 16 – Mario Quintana).
Possui diversos poemas postados nesse blog.
Fonte:
Revista Carlos Zemek Arte e Cultura, de 12 agosto 2021.
Revista Carlos Zemek Arte e Cultura, de 12 agosto 2021.
VI Prêmio Literário Gonzaga de Carvalho (Classificação Final)
CATEGORIA: POESIA
= = = = = = = = = = =
Classificação geral
= = = = = = = = = = =
1º lugar:
“A catadora de mariscos”
Valquiria Imperiano/Genebra/Suíça;
2º lugar:
“Falando com Gonzaga de Carvalho”
Alfredo Nogueira Ferreira, Florianópolis/SC;
3º lugar:
“Lampejos Oníricos”
Valéria Valle, Anápolis/GO;
4º lugar:
“Tudo isso passa...”
Lucivalter Almeida dos Santos, Nazaré/BA;
5º lugar:
“Porta -voz”
Claudia Lundgren, Teresópolis/RJ.
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Classificação geral
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1º lugar:
“A catadora de mariscos”
Valquiria Imperiano/Genebra/Suíça;
2º lugar:
“Falando com Gonzaga de Carvalho”
Alfredo Nogueira Ferreira, Florianópolis/SC;
3º lugar:
“Lampejos Oníricos”
Valéria Valle, Anápolis/GO;
4º lugar:
“Tudo isso passa...”
Lucivalter Almeida dos Santos, Nazaré/BA;
5º lugar:
“Porta -voz”
Claudia Lundgren, Teresópolis/RJ.
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Menções Honrosas:
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“Poesiofilia...”
João Bosco de Castro, Bom Despacho/MG;
“Mil-Flores”
Araken dos Santos, Magé/RJ;
“Desconcerto”
Rosangela Calza, Florianópolis/SC;
“Convite”
João Manuel Muanza André, Luanda/Angola;
“Crianças Inocentes”
António José Alexandre, Luanda/Angola;
“Lembranças e Saudades”
Celso Gonzaga Porto, Cachoeirinha/RS;
“Educação, Educação”
Joyce Lima, Itagibá/BA;
“Caleidoscópio”
Marcos Coelho Cardoso, Dourados/MS;
“Nas cinzas da manhã de quarta-feira”
André Abreu, Taboão da Serra/SP;
“Declamo um poema a Teófilo Otoni”
Oldair Ferreira Motta, Belo Horizonte/MG;
“Margarida”
Francisco Luís Sebastião da Costa, Luanda/Angola;
“Ao Gonzaga de Carvalho”
Maria Luciene da Silva, Fortaleza/CE;
“Perdidos Nesse Mar Infinito”
Elizabeth Cury Bechir Watanabe, Itanhaém/SP;
“Sem Mágoas”
Cláudio Hermínio, Belo Horizonte/MG;
“Um poema de alegria”
Francisco Martins Silva, Uurçuí/PI;
“Imagem turva no espelho da alma”
Gabriela Lopes, Governador Valadares/MG;
“Ir comigo”
Maria Elza Fernandes Melo Reis, Capanema/PA;
“Ditongo”
Celso Henrique Ferminio, São José do Rio Preto/SP;
“As lágrimas”
Afonso Nkuansambu, Luanda/Angola;
“Criança ferida”
Dilercy Adler, São Luis/MA;
“O Último Latido”
Marcelo Oliveira Souza, Salvador/BA;
“Relicário”
Paulo Maximiliano, Capanema/PA;
“O presente”
Vilma Farias Guerra, Pelotas/RS;
“Escuridão no peito”
Cláudio Rogério Trindade, Ijuí/RS;
“Bela infância, saudosa viagem”
Carla Taíssa, Rio Negro/PR;
“Cada Manhã é um milagre”
Cláudio Bento, Jequitinhonha/MG;
“Deixe a luz de teu amor brilhar”
Marcus Vinícius Bertholini Rios, Iúna/ES;
“Divino & Maravilhoso”
Almir Zaferg, Teixeira de Freitas/BA;
“Brincando com os dedos”
Antonia Aleixo Fernandes, São Paulo/SP;
“Solidão do mar”
Jeronimo Luiz Gonçalves, Goiânia/GO;
“Tudo e Nada”
Jane Rossi, Guarulhos/SP;
“Rosa”
Maria Antonieta Gonzaga Teixeira, Castro/PR:
“Mel no Mandacarú”
Edilson Leão, Salvador/BA;
“Gesto grácil”
Ilda Maria Costa Brasil, Porto Alegre/RS;
“Sem rumo”
Maria Stela de Oliveira Gomes, Governador Valadares/MG;
“Venha ver o sol nascer”
Carlos Frederico da Silva, Rio de Janeiro/RJ;
“Contemplação”
Maria Aparecida Pereira de Souza, Presidente Prudente/SP;
“Falando Ecologicamente”
José Moutinho Campos, Belo Horizonte/MG;
“Em total solidão”
Margareth Rafael, Itambacuri/MG;
“Nas asas da vida”
Cosme Custódio, Salvador/BA;
“Estima do alvorecer”
Paulo Keno Zerus, Caraguatatuba/SP.
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CATEGORIA: CRÔNICA
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Classificação geral
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1º lugar:
“O velho livro de papel”
Evandro Ferreira Rodrigues, Caucaia/CE;
2º lugar:
“Pontualidades”
Marina Barreiros Mota, Nova Viçosa/BA;
3º lugar:
“Estrada de Ferro Bahia e Minas: Os Trilhos da Saudade”
Aurélio Lamare Soares Murta, Rio de Janeiro/RJ;
4º lugar:
“Vaqueiro Sertanejo”
Anchieta Antunes, Recife/PE;
5º lugar:
“As mulheres e seu protagonismo”
Isabel C.S. Vargas, Pelotas/RS.
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Menções Honrosas:
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“Quantos anos nós temos”
Celso Gonzaga Porto, Cachoeirinha/RS.
“Crônica da disciplina mais importante”
Marlete de Souza, Belo Horizonte/MG;
“Viajando com a Caravana”
Paulo Jurza, Belo Horizonte/MG;
“A sinceridade do olhar”
Amalri Nascimento, Rio de Janeiro/RJ;
“Sal e Pimenta no Bofe do Mucura”
João Bosco de Castro, Bom Despacho/MG;
“A sinfonia do prazer”
Valquiria Imperiano, Genebra/Suíça;
“Carta só meu irmão”
Roberto Franklin Falcão da Costa, São Luis/MA;
“A virada na vida com as bênçãos do além”
Aristides Leo Pardo, União da Vitória/PR;
“La Espanhola”
Vânia Rodrigues Calmon, Vila Velha/ES;
“Primeira Lição”
Telma Borges, Belo Horizonte/NG;
“Bichos”
Paulo Cesar de Almeida, Andrelândia/MG;
“O Medonho”
Adevaldo Rodrigues de Souza, Belo Horizonte/MG;
“Crônica do Amigo Oculto”
Igor Alves Noberto Soares, Belo Horizonte/MG;
“Proibição Cultural”
José Campos de Souza, Macaé/RJ;
“Brincando de casinha”
Daniela Martins Cunha, Governador Valadares/MG;
“Outra chance”
Helena Selma Colen, Ladainha/MG;
“Distorções e Reflexos”
Marcos Coelho Cardoso, Dourados/MS;
“A desistência é o combustível para o fracasso”
Esther Rogessi, Recife/PE;
“Sono da tarde - um pesadelo dos meus dias”
Teresa C.C.M. Azevedo, Campinas/SP;
“Refém do descaso”
Juracy Nonato Ferreira, Santa Helena de Minas/SP;
“Chuva na capital”
Francisco Sebastião da Costa, Luanda/Angola;
“Extraterrestres e a realidade das criações”
Sílvio Parise, Rhode Island/EUA;
“Vandalismo”
Odenir Follador, Ponta Grossa/PR;
“Premonição”
Altamiro Fernandes da Cruz, Belo Horizonte/MG;
“Vicent Van Gogh em questão”
Coracy Bessa, Salvador/BA;
“De Eva a Stela”
Zenir Izaguirre, São Jerônimo/RS;
“Turismo Literário”
Afonso Nkuansambu, Luanda/Angola;
“O Covid-19 como catalizador do processo de ensino angolano”
Valeriano Cassinda, Luanda/Angola.
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CATEGORIA: CONTO
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Classificação geral
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1º lugar:
“O milagre da couve mineira”
Cláudio de Almeida, São Paulo/SP;
2º lugar:
“Minha mãe era mulher”
Telma Borges, Belo Horizonte/MG;
3º lugar:
“Serapião”
Paulo Jurza, Belo Horizonte/MG;
4º lugar:
“Anjos sem asas”
Amalri Nascimento, Rio de Janeiro/RJ;
5º lugar:
“Dança dos Sentidos: Batida Poética do Coreo 9/19”
Maria Eugênia Porto Ribeiro da Silva,Belo Horizonte/MG.
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Menções Honrosas:
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“A casa”
Roberto Franklin Falcão da Costa, São Luiz/MA;
“O menino que lia”
Alfredo Nogueira Ferreira, Florianópolis/SC;
“A união por frouxo e largo pesponto”
José Campos de Souza, Macaé/RJ;
“Zé da Silva no país das maravilhas”
Celso Gonzaga Porto, Cachoeirinha/RS;
“Dona Luzia”
Valquiria Imperiano, Genebra/Suíça;
“O Ombrelone de João Fernandes”
Décio Mallmith, Porto Alegre/RS;
“Lá vem a tal feijoada”
Adevaldo Rodrigues de Souza, Belo Horizonte/MG;
“O sentimento exposto”
Paulo Valença, Recife/PE;
“Mergulho no Saruê”
Marina Barreiros Mota, Nova Viçosa/BA;
“O Safari”
Altamiro Fernandes da Cruz, Belo Horizonte/MG;
“Odeio poliglotas”
Paulo Roberto de Oliveira Caruso, Niterói/RJ;
“Encantado lugar”
Silvio Parise, Rhode Island/EUA;
“Fábula do lobo e a mulher: o amor proibido”
Josenilson Costa dos Santos, Salvador/BA;
“Sorte de novato”
Juracy Nonato Ferreira, Santa Helena de Minas/MG;
“Escola da vida”
Carmelita Ribeiro Cunha Dantas, Aparecida de Goiânia/GO
“A profissão certa”
Rosemeire Leal da Motta Piredda, Vila Velha/BA;
“Eros uma vez”
Almir Zaferg, Teixeira de Freiras/BA;
“Semelhanças de Alice com Holman”
Evandro Ferreira Rodrigues, Caucaia/CE;
“O Turco e o Libanês”
Leandro Campos Alves, Caxambu/MG;
“A morte chega em silêncio”
Coracy Bessa, Salvador/BA;
“A bola de ouro”
Odenir Follador, Ponta Grossa/PR;
“A caminho do perdão”
Aristide Dornas Júnior, Moeda/MG;
“Sublime Oração ao Amor Universal”
Odenir Ferro, Rio Claro/SP;
Menções Honrosas:
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“Poesiofilia...”
João Bosco de Castro, Bom Despacho/MG;
“Mil-Flores”
Araken dos Santos, Magé/RJ;
“Desconcerto”
Rosangela Calza, Florianópolis/SC;
“Convite”
João Manuel Muanza André, Luanda/Angola;
“Crianças Inocentes”
António José Alexandre, Luanda/Angola;
“Lembranças e Saudades”
Celso Gonzaga Porto, Cachoeirinha/RS;
“Educação, Educação”
Joyce Lima, Itagibá/BA;
“Caleidoscópio”
Marcos Coelho Cardoso, Dourados/MS;
“Nas cinzas da manhã de quarta-feira”
André Abreu, Taboão da Serra/SP;
“Declamo um poema a Teófilo Otoni”
Oldair Ferreira Motta, Belo Horizonte/MG;
“Margarida”
Francisco Luís Sebastião da Costa, Luanda/Angola;
“Ao Gonzaga de Carvalho”
Maria Luciene da Silva, Fortaleza/CE;
“Perdidos Nesse Mar Infinito”
Elizabeth Cury Bechir Watanabe, Itanhaém/SP;
“Sem Mágoas”
Cláudio Hermínio, Belo Horizonte/MG;
“Um poema de alegria”
Francisco Martins Silva, Uurçuí/PI;
“Imagem turva no espelho da alma”
Gabriela Lopes, Governador Valadares/MG;
“Ir comigo”
Maria Elza Fernandes Melo Reis, Capanema/PA;
“Ditongo”
Celso Henrique Ferminio, São José do Rio Preto/SP;
“As lágrimas”
Afonso Nkuansambu, Luanda/Angola;
“Criança ferida”
Dilercy Adler, São Luis/MA;
“O Último Latido”
Marcelo Oliveira Souza, Salvador/BA;
“Relicário”
Paulo Maximiliano, Capanema/PA;
“O presente”
Vilma Farias Guerra, Pelotas/RS;
“Escuridão no peito”
Cláudio Rogério Trindade, Ijuí/RS;
“Bela infância, saudosa viagem”
Carla Taíssa, Rio Negro/PR;
“Cada Manhã é um milagre”
Cláudio Bento, Jequitinhonha/MG;
“Deixe a luz de teu amor brilhar”
Marcus Vinícius Bertholini Rios, Iúna/ES;
“Divino & Maravilhoso”
Almir Zaferg, Teixeira de Freitas/BA;
“Brincando com os dedos”
Antonia Aleixo Fernandes, São Paulo/SP;
“Solidão do mar”
Jeronimo Luiz Gonçalves, Goiânia/GO;
“Tudo e Nada”
Jane Rossi, Guarulhos/SP;
“Rosa”
Maria Antonieta Gonzaga Teixeira, Castro/PR:
“Mel no Mandacarú”
Edilson Leão, Salvador/BA;
“Gesto grácil”
Ilda Maria Costa Brasil, Porto Alegre/RS;
“Sem rumo”
Maria Stela de Oliveira Gomes, Governador Valadares/MG;
“Venha ver o sol nascer”
Carlos Frederico da Silva, Rio de Janeiro/RJ;
“Contemplação”
Maria Aparecida Pereira de Souza, Presidente Prudente/SP;
“Falando Ecologicamente”
José Moutinho Campos, Belo Horizonte/MG;
“Em total solidão”
Margareth Rafael, Itambacuri/MG;
“Nas asas da vida”
Cosme Custódio, Salvador/BA;
“Estima do alvorecer”
Paulo Keno Zerus, Caraguatatuba/SP.
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CATEGORIA: CRÔNICA
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Classificação geral
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1º lugar:
“O velho livro de papel”
Evandro Ferreira Rodrigues, Caucaia/CE;
2º lugar:
“Pontualidades”
Marina Barreiros Mota, Nova Viçosa/BA;
3º lugar:
“Estrada de Ferro Bahia e Minas: Os Trilhos da Saudade”
Aurélio Lamare Soares Murta, Rio de Janeiro/RJ;
4º lugar:
“Vaqueiro Sertanejo”
Anchieta Antunes, Recife/PE;
5º lugar:
“As mulheres e seu protagonismo”
Isabel C.S. Vargas, Pelotas/RS.
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Menções Honrosas:
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“Quantos anos nós temos”
Celso Gonzaga Porto, Cachoeirinha/RS.
“Crônica da disciplina mais importante”
Marlete de Souza, Belo Horizonte/MG;
“Viajando com a Caravana”
Paulo Jurza, Belo Horizonte/MG;
“A sinceridade do olhar”
Amalri Nascimento, Rio de Janeiro/RJ;
“Sal e Pimenta no Bofe do Mucura”
João Bosco de Castro, Bom Despacho/MG;
“A sinfonia do prazer”
Valquiria Imperiano, Genebra/Suíça;
“Carta só meu irmão”
Roberto Franklin Falcão da Costa, São Luis/MA;
“A virada na vida com as bênçãos do além”
Aristides Leo Pardo, União da Vitória/PR;
“La Espanhola”
Vânia Rodrigues Calmon, Vila Velha/ES;
“Primeira Lição”
Telma Borges, Belo Horizonte/NG;
“Bichos”
Paulo Cesar de Almeida, Andrelândia/MG;
“O Medonho”
Adevaldo Rodrigues de Souza, Belo Horizonte/MG;
“Crônica do Amigo Oculto”
Igor Alves Noberto Soares, Belo Horizonte/MG;
“Proibição Cultural”
José Campos de Souza, Macaé/RJ;
“Brincando de casinha”
Daniela Martins Cunha, Governador Valadares/MG;
“Outra chance”
Helena Selma Colen, Ladainha/MG;
“Distorções e Reflexos”
Marcos Coelho Cardoso, Dourados/MS;
“A desistência é o combustível para o fracasso”
Esther Rogessi, Recife/PE;
“Sono da tarde - um pesadelo dos meus dias”
Teresa C.C.M. Azevedo, Campinas/SP;
“Refém do descaso”
Juracy Nonato Ferreira, Santa Helena de Minas/SP;
“Chuva na capital”
Francisco Sebastião da Costa, Luanda/Angola;
“Extraterrestres e a realidade das criações”
Sílvio Parise, Rhode Island/EUA;
“Vandalismo”
Odenir Follador, Ponta Grossa/PR;
“Premonição”
Altamiro Fernandes da Cruz, Belo Horizonte/MG;
“Vicent Van Gogh em questão”
Coracy Bessa, Salvador/BA;
“De Eva a Stela”
Zenir Izaguirre, São Jerônimo/RS;
“Turismo Literário”
Afonso Nkuansambu, Luanda/Angola;
“O Covid-19 como catalizador do processo de ensino angolano”
Valeriano Cassinda, Luanda/Angola.
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CATEGORIA: CONTO
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Classificação geral
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1º lugar:
“O milagre da couve mineira”
Cláudio de Almeida, São Paulo/SP;
2º lugar:
“Minha mãe era mulher”
Telma Borges, Belo Horizonte/MG;
3º lugar:
“Serapião”
Paulo Jurza, Belo Horizonte/MG;
4º lugar:
“Anjos sem asas”
Amalri Nascimento, Rio de Janeiro/RJ;
5º lugar:
“Dança dos Sentidos: Batida Poética do Coreo 9/19”
Maria Eugênia Porto Ribeiro da Silva,Belo Horizonte/MG.
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Menções Honrosas:
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“A casa”
Roberto Franklin Falcão da Costa, São Luiz/MA;
“O menino que lia”
Alfredo Nogueira Ferreira, Florianópolis/SC;
“A união por frouxo e largo pesponto”
José Campos de Souza, Macaé/RJ;
“Zé da Silva no país das maravilhas”
Celso Gonzaga Porto, Cachoeirinha/RS;
“Dona Luzia”
Valquiria Imperiano, Genebra/Suíça;
“O Ombrelone de João Fernandes”
Décio Mallmith, Porto Alegre/RS;
“Lá vem a tal feijoada”
Adevaldo Rodrigues de Souza, Belo Horizonte/MG;
“O sentimento exposto”
Paulo Valença, Recife/PE;
“Mergulho no Saruê”
Marina Barreiros Mota, Nova Viçosa/BA;
“O Safari”
Altamiro Fernandes da Cruz, Belo Horizonte/MG;
“Odeio poliglotas”
Paulo Roberto de Oliveira Caruso, Niterói/RJ;
“Encantado lugar”
Silvio Parise, Rhode Island/EUA;
“Fábula do lobo e a mulher: o amor proibido”
Josenilson Costa dos Santos, Salvador/BA;
“Sorte de novato”
Juracy Nonato Ferreira, Santa Helena de Minas/MG;
“Escola da vida”
Carmelita Ribeiro Cunha Dantas, Aparecida de Goiânia/GO
“A profissão certa”
Rosemeire Leal da Motta Piredda, Vila Velha/BA;
“Eros uma vez”
Almir Zaferg, Teixeira de Freiras/BA;
“Semelhanças de Alice com Holman”
Evandro Ferreira Rodrigues, Caucaia/CE;
“O Turco e o Libanês”
Leandro Campos Alves, Caxambu/MG;
“A morte chega em silêncio”
Coracy Bessa, Salvador/BA;
“A bola de ouro”
Odenir Follador, Ponta Grossa/PR;
“A caminho do perdão”
Aristide Dornas Júnior, Moeda/MG;
“Sublime Oração ao Amor Universal”
Odenir Ferro, Rio Claro/SP;
Teófilo Otoni/MG, 12 de agosto de 2021
sexta-feira, 13 de agosto de 2021
Antonio Bruno e Ernesto Zwarg (Litoral Musical) 2
MONGAGUÁ
Há um lugar na imensidão da Praia Grande
É onde a serra se aproxima a beira mar;
Vinda de longe, da planície que se espraia
E vem à praia, pra se ajoelhar...
Vem pra pagar uma promessa muito antiga
que a serra fez à deusa do mar;
Traz em seu bojo as águas de uma cachoeira
Traz as antas, traz as flores
E entrega em Mongaguá;
E quem quiser ser mais feliz em seus amores
Venha logo, traga flores
E entregue em Mongaguá
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O CAIS DE CANANÉIA
Saudoso, deixei...
O cais de Cananéia, adeus...
Vencendo a correnteza, eu vim
Pensando só em ti, meu amor
Remando, assim
às vezes contra o vento do sul
Mas sem ter um lamento
pois só pensava na ventura de te encontrar...
Os botos passando
Ao lado da canoa as aves
Por sobre a gamboa lembrando
O quanto fui feliz, meu amor
Vivendo na Ilha do Cardoso
Que tempo mais formoso vivi
perto de ti...
No Marujá, eu aportei minha canoa
mas os teus olhinhos tristes,
Não encontrei a me esperar
Voltei pro remo, contra o vento
Retendo a mágoa e cheguei em pouco tempo
no Arirí...
No caminho da Capela,
seus passinhos eu reconheci...
E embora transtornado
a maior naturalidade
Fingi, mimosa flor...
Saudoso, deixei...
O cais de Cananéia, adeus...
Vencendo a correnteza, eu vim
Pensando só em ti, meu amor
Remando, assim
às vezes contra o vento do sul
Mas sem ter um lamento
pois só pensava na ventura de te encontrar...
Os botos passando
Ao lado da canoa as aves
Por sobre a gamboa lembrando
O quanto fui feliz, meu amor
Vivendo na Ilha do Cardoso
Que tempo mais formoso vivi
perto de ti…
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PRAIAS DE ITANHAÉM
Praias de Itanhaém,
Magia de luz e cor,
Princesa dos mares do Sul
Devolve o meu amor
Há um ditado
Na minha terra
Amor de praia
Não sobe a serra,
É como a onda
Que beija a areia
Quando é noite
De lua cheia
A onda beija
E vai se embora,
A areia fica
Tão triste e chora
Eu já sabia
Linda criança
Que era tudo onda
Só ficou uma esperança
(bis)
Amor de praia
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SAUDADE PERUÍBE
Peruíbe, quando o mar...
Bate forte no costão
A saudade, Peruíbe,
Me maltrata o coração...
A saudade Peruíbe,
Das quebradas do Itatins.
E das ilhas verdejantes
e do canto do sem-fim.
Emociona ver a serra
Lá do Abarebebê...
E magoa de mansinho
Eu lembrar-me de você
Peruíbe, quando o mar
Bate forte no costão,
A saudade, Peruíbe,
Me maltrata o coração...
A saudade Peruíbe,
Das quebradas do Itatins.
E das ilhas verdejantes
e do canto do sem-fim.
Peruíbe, junto à serra
É cidade, é sertão...
É o caminho da Deserta
É você no coração
Peruíbe, pequenina,
É cidade, é sertão...
A saudade, Peruíbe...
Me maltrata o coração
Fonte:
Família Zwarg
Família Zwarg
Alcântara Machado (O Mártir Jesus)
De acordo com a tática adotada nos anos anteriores Crispiniano B. de Jesus vinte dias antes do carnaval chorou miséria na mesa do almoço perante a família reunida:
- As coisas estão pretas. Não há dinheiro. Continuando assim não sei aonde vamos parar!
Fifi que procurava na Revista da Semana um modelo de fantasia bem bataclã exclamou mastigando o palito:
- Ora, papai! Deixe disso...
A preta de cabelos cortados trouxe o café rebolando. Dona Sinhara coçou-se toda e encheu as xícaras.
- Pra mim bastante açúcar!
Crispiniano espetou o olhar no Aristides. Espetou e disse:
- Pois aí está! Ninguém economiza nesta casa. E eu que aguente o balanço sozinho!
A família em silêncio sorveu as xícaras com ruído. Crispiniano espantou a mosca do açucareiro, afastou a cadeira, acendeu um Kiss-Me-De-Luxo, procurou os chinelos com os pés. Só achou um.
- Quem é que levou meu chinelo daqui?
A família ao mesmo tempo espiou debaixo da mesa. Nada. Crispiniano queixou-se duramente da sorte e da vida e levantou-se.
- Não pise assim no chão, homem de Deus!
Pulando sobre um pé só foi até a salinha do piano. Jogou-se na cadeira de balanço. Começou a acariciar o pé descalço. A família sentou-se em torno com a cara da desolação.
- Pois é isso mesmo. Há espíritos nesta casa. E as coisas estão pretas. Eu nunca vi gente resistente como aquela da Secretaria! Há três anos que não morre um primeiro-escriturário!
Maria José murmurou:
- É o cúmulo!
Com o rosto escondido pelo jornal Aristides começou pausadamente:
- Falecimentos. Faleceu esta madrugada repentinamente em sua residência à Rua Capitão Salomão n. 135 o Senhor Josias de Bastos Guerra, estimado primeiro-escriturário da...
Crispiniano ficou pálido.
- Que negócio é esse? Eu não li isso não!
Fifí já estava atrás do Aristides com os olhos no jornal.
- Ora bolas! É brincadeira de Aristides, papai.
Aristides principiou uma risada irritante.
- Imbecil!
- Não sei por que...
- Imbecil e estúpido!
Da copa vieram gritos e latidos desesperados. Dona Sinhara (que ia também descompor o Aristides) foi ver o que era. E chegaram da copa então uivos e gemidos sentidos.
- O que é, Sinhara?
Não é nada. O Totónio brigando com Seu Mé por causa do chinelo.
- Traga aqui o menino e ponha o cachorro no quintal!
O puxão nas orelhas do Totónio e a reconquista do chinelo fizeram bem a Crispiniano. Espreguiçou-se todo. Assobiou mas muito desafinado. Disse para Fifi:
- Toque aquela valsa do Nazaré que eu gosto.
- Que valsa?
- A que acaba baixinho.
Carlinhos fez o desaforo de sair tapando os ouvidos.
As meninas iam fazer o corso no automóvel das odaliscas. Ideia do Mário Zanetti pequeno da Fifi e primogênito louro do Seu Nicola da farmácia onde Crispiniano já tinha duas contas atrasadas (varizes da Sinhara e estômago do Aristides).
Dona Sinhara veio logo com uma das suas:
- No Brás eu não admito que vocês vão.
- Que é que tem de mais? No carnaval tudo é permitido...
- Ah! é? Êta falta de vergonha, minha Nossa Senhora!
Maria José (segunda-secretária da Congregação das Virgens de Maria da paróquia) arriscou uma piada pronominal:
- Minha ou nossa?
- Não seja cretina!
Jogou a fantasia no chão e foi para outra sala soluçando.
Totónio gozou esmurrando o teclado.
O contínuo disse:
- Macaco pelo primeiro.
Abaixou a cabeça vencido. Sim, senhor. Sim, senhor. O papel para informar ficou para informar. Pediu licença ao diretor. E saiu com uma ruga funda na testa. As botinas rangiam. Ele parava, dobrava o peito delas erguendo-se na ponta dos pés, continuava. Chiavam. Não há coisa que incomode mais. Meteu os pés de propósito na poça barrenta. Duas fantasias de odalisca. Duas caixas de bisnaga. Contribuição para o corso. Botinas de cinquenta mil réis. Para rangerem assim. Mais isto e mais aquilo e o resto. O resto é que é o pior. Facada doída do Aristides. Outra mais razoável do Carlinhos. Serpentina e fantasia para as crianças. Também tinham direito. Nem carro de boi chia tanto. Puxa. E outras coisas. E outras coisas que iriam aparecendo.
Entrou no Monte de Socorro Federal.
Auxiliado pela Elvira o Totónio tanta malcriação fez, abrindo a boca, pulando, batendo o pé, que convenceu Dona Sinhara.
- Crispiniano, não há outro remédio mesmo: vamos dar uma volta com as crianças.
- Nem que me paguem!
O Totónio fantasiado de caçador de esmeraldas (sugestão nacionalista do Doutor Andrade que se formara em Coimbra) e a Elvira de rosa-chá ameaçaram pôr a casa abaixo. Desataram num choro sentido quebrando a resistência comodista (pijama de linho gostoso) de Crispiniano.
- Está bem. Não é preciso chorar mais. Vamos embora. Mas só até o Largo do Paraíso.
Na Rua Vergueiro Elvira de ventarola japonesa na mão quis ir para os braços do pai.
- Faça a vontade da menina, Crispiniano.
Domingo carnavalesco. Serpentinas nos fios da Light. Negras de confete na carapinha bisnagando carpinteiros portugueses no olho. O único alegre era o gordo vestido de mulher. Pernas dependuradas da capota dos automóveis de escapamento aberto. Italianinhas de braço dado com a irmã casada atrás. O sorriso agradecido das meninas feias bisnagadas. Fileira de bondes vazios. Isso é que é alegria? Carnaval paulista.
Crispiniano amaldiçoava tudo. Uma esguichada de lança-perfume bem dentro do ouvido direito deixou o Totónio desesperado.
- Vamos voltar, Sinhara?
- Não. Deixe as crianças se divertirem mais um bocadinho só.
Elvira quis ir para o chão. Foi. Grupos parados diziam besteiras. Crispiniano com o tranco do toureiro quase caiu de quatro. E a bisnaga do Totónio estourou no seu bolso. Crispiniano ficou fulo. Dona Sinhara gaguejou revoltada. Totónio abriu a boca. Elvira sumiu.
Procura-que-procura. Procura-que-procura.
- Tem uma menina chorando ali adiante.
Sob o chorão a chorona.
- O negrinho tirou a minha ventarola.
Voltaram para casa chispando.
Terça-feira entre oito e três quartos e nove horas da noite as odaliscas chegaram do corso em companhia do sultão Mário Zanetti.
Crispiniano com um arzinho triunfante dirigiu-lhes a palavra:
- Ora até que enfim! Acabou-se, não é assim? Agora estão satisfeitas. E temos sossego até o ano que vem.
As odaliscas cruzaram olhares desalentados. O sultão fingia que não estava ouvindo.
Maria José falou:
- Nós ainda queríamos ir no baile do Primor, papai...
Será possível?
- Hã? Bai-le do Pri-mor?
Dona Sinhara perguntou também:
- Que negócio é esse?
- É uma sociedade de dança, mamãe. Só famílias conhecidas. O Mário arranjou um convite pra nós...
Deixaram o sultão todo encabulado no tamborete do piano e vieram discutir na sala de jantar.
(Famílias distintas. Não tem nada demais. As filhas de Dona Ernestina iam. E eram filhas de vereador. Aí está. Acabava cedo. Só se o Crispiniano for também. Por nada deste mundo. Ora essa é muito boa. Pai malvado. Não faltava mais nada. Falta de couro isso sim. Meninas sem juízo. Tempos de hoje. Meninas sapecas. O mundo não acaba amanhã. Antigamente - hem Sinhara? - antigamente não era assim. Tratem de casar primeiro. Afinal de contas não há mal nenhum. Aproveitar a mocidade. Sair antes do fim. É o último dia também. Olhe o remorso mais tarde. Toda a gente se diverte. São tantas as tristezas da vida. Bom. Mas que seja pela primeira e última vez. Que gozo.)
No alto da escada dois sujeitos bastante antipáticos (um até mal-encarado) contando dinheiro e o aviso de que o convite custava dez mil réis mas as damas acompanhadas de cavalheiros não pagavam entrada.
Tal seria. Crispiniano rebocado pelo sultão e odaliscas aproximou-se já arrependido de ter vindo.
- O convite, faz favor?
- Está aqui. Duas entradas.
O mal-encarado estranhou:
- Duas? Mas o cavalheiro não pode entrar.
Ah! isso era o cúmulo dos cúmulos.
- Não posso? Não posso por quê?
- Fantasia obrigatória.
E esta agora? O sultão entrou com a sua influência de primo do segundo vice-presidente. Sem nenhum resultado. Crispiniano quis virar valente. Que é que adiantava? Fifi reteve com dificuldade umas lágrimas sinceras.
- Eu só digo isto: sozinhas vocês não entram!
O que não era mal-encarado sugeriu amável:
- Por que o senhor não aluga aqui ao lado uma fantasia?
Crispiniano passou a língua nos lábios. As odaliscas não esperaram mais nada para estremecer com pavor da explosão. Todos os olhares bateram em Crispiniano B. de Jesus. Porém Crispiniano sorriu. Riu mesmo. Riu. Riu mesmo. E disse com voz trêmula:
- Mas se eu estou fantasiado!
- Como fantasiado?
- De Cristo!
- Que brincadeira é essa?
- Não é brincadeira: é ver-da-de!
E fez uma cara tal que as portas do salão se abriram como braços (de uma cruz).
Fonte:
Alcântara Machado. Laranja-da-China. Publicado em 1928.
Alcântara Machado. Laranja-da-China. Publicado em 1928.
Estante de Livros (Livros de Nora Roberts) 1
O AMULETO
A arqueóloga marinha Tate Beaumont partilha com o pai uma grande paixão pelo mar e pela procura de tesouros. Ao longo dos anos, os dois fizeram muitas descobertas fabulosas. No entanto, uma relíquia tem-lhes escapado - a Maldição de Angelique, um amuleto precioso, cheio de histórias, cujo legado é tenebroso e manchado de sangue. Não há dúvidas de que, se os Beaumont, quiserem encontrar tal tesouro, não conseguirão fazê-lo sozinhos - razão pela qual têm de se unir aos mergulhadores Buck e Matthew Lassiter. Esse o ponto de partida de uma aventura e um conturbado romance, no qual a troca de olhares entre Tate e Matthew passeia entre a atração e a desconfiança. Assim, apesar das diferenças, os Beaumont e os Lassiter sabem que a soma de suas habilidades e experiências é a chave para que possam localizar a Maldição de Angelique. Há, no entanto, algumas coisas que Matthew se recusa a partilhar - incluindo a verdade sobre o mistério que envolve a morte de seu pai. Por enquanto, Tate e Matthew são parceiros relutantes - até que o perigo e o desejo comecem a vir à tona.
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DOCE VINGANÇA
Doce vingança traz a história de Adrianne, linda e elegante princesa, que esconde um terrível segredo de família. Quando criança, foi testemunha da crueldade com que seu pai tratava a esposa, sua mãe - uma lendária estrela de cinema. Ao tornar-se adulta, Adrianne alimenta um forte desejo de vingança contra aquele que destruiu sua infância e a felicidade de sua mãe. Para realizar seu intento, Adrianne concebe um plano que envolve um fabuloso colar, conhecido como O Sol e a Lua, de valor inestimável e que pertence a seu pai. Mas o surgimento de Philip Chamberlain em sua vida, com sua inteligência, encanto e enigmático carisma, que tem motivos pessoais para se aproximar da Princesa Adrianne, poderá desviá-la de seu objetivo, e somente tarde demais ela perceberá o perigo oculto ao descobrir que tem pela frente dois homens de força excepcional - um com a capacidade de tirar a sua liberdade, outro com o poder de tirar a sua vida.
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TRÊS DESTINOS
Quando o Lusitania afundou, mais de mil passageiros morreram. Entretanto, Felix sobreviveu e tornou-se um homem diferente, renunciando à vida de pequeno ladrão, embora guardasse consigo uma certa estatueta de prata que roubara no navio, uma herança de família para as gerações futuras. Mas hoje, quase um século depois, aquela mesma estatueta de prata, peça de um conjunto triplo, de valor inestimável, mas há muito separados, foi roubada dos Sullivans. E os irmãos Malachi, Gideon e Rebecca Sullivan estão determinados a recuperar o tesouro deixado por seu trisavô, reunir os três destinos e prosperar. Tal busca os levará para muito longe da Irlanda. Primeiro a Helsinque, onde Malachi conhecerá Tia Marsh, estudiosa americana, cujos privilégios familiares e seus conhecimentos de mitologia grega encobrem uma mulher frágil, atormentada pelo medo. Sua família tem um vínculo importante com a misteriosa estatueta desaparecida. Depois à cidade de Praga, lugar em que uma exótica dançarina chamada Cleo irá encantar Gideon Sullivan... e se lançar num jogo que mudará a sua vida para sempre. E, por fim, a Nova York, onde um especialista em segurança, Jack Burdett, irá se unir aos Sullivans na luta contra uma mulher perigosa, que não se deterá diante de nada para se apossar das três estatuetas. Em ritmo vertiginoso, transbordando romance e paixão, pelos quais Nora Roberts é famosa, Três Destinos é um dos seus melhores livros, uma inesquecível história de sorte, amor e decisões que moldam a vida das pessoas.
Fonte:
Visionvox
Visionvox
quinta-feira, 12 de agosto de 2021
Carolina Ramos (Um minuto apenas)
Pauliceia. Fim de tarde.
Dois trens do metrô emparelham-se em rumos contrários.
Os olhos da moça captam os olhos dele, emoldurados pela janela oposta. Boa figura...belo homem! Com rapidez, analisa-lhe o semblante. Avaliação positiva. Olhar profundo, magnético... intenso. Elegância sóbria. Alguém bem de vida,., pelo menos, aparentemente. Casado? Solteiro? Compromissado? Pela insistência com que a fitava, deveria ser livre. Ou, não mereceria o bom conceito.
Não mais do que um minuto... e a eloquência daqueles olhos bonitos já a envolviam com sedução irresistível. Sedução à Omar Shariff... que lhe dizia tanta coisa gostosa de ser ouvida... sentida... sonhada! Parecia até ouvir ecos da Canção de Lara pairando no ar!
Bem que poderia ser, aquele, o homem de sua vida! O radar feminino capta a reciprocidade das emoções. Emoções não camufladas - que a urgência do instante não admite máscaras!
Presente, a simbiose de almas. Almas não precisam de apresentação. Descobrem-se. Unem-se, sem mais aquela, como polos que se atraem... ou se repelem, sem mesmo conhecer os porquês.
Um apito prolongado... e outro mais... Os dois comboios, reanimados, arrastam-se preguiçosamente, em rumos opostos, não querendo partir... tristemente solidários à magia daquele instante.
Em dois pares de olhos, a angústia explícita da iminência do adeus! Adeus a separar dois seres que, de surpresa, a vida juntara... para em seguida separar mediante a dolorosa e cruel chancela do nunca mais.
No banco fronteiro à moça, alguém bastante observador e curioso, indaga a si mesmo: - Imaginação fértil? - Ou tudo acontecera, de fato, como num filme de cinema mudo, de metragem curtíssima... ao inteiro dispor dos seus olhos?!
O brilho diferente e úmido no olhar daquela moça, dizia muita coisa mais.
Haveria um novo encontro? Quando? Nunca?! - Só a vida seria capaz de responder a tanta curiosidade, a dar base a outro capítulo, por ora, imprevisível.
Indiferente ao depois, aquele homem que tudo observava disfarça um sorriso, certo de ter em mãos matéria suficiente para estruturar novo conto. Um conto com base real e, sem dúvida... bastante poético!
Os trens da vida, por sua vez, prosseguem em sua marcha... a empurrar e puxar vagões bitolados por destinos os mais diversos... A cruzar trilhos... A emparelhar vidas opostas, em rumos do nunca mais.
Bem igual àquele trem da Pauliceia que, sem saber, transportava uma página de história interrompida, de final desconhecido e imprevisível.
Já desinteressado, o observador solitário boceja... Guarda o argumento num bolso secreto da memória... E ainda longe do seu destino, abre o jornal e mergulha de cabeça no prosaísmo cotidiano... enquanto o trem apita e acelera a marcha para chegar mais depressa.
Dois trens do metrô emparelham-se em rumos contrários.
Os olhos da moça captam os olhos dele, emoldurados pela janela oposta. Boa figura...belo homem! Com rapidez, analisa-lhe o semblante. Avaliação positiva. Olhar profundo, magnético... intenso. Elegância sóbria. Alguém bem de vida,., pelo menos, aparentemente. Casado? Solteiro? Compromissado? Pela insistência com que a fitava, deveria ser livre. Ou, não mereceria o bom conceito.
Não mais do que um minuto... e a eloquência daqueles olhos bonitos já a envolviam com sedução irresistível. Sedução à Omar Shariff... que lhe dizia tanta coisa gostosa de ser ouvida... sentida... sonhada! Parecia até ouvir ecos da Canção de Lara pairando no ar!
Bem que poderia ser, aquele, o homem de sua vida! O radar feminino capta a reciprocidade das emoções. Emoções não camufladas - que a urgência do instante não admite máscaras!
Presente, a simbiose de almas. Almas não precisam de apresentação. Descobrem-se. Unem-se, sem mais aquela, como polos que se atraem... ou se repelem, sem mesmo conhecer os porquês.
Um apito prolongado... e outro mais... Os dois comboios, reanimados, arrastam-se preguiçosamente, em rumos opostos, não querendo partir... tristemente solidários à magia daquele instante.
Em dois pares de olhos, a angústia explícita da iminência do adeus! Adeus a separar dois seres que, de surpresa, a vida juntara... para em seguida separar mediante a dolorosa e cruel chancela do nunca mais.
No banco fronteiro à moça, alguém bastante observador e curioso, indaga a si mesmo: - Imaginação fértil? - Ou tudo acontecera, de fato, como num filme de cinema mudo, de metragem curtíssima... ao inteiro dispor dos seus olhos?!
O brilho diferente e úmido no olhar daquela moça, dizia muita coisa mais.
Haveria um novo encontro? Quando? Nunca?! - Só a vida seria capaz de responder a tanta curiosidade, a dar base a outro capítulo, por ora, imprevisível.
Indiferente ao depois, aquele homem que tudo observava disfarça um sorriso, certo de ter em mãos matéria suficiente para estruturar novo conto. Um conto com base real e, sem dúvida... bastante poético!
Os trens da vida, por sua vez, prosseguem em sua marcha... a empurrar e puxar vagões bitolados por destinos os mais diversos... A cruzar trilhos... A emparelhar vidas opostas, em rumos do nunca mais.
Bem igual àquele trem da Pauliceia que, sem saber, transportava uma página de história interrompida, de final desconhecido e imprevisível.
Já desinteressado, o observador solitário boceja... Guarda o argumento num bolso secreto da memória... E ainda longe do seu destino, abre o jornal e mergulha de cabeça no prosaísmo cotidiano... enquanto o trem apita e acelera a marcha para chegar mais depressa.
Fonte:
Carolina Ramos. Canta… Sabiá! (folclore).
Carolina Ramos. Canta… Sabiá! (folclore).
Santos/SP: Mônica Petroni Mathias, 2021.
Capítulo 5: Contos rústicos, telúricos e outros mais.
Livro enviado pela autora.
Livro enviado pela autora.
Clarisse da Costa (Mensagem na Garrafa) Seja feliz por você
Não fique procurando por um amor. Quanto mais a gente procura, mais a gente se magoa. Falo isso por experiência própria. Acho que o amor acontece quando tem que acontecer, de forma natural. Dê um tempo a si mesmo. Às vezes vale a pena chorar de tanta felicidade pelas nossas conquistas do que por quem sequer soube nos amar.
Vire a página e escreva uma nova história. Sentir falta de ter alguém, de deitar a cabeça no seu colo, de ter aquele apoio, faz parte, é natural. Mas não podemos nos anular e esquecer quem somos.
Deixe o tempo conduzir tudo. Em algum momento da vida vai aparecer aquela pessoa que te valorize, que te respeite, que te ame e te assuma. Caso contrário, não se abale, fique sozinha, abrace seus planos, construa novos sonhos…
Estar sozinha não é algo ruim. A solidão só é horrível quando não encontramos mais motivos para viver e lutar pelos nossos sonhos.
Faça o seguinte, dance pela sala, ouça a sua melhor música, comemore tudo que você conquistou. Tome uma bebida ou um suco. Mas seja feliz por você.
Fonte:
Texto enviado por Samuel C. Da Costa
Texto enviado por Samuel C. Da Costa
Jaqueline Machado (Gabriela feita de cravo, canela e amor)
"Eu acredito que ela tem um tipo de magia que provoca revoluções e promove grandes descobertas. Não há nada que eu goste mais do que observar Gabriela no meio de um grupo de pessoas. Você sabe o que ela me lembra? Uma rosa perfumada num buquê de flores artificiais."
Assim, com doces palavras e ar de espanto, Jorge, O AMADO, se referia a uma de suas personagens favoritas. Na verdade, ela é mais que uma personagem, é um ideal de mulher perfeita. E vejamos que mesmo em dias atuais, esse ideal não se encaixa e até repele os moldes da dita perfeição inventada pelo falso moralismo da sociedade.
Gabriela, a famosa cozinheira de seu Nacib, já veio ao mundo temperada com cravo e canela. E logo tornou-se dona de si. DONA DELA. O árabe mais famoso da literatura baiana, jamais conheceu outra mulher igual, sempre pronta para os afazeres da casa, sabia cozinhar e organizar as coisas como ninguém.
Pouco se zangava, se contentava com pouco e vivia a sorrir. Feito menina, brincava com as crianças e com ele, ao entardecer fazia amor. E o seu amor era um amor diferente dos demais, costumava ser mais cheio de curvas, lábios e lençóis...
Eles se uniram, separaram-se e depois uniram-se novamente, porque depois de descobrir a simplicidade, a sensualidade e o amor quente de Gabriela, sem ela, seu Nacib, o “Moço Bonito”, como era chamado por sua deusa, não poderia continuar a existir.
Assim, com doces palavras e ar de espanto, Jorge, O AMADO, se referia a uma de suas personagens favoritas. Na verdade, ela é mais que uma personagem, é um ideal de mulher perfeita. E vejamos que mesmo em dias atuais, esse ideal não se encaixa e até repele os moldes da dita perfeição inventada pelo falso moralismo da sociedade.
Gabriela, a famosa cozinheira de seu Nacib, já veio ao mundo temperada com cravo e canela. E logo tornou-se dona de si. DONA DELA. O árabe mais famoso da literatura baiana, jamais conheceu outra mulher igual, sempre pronta para os afazeres da casa, sabia cozinhar e organizar as coisas como ninguém.
Pouco se zangava, se contentava com pouco e vivia a sorrir. Feito menina, brincava com as crianças e com ele, ao entardecer fazia amor. E o seu amor era um amor diferente dos demais, costumava ser mais cheio de curvas, lábios e lençóis...
Eles se uniram, separaram-se e depois uniram-se novamente, porque depois de descobrir a simplicidade, a sensualidade e o amor quente de Gabriela, sem ela, seu Nacib, o “Moço Bonito”, como era chamado por sua deusa, não poderia continuar a existir.
Fonte:
Texto e imagem enviados pela autora.
Texto e imagem enviados pela autora.
terça-feira, 10 de agosto de 2021
Versejando 71
Pintura de fundo: autor anônimo, obtida em Dreamstime
Concurso de Trovas "Príncipe da Trova Luiz Otávio"
Atenção trovadores
Breve será lançado o segundo Concurso de Trovas do Blog:
Concurso de Trovas “Príncipe da Trova Luiz Otávio”
O prazo será até 30 de novembro de 2021
Âmbitos:
Nacional/Internacional e
Estadual (somente para trovadores do Paraná)
(Veteranos e Novos Trovadores)
AGUARDE O REGULAMENTO!!!!!
Realização:
Blog Pavilhão Literário Singrando Horizontes
(http://singrandohorizontes.blogspot.com)
Apoio:
Academia Brasileira de Trova (ABT),
Academia de Letras e Artes de Paranapuã (ALAP)
AGUARDE O REGULAMENTO!!!!!
Milton Sebastião Souza (A fila da morte)
Uma fila de quase mil pessoas. E ele entre os últimos dez. A fila andava pouco. E o pior é que não lembrava o que estava fazendo naquela fila. Bateu no ombro do sujeito da frente e perguntou: “Esta fila é para que?”.
O cara, sem sorrir, respondeu: “Olha, eu não sei muito bem. Mas se está com pressa, pode passar para a frente e ocupar o meu lugar”.
Agradeceu a gentileza, passou para o lugar do outro, e fez a mesma pergunta para a mulher que ficara na sua frente. A resposta foi a mesma e a gentileza também. Em poucos minutos ganhara dois lugares. Que sorte!!! Mas ainda não sabia o que estava fazendo ali. Ainda bem que a fila andou uns quatro passos. Mas ainda não conseguia enxergar o começo dela, pois havia uma espécie de neblina lá na frente.
Neste momento, notou que um rapaz todo vestido de branco caminhava pelo lado da fila, entregando senhas numeradas para todos. Esperou, pacientemente, o rapaz se aproximar. Quando o moço estendeu uma senha, ele perguntou: “Que fila é esta. Não lembro o que estou fazendo aqui”.
O rapaz, com um sorriso, respondeu: “Esta é a fila para o encontro com a morte. Lá no começo, a morte está sentada no seu trono. Quando o senhor chegar na frente dela vai saber se o seu destino é o céu ou o inferno. Eu estou entregando senhas porque algumas pessoas estão trocando de lugar e indo mais para trás. Assim, com estes números, ninguém vai enganar a morte: cada um chegará na frente dela na sua hora marcada”.
Fila da morte. Meus Deus!!! E ele passara dois lugares para a frente. Que trouxa!!! Enganado duplamente. Olhou para trás, mas os dois enganadores já tinham conseguido dar vários passos para trás. Pensou: “Desgraçados. O inferno está esperando por vocês, seus miseráveis”.
Sentiu um empurrão nas costas. A fila havia andado e ele ficara parado, deu quatro passos para a frente, sem muita vontade. Pensou em sair correndo, mas notou que a fila ocupava um longo corredor sem janelas. E alguns seguranças, armados, olhavam ameaçadoramente para quem pensasse em sair da fila. E ninguém queria morrer antes da hora...
Lembrou das muitas filas que havia enfrentado durante a vida. Sempre tivera muita pressa e, muitas vezes, furara filas para não ficar esperando. Ou promovera protestos, gritando: “Esta fila não anda, vamos dar um jeito nisso, vamos botar mais gente para atender...”.
Quantas broncas havia armado!!! A coisa que ele mais odiava era enfrentar filas. Chegara a pagar pessoas para ficar nas filas no seu lugar. E agora estava ali, torcendo para que a fila não andasse ou andasse bem devagar. Ainda bem que a morte atendia pessoalmente cada pessoa. A fila andava lentamente. Mas ele já estava achando rápida demais...
Começou a suar frio. Como se metera nesta? Relembrou os últimos acontecimentos. Estava bebendo com os amigos, numa alegria total. De madrugada, pegara o carro para ir para casa. E depois disso não lembrava de mais nada. Será que havia se metido num acidente de trânsito por dirigir embriagado?
Sentiu alguém batendo no seu ombro. Olhou para trás: era um policial. Falou: “Não adianta empurrar, meu. A fila anda devagar. E eu nem posso te dar o meu lugar porque já tenho a senha numerada. Vai com calma que a tua hora também chega”.
O policial, porém, pegou no seu ombro e sacudiu mais forte. E ele foi abrindo os olhos devagar. Num segundo, a fila da morte desapareceu. E ele notou que havia dormido sobre a direção do carro. Ainda estava no estacionamento do bar onde bebera com os amigos.
Cambaleando, saiu do carro e foi amparado pelo policial. Depois de acordar melhor, mostrou os documentos, e foi aconselhado a pegar um táxi para ir para casa. Uma fila de pessoas aguardava a chegada dos carros de aluguel. E ele, pacientemente, esperou a sua vez, pois aprendera, em sonho, que não era tão mau assim esperar numa fila…
O cara, sem sorrir, respondeu: “Olha, eu não sei muito bem. Mas se está com pressa, pode passar para a frente e ocupar o meu lugar”.
Agradeceu a gentileza, passou para o lugar do outro, e fez a mesma pergunta para a mulher que ficara na sua frente. A resposta foi a mesma e a gentileza também. Em poucos minutos ganhara dois lugares. Que sorte!!! Mas ainda não sabia o que estava fazendo ali. Ainda bem que a fila andou uns quatro passos. Mas ainda não conseguia enxergar o começo dela, pois havia uma espécie de neblina lá na frente.
Neste momento, notou que um rapaz todo vestido de branco caminhava pelo lado da fila, entregando senhas numeradas para todos. Esperou, pacientemente, o rapaz se aproximar. Quando o moço estendeu uma senha, ele perguntou: “Que fila é esta. Não lembro o que estou fazendo aqui”.
O rapaz, com um sorriso, respondeu: “Esta é a fila para o encontro com a morte. Lá no começo, a morte está sentada no seu trono. Quando o senhor chegar na frente dela vai saber se o seu destino é o céu ou o inferno. Eu estou entregando senhas porque algumas pessoas estão trocando de lugar e indo mais para trás. Assim, com estes números, ninguém vai enganar a morte: cada um chegará na frente dela na sua hora marcada”.
Fila da morte. Meus Deus!!! E ele passara dois lugares para a frente. Que trouxa!!! Enganado duplamente. Olhou para trás, mas os dois enganadores já tinham conseguido dar vários passos para trás. Pensou: “Desgraçados. O inferno está esperando por vocês, seus miseráveis”.
Sentiu um empurrão nas costas. A fila havia andado e ele ficara parado, deu quatro passos para a frente, sem muita vontade. Pensou em sair correndo, mas notou que a fila ocupava um longo corredor sem janelas. E alguns seguranças, armados, olhavam ameaçadoramente para quem pensasse em sair da fila. E ninguém queria morrer antes da hora...
Lembrou das muitas filas que havia enfrentado durante a vida. Sempre tivera muita pressa e, muitas vezes, furara filas para não ficar esperando. Ou promovera protestos, gritando: “Esta fila não anda, vamos dar um jeito nisso, vamos botar mais gente para atender...”.
Quantas broncas havia armado!!! A coisa que ele mais odiava era enfrentar filas. Chegara a pagar pessoas para ficar nas filas no seu lugar. E agora estava ali, torcendo para que a fila não andasse ou andasse bem devagar. Ainda bem que a morte atendia pessoalmente cada pessoa. A fila andava lentamente. Mas ele já estava achando rápida demais...
Começou a suar frio. Como se metera nesta? Relembrou os últimos acontecimentos. Estava bebendo com os amigos, numa alegria total. De madrugada, pegara o carro para ir para casa. E depois disso não lembrava de mais nada. Será que havia se metido num acidente de trânsito por dirigir embriagado?
Sentiu alguém batendo no seu ombro. Olhou para trás: era um policial. Falou: “Não adianta empurrar, meu. A fila anda devagar. E eu nem posso te dar o meu lugar porque já tenho a senha numerada. Vai com calma que a tua hora também chega”.
O policial, porém, pegou no seu ombro e sacudiu mais forte. E ele foi abrindo os olhos devagar. Num segundo, a fila da morte desapareceu. E ele notou que havia dormido sobre a direção do carro. Ainda estava no estacionamento do bar onde bebera com os amigos.
Cambaleando, saiu do carro e foi amparado pelo policial. Depois de acordar melhor, mostrou os documentos, e foi aconselhado a pegar um táxi para ir para casa. Uma fila de pessoas aguardava a chegada dos carros de aluguel. E ele, pacientemente, esperou a sua vez, pois aprendera, em sonho, que não era tão mau assim esperar numa fila…
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Recanto das Letras
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