CAROLINA RAMOS
Santos/SP
AOS QUE COMEÇAM...
Se escreves, nesse humilde e obscuro anonimato,
a enfrentar, com denodo, os lances audaciosos,
para a glória de um texto ou graça de um relato,
que não te anule o brilho, astral, dos mais famosos!
Sabes bem que o trabalho é teu fiel retrato.
Se és capaz de conter delírios ambiciosos,
no labor hás de ter o perfil mais exato
do ideal que conduz à frente os vitoriosos!
Quem folheia um jornal, pela manhã bem cedo,
desconhece, por certo, a nobre e intensa lida
que envolve o jornalista em seu diurno enredo.
Mas, quanto o valoriza aquele que, enfim, pensa:
- como seria o mundo apático e sem vida,
sem o bravo clamor... das máquinas da imprensa!
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Poema de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA
INCÓGNITO
Parti no alvorecer, ainda menino,
à procura do Amor e da Verdade
mas antes de se por o sol a pino
entre pedras perdi a identidade.
Debalde tento agora reencontrá-la
em cada esquina, em cada gesto e olhar...
- Quem sou? - pergunto ao céu e ele se cala;
- Que sou? – desesperado indago ao mar.
E sem respostas – pássaro sem ninho –
vou pela vida na indefinição
de quem procura, às cegas, um caminho
para o porto inseguro da ilusão.
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Soneto de
PAULO R. O. CARUSO
Niterói/RJ
ESPERANÇA ANTE A PRAGA
Tantos se foram, Pai, ante esta maladia
arrepiante que arrebata tantas vidas!
Toda a alegria viu-se filha da agonia!
Tantas famílias hoje mortas e falidas!
Valas comuns a gente amada em galhardia!
Pilhas de corpos lado a lado desvalidas!
Um frio intenso pela espinha me aturdia
até que ouvi sacras palavras perseguidas.
Tal como a praga pipocara ardentemente,
uma esperança veio a então cristalizar-se
na ponta doce duma agulha que nem arde!
Santa vacina abençoada, um grão presente
como o do trigo a gerar pão, multiplicar-se
e salvar vidas cedo, agora e mesmo tarde!
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
A dor que meu peito tem,
meu coração não publica.
Tome amor com quem quiser
que essa mágoa cá me fica.
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Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
O BAILE NA FLOR
Que belas as margens do rio possante,
Que ao largo espumante campeia sem par!
Ali das bromélias nas flores doiradas
Há silfos e fadas, que fazem seu lar...
E, em lindos cardumes,
Sutis vaga-lumes
Acendem os lumes
P'ra o baile na flor.
E então — nas arcadas
Das pet’las doiradas,
Os grilos em festa
Começam na orquesta
Febris a tocar...
E as breves Falenas
Vão leves,
Serenas,
Em bando
Girando,
Valsando,
Voando no ar! …
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Poema de
CRIS ANVAGO
Setúbal/ Portugal
TUDO É IMPORTANTE?
NÃO!
Só é importante o que eu quero que seja!
Os teus lábios cor de cereja
O teu sorriso que abraça o meu
O teu corpo mel
E, o meu corpo, extensão do teu…
O teu olhar que me encanta
No rio ou no mar sempre me espanta
A maneira do sorriso do teu olhar
Quando me canso do dia
volto para ti,
tudo é harmonia.
Foram minutos que perdi
que são preciosos todos os dias
Nas madrugadas despertas
Nas horas tão incertas
O sol sempre nasce
mesmo que não apareça
Tu sentes o calor do abraço
Não existe espaço entre nós
O coração bate no mesmo compasso
No mundo que é só nosso!
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Soneto de
MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937
BEIJOS MORTOS
Amemos a mulher que não ilude,
e que, ao saber que a temos enganado,
perdoa, por amor e por virtude,
pelo respeito ao menos ao passado.
Muitas vezes, na minha juventude,
evocando o romance de um noivado,
sinto que amei, outrora, quanto pude,
porém mais deveria ter amado.
Choro. O remorso os nervos me sacode.
e, ao relembrar o mal que então fazia,
meu desespero, inconsolado, explode.
E a causa desta horrível agonia,
é ter amado, quanto amar se pode,
sem ter amado, quanto amar devia.
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Haicai do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Folhas pelo chão,
São meus sonhos que se arrastam
cheios de ilusão!
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Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
CAÍRAM, UMA A UMA, PELO CHÃO
(Verso de Glória Merreiros)
Caíram, uma a uma, pelo chão
As perlas que eu chorei e tu choraste
Nessa hora em que, triste, me abraçaste
Fugindo ao mundo vil da solidão.
Tão frágil, a sofrer, teu coração
Batia no teu peito feito haste
Ao vento dessa dor que recusaste
E punha o teu olhar na escuridão.
De amor puxei teu corpo contra o meu
E quando a força usada me doeu
Eu cri que os nossos braços deram nó.
Mais forte do que nunca o nosso abraço
Deixou entre nós dois tão pouco espaço
Que eu soube que no amor somos um só.
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Soneto de
MACHADO DE ASSIS
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908
LINDÓIA
Vem, vem das águas, mísera Moema,
Senta-te aqui. As vozes lastimosas
Troca pelas cantigas deleitosas,
Ao pé da doce e pálida Coema.
Vós, sombras de Iguaçu e de Iracema,
Trazei nas mãos, trazei no colo as rosas
Que amor desabrochou e fez viçosas
Nas laudas de um poema e outro poema.
Chegai, folgai, cantai. É esta, é esta
De Lindóia, que a voz suave e forte
Do vate celebrou, a alegre festa.
Além do amável, gracioso porte,
Vede o mimo, a ternura que lhe resta.
"Tanto inda é bela no seu rosto a morte!"
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Poemeto de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP
Sou uma leve brisa,
o beijo do dia.
Uma lágrima na noite
fria, solidão sombria.
Sou doce perfume,
suave sangria.
Gargalhada aprisionada
ou veneno, sua alforria.
Sou a rosa do tango,
drama na alegria.
Rodopiando na valsa
sorrio, faço poesia.
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Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
MEU VERSO
Cheguei aqui para escrever meu verso,
trago papel, caneta e o pensamento.
Quero implorar à musa do Universo
inspiração e amor no meu intento.
Se este mundo se mostra tão perverso,
quero a flor, o perfume e o sentimento,
que o coração, contrito, esteja imerso
neste festim da rima, o meu alento.
Que a natureza, então, em vivas cores
seja mostrada em todos seus valores
e no meu verso não tenha rival.
Minha esperança é ver a natureza
amada, respeitada e com certeza;
- meu soneto seria universal!
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Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal
FALA-ME…
Fala-me ao nascer do dia,
no primeiro raio de Sol.
Fala-me com o perfume das flores
e eu pintarei o arco-íris com outras cores.
Fala-me ao entardecer,
quando o céu encontra o mar.
Fala-me com o voar das andorinhas
e eu mandar-te-ei lembranças minhas.
Fala-me no silêncio da noite,
na tranquilidade da cidade.
Fala-me com um simples olhar
e eu deixar-me-ei por lá ficar.
Porque entre nós as palavras são escassas,
são os nossos gestos que falam por si.
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Poeminha de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Apressados
passos
passam.
Por que
não passeiam?
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Dobradinha Poética de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
O ORATÓRIO
Ao atender meu apelo
se a vida se faz ingrata,
chego a sentir o desvelo
com que Deus sempre me trata!
* * *
A casa, da fazenda, imensa e bela!...
No quarto, que o lampião iluminava,
um oratório... e, à noite, acesa a vela,
alegre ou triste, minha avó rezava.
A casa, na cidade, bem singela!...
No quarto, quando o dia se apagava,
um oratório... e eu lembro a imagem dela,
alegre ou triste, minha mãe orava.
No quarto simples, quando a noite cai,
um oratório... e, a sós, eu clamo ao Pai,
alegre ou triste, muito Lhe agradeço
os dons da paz, saúde, vida e amor
e, de mãos postas, louvo ao meu Senhor,
pois deu-me muito mais do que mereço.
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Soneto de
JÉRSON BRITO
Porto Velho/ RO
GOSTOSA EMBRIAGUEZ
No teu abraço encontro placidez,
No teu sorriso, singular dulçor,
Na tua boca provo do licor,
Motivo da gostosa embriaguez.
Provoca-me teu corpo sedutor
E, assim, quando passeio em tua tez,
Mergulha o coração em calidez,
São toques revestidos de furor.
Se te entregares, linda, notarás
Meus olhos radiantes a fulgir.
Na busca do prazer sou fera edaz.
Confesso que teu mágico elixir
Maravilhosamente me compraz,
Não posso aos teus encantos resistir.
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Poetrix de
DALTON LUIZ GANDIN
São José dos Pinhais/PR
ARTE
Meu papel foi natura.
Agora,
eu imprimo cultura.
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Poema de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
DESEJO
Sou feita de atos e pensamentos
corpo e alma das letras em ação.
Mas o que mais me identifica e desenha meu perfil
são as palavras.
Eu sou o que escrevo, sou a palavra que me revela
nas entrelinhas dos meus poemas.
Queria tocar os corações das pedras,
queria que as pedras me lessem!
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Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
QUEM HÁ DE...
- Quem há de... - indagaste-me, vaidosa-
fazer minha razão titubear?
Bailávamos... estavas tão charmosa,
e eu, perdido inteiro, em teu olhar.
- Quem há de... - retruquei - que causa às rosas-
inveja, mesmo ao se despetalar?
e tu sorriste tão... maravilhosa...
que nem meu coração quis mais pulsar.
Fazendo, do salão, a alegoria
do enredo de um sonho particular,
o enlevo conduziu-me à fantasia
e quando me dei conta, despertei...
- Quem há de ser feliz sem se deixar
levar por este sonho que eu... sonhei?
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Soneto de
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP
AMIGOS
Deus proíbe a livre escolha de um irmão,
Consanguíneo ser gerado pelos pais;
Mas as forças dos Céus não negam, jamais,
Um amigo de verdade a nossa opção.
Quando a dúvida me vinha por inteiro
Face a algumas derrocadas frente à vida,
Foram teus braços abertos a acolhida,
À maneira de um confrade verdadeiro.
Pelas mãos firmes do amigo, pus-me em pé...
Teu apoio proporciona-me energia.
Nossa troca de instruções é sinergia
Que nos faz crescer na vida pela fé.
Horizontes amplos, tem nossa amizade!
Aprendi muito com teus ensinamentos
E também já te passei conhecimentos;
São pilares de total fraternidade.
Sobre o próximo, nós temos convergência
Com propósitos cabais de paz e amor...
Num planeta sem conflitos e sem dor,
Com o "ser" vencendo o "ter" na convivência.
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Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES
PARCERIA
Como não te sorrir, se vens tão mansa?…
Silente e a passos lentos me acompanhas,
sem nada me exigir, sem artimanhas;
parceira a me seguir desde criança!…
E como não chorar pelas façanhas,
tornando-se retalhos de lembrança,
se a idade pesa o prato da balança
e não me deixa chances de barganhas?…
Mas sem queixumes vãos… e sem tolice!
Nascemos “um pro outro”, (eu e a velhice),
e se estou vivo e aqui, é o que interessa.
Acato as leis do tempo, de bom grado,
e até feliz em ter-te, do meu lado…
Se assim não for, eu morro mais depressa!
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Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro RJ, 1901-1964
RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
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