sábado, 11 de dezembro de 2021

Versejando 92

 

A. A. de Assis (A Santa “Cola”)

A turminha do terceiro ano do ginásio entrou assustada na sala. Haveria prova de matemática na primeira aula. O professor distribuiu a folha com as questões. Momentos após flagrou um dos alunos entregando um papelzinho ao colega que estava na carteira ao lado e que parecia muito nervoso. O mestre foi lá, pegou o papel, enfiou no bolso, deu a maior bronca: “Vão os dois para a diretoria. Tudo admito, mas cola não. E logo você, Valtinho, que sempre me pareceu um aluno exemplar. Já para fora os dois. Nota zero”.

Os meninos tentaram explicar, não adiantou, saíram os dois chorando. Só então o professor tirou do bolso a “cola” e leu o que estava escrito. Empalideceu de vergonha. Era só um bilhetinho de encorajamento de colega para colega: “Entregue suas preocupações ao Senhor” (Salmo 55:22). Bem sem graça ao reconhecer seu ato falho, chamou de volta os garotos e mandou que fizessem a prova. Pediu desculpas na frente de todos. A classe aplaudiu. Valtinho, como de costume, ganhou 10; o colega que recebeu o bilhetinho com o salmo ganhou nota 8.

Passaram-se os anos. Já morando em Maringá, fiquei sabendo que Valtinho se tornara pastor. Hoje ele mora no céu e de lá certamente continua recomendando a cada amigo: “Entregue suas preocupações ao Senhor”.

Essa historinha aconteceu há mais de 70 anos, mas continua nítida em minha velha memória. Toda vez que me lembro dela fico pensando no sofrimento daquele professor. Ele tinha fama de bravo, porém no fundo era muito gente boa. Deve ter perdido algumas preciosas horas de sono remoendo remorsos pela injustiça involuntariamente cometida.

Por ser a ”cola” uma prática tão antiga quanto a própria escola, qualquer professor, vendo um aluno passar um papelzinho a outro durante a prova, de pronto supõe tratar-se de uma tentativa desleal de ajuda ao colega. Todavia no caso não era. E deu no que deu.

Decerto foi para evitar situações embaraçosas como essa que Jesus, o máximo sábio, alertou os seus discípulos: “Cuidado… não julguem pelas aparências”. As aparências muita vez enganam. Daí a generalizada aceitação do princípio segundo o qual “in dubio pro reo” (na dúvida, decida-se a favor do réu), ou seja: “melhor um culpado solto do que um inocente preso”. Claro: há sempre o risco de alguém desvirtuar o “in dubio”, usando-o indevidamente em benefício de pessoas comprovadamente culpadas. Mas, mesmo assim, até em nome da civilização, é fundamental que se mantenha válida a bela máxima jurídica.

Julgar é muito difícil – implica enorme responsabilidade. Um mínimo erro de interpretação pode levar o julgador a tomar decisões gravemente defeituosas.

E todos nós, por algum lapso, ou mais frequentemente por boa-fé, estamos sujeitos a cair nas teias de enganosas aparências. Conclusões apressadas são, portanto, arriscadas demais. Nem sempre o que parece “cola” é realmente “cola”. Pode ser um belíssimo salmo.

Obrigado, Valtinho. Valeu a lição.

(Crônica publicada no Jornal do Povo, 15/07/2021)

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

E-Book Tertúlia da Saudade: Cláudio de Cápua


Ebook em homenagem a Cláudio de Cápua, com trovas, poemas, letras de músicas, crônicas, contos, etc. obtidos em seus livros e site que possuía, a maioria postada neste blog.

Cláudio de Cápua, aviador, jornalista cultural, participou de filme e novelas, júri em programas de TV, editor da Revista Santos, Arte e Cultura, foi um dos fundadores da Seção cidade de São Paulo da União Brasileira dos Trovadores.

Veja mais sobre ele no ebook, você pode ler na tela de seu aparelho ou fazer o download dele (são 60 páginas em PDF) clicando AQUI.



Paulo Leminski (Versos Diversos) 14

Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.
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parem
eu confesso
sou poeta

cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face

parem
eu confesso
sou poeta

só meu amor é meu deus

eu sou o seu profeta
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o barro
toma a forma
que você quiser

você nem sabe
estar fazendo apenas
o que o barro quer
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o poema
na página
uma cortina

na janela
uma paisagem
assassina
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inverno
primavera
poeta é
quem se considera
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à pureza com que sonha
o compositor popular

um dia poder compor
uma canção de ninar
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no que eu sinta
sim um pouco de papel
muito de fita
e um tanto de tinta

pego esse mundo
bato na cabeça
quem sabe eu esqueça
quem sabe ele enfim

haikai do mundo
haikai de mim
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duas folhas na sandália
o outono
também quer andar
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hoje à noite
até as estrelas
cheiram a flor de laranjeira
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a palmeira estremece
palmas para ela
que ela merece
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relógio parado
o ouvido ouve
o tic tac passado
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passa e volta
a cada gole
uma revolta
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bateu na patente
batata
tem gente
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verde a árvore caída
vira amarelo
a última vez na vida
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no espelho
    de relance
a cor do sonho
    de ontem

Fonte:
Paulo Leminski. caprichos & relaxos. Publicado em 1983.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

A. A. de Assis (Saudade em Trovas) n. 21: Sophia Irene Canalles

 

Silmar Böhrer (Croniquinha) – 38 –

Sabemos que no sul do Brasil os invernos são rigorosos, inclementes, como dizem muitos. Nos dias de céu limpo, aqueles céus-azul-inspiração, mal cai a tarde já o frio investe até no garrão dos viventes.

Chega a noite, sai-se à rua onde encontra os jardins com interessantes coberturas - panos, toalhas, lençóis - feitas proteção dos verdes e flores que serão acossados pela tradicional geada. A paisagem noturna torna-se pitoresca com a visão de lobisomens e duendes varando madrugadas.

Noite fria enluarada / eu saio à rua inspiração / e vejo tanta assombração / escondendo as flores da geada.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Professor Garcia (Poemas do Meu Cantar) Trovas – 12 –

Ama a vida sem temor,
foge dos vis malefícios...
Quem perde a essência do amor
ganha a existência dos vícios!
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Às vezes mantenho a calma,
com certos sorrisos falsos,
para evitar que minha alma
curve-se a tantos percalços!
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Confessa um nobre ao plebeu,
que de nada se maldiz:
És bem mais feliz do que eu,
que sou um nobre infeliz!
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Das vozes que Deus envia,
o mais suave estribilho
vem da mãe, que ao fim do dia,
consola o choro do filho!
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Faça o bem a quem merece
e ensine ao próximo, o bem;
triste daquele que cresce
pisando os pés de outro alguém!
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Justiça cega? Me assusto,
que vergonhosa ilusão:
Cega? E prende um pobre e justo,
mas solta um rico e ladrão!
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Justiça!… Que desencanto!...
E, em decisões desiguais,
há mais riso do que pranto
nesses velhos tribunais!
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Morre a tarde e ao fim do dia,
lá nos varais da ilusão...
Há muito mais nostalgia
nas fraldas da solidão!
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Ninguém diga que não ama,
nem que nunca amou ninguém...
Que é por amor, que se clama,
pelo perdão de outro alguém!
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No banco da praça antiga,
ao longe, uma voz sem graça,
repete a mesma cantiga
da saudade que não passa!
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No casebre arruinado,
fecho os olhos, que surpresa:
Vejo sombras do passado
repartindo o pão na mesa!
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Nos momentos mais tristonhos,
a solidão, sem cautela
tenta jogar nos meus sonhos
as cinzas dos sonhos dela!
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Nosso amor, desde criança
faz tudo quanto precisa,
para orvalhar de esperança
os passos por onde pisa!
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Ó, velho destino atroz,
por que me tratas assim?.,.
Não vês que existe entre nós,
princípios que não têm fim?!...
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O vento que beija a flor,
no galho onde a flor se arrancha,
nem deixa marcas no amor,
nem deixa mágoas, nem mancha!
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Por que sempre ao por do sol
a tristeza se revela,
se Deus, na luz do arrebol,
põe sempre a tinta mais bela?!...
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Quando o por do sol me acalma
no silêncio em que medito,
eu sinto que o sol tem alma,
e a alma dele, é o infinito!
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Revendo fotos antigas,
em meio a tantas lembranças...
Vi muitas almas amigas
brincando como crianças!
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Se a solidão não tem fim,
nem dela, se escuta a voz...
Então, por que mesmo assim,
há solidão entre nós?!...
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Se o nosso amor se rebela
e se desfaz sem queixume,
essa culpa se revela,
na culpa do teu ciúme!
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Se tu crês na mão do amor,
sintas na mão que te afaga...
Que a mão que esmaga uma flor,
é a mão que também te esmaga!
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Só se acabava essa dança,
da maldade e do desdém...
Se a inocência da criança,
fosse a do adulto também!
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Temente a Deus e sozinha,
curva-se a pobre pagã,
e canta uma ladainha,
no altar mor da fé cristã!
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Um grande amor se descobre,
quando o prazer se agasalha...
Não, no palácio do nobre,
mas num casebre de palha!
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Um tempo!... Tu me pediste!
E foi esse tempo dado,
o instante de amor mais triste,
dos que vivi a teu lado!

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

Samuel da Costa (O Negro Caetano)


Em memória de Miguel Maria da Costa


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Era um silêncio constrangedor que se abatera na sala de jantar. O requinte da mesa sugeria que aquela seria uma família abastada. Dos talheres de prata dispostos na mesa aos aparelhos de cristais importados do velho continente.

Mas o que permanecia na cabeça das pessoas ali sentadas eram os gritos ensurdecedores de dor, há poucas horas passadas. Mas no coração e na mente do rico fazendeiro Adamastor de Sousa Andrade, aquele negro tinha ido longe demais ao afrontá-lo em público. Por isso tinha que chicoteá-lo: — Aquele negro maldito teve o que mereceu — resmunga o velho coronel sem levantar a cabeça e transparecendo uma profunda irritação em seu tom de voz. Sua mulher, já com a saúde frágil, decide ficar quieta como sempre ficava, bem como a filha do casal Sousa Andrade. Ambas conformadas com os constantes excessos de fúria do coronel.

Para Adamastor, já não bastava ver seu único filho homem criado com tanto zelo, voltar-se contra ele, monarquista e escravocrata convicto. Não poderia abrigar em seu lar, um republicano e abolicionista, mesmo que fosse seu filho. Não restando outra saída senão expulsá-lo de casa. O fato, de não saber onde tinha errado na educação daquele menino, deixou Adamastor profundamente magoado.

Sentado à mesa ainda ressonava na cabeça do velho coronel as palavras do negro Caetano posto no tronco: “- Vosmecê vai morre por dentro, coroné!” Aquelas palavras foram demais e ele tinha que pegar na chibata e pessoalmente dar uma lição no mondongueiro, tinha que chicoteá-lo até a morte. E em público, para que todos soubessem quem realmente mandava ali era ele, Adamastor, e ninguém mais. O sangue do escravo negro jorrou no chão e respingou em quem estava por perto.

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Atordoado pelo efeito do álcool na mente do outrora poderoso coronel Adamastor de Sousa Andrade, trazia as lembranças das palavras do negro Caetano: “- Vosmecê vai morre por dentro, coroné!” — Maltrapilho e macambúzio, perambulando pelas ruas da cidade, o velho coronel revê em sua combalida mente a mulher e filha, acometidas de uma doença grave e misteriosa, morrerem lentamente, sem ele nada poder fazer. Revê seu filho e adversário político vencê-lo na política. Seus fiéis amigos de longa data, lhe virando as costas um a um.

Contudo o que mais doía no peito no velho curumba, foi ver sua fazenda de café, a maior e mais produtiva da região, arruinar-se por causa de uma praga desconhecida, que ninguém jamais vira antes na região.

Aquilo significava realmente que ele tinha morrido por dentro.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Jaqueline Machado (O Pacto)


Pela beleza, se for preciso,
minto, roubo, engano e mato.
Diante da fonte, morreu Narciso,
mas eu não resisto ao meu retrato
.

No livro, o Retrato de Dorian Gray, do célebre autor, Oscar Wilde, o protagonista que dá título ao nome da obra, era um rapaz rico, belo e bom. Até que certo dia numa festa, conhece um pintor que deslumbra-se com sua beleza e aos poucos sua mente começa a mudar. Na verdade, Dorian não tinha consciência de sua estética maculada e perfeita. Sua beleza era rara já que manifestava –se em seu físico e, em seu interior, expressando sempre bons sentimentos.

Mas os dias passaram, a sua pintura foi feita. E só então ele se deu conta do quanto era belo e passou a se admirar tal qual Narciso na frente daquele quadro. A narrativa do livro descreve esse momento com as seguintes palavras:

Um ar de felicidade surgiu em seus olhos, como se ele tivesse se reconhecido pela primeira vez. O sentimento da própria beleza o assaltou como uma revelação. Ele nunca tinha o sentido antes. – Como é triste, murmurou Dorian Gray, eu vou ficar velho, horrível e medonho. Ele já jamais envelhecerá além desse dia de junho. Se pudesse ser diferente. Se eu pudesse permanecer sempre jovem e o quadro envelhecesse em meu lugar? Por isso eu daria tudo, não há nada em todo o mundo que eu não daria. Daria a minha alma por isso”. Sem perceber ele selou um pacto. A partir desse dia o jovem não mais perderia a sua juventude. Os sinais dos anos passarão para o quadro que ficou escondido dentro de um quarto fechado.

Ao fazer o pacto, sua inocência adormeceu. E como toda pessoa desalmada, passou a cometer muitos atos de crueldade.

Tudo em vão. Ao término da história, Dorian se desintegra junto do retrato.

Eis aí, a prova de que até podemos ser importantes para o mundo, mas chegamos a menos que nada, quando trocamos as verdadeiras riquezas, para desfrutar do que a vaidade nos oferece.

Muitos podem ser belos, bons e humildes, no entanto, a maioria de nós, no decorrer da jornada, se deixa seduzir pelo tal fruto proibido. Mergulha no mar de lama da falsidade e vira as costas para a luz do amor.

Esses pobres coitados, estão adormecidos nas garras da ignorância. Colocam Deus como se fosse uma espécie de Satanás, quando na verdade ele é o Deus das coisas simples e do bem fraterno. Grandeza celestial é tudo o que o Grande Pai nos oferece e deseja receber.

A vaidade faz parte do mundo e sempre fará. A sua função é provar os seres que se dizem humildes mas não são. Revelar os lobos que circulam pela Terra em peles de cordeiro. Esses que se deixam levar pelas mentiras da vida, pensam estar certos. No caminho da razão. Consideram-se ricos, quando na verdade estão nus, miseráveis e cegos.

Não esqueçamos: “Nem tudo o que parece ser, realmente é...”

Fonte:
Texto enviado pela autora.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Adega de Versos 61: Solange Colombara

 

Maria Helena Ururahy Campos da Fonseca (Caderno de Trovas)

A brisa o perfume espalha
na planície em Goytacazes.
Esse odor de cana e palha
és tu, saudade, quem trazes.
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A esperança que norteia
a vida sempre a girar
é a força que semeia
coragem pra caminhar...
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Anoitecer da jornada,
quando desponta o cansaço,
eu me sinto renovada
no calor do teu abraço.
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Antes de morrer na Cruz,
Jesus Cristo, nosso irmão,
mistério de fé e luz,
partilhou conosco o pão.
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Ao cair da tarde fria,
e quando a luz já se evade
eu tenho por companhia
os suspiros da saudade...
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As luzes do alvorecer,
em matiz resplandecente,
apagam-se ao entardecer,
levando os sonhos da gente...
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Com retalhos de lembrança
eu costurei, sem maldade,
meus amores de criança
com suspiros de saudade...
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Em uma gaiola encanta,
lindo pássaro a cantar!
Sem liberdade ele canta,
porque não sabe chorar...
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E procurando ensinar,
a minha vida passei,
pra no final constatar;
aprendi mais que ensinei.
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Estrela, eterna magia,
que traz à mente esquecida
lampejo que contagia
a saudade adormecida.
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Eu relembro a mocidade
sem perjúrio e sem revolta,
mas como dói a saudade
do tempo que não mais volta…
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Menina, que beijo doce!
Gostoso, vadio, arisco.
Teu beijo é como se fosse
saborear um chuvisco.
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Meu peito pulsa saudade,
sem chance, mas sem revolta,
relembrando a mocidade
que já se foi... não tem volta.
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Meu sorriso de beleza
com o tempo se apagou,
desgaste da natureza,
até meu espelho embaçou.
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Na solidão do meu leito,
quando a esperança se evade,
eu pranteio o amor desfeito,
triste missão da saudade.
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Niterói doce lembrança
que nem o tempo destrói.
Volto ao tempo de criança...
E como a saudade dói!
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Na trilha da vida, as flores
encontradas nos caminhos,
às vezes, trazem sabores,
às vezes, trazem espinhos.
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O abraço por gentileza
é bom até, quando dado,
mas bom mesmo, com certeza,
o abraço do ser amado!
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O ciúme é sal da vida,
não sofra à toa, por favor,
quem não o sofre, querida,
é porque não tem amor.
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O recado tão sonhado
que você tanto esperou
ficou sempre resguardado;
o correio não entregou.
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Privado da liberdade
lindo pássaro cantador,
na gaiola, de saudade,
canta triste a sua dor…
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Quando a bruma surge morna
e anuncia o fim do dia,
a saudade então se torna
a mais triste companhia.
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Quando a vida já findando,
vai levando a nossa história,
o passado vai lembrando
que o viver é uma vitória.
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Rosa flor, beleza ingrata,
nuance, perfume, cor!
Teu espinho que maltrata
mistura beleza e dor.
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Tão longe, triste soava
aquele som cristalino...
Era a saudade, chorava,
nas cordas do violino.
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Um dia a nossa amizade
em amor se transformou:
amor sublime, verdade,
que o tempo nunca apagou...
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Maria Helena Ururahy Campos da Fonseca, acadêmica fundadora do Ateneu Angrense de Letras e Artes e da Delegacia da UBT/Angra dos Reis, onde continua participando ativamente.

Presidiu o Ateneu Angrense de Letras e de Artes por dezessete mandatos (dois anos cada), alternadamente. Pertence, ainda, a outras instituições culturais. Integrou o Conselho de Cultura de Angra dos Reis de 1978 a 1991. Em 2007, retornou ao Conselho de Cultura, representando a setorial de Literatura.

Professora efetiva do Estado do Rio de Janeiro e do Município do Rio de Janeiro na área de Língua e Literatura Portuguesa. Exerceu o Magistério durante 47 anos. Durante a trajetória profissional dedicada ao Magistério, participou de cursos de especialização nas áreas pedagógica, linguística, literária e cultural.

Aposentada, participou do Curso de Extensão Cultural da Mulher, no Clube Militar do Rio de Janeiro, interrompido pela pandemia. Reside em Angra dos Reis.


Fonte:
Autores diversos da UBT-Angra dos Reis. Sementes poéticas. SP: Daya Ed., 2021.
Livro enviado por Jessé Nascimento.

Aparecido Raimundo de Souza (Porque?!)

EU QUERIA SABER o porquê de tantas coisas, e mais que saber, queria conseguir entender e, sobretudo, assimilar, perceber, compreender. Compreender, no sentido amplo de enlaçar, circundar, alcançar, ultrapassar aquela luminosidade forte e brilhante, densa e pesada, profunda e complexa que clareia todo meu ‘eu’ interior.

Mas, a mim me parece que, apesar de estar tudo desabrochado e ostensivamente manifesto, me pego amarrado. Digo tal coisa, porque sempre que procuro por respostas, cada vez que me empenho com certa ênfase em buscar o ‘xis’, desvendar o segredo, me deparar com a confidência do mistério, o enigma que me cerca e me rodeia, por todos os lados, não sei bem explicar qual a razão... desfalece.

Por assim dizer, observo que alguma coisa mais forte que a minha intenção me tolhe os movimentos, me embaralha as ideias, numa espécie de ebulição inquietante, ao tempo em que me obsta e acorrenta a vontade de seguir adiante. É como se algo incomensurável me podasse, me desviasse, me afastasse e me restringisse da rota programada. Apesar dos empecilhos que me sufocam e me tiram o ar, eu queria saber o porquê de tantas coisas...

Porque ser concebido, porque receber o ar benfazejo, porque esperar nove meses e nascer, se um dia nós vamos morrer? Porque viver, durar tantos e tantos anos, permanecer por aqui, se no decorrer, nós vamos sofrer? Afora isto, bem sei, chegará o tempo em que a esperança irá embora... como, igualmente, algum tempo depois, a nossa fé se extinguirá e se esgotará completamente.

E eu, na minha incerteza medonha e grandiosa, me questiono: e agora? Porque falar, falar, falar se não vai valer de nada, absolutamente de nada? Porque me posicionar, se ninguém vai me enxergar? Sou tão pequeno, tão comum, tão limitado e sem horizontes, que sequer serei notado, visto, encontrado, achado ou conhecido...

Desesperado, sem saber o que fazer, ou como agir, olho para o céu e tento falar com Deus. ‘Pai, porque me colocas em um lugar onde as pessoas só querem me pisotear, me alcachinar, me arrasar? Porque me deixa ao léu, para ser esmagado, enfraquecido, aniquilado e humilhado? Porque me provas e me martiriza, me afliges, me molesta e me oprime?...’

‘Senhor, porque me consterna e me angustia, se muitas vezes, não consigo suportar o peso do sofrimento; aguentar o desalento da depressão? Porque me vejo fraco, sem eira nem beira? Porque não encontro forças suficientes para me livrar do peso que me sufoca? Eu queria saber o porque de tantas coisas, e mais, queria saber, queria conseguir entender e, sobretudo, assimilar, perceber, compreender...’

‘Meu Pai, porque nascer, porque viver? Porque? Porque?’
Em resumo de tudo o que disse e escrevi acima,
eu queria saber o porquê
de tantas coisas...
Eu queria conseguir entender
e também compreender...

Porque nascer, se um dia
nós vamos morrer?
Porque viver, se no decorrer
nós vamos sofrer?

Chega o tempo, que a esperança
vai embora...
e chega o tempo
que a nossa fé
se esgota... e, agora?
Porque falar, se não vai valer de nada?
Porque me posicionar,
se ninguém vai me enxergar?

Porque me colocas
em um lugar em que as pessoas
só sabem me humilhar?
Porque me provas
se muitas vezes, não consigo aguentar?

Porque nascer?
Porque viver?
Porque?
Porque?!

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Minha Estante de Livros (A Torre Negra, de C. S. Lewis)

Continuação memorável das fantasias de C. S. Lewis, estas seis histórias revelam mais uma vez o poder e a visão deste importante contador de histórias, um dos nomes centrais da literatura de fantasia universal. A Torre Negra é um esboço de um quarto volume que daria continuidade à aclamada série de ficção científica de Lewis conhecida como Trilogia cósmica. Uma história cativante que continua as aventuras de personagens como Dr. Elwin Ransom e MacPhee. Na trama, cinco homens se reúnem no escritório de Orfeu, na Universidade de Cambridge, para testemunhar a violação do espaço-tempo por meio do cronoscópio, um telescópio que não olha apenas para um outro mundo, mas para outras dimensões. Ao longo das narrativas, seus personagens travam debates brilhantes sobre a matéria, no tempo e no espaço. Para os fãs de Crônicas de Nárnia e da Trilogia cósmica, este é um livro imprescindível.

No início do livro, o leitor encontrará um prefácio de Walter Hooper, secretário de C. S. Lewis, que conta informações sobre as seis histórias que contém no livro, e como ficou responsável pela publicação da obra.

Na primeira história, Walter comenta que o manuscrito de A Torre Negra, foi formado por sessenta e duas folhas e que buscou preservá-las da melhor maneira possível.

A história é iniciada com Orfeu dentro do  seu escritório, juntamente com seu assistente Scudamour e dois amigos  MacPhee e Ranson, conversando a respeito de um cronoscópio, um equipamento capaz de mostrar um tempo diferente do atual. Contudo, eles começam a perceber algumas semelhanças entre o mundo que eles vivem com o outro mundo que observam pelo cronoscópio e resolvem enviar um deles para a outra dimensão.  

Na segunda história O Homem que nasceu Cego, o Walter explica que foi encontrada em um dos cadernos que foram dados pelo irmão de Lewis. Robin é um homem que passou  por uma cirurgia para recuperar parte da visão. Antes da  cirurgia ele sempre ouvia as pessoas conversando sobre a luz, porém  após a recuperação, Robin  não era capaz de compreender totalmente o que era a luz.

Além  dessas duas histórias, também contém As Terras Fajutas, Anjos Ministradores, As  Formas das Coisas Desconhecidas e para finalizar o livro, a última história, Depois de Dez Anos, dando uma visão após a queda de Troia.

Lewis faz uma bela mescla de ficção científica e fantasia em A Torre Negra e o autor aborda de forma singela a vida. A leitura é ágil e dinâmica, porém o livro requer atenção do leitor, pois é um livro reflexivo e também incompleto, mas isso é algo que permite a nossa imaginação trabalhar. Os contos escritos por Lewis são curtos, porém conseguem despertar a atenção e curiosidade.

O Homem que Nasceu Cego pelo simples fato de utilizar belas metáforas que retratam a condição humana, as nossas limitações para compreender aquilo que nos é diferente, aquilo que nos rodeia. Esse é um livro impactante. As histórias  são curtas,  mas  contém uma narrativa que desperta interesse pelo enredo. A diagramação está ótima nas folhas amareladas. Não há nenhuma ilustração.

C.S. Lewis ou Clive Staples Lewis nasceu na Irlanda, em 1898. Em 1954, tornou-se professor de Literatura Medieval e Renascentista em Cambridge. Foi ateu durante muitos anos e se converteu em 1929. Essa experiência o ajudou a entender não somente a indiferença como também a indisposição de aceitar a religião. Suas obras são conhecidas por milhões de pessoas no mundo inteiro. A abolição do homem, Cartas de um diabo a seu aprendiz, Cristianismo puro e simples e Os quatro amores são apenas alguns de seus bestsellers. Escreveu também livros de ficção científica, de crítica literária e para crianças. Entre estes estão As Crônicas de Nárnia, sucesso mundial absoluto. C. S. Lewis morreu em 1963, em sua casa em Oxford.

Fontes
Amazon
Kênia Cândido, em Doces Letras
Mayara Frossard, em Saga Literária

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Varal de Trovas n. 538

 

Carlos Eduardo Novaes (O sonho do feijão)

Dona Abgail sentou-se na cama, sobressaltada, acordou o marido e disse-lhe que havia sonhado que iria faltar feijão.

Não era a primeira vez que esta cena ocorria. Dona Abgail consciente de seus afazeres de dona-de-casa vivia constantemente  atormentada por pesadelos desse gênero. E de outros gêneros, quase todos alimentícios. Ainda bêbado de sono o marido esticou o braço e apanhou a carteira sobre a mesinha de cabeceira: ”Quanto é que você quer?”

A mulher pensou um pouco e pediu o suficiente para comprar  15 quilos, ”depois se a situação se agravar você me dá para comprar mais 15.”

Levantou-se rápida, mudou de roupa e ligou para sua amiga, dona Etelvina que era uma espécie de líder das donas-de-casa de Irajá.

- Alô, Etelvina? Eu estou com o pressentimento de que vai faltar feijão.

- Feijão também?  Então deixa eu avisar rápido as outras.

Em menos de cinco minutos a notícia se espalhou por toda a cidade. As donas-de-casa possuem uma misteriosa  rede de comunicação por onde os boatos se propagam com a rapidez de um Boeing-747. É só alguém dizer que vai faltar, por exemplo, azeite, no Leblon, que em três minutos  já se forma uma fila no Méier.

Ao sair para comprar o feijão, dona Abgail atrasou-se um pouco para deixar seus quatro filhos na escola. Quando  parou na porta do supermercado viu uma fila enorme que se estendia por mais de 80 metros. Perguntou a uma das enfileiradas:

- Que fila é essa?

- É a do feijão.

Perfilou-se arrependida por ter revelado o seu sonho. Se não tivesse espalhado a notícia poderia fazer sua compra  tranquilamente pois ninguém saberia que o feijão ia faltar. Depois, dona Abgail começou a encontrar outras amigas, estabeleceu-se um animado bate-papo e acabou achando que aquela fila estava ótima. Era uma das melhores que já frequentara.

Existem algumas donas-de-casa que têm uma atração toda especial por fila. Para muitas há qualquer coisa de heroico numa fila: a espera, a paciência e o que é mais importante, a entrada triunfal em casa sobraçando o tão disputado produto. Esta é a realização suprema da dona-de-casa, daí elas não permitirem que suas empregadas as substituam nas filas.

Quando chegou a sua hora de comprar, dona Abgail percebeu que as prateleiras já estavam vazias. Voltou-se para dona Etelvina ao seu lado e comentou: ”eu não disse que iria faltar feijão?”

Ao sair notaram que já havia mais três filas formadas:

- Essa fila é de quê?

- De pasta de dentes.

- E essa?

- Essa é de papel higiênico.

- E essa? É pra quê?

- Pra nada.   É pra quem não tem o que fazer.

Dona Abgail que já não arranjara o feijão pensou que deveria levar alguma outra coisa. Entrou na fila do papel higiênico e convidou dona Etelvina para acompanhá-la, ”assim a gente aproveita e conversa um pouco.” Dona Abgail comprou 30 rolos de papel higiênico e voltou para casa.

Deu de cara com o marido que assustou-se ao vê-la chegar assim carregada e não resistiu em perguntar:

- Tem alguém desarranjado aqui em casa?

Com um apartamento pequeno, dona Abgail ficou sem saber onde colocar aqueles 30 rolos. Resolveu recorrer à sua vizinha dona Olga, companheira de mais de 10 anos de fila:

- Olga, será que eu posso deixar uns 10 rolinhos de papel higiênico em sua casa?

- Pode. Mas por quê?

- Porque como vai faltar eu resolvi estocá-lo.

- Vai faltar?  Não me diga.  E você não me avisou nada?

Dona Olga se arrumou rapidamente e correu ao supermercado. Já tinha oito filas, sendo que três delas só de papel higiênico. Para provar sua organização, as donas-de-casa fizeram uma fila para papel branco. Outra para papel rosa e outra para o azul. Dona Olga entrou na fila do azul que combinava com os azulejos de seu banheiro. Comprou 20 rolos (dona Olga era viúva e não tinha as mesmas condições econômicas de dona Abgail, que podia comprar rolos), cumprimentou algumas conhecidas de fila e perguntou:

- Alguém aí sabe o que vai faltar amanhã?

- Não sei - disse uma senhora que parecia ser a coordenadora da fila - mas parece que vai faltar azeitona.

- Verde ou preta?

- Ainda não decidimos.

- Se for verde você me telefona que eu venho.

A coordenadora informou também a dona Olga que provavelmente faltaria arroz. Dona Olga retornou à sua casa e tratou de avisar a dona Abgail que faltaria arroz.

- Oba! - gritou dona Abgail - Essa fila é das boas.

E correu ao quarto para botar o despertador para as cinco horas.

Dia seguinte levantou-se, fez o café do marido e saiu. A fila ainda estava pequena. Entrou e, caminhando lentamente, foi esbarrar no balcão de enlatados: ”Ué, mas eu vim para a fila do arroz.”

- Mas o arroz não vai faltar, - disse-lhe um empregado - não aqui.  Parece que está faltando em Bangu.

- E o senhor sabe se tem fila por lá?

- Olha, até as seis horas a fila dava a volta no quarteirão.

Dona Abgail não pensou duas vezes. Pegou um táxi e foi para Bangu. Realmente a fila estava gigantesca. Saltou  e indagou: ”Essa é a fila do arroz?”

- Não, é do óleo de soja.

- Mas como do óleo de soja? Não tem óleo de soja.

- Eu sei, - respondeu uma enfileirada - mas quando  chegar nós já estamos na fila.

A fila foi andando, andando e quando dona Abgail encostou no balcão o óleo de soja ainda não havia chegado. Aí dona Abgail não teve outra alternativa, pensou um pouco e comprou mais 30 rolos de papel higiênico.

Fonte:
Carlos Eduardo Novaes. A Travessia da Via Crucis. Publicado em 1975.

Sonetos Brasileiros *2*

Alceu Wamosy
Uruguaiana/RS, 1895 – 1923, Santana do Livramento

DESILUDIDO

Por que te hás de aquecer ao sol dessa esperança
nova, que despontou na tua alma ingênua e crente?
Se ela é como sorriso em lábio de criança,
que se há de transformar em pranto, de repente...

A ventura completa, é céu que não se alcança,
mas que a gente vislumbra, além, perpetuamente:
esse céu mentiroso, é um céu que foge e avança,
se é maior ou menor a aspiração da gente.

Sê simples e sê bom, mas não julgues que um dia,
hás de o teu coração, repleto de alegria,
para sempre fechar, como quem fecha um cofre!

Crê que a desilusão é o sonho pelo avesso,
e que só se é feliz, dando-se o mesmo apreço
ao gozo que se goza, e à mágoa que se sofre!
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Eduardo Guimaraens
Porto Alegre/RS, 1892 – 1928, Rio de Janeiro/RJ


CHOPIN: PRELÚDIO NO. 4

Do fundo do salão vem-me o seu pranto sobre-humano,
como do fundo irreal de um desespero hoje olvidado:
dir-se-ia que estes sons têm um tom de ouro avioletado;
há um anjo a desfolhar lírios de sombra sobre o piano.

Doce prelúdio! Que ermo e doloroso desengano
fala, através do seu vago perfume de passado?
Sobre Chopin a noite abre o amplo manto constelado:
um delírio de amor anda por tudo, insone, insano!

Em cada nota solta há como um lânguido lamento.
– Oh, a doçura de sentir que o teu olhar, perdido,
sonha, recorda e sofre, ao doce ritmo vago e lento!

E o silêncio! E a paixão que abre em adeus as mãos absortas!
E o passado que volta e traz consigo, inesquecido,
um aroma secreto e vago e doce, a flores mortas!
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Humberto de Campos
Miritiba/MA, 1886 – 1934, Rio de Janeiro/RJ


ÍNTIMO

Minha mãe! minha mãe! Tu, que adivinhas
esta mágoa amaríssima que eu canto,
tu, que trazes as pálpebras de pranto
cheias, tão cheias como eu trago as minhas;

tu, que vives em lágrimas, e tinhas
a vida, outrora, tão feliz, enquanto
deste teu filho, que tu queres tanto,
todas as mágoas serenando vinhas;

tu, que do astro do bem segues o brilho,
pede ao Deus que, apesar das tuas dores,
ainda persiste a castigar teu filho,

que eu não morra a sofrer, como hoje vivo,
esta angústia de uma árvore sem flores
e esta mágoa de pássaro cativo.
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Martins Fontes
Santos/SP, 1884 – 1937


BEIJOS MORTOS

Amemos a mulher que não ilude,
e que, ao saber que a temos enganado,
perdoa por amor e por virtude,
pelo respeito ao menos do passado.

Muitas vezes, na minha juventude,
evocando o romance de um noivado,
sinto que amei outrora quanto pude,
porém mais deveria ter amado.

Choro. O remorso os nervos me sacode.
E, ao relembrar o mal que então fazia,
meu desespero inconsolado explode.

E a causa desta horrível agonia,
é ter amado, quanto amar se pode,
sem ter amado quanto amar devia.
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Raul de Leoni
Petrópolis/RJ, 1895 – 1926, Itaipava/RJ


UNIDADE

Deitando os olhos sobre a perspectiva
das coisas, surpreendo em cada qual
uma simples imagem fugitiva
da infinita harmonia universal.

Uma revelação vaga e parcial
de tudo existe em cada coisa viva:
na corrente do bem ou na do mal
tudo tem uma vida evocativa.

Nada é inútil; dos homens aos insetos
vão-se estendendo todos os aspectos
que a ideia da existência pode ter;

e o que deslumbra o olhar é perceber
em todos esses seres incompletos
a completa noção de um mesmo ser...

Rubem Braga (Ele se chama Pirapora)

Chama-se Pirapora, o meu corrupião; eu o trouxe lá da  beira  do São Francisco, muito feio, descolorido e sem cauda. Consegui uma licença escrita para poder conduzi-lo; apesar disso houve um chato da companhia aérea que implicou com ele na baldeação em Belo Horizonte. Queria  que ele viesse no compartimento de bagagens,  onde  certamente  morreria  de frio ou de tédio. Houve muita discussão, da qual Pirapora se aproveitou para  conquistar a amizade de um negro carregador, limpando-lhe carinhosamente a unha com o  bico. Encantado com o passarinho, esse carregador me ajudou a ludibriar o exigente funcionário, e fizemos boa viagem.

A princípio eu me preocupava em saber o que o bicho comia.  Hoje me pergunto o que  ele  não  come. Carne de vaca; verduras, tomate, laranja, goiaba, miolo de pão, mamão, sementes, gema de ovo, palito de fósforos e revistas ilustradas, praticamente tudo ele come. É mesmo um pouco antropófago, porque devora qualquer pedacinho de pele da mão da gente  que  descobre.

Os alimentos mais secos ele os põe n’água e faz uma espécie de sopinha fria. Come e descome com uma velocidade terrível; tem um metabolismo alucinado, mas respeita rigorosamente a limpeza do canudo de palha em que mora. Adora tudo o que brilha, pedras preciosas ou metais, e fica bicando essas coisas com uma teimosia insensata, como a lamentar que não sejam comestíveis. Passa horas brincando com um  pedaço  de  barbante, mas isso parece que lhe faz um pouco mal aos nervos. Peço às damas visitantes que retirem os anéis quando se aproximam da gaiola.

Agora ele está de rabo comprido, penas negras lustrosas e penas alaranjadas vibrantes de cor. Está realmente bonito, voa um pouco pela casa todo dia e toma banho duas vezes ao dia. Enfim, tenho todos os motivos para me orgulhar de meu corrupião; e devia estar contente.

Mas a verdade é muito outra. Há um pequeno drama de família; estamos de mal.

Conheço muitas histórias de corrupião; corrupião que assobia o Hino Nacional; corrupião que só gosta de mulher, não tolera homem; corrupião que quando o dono da casa chega ele assobia até que abram a gaiola e ele pouse no ombro do homem; corrupião que passeia pelo bairro inteiro e volta para casa ao escurecer, etc.

O meu, não. Talvez a culpa seja minha, que o educo mal. Sei como deveria proceder com ele: movimentos sempre lentos, chantagem na base do miolo de pão, não lhe dando comida demais para que ele venha comer na mão; certa mistura de disciplina e carinho, sistema de prêmios e castigos. Enfim, aquele negócio dos reflexos condicionados.

Ele já estava bastante meu amigo quando cometi o primeiro erro; e ele reagiu. Afastava-se de mim; se eu aproximava o dedo, ele o bicava com força. Despeitado com esse tratamento, eu devo ter sido um pouco brusco. Um dia em que ele não queria de jeito nenhum sair da gaiola eu o agarrei e o trouxe para fora à força. Não gostou.

O pior é que tomei gosto em irritá-lo. Estalo os dedos sobre sua cabeça, o que o faz emitir estranhos grunhidos, enchendo o papo de vento, esticando o pescoço e dando grandes assobios; fica parecendo um galo de briga; uma gracinha. Mas com essas provocações ele foi, devagar, devagarinho, criando um certo ódio de mim.

Não, ainda não será ódio. De outras vezes ele já levou um dia inteiro, até dois, sem me dirigir a palavra e mesmo sem me olhar; mas logo o rancor sumiu de sua alminha leve, e voltamos às boas. Desta vez ele está há quatro dias completamente hostil, e minha  presença o incomoda visivelmente. Por acinte trata bem qualquer pessoa estranha, o rufião. Mas creio que sua amizade é um bem ainda recuperável.

O pior é que eu digo essas coisas assim, mas  no  fundo  sou  um pouco rancoroso, e estou criando uma certa mágoa desse bicho ingrato que eu trouxe da roça para a Capital da República, até cheguei a ir à feira só para comprar comidinhas melhores para ele, dei  gaiola grande e bonita, uma vez gastei oitenta cruzeiros de táxi só para vir em casa livrá-lo de uma chuva súbita. Não, não sei se ainda lhe tenho a mesma estima. Nosso último incidente foi há três dias, e ele ainda  hoje à tarde me tratou com uma antipatia suprema e ainda por cima se desmanchou em graças e carinhos com o boy que veio buscar a crônica.

Acho que vou dar esse corrupião - ou despedir esse boy.

Fonte:
Rubem Braga. Ai de ti, Copacabana. Publicado em 1960.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Daniel Maurício (Poética) 12



 

Cláudio de Cápua (O Mundo Literário em Preto & Branco) Hernâni Donato


 Em 1970, num lançamento de livro, na Livraria Teixeira, tive a satisfação de conhecer um dos grandes intelectuais do Brasil, Hernâni Donato.

Embora escritor consagrado, era ele um homem sem vaidades. Nossa amizade firmou-se graças a já ter eu lido alguns de seus livros.

Hernâni escreveu mais de 60 obras abrangendo literatura, história, folclore, além de inúmeras traduções. Dedicou-se também à literatura infantil e juvenil. Três destes livros resultaram em filmes. Vários outros trabalhos inspiraram teses de mestrado e doutorado e peças teatrais. O romance "Chão Bruto" chegou à décima edição.

Outro romance foi "Selva Trágica", que teve edição especial de 64 mil exemplares e dele foram feitas duas versões cinematográficas.

Tradutor consagrado, verteu para o português "A Divina Comédia" e "Monarquia", de Dante Alighieri.

No campo da História, o "Dicionário das Batalhas Brasileiras" de sua autoria, em quatro meses recebeu quatro prêmios, elegendo-o para o Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e Academia de História Militar Terrestre do Brasil. Hernâni Donato foi presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo em duas gestões e também presidente da Academia Paulista de Letras.

Todos os seus livros possuem diversas edições. Hernâni sempre contou com o apoio de sua esposa e musa, Nelly, incentivadora e revisora dos seus trabalhos.

Este paulista de Botucatu faleceu em São Paulo, na data de 22 de novembro de 2012.

Durante os doze anos em que editei a Revista Santos – Arte e Cultura, Hernâni Donato foi assíduo colaborador de que muito me orgulho assim como de outra afinidade: nós dois éramos aviadores, tendo sido ele instrutor do Aeroclube de São Paulo (Capital).

Fonte:
Cláudio de Cápua. Retrovisor: crônicas. 1.ed. Santos/SP: Publicação Mônica Petroni Mathias, 2021.
Livro enviado pelo escritor.

Chico Anysio (Excesso de provas)

— Trim... Trim... Trim...

Por mais que ele insistisse, a porta do 604 não se abria. E há muito tempo que ele ali estava a apertar a campainha que, estranhamente, ainda não se tinha quebrado.

— Trim... Trimmmm...

Fazia uma pausa, tentando adivinhar, com o ouvido colado à porta, algum movimento lá por dentro e, após perceber que mais este toque tinha sido em vão, voltava a calcar o dedo na campainha, com crescente violência.

— Trimmmmm... Trimmmmm... Trimmmmmmmni...

Tinha a barba por fazer, os cabelos despenteados. A maleta ao lado mostrava que voltava de uma viagem. Isto igualmente insinuava a gravata afrouxada no colarinho, deixando aparecer, junto ao pescoço, os fios longos do cabelo do peito.

— Trim... trim...

Abriam-se, vez por outra, as portas de serviço do 601 e do 602, de onde surgiam caras de empregadas e patroas, incomodadas pelo irritante grito da campainha que, realmente, passava demais da conta.

E, ao toque inútil, não poucas vezes juntou socos — inicialmente discretos, na porta, além de pancadas com o pé. Primeiro de bico, depois com o calcanhar, por comodismo e dor nos dedos.

O elevador parou no sexto andar, e a porta abriu-se. O homem voltou-se na esperança de que do elevador saísse... Não era. Era Normandes, roupa de praia, esteira enrolada sob o braço, óculos escuros no alto da cabeça, sandálias japonesas.

O homem esqueceu Normandes e voltou à campainha.

— Trimmm… — era só o que a campainha dizia ao ser acionada.

— Acho que ela não está. — disse Normandes ao passar pelo homem, enquanto seguia e entrava no 603, seu apartamento.

O homem da campainha acompanhou Normandes com o olhar até o momento em que a porta do 603 fechou-se, tirando Normandes da sua vista. Então, ele abandonou a campainha do 604 e tocou a do 603. O próprio Normandes abriu.

— Pois não.

— Eu sou... — e apontou a porta do 604, identificando-se como o cara a quem Normandes acabara de falar.

— Sim, eu sei.

— O senhor, quando passou, disse que ela saiu.

— Não! — corrigiu Normandes. — Eu disse "acho" que ela saiu.

Era patente que Normandes queria tirar o corpo de qualquer mal-entendido, razão pela qual frisara o acho.

— Ah! — fez o homem, num desalento muito grande, enquanto lançava um olhar triste em direção à porta fechada do 604.

Normandes o observou, enquanto ele observava a porta. Na sala, o cuco saiu, avisando que passava meia hora de uma hora.

— Imagino é que esteja em casa e não queira abrir a porta. — aventou o desconhecido.

— Não acredito. Ela deve estar fora mesmo.

— É... Deve ter saído.

— Pois é. — pensou finalizar Normandes.

— Posso esperar por ela aqui?

— Bem...

Normandes morava só e, por ter que tomar banho e sair para almoçar (aos domingos não tinha empregada), não achou lá muito indicado que concordasse com a presença daquele desconhecido no seu apartamento, durante o tempo em que estivesse no chuveiro. O homem da campainha percebeu-lhe o pensamento.

— Eu sou o marido dela. — explicou, num esclarecimento que provocou certo espanto a Normandes.

— Marido? E o senhor esqueceu a chave?

— Não, é que… — o homem atrapalhou-se — é que o certo seria dizer "noivo".

— Entendo. — disse Normandes sem nada entender. — O senhor é noivo com direitos de marido, é isso?

— Mais ou menos. Eu, por mim, me considero mais noivo do que marido, apesar da verdade ser o oposto. É que nós dois, eu e ela, já há algum tempo...

Normandes não quis detalhes. Preferiu deixá-lo entrar. Mesmo porque as madames do 601 e 602 já fingiam esperar o elevador com os ouvidos estendidos à conversa dos dois. Normandes, por maldade, preferiu ouvir os detalhes sozinho.

O homem entrou, depositou a maleta junto ao sofá e estendeu a mão, apresentando-se.

— Ubaldino, muito prazer.

— Meu nome é Normandes. Sente-se, por favor.

Ele fez.

Normandes abriu a janela, e a luz entrou com força. Morava do lado do sol. O homem da campainha mudou de lugar no sofá. O sol o encandeava. Era preciso achar um modo de reatar a conversa, e isso era o que Normandes procurava. Ubaldino notou esta ansiedade e lhe ofereceu o prato pedido.

— Somos noivos oficialmente. Mas já... já... — procurou as palavras que pudessem explicar o que Normandes já sabia desde a soleira da porta.

— E está de chegada...? — instigou Normandes, enquanto servia Old Eight em dois copos onde se liam os nomes das doses (for ladies, for men, for horses. Serviu for horses).

Ubaldino misturou o gelo com o indicador e lá o deixou um pouco, tentando, assim adormecê-lo. Doía-lhe muito o dedo.

— Estou trabalhando em Vitória, — começou a explicar — e tenho recebido muitas cartas contando certas coisinhas da minha... minha… — hesitou mais do que o lógico — minha noiva.

— Diga "sua senhora" que eu entendo. — Normandes foi gentil.

— Obrigado. Sabe como é. Cartas contando fatos que são incontestáveis. Detalhes, horários. Até fotografias me mandam, o senhor acredita?

— Pode me chamar de você, Ubaldino.

— Você vai ver. — disse Ubaldino aceitando o oferecimento.

Tirou do bolso do paletó uma carteira e dela apanhou as fotos onde a noiva aparecia com um homem ao lado. As fotos não eram nítidas. Amadoristicamente colhidas. De longe, algumas delas. Mas o suficientemente claras para que Normandes reconhecesse sua vizinha do 604. Dava até para perceber algo mais.

— Estou notando, Ubaldino, é que o homem...

— Não é o mesmo. — reconheceu o noivo. — Percebe?

— Percebo. — murmurou Normandes muito atento no exame das fotos.

— É sempre um homem diferente — completou Ubaldino, chupando o dedo gelado e colocando o outro indicador no gelo. — Isso é muito pior, não acha? Se ela me tivesse trocado por outro, eu entenderia. Bolas! Deixou de gostar de mim, está gostando de Fulano ou de Sicrano, certo. Mas a variedade é insuportável.

— É. Pelas fotos, ela está gostando de Fulano, Sicrano, Beltrano, Zé, João... — Normandes foi perverso.

— Por isso é que eu digo. A variedade é constrangedora; é sem-vergonhice. Ou você não acha?

— Acho — concordou Normandes, enquanto devolvia as fotos ao homem, muito feliz por não se ter visto em nenhuma delas. — E o senhor, desculpe, e você veio ao Rio...

— Vim matá-la.

Normandes entendeu, mas quis que tivesse ouvido errado.

— Você disse... — pediu bis.

— Vim matá-la. Matá-la! — e fez um gesto com o indicador inchado, imitando o puxar de um gatilho e afastando o paletó para que Normandes visse o Taurus que trazia ao cinto.

Normandes nunca se imaginara nesta situação. Reabasteceu o copo do calculista criminoso, enquanto buscava um modo de contornar aquela situação.

— Mas qual a vantagem de matar?

— Nenhuma. Eu mato e depois vou preso. — falou o homem.

— E qual é o seu lucro? Que vantagem você leva nessa transa? Mata a moça e pega uma cadeia por dez ou doze anos, sei lá. Tem graça, isso?

— Você acha, então, que eu devo perdoar uma mulher que me faz isso?

Ao dizer isso, mostrava, abertas em leque, as várias fotografias.

— Não digo perdoar porque, no seu caso, eu não sei se perdoaria, mas, sei lá... esquecer. Deixa pra lá.

— Você, no meu lugar, deixaria pra lá?

— Acho que sim.

— Questão de temperamento. Eu admito que haja homens que perdoem, em situação igual. Há os homens como você que simplesmente deixam pra lá e não se fala mais nisso. Mas eu, Ubaldino Fragoso Batista, tenho outro temperamento — e arrumou o Taurus melhor.

— Tem razão! — concordou Normandes. -— Ninguém deve forçar a barra. Só que...

Escutaram nitidamente que era batida a porta do apartamento ao lado — o 604, o dela. Calaram-se automaticamente.

— É ela! — disse o homem, afastando o copo de uísque e segurando a maleta.

Normandes, lívido, não conseguiu articular uma frase. Ubaldino estendeu a mão numa despedida silenciosa. Normandes apertou-lhe a mão, com força de emoção. Ubaldino agradeceu o uísque, a hospitalidade e saiu.

À noite, quando passou de braços com ela, Ubaldino fingiu não ver Normandes que, na portaria, conversava com o zelador. Mas levava as orelhas muito vermelhas, o homem da campainha.

Fonte:
Chico Anysio. O Enterro do Anão. Publicado em 1973.

V Concurso deTrovas da UBT-São José dos Campos/SP (Trovas Premiadas)


VI Etapa do Projeto de Trovas Vida Melhor

Tema: Mudança


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 NOVOS TROVADORES
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 Prof. Francisco Maia
Caicó – RN

O tempo é carrasco mudo,
nessa nossa caminhada
faz as mudanças de tudo,
sem prestar contas de nada.
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Marciano Augusto Savino
Marataízes - ES

Se você propõe mudança
por mais radical que seja,
terá sempre uma esperança
de alcançar o que deseja.
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Marina Caraline de Almeida Carvalhal
Itaperuna – RJ

Se queres nova mudança,
desata todos os nós;
sem eles, há esperança
de uma conquista veloz.

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MENÇÃO HONROSA
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Lucy Almeida
Maceió - AL

Pouco a pouco, junto às tralhas,
empilhei todas lembranças
que a mudança fez migalhas,
dilacerando esperanças.
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Solange Colombara
São Paulo - SP

Um átimo de esperança
circunda um povo febril,
que aguarda boa mudança
nesta vida tão hostil.
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Rosângela Caron Bastos
Curitiba – PR

Nas voltas que a vida dava,
por constância, divididas...
A mudança que faltava,
enlaçava nossas vidas!
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Júlio Augusto Gurgel Alves
Aracoiaba – CE

Meias velhas e rasgadas
doadas sofrem mudanças.
No frio, são recicladas
em cobertor e esperança!
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Isabel Tereza Maia Mendes da Silva
Paulista - PE

O mundo gira constante
vou percebendo a mudança
nesse processo mutante,
Deus está na liderança.

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MENÇÃO ESPECIAL
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Olímpia Gonçalvez
Rio de Janeiro – RJ

É tudo tão seco, ardendo,
mas chuva traz esperança.
Olho o campo renascendo...
Bem-vinda bela mudança!!!
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Júlia Fernandes Heimann
Jundiaí – SP

Nesta fase de mudança
peço a Deus, Nosso Senhor
que derrame aventurança
neste Brasil sofredor...

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VETERANOS
 = = = = = = = = = = =


Fernando Antônio Belino
Sete Lagoas – MG

Se sonhas mudar, a esmo,
este mundo, que te cansa,
muda primeiro a ti mesmo,
que será grande a mudança.
= = = = = = = = = = =  


Romilton Faria
Juiz de Fora – MG

Reflete… jamais te iludas,
põe, à frente, confiança;
entende que nada mudas,
sem tua própria mudança...
 = = = = = = = = = = =
 

Renata Paccola
São Paulo – SP

O futuro é uma criança,
e o tornamos mais fecundo
fazendo em nós a mudança
que desejamos no mundo!

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MENÇÃO HONROSA
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Mário Moura Marinho
Sorriso - MT

A vida exige mudança,
pode esta ser um tropeço...
mas quem mantém a esperança
tem a luz do recomeço.
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Antônio Francisco Pereira
Belo Horizonte – MG

A criança quer crescer
e o tempo faz a mudança.
Depois, ao envelhecer,
volta a ser uma criança.
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Maria Madalena Ferreira
Magé - RJ

Seu corpo exibe a mudança,
e eu penso: "Graças a Deus!"
Mais um neto, outra criança
a alegrar os dias meus!
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Danusa Almeida
Campos dos Goytacazes – RJ

Toda fase dolorosa
traz mudança em uma vida;
e toda ajuda amorosa
cicatriza essa ferida!
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Edweine Loureiro da Silva
Saitama - Japão

Que os outros mudem? Por quê?
É mais sábio e sempre avança
quem primeiramente vê
em si mesmo tal mudança.

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MENÇÃO ESPECIAL
= = = = = = = = = = =
 
1º  
Carolina Ramos
Santos – SP

A decisão que mais cansa,
e retarda a execução,
exige total mudança,
que oscila entre um SIM e um NÃO!
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Antonio Augusto de Assis
Maringá – PR

Há mudança no fazer
as coisas que fazem bem,
porém não muda o prazer
que a gente, ao fazê-las, tem.
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Mariângela Tavares
São Gonçalo – RJ

Sinto-me  desconhecida
por  já  não  ser  mais  criança.
Em  toda  fase  da  vida,
deparei-me  com  mudança.
= = = = = = = = = = =
 

Wildman dos Santos Cestari
Ilhabela – SP

A prece da fé sincera
pelos anjos acolhida,
requer do crente que espera,
também, mudança de vida!
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Célia M. G. Mendonça de Melo
Juiz de Fora – MG

Mil lugares percorri
pelo mundo. Quanta andança!
Ao vê-la, não mais corri.
Por você, fiz a mudança.

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DESTAQUE
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Antonio Colavite Filho
Santos – SP

Na  mudança  combinada,
já  mudei  o  quanto  eu  pude...
Se não  mudas  quase  nada,
por  que  tu  queres  que  eu  mude?
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Maria Dulce de Lima Pessoa
Tabira – PE

Essa palavra "Mudança"
muitas vezes nos ilude,
por  saber que não se alcança
mudança sem atitude.
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Nadir Nogueira Giovanelli
São José dos Campos – SP

Ano  Novo,  um  recomeço,   
grande  chance   de  mudança,
é coragem,  não  tem  preço:
e,   muito  viva  a  esperança!
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Maria Luísa Bontorin Dipp
Curitiba – PR

A mudança te desperta:
-Coração vaga sozinho!
Acordaste...a porta aberta,
tens o início do caminho...
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Luzimagda de Martin Ramos da Fonseca
Juiz de Fora – MG

Para mim certas mudanças,
só fazem desmoronar
os projetos e esperanças...
Nosso modo de pensar.
 
Fonte:
MIFORI

Fernando Pessoa (Diário de Bernardo Soares) "3”

7.

Hoje, em um dos devaneios sem propósito nem dignidade que constituem grande parte da substância espiritual da minha vida, imaginei-me liberto para sempre da Rua dos Douradores, do patrão Vasques, do guarda-livros Moreira, dos empregados todos, do moço, do garoto e do gato. Senti em sonho a minha libertação, como se os mares do Sul me houvessem oferecido ilhas maravilhosas por descobrir. Seria então o repouso, a arte conseguida, o cumprimento intelectual do meu ser.

Mas de repente, e no próprio imaginar, que fazia num café no feriado modesto do meio-dia, uma impressão de desagrado me assaltou o sonho: senti que teria pena. Sim, digo-o como se o dissesse circunstancialmente: teria pena. O patrão Vasques, o guarda-livros Moreira, o caixa Borges, todos os bons rapazes, o garoto alegre que leva as cartas ao correio, o moço de todos os fretes, o gato meigo — tudo isso se tornou parte da minha vida; não poderia deixar tudo isso sem chorar, sem compreender que, por mal que me parecesse, era parte de mim que ficava com eles todos, que o separar-me deles era uma metade e semelhança da morte.

Aliás, se amanhã me apartasse deles todos, e despisse este traje da Rua dos Douradores, a que outra coisa me chegaria — porque a outra me haveria de chegar? De que outro traje me vestiria — porque de outro me haveria de vestir?

Todos temos o patrão Vasques, para uns visível, para outros invisível. Para mim chama-se realmente Vasques, e é um homem sadio, agradável, de vez em quando brusco mas sem lado de dentro, interesseiro mas no fundo justo, com uma justiça que falta a muitos grandes gênios e a muitas maravilhas humanas da civilização, direita e esquerda. Para outros será a vaidade, a ânsia de maior riqueza, a glória, a imortalidade… Prefiro o Vasques homem, meu patrão, que é mais tratável nas horas difíceis do que todos os patrões abstratos do mundo.

Considerando que eu ganhava pouco, disse-me outro dia um amigo, sócio de uma firma que é próspera por negócios com todo o Estado: “você é explorado, Soares”. Recordou-me isso de que o sou; mas como na vida temos todos que ser explorados, pergunto se valerá menos a pena ser explorado pelo Vasques das fazendas do que pela vaidade, pela glória, pelo despeito, pela inveja ou pelo impossível.

Há os que Deus mesmo explora, e são profetas e santos na vacuidade do mundo.

E recolho-me, como ao lar que os outros têm, à casa alheia, escritório amplo da Rua dos Douradores. Achego-me à minha secretária como a um baluarte contra a vida. Tenho ternura, ternura até às lágrimas, pelos meus livros de outros em que escrituro, pelo tinteiro velho de que me sirvo, pelas costas dobradas do Sérgio que faz guias de remessa um pouco para além de mim. Tenho amor a isto, talvez porque não tenha mais nada que amar — ou talvez, também, porque nada valha o amor de uma alma e, se temos por sentimento que o dar, tanto vale dá-lo ao pequeno aspecto do meu tinteiro como à grande indiferença das estrelas.

8.
O patrão Vasques. Tenho, muitas vezes, inexplicavelmente, a hipnose do patrão Vasques. Que me é esse homem, salvo o obstáculo ocasional de ser dono das minhas horas, num tempo diurno da minha vida? Trata-me bem, fala-me com amabilidade, salvo nos momentos bruscos de preocupação desconhecida em que não fala bem a alguém. Sim, mas por que me preocupa? É um símbolo? É uma razão? O que é?

O patrão Vasques. Lembro-me já dele no futuro com a saudade que sei que hei de ter então. Estarei sossegado numa casa pequena nos arredores de qualquer coisa, fruindo um sossego onde não farei a obra que não faço agora, e buscarei, para a continuar a não ter feito, desculpas diversas daquelas em que hoje me esquivo a mim. Ou estarei internado num asilo de mendicidade, feliz da derrota inteira, misturado com a ralé dos que se julgaram gênios e não foram mais que mendigos com sonhos, junto com a massa anônima dos que não tiveram poder para vencer nem renúncia larga para vencer do avesso. Seja onde estiver, recordarei com saudade o patrão Vasques, o escritório da Rua dos Douradores, e a monotonia da vida cotidiana será para mim como a recordação dos amores que me não foram advindos, ou dos triunfos que não haveriam de ser meus.

O patrão Vasques. Vejo de lá hoje, como o vejo hoje de aqui mesmo — estatura média, atarracado, grosseiro com limites e afeições, franco e astuto, brusco e afável — chefe, à parte o seu dinheiro, nas mãos cabeludas e lentas, com as veias marcadas como pequenos músculos coloridos, o pescoço cheio, mas não gordo, as faces coradas e ao mesmo tempo tensas, sob a barba escura sempre feita a horas. Vejo-o, vejo os seus gestos de vagar enérgico, os seus olhos a pensar para dentro coisas de fora, recebo a perturbação da sua ocasião em que lhe não agrado, e a minha alma alegra-se com o seu sorriso, um sorriso amplo e humano, como o aplauso de uma multidão.

Será, talvez, porque não tenho próximo de mim a figura de mais destaque do que o patrão Vasques que, muitas vezes, essa figura comum e até ordinária se me emaranha na inteligência e me distrai de mim. Creio que há símbolo. Creio ou quase creio que algures, em uma vida remota, este homem foi qualquer coisa na minha vida mais importante do que é hoje.

9.
Ah, compreendo! O patrão Vasques é a Vida. A Vida, monótona e necessária, mandante e desconhecida. Este homem banal representa a banalidade da Vida. Ele é tudo para mim, por fora, porque a Vida é tudo para mim por fora.

E, se o escritório da Rua dos Douradores representa para mim a vida, este meu segundo andar, onde moro, na mesma Rua dos Douradores, representa para mim a Arte. Sim, a Arte, que mora na mesma rua que a Vida, porém num lugar diferente, a Arte que alivia da vida sem aliviar de viver, que é tão monótona como a mesma vida, mas só em lugar diferente. Sim, esta Rua dos Douradores compreende para mim todo o sentido das coisas, a solução de todos os enigmas, salvo o existirem enigmas, que é o que não pode ter solução.

10.
E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende.

Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância — irmãos siameses que não estão pegados.
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Continua…

Fonte:
Fernando Pessoa. Livro do Desassossego. Disponível em Domínio Público.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Cláudio de Cápua (Falecimento domingo, 5 de dezembro de 2021)


Cláudio de Cápua, aviador, jornalista profissional. 51 anos especialista em jornalismo cultural, nas áreas de Artes Plásticas e Literatura, com publicações em diversos veículos de Comunicação da Pauliceia e Litoral paulista. Lato Sensu em História da Arte (Universidade Mackenzie), graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Santos.

O dia oito de março de 1945, marca a data do nascimento de Cláudio de Cápua, que é natural de São Paulo, e que em 1960 mudou-se para Araraquara, tendo mais tarde ingressado na Escola Superior de Agrimensura. Paralelamente aos estudos, Cláudio começou a colaborar no jornal semanário “A Cidade” onde respondia pela edição da “Coluna do Estudante”. A partir deste momento, Cláudio não parou mais de escrever. Escrever tornou-se a forma de comunicação marcante em sua existência. Foi escrevendo que Cláudio de Cápua passou a escrever em jornais paulistanos como a antiga “A Gazeta”, “Diário da Noite”, “A Tribuna Italiana”, “Diário Popular”; colaborou também na revista “Destaque”, de Santos, além de outras assim como ainda em cerca de 30 jornais de bairro, do interior de São Paulo e até de outros estados.

Em sua volta a São Paulo, Cláudio de Cápua teve de abandonar em definitivo os estudos de Agrimensura, uma vez que não existia este curso em nível superior na Capital. Foi nesta época que começou a conviver com poetas como Guilherme de Almeida, Paulo Bomfim, Judas Isgorogota. Bernardo Pedroso, Orlando Brito, Oswaldo de Barros, Antônio Lafayette, Plínio Salgado, Menotti Del Picchia, Laurindo de Brito, Ibrahim Nobre, só para mencionar os mais conhecidos. Para aperfeiçoar sua vocação natural e satisfazer seu desejo de ampliar os conhecimentos e adquirir um maior lastro profissional, Cláudio ingressou num curso de jornalismo. A partir daí, o jornalismo constituiu-se a base de todas as variadas atividades nas quais Cláudio de Cápua se envolveu e nas quais deixou sempre a marca de sua integridade e força de trabalho. Ainda no jornalismo, tornou-se professor de jornalismo eletrônico, na Universidade Mackenzie, na década de 80.

Cláudio de Cápua fez ainda algumas incursões pelas artes dramáticas, tendo participado como ator no filme “A Marcha” baseado no romance de Afonso Schmidt. Na televisão, foi ator coadjuvante na telenovela “Hospital” da extinta TV Tupi, isso em 1971, e na TV record trabalhou como assistente de produção de externas na telenovela “O Leopardo”.

Na década de 70, fez parte do júri do programa da TV Bandeirantes, "O Clube do Bolinha". Inicia na TV Tupi em um grupo que adapta obras literárias para novelas, na década de 70. Atua como assistente de externas de novelas na Record e, mais tarde como produtor e diretor de jornalismo especializado (arte, cultura e lazer) na TV Gazeta, entre 1978 e 1980.

Por cerca de 10 anos, editou a Revista Santos Arte e Cultura, da qual foi editor e articulista. Classificou-se em alguns concursos de prosa, poesia e trovas.

Cláudio de Cápua atuou sempre de forma marcante na vida literária paulista, tendo participado ativamente de diversas eleições da União Brasileira de Escritores. Nesta entidade deixou marcas de sua defesa intransigente dos direitos do escritor, e tem lutado pela divulgação de suas obras e do pensamento do escritor paulista. Nenhum movimento significativo que tivesse por objetivo a valorização e a divulgação dos escritores e suas obras deixou de contar com o apoio e iniciativa decisiva de Cláudio de Cápua. Da mesma forma teve ainda atuação destacada junto ao Sindicato dos Escritores do Estado De São Paulo e Centro de estudos Euclides da Cunha de São Paulo.

Como escritor, Cláudio de Cápua publicou livros que não foram brindados com edições fantásticas, mas que foram procurados avidamente pelos conhecedores das obras de qualidade, esgotando rapidamente suas edições. Estão nessa categoria, a começar por 1980, a biografia do escritor e político Plínio Salgado, livro que alcançou 4 edições e vendeu 11 mil exemplares mantendo-se durante 9 semanas entre os livros mais vendidos. (…) Em 1981, Cláudio de Cápua lançou o livro “Meu Caderno de Trovas”, editado por Mestre das Artes; anos depois publicou em co-autoria com sua esposa, Carolina Ramos, o livro “Paulo Setúbal – Uma Vida – Uma Obra”, que teve sua primeira edição esgotada em apenas 90 dias.

Em 2003, seu livro "A Revolução de 1924" conquistou o Prêmio CLIO de História, sendo escolhido para figurar na bibliografia do 4o ano de História da Universidade Católica de Santos.

Em 2005, novamente foi aquinhoado com o Prêmio CLIO de História pela publicação do livro "Fim da Chibata na Marinha de Guerra".

Os dois livros acima citados figuram entre os "dez livros mais vendidos da Baixada Santista", segundo o jornal A Tribuna de Santos.

Nas palavras de Carolina Ramos, “Ninguém passa pela Trova saindo impune. Rendido aos seus encantos, sempre deixa com ela um pedaço do coração, quando não o coração inteiro. No passado, grandes poetas como Vicente de Carvalho, Martins Fontes, Bilac, Colombina e outros, passaram por ela, ainda que de raspão. Naquele tempo, a Trova não tinha a força nem o prestígio que hoje tem. Mas, convém lembrar que o santista Ribeiro Couto conquistou Prêmio Internacional com o livro “Jeux de l’apprenti animalier”, com suas fábulas consideradas superiores às de La Fontaine pela concisão com que eram apresentadas, ou seja, sob o formato de Trovas.”

Cláudio de Cápua não seria uma exceção.

Biógrafo, prosador e poeta, esbarrou na Trova e deixou-se cativar por ela. Em 1969, foi um dos fundadores da “União Brasileira de Trovadores”, Seção de São Paulo e, desde 1980, faz parte do quadro associativo da Seção de Santos.

Embora concorrente bissexto, Cláudio de Cápua conquistou vários prêmios em Concursos de Trovas realizados em território nacional.

Seu trabalho em prol da Trova, sincero e despretensioso, merece o respeito daqueles que cultuam o gênero e fazem do Movimento Trovadoresco Nacional, uma das mais ativas e populares facções da literatura do nosso país.”
 
Cláudio de Cápua, que era casado com Carolina Ramos (97 anos),  faleceu em Santos/SP,  onde se radicou definitivamente, de aneurisma, a 5 de dezembro de 2021, aos 76 anos.

Fontes:
– Trechos extraídos do Discurso de Saudação de Henrique Novak em recepção a Cláudio de Cápua. 31 de outubro de 1998 . Disponível em http://www.de-capua.com/biografia.html
– Excerto da Introdução por Carolina Ramos ao livro “Canto que eu Canto”, de Cápua.
– Cláudio de Cápua. Revolução na Pauliceia: Semana de Arte Moderna de 1922. SP: EditorAção, 2019.