sábado, 9 de julho de 2022

Daniel Maurício (Poética) 34

 

André Kondo (Tapetes)


O tuk tuk é um colorido triciclo adaptado com cobertura e banco para dois passageiros. Muito utilizado como táxi na Índia, suas três rodas simplesmente voam como um tapete mágico, pelo caótico trânsito das cidades indianas. Disputando espaço com vacas e pedestres, seu condutor sempre toma cuidado para não atropelar as vacas sagradas, não se importando tanto assim em relação aos mundanos humanos. Contratei um desses veículos para conhecer a cidade de Varanasi, que é considerada uma das cidades mais antigas e sagradas do mundo.

Pedi ao piloto dessa exótica máquina me levar a Sarnath, onde o Buda pregou pela primeira vez. E lá fomos nós, enfrentando um trânsito de vacas, elefantes e até carros!

Paramos.

– Aqui é Sarnath? – perguntei desconfiado.

– Não, senhor. Aqui é o mercado de tapetes. O senhor não quer aproveitar para comprar um tapete?

– Não, obrigado! – respondi, imaginando como seria carregar um tapete pelo mundo, uma vez que ainda viajaria por alguns meses até voltar para casa.

– Tem certeza? Conheço alguém que faz um preço muito bom para os meus amigos.

Fiquei imaginando se eu já era amigo do condutor de tuk tuk.

– Não, obrigado. Prefiro ir direto para Sarnath.

O piloto balançou a cabeça para os lados. E lá fomos nós.

– Aqui é Sarnath? – perguntei, com a certeza de que não era.

– Não, senhor. Aqui é uma lojinha de outro amigo meu. Tinha me esquecido dele! Ele vende tapetes mais baratos do que o preço de mercado. Não quer comprar um?

– Não, obrigado.

– É baratinho.

Em todo lugar do mundo, o baratinho sempre tem uma comissão. Se o guia de uma excursão visita uma loja, geralmente ele leva uma pequena porcentagem do dinheiro que o turista deixou lá. Mas esse nem era o problema, o problema era que eu não queria comprar tapete algum.

– Não, obrigado.

O piloto balançou o turbante para os lados. E lá fomos nós.

Buda já havia pregado em Sarnath, há dois mil e quinhentos anos, que tudo neste mundo é sofrimento. Comecei a acreditar nisso.

Nem perguntei se era Sarnath.

– Olha, o senhor ainda tem uma chance de comprar um tapete. Aqui…

– Meu amigo, por favor, já disse que não quero comprar tapetes. Tudo o que desejo é apenas ir para Sarnath! E se o senhor me levar para mais uma loja de tapetes, nem sei o que farei, mas sei que não será algo bom.

– Tudo bem, desculpe. Juro que não levo o senhor para outra loja de tapetes…

Era Sarnath.

Visitei os templos. Meditei. Senti uma paz profunda. E também me senti envergonhado por ter perdido a paciência com o condutor de tuk tuk. Pedi desculpas a ele e fomos embora.

Antes de chegarmos ao nosso próximo ponto de peregrinação…

Paramos.

Fiquei com medo de ver outra loja de tapetes.

– Senhor, não se preocupe. Prometi que não o levaria a outra loja de tapetes. Aqui é um museu e acho que o senhor vai gostar…

Senti um pouco de culpa por ter duvidado do condutor de tuk tuk. Caminhei até a entrada do museu. Sim, era um museu, pois na fachada estava escrito: “Museu do Tapete”.

Um sorridente bigodudo saiu para nos receber.

– Bem-vindo ao Museu do Tapete! O senhor tem muita sorte! Somente hoje, e só hoje, todo o nosso acervo está à venda!

Fonte:
André Kondo. Palavras de areia. Ed. In House, 2013.

Luiz Otávio (Jardim de Trovas) III

A dor que mais nos abala,
que fere profundamente,
não é a dor de que se fala,
mas a que apenas se sente.
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A trova recende a rosas
e sabe a favos de mel,
e é tão pequena que cabe
num cantinho de papel...
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A trova tudo nos conta.
De coisas belas nos fala.
Basta alma para fazê-la…
E ouvidos para escutá-la...
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Benditas sois, Caravelas,
que, enfrentando riscos mil,
trouxestes, entre procelas,
a semente do Brasil!
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Da vida, quando eu partir,
findando sonhos e dores,
serei levado, a sorrir,
por quatro anjos trovadores...
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Deixou a Felicidade
Saudade em meu Coração...
Depois a própria Saudade
cansou-se da Solidão...
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Há olhos para a Gramática!
Há olhos para a Razão!
Mas, lendo a trova, é preciso
ter olhos no coração...
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Nasce a trova facilmente
e correndo o mundo vai...
É como a água nascente,
ou como o orvalho que cai...
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Nas desgraças ou venturas,
há sempre, em todas as vidas,
angústias, medos, torturas,
de origens desconhecidas ...
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"Ninguém faz falta no Mundo"
— O povo não tem razão...
Perca um bem grande e profundo,
veja se faz falta ou não!...
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Numa simples despedida,
nunca sabemos, meu Deus,
se ao darmos um "até breve",
estamos dando um "adeus"...
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Oh! quanto nos atormenta,
na vida, que se dilui,
sentir que a saudade aumenta
e a esperança diminui!...
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Ó nuvens — minha alma implora! –
Segredai àquela ingrata
que, se ela não volta agora,
esta Saudade me mata!
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O que fala que é feliz,
está, por certo, enganado.
— Não creia no que ele diz...
vive apenas conformado...
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Os seus olhos sonhadores
me falam de seus desejos:
que os seus lábios tentadores
nasceram para os meus beijos...
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Parte ao encontro do amor
com um sorriso na face,
como se ele fosse um bem
que nunca nos enganasse...
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Pensa bem no que eu te digo:
um conselho sem ressábios
é dado num tom amigo,
com um sorriso nos lábios.
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Pra compensar a maldade
de ser o bem tão fugaz,
Deus inventou a saudade
— a melhor das coisas más...
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"Qualquer um faz uma trova..."
falaram-me com desdém…
Fazer... fazer... todos fazem...
A questão é fazer bem!...
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Que dolorosa ironia!
— Esta paixão derradeira
deu-me Ventura um só dia
e Saudade a vida inteira!...
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Rouba-se tanto, tão alto,
com tal malícia e sussurro,
que a gente, quando é honesto,
ganha diploma de burro...
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Saudade... luz do poente,
que se esconde atrás do mar,
voltando após, docemente,
na ternura do luar…
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Será feliz, com certeza,
o que, entre mágoas, prejuízos,
só vê, do mundo, a beleza,
da humanidade, os sorrisos...
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Tenho tudo nesta vida..,
Às vezes, penso: contudo,
se tu me faltas, querida,
de repente perco tudo!...
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Teus olhos, tua voz quente,
teu sorriso endiabrado,
dão logo impressão, à gente,
de ver o próprio pecado...
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Veio um dia a tempestade,
jogou-me a um canto da vida!
Tinha vinte anos de idade
e a mocidade perdida...
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Vida — mistério profundo!
Quem dirá da nossa Sorte?!
Que haverá depois do mundo?
Que haverá depois, da morte?!

Fonte:
Luiz Otávio. Cantigas dos sonhos perdidos. Coleção Trovas e Trovadores, organizada por Aparício Fernandes e Zalkind Piatigorky. RJ: Livraria Freitas Bastos, 1964.

Aparecido Raimundo de Souza (Imprevistos de bastidores)

O ABIXONDRE, cobrador e vendedor, acompanhado de duas malas pretas cheias de bugigangas entra no beco de Santa Madalena logo que termina de subir a favela do morro do Bode Barbudo. Bate palmas na porta do barraco vinte e um, espelunca que encabeça a ruela estreita de terra batida e poças de lama por todos os lados. Vem atender uma moça nova, ai pela faixa dos trinta. Embora o rosto seja aprazível, a sua figura, como um todo, se torna feia, em face dos cabelos em desalinho e a ausência de todos os dentes na boca. Abixondre cumprimenta a mulher e manda brasa expondo o motivo que o levou até ali:

— Bom dia, dona. Desculpe o incômodo. Como é seu nome?

— Quem quer saber? — devolve a pergunta a infeliz banguela.

— Eu, em carne e osso.

— Estou vendo. Quero que me diga o seu nome e do que se trata?

Abixondre, em poucas palavras, explica:

— Meu nome é Abixondre. Sou vendedor e cobrador. Trabalho para as Lojas “Temos de Tudo”. Meu parceiro, o Elias, coisa de um mês atrás, veio aqui e vendeu umas roupas de cama para seu José Carlos Lindo. Estou à procura dele, para receber a primeira prestação. Vence hoje.

A criatura balança a cabeça sinalizando que não conhece nenhum José Carlos Lindo:

— Não me disse — insiste Abixondre — qual é a sua graça?

— Sanfonina Beliscão. Acho que não terei como lhe ajudar. Moro aqui mais de cinco anos e nunca ouvi falar nesse tal de José Carlos Lindo. Tem certeza que é este o nome?

Abixondre mostra a ficha do tal sujeito:

— Aqui, dona Sanfonina. Veja a senhora mesma. José Carlos Lindo, Favela do Morro do Bode Chifrudo, beco Capivara, casa vinte e um.

Dona Sanfonina se abre num sorriso esquisito e logo em seguida volta à seriedade:

— Nunca ouvi falar em tal nome por aqui. O senhor é o primeiro que aparece à cata dele. E olha que conheço todo mundo. Não me esqueceria, em face do l-i-n-d-o...

Abixondre sorri e insiste:

— Puxe pela mente, dona Sanfonina. É muito importante...

— Sei como é. Meu marido também vive de cobranças e chega em casa estressado e reclamando. O que posso fazer pelo senhor, no momento, é o seguinte: esclarecer que esta viela não é a Capivara. O número da casa bate, mas o beco...

— Este não é o beco Capivara?

— Não, senhor...

— Aqui não é a favela do Morro do Bode Chifrudo?

— Não, senhor... aqui é a favela do morro do Bode Barbudo. O senhor deve ter se enganado de bode.

— Mais essa agora. E por acaso existe aqui pelas redondezas alguma outra favela que leve esse nome?

— Qual deles, senhor? Favela do Morro do Bode Barbudo, ou Favela do Morro do Bode Chifrudo? O único por aqui é o que o prezado está pisando nele. Realmente, seu Abixandro, aqui é a casa vinte e um. O beco é que não confere. O morro, como acabei de dizer, e repito, é o da Favela do Morro do Bode Barbudo e o beco, o de Santa Madalena.

Abixondre se abre num gesto de poucos amigos. Fala:

— Dona Sanfonina, meu nome é Abixondre e não Abixandro.

— Desculpe, moço. Entendi errado.

— Sem problemas.

— Se o senhor tiver com vontade e disposição nas canelas para subir mais um pouco, lá para cima, com essas duas malas pesadas, encontrará uma pracinha. O beco procurado, este Capivara é um dos últimos. Fica duas quadras depois da pracinha. Continue subindo... é uma boa caminhada... a vista da cidade, lá do cume, se torna eletrizante... surreal... compensa o sacrifício...

Abixondre agradece, se despede de dona Sanfonina passa as mãos nas duas malas e segue escalando barranco acima. Anda bem quase um quilômetro, vez que o caminho às vezes segue para o lado direito, outras pende para o esquerdo. A se ver na mencionada pracinha, tira do bolso um lenço e enxuga o suor. A camisa está empapada. Espia em derredor. Crianças acompanhadas de suas respectivas mamães, se divertem num parquinho com brinquedos caindo aos pedaços, enquanto um bando de moleques joga bola. Abixondre se aproxima de um estabelecimento comercial onde uma tabuleta com letras em garranchos vermelhos anunciam o “Empório do Zé Lagarto”. Ao ingressar, topa com um senhor em idade avançada recostado no balcão:

— Bom dia, cavalheiro. Pois não?

— Bom dia, meu amigo. O senhor deve ser o seu Zé Lagarto?

— Sim, sou o Zé Lagarto, às suas ordens...

— Poderia me dizer, por favor, onde fica o Beco da Capivara?

O velhote sai de seu posto, pega o estrangeiro pelo braço. Se achega com ele até a porta e aponta, dedo em riste, para um determinado local:

— Está vendo a quitanda?

— Sim.

— Ao lado, tem uma barbearia. Encostado à ela, está o Beco da Capivara. Por mera curiosidade. Quem o senhor caça por estas bandas?

Abixondre pede um café enquanto exibe a ficha:

— Procuro pelo seu José Carlos Lindo.

— José Carlos Lindo?

— Sim! Conhece?

— Nunca ouvi falar...

— Saberia informar qual o número dele na Capivara?

— Nenhum. No Vinte e um mora um homem, mas não é esse o nome do estrangeiro.

O vendeiro coça a cabeça:

— No vinte e um  deste beco, repito com todas as letras, não tem nenhum José Carlos Lindo.

Abixondre insiste:

— O senhor tem certeza?

— Absoluta. Todo mundo por aqui conhece todo mundo. Sabe o nome da esposa dele?

— Não.

Adentra, nesse momento, um rapazola com um carrinho de mão. É o garoto que faz a entrega das compras nos casebres dos radicados nas proximidades:

— Deixa eu perguntar por um morador aqui do pedaço. É o  Catatau, meu funcionário. Catatau, ali no buraco do seu beco, tem algum Lindo, digo, um José Carlos Lindo?

O tal do Catatau se vira e, antes de responder, cumprimenta os dois homens a sua frente:

— Bons dias. José Carlos Lindo? Não conheço. Sabe o número do barraco dele?

— Vinte e um.

— Seu Luiz, o beco é pequeno. Vai do um ao trinta, mas os números não seguem uma ordem cronológica. Tem o um, o cinco, o dezenove, o trinta... depois cai para o doze, desce para o sete... logo adiante, volta à regredir para o dois, e, em seguida, o dez. Cada morador prega no seu “quadrado” o número que lhe dá na telha...

— E o José Carlos Lindo?

— O que tem ele?

— Nunca ouvi falar. A única pessoa nova no pedaço é o seu Marreta. Se esconde no vinte e um, ou mais precisamente nos fundos da dona Mercedes.

Engalanando o pedaço surge, do nada, a espevitada e gostosa Mercedes Caninana. Mulher de belas pernas, corpo de princesa. De fato, aos vinte e cinco, tudo nos conformes, linda de morrer. Chega, pede um refrigerante e um pastel de carne. Todos se voltam quando ela se acomoda numa das mesas. A pérola anda nos trinques. Se veste como se fosse dama da alta sociedade.

O vendeiro assim que serve o pedido, indaga pelo José Carlos Lindo:

— Senhorita Mercedes, desculpe a indiscrição. Conhece o seu José Carlos Lindo?

— Nunca ouvi falar...

— Aquele senhor que sempre passa por aqui com a senhora. Sabe onde ele mora?

— Sei, claro. O senhor se refere ao Marreta? É meu inquilino! Mora num puxadinho que aluguei para ele, contíguo ao meu cafofo. Um bom sujeito. Não tem Lindo. Posso saber o que o senhor quer com ele?

— Na verdade, senhorita Mercedes, eu nada. O senhor é que está aos calcanhares dele. No que fala, aponta o Abixondre.

Mercedes se levanta da mesa e caminha até onde Abixondre,  em pé, se assemelha a uma estátua:

— E o que o senhor quer com o velho Marreta?

— Senhora, meu parceiro Elias, vendeu para o senhor José Carlos Lindo, umas peças de roupas e eu vim receber. Um vende, o outro recebe... entretanto, acho que o seu Marreta não é quem realmente procuro...

Mercedes se faz de sonsa. Indaga:

— Pelas suas malas, por acaso o senhor vende alguma coisa?

— Acertou na mosca, senhorita.

— Que sorte, a minha. Pretendia descer para comprar uns panos novos. Olhe, tenho interesse em adquirir novidades. Se puder fazer a gentileza de me acompanhar....

— Será um enorme prazer.

Mercedes Caninana, após o rápido lanche, sai acompanhada de Abixondre ajudando, inclusive, o mascate a carregar uma das malas:

— Senhorita, por gentileza, sejamos francos e honestos. Por que me pediu para vir até sua residência?

— Serei bem clara e sucinta. Ninguém aqui no morro da Favela do Bode Barbudo sabe que o Marreta é algo mais que meu locatário...

Põe em prática uma pausa ensaiada. E segue com seu relato:

— Lá no asfalto, onde mora, Marreta ostenta o seu Lindo. É um empresário renomado. Tem mulher, uma penca de filhos e blá-blá-blá... a gente se conheceu... ele me fez um favor e, desde então, passamos a ter um chamego... o senhor sabe como é. Para que pessoas enxeridas não venham lá dos quintos nos perturbar... como o senhor pode ver... a minha Marretada no Lindo do velho senhor Marreta, deu certo. Posso contar com a sua total discrição, no sentido de não revelar para ninguém que o Marreta, é, na verdade, o seu procurado José Carlos Lindo?

— Pelo amor de Deus, senhorita. Vamos mudar o rumo da prosa. Tem a minha palavra. Já esqueci do seu Lindo. Marreta é o nome do cidadão que vim cobrar a prestação vencida...

A beldade mete a chave e empurra a porta de entrada. Os dois somem, aos risos, para dentro da humilde residência.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Varal de Trovas n. 563

 

Stanislaw Ponte Preta (Os sintomas)

Há dias que vinha sentindo uma dorzinha fina na virilha. Rosamundo, com aquela distração que é a sua bandeira de comando, só começou a senti-la provavelmente depois de muito tempo, pois até para dor o Rosa é distraído. Na tarde em que percebeu a dorzinha, pensou: "Devo ter me contundido durante o futebol", sem se lembrar de um detalhe importante, ou seja, nunca jogou futebol.

À noitinha a dor diminuíra. Devia ser íngua. Mas Rosamundo é um sujeito muito impressionável. Para se sugestionar é quase um botafoguense, embora torça pelo Andaraí, time que já saiu da liga, mas ele ainda não percebeu. Dias depois, visitando um amigo, com o qual estava brigado mas não se lembrava, encontrou-o acamado, sob a ameaça de seguir a qualquer momento para uma casa de saúde, onde seria operado, em regime de urgência, de uma hérnia.

Entre gemidos o amigo explicava como aquilo começara. Sentira uma dorzinha na virilha. Logo que começou pensou que era uma íngua e nem deu importância. Já nem se lembrava mais da dorzinha quando ela voltou com uma violência quase insuportável. Sentiu primeiro a impressão de que as calças estavam lhe apertando, mas as calças que vestia eram até folgadinhas. A impressão, no entanto, ficara, até dar naquilo: ali deitado, à espera do médico para entrar na faca.

E o amigo gemia. Foi quando chegou o médico, examinou assim por alto e sentenciou: "Temos de operar imediatamente. É uma hérnia estrangulada". E lá fora o amigo de Rosamundo a caminho do hospital. O Rosa, por sua vez, foi para casa, mas não tirava da cabeça a lembrança da dorzinha que sentira, parecidíssima com a do doente.

Sua suspeita transformou-se em pânico na manhã seguinte. Acordara tarde e atrasado para um encontro. Vestira-se no quarto escuro, para não acordar a mulher, e se mandara. Ainda não chegara ao encontro e todos os sintomas que levaram o outro para a operação de emergência começaram a se manifestar nele. Até aquele detalhe da calça que parecia apertar, mas estava folgada a olhos vistos, ele sentia.

Disparou para casa e foi logo pedindo o médico. Estava com hérnia. Deitou-se vestido mesmo, com medo de piorar, e a mulher apavorada começou a telefonar para o médico. Chamado assim às pressas, veio imediatamente. Entrou no quarto, olhou para a cara impressionantemente pálida de Rosamundo e mandou que ele se despisse para o exame. E foi aí que o Rosa percebeu que, em vez de cueca, vestira de manhã a calcinha da mulher.

Fonte:
Stanislaw Ponte Preta. Gol de padre. Atica, 1997.

Caldeirão Poético XLIX


 JOSÉ COELHO ALMEIDA COUSIN
Sacramento/MG, 1897 – 1991, Rio de Janeiro/RJ

Tormento Azul

Partiste. A noite é calma e o luar mavioso
dos silêncios da luz. Noite tão pura
como se Deus abrisse a mão na altura,
todo bênçãos de paz ao mundo ansioso.

Crise de nervos quebrantou-me — e o gozo
do meu sofrer acerba-se em tortura:
a noite é como o cálix de amargura,
que um anjo azul me vem trazer, piedoso...

Perdi-te! Nunca mais! — A lua, entanto,
como a entender-me, em desconsolo infindo,
chora nas folhas pérolas de pranto...

E pelos céus, no meu fatal delírio,
vejo as estrelas, quatro a quatro, abrindo
braços de cruzes para o meu martírio!...
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ARISTÊO SEIXAS
Resende/RJ, 1881 – 1965, São Paulo/SP

Velho

Antes da minha trôpega velhice,
por onde a força do meu pulso andasse,
não sei de algema que se não quebrasse,
não sei de pedra que se não partisse.

Vinha-me aos pés o mar, por que eu o ouvisse,
e temia-me o vento que soprasse;
o próprio monte, que eu subir tentasse,
baixava o dorso, para que eu subisse.

E em mim, só resta a neve dos cabelos!
Fora de mim, a morte, com seu luto,
cheia de espectros e de pesadelos.

A árvore mesma, cujo amor assombra,
levanta as ramas e me esconde o fruto,
derruba as folhas e me nega a sombra!
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ARISTHEU BULHÕES
Maceió/CE, 1909 – 2000, Santos/SP

Novo alento

Encontrei-te na estrada do Destino,
e tuas mãos fidalgas me levaram
pelos campos do amor, num desatino
que meus próprios sentidos estranharam.

Novo horizonte, agora, descortino...
As paisagens sombrias se alegraram.
Sou, de novo, feliz, como em menino,
pois meus anseios já se realizaram.

Antes, na vida, conduzido a esmo,
compartindo o pesar comigo mesmo,
via o meu sonho transformar-se em pó.

Hoje, alentado pelo teu carinho,
tenho flores brotando em meu caminho,
e já não sofro e nem sorrio só!
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BELMIRO BRAGA
Vargem Grande/MG, 1872 – 1937, Juiz de Fora/MG

Risália

Se ouvires, a sonhar, uns vãos rumores,
não são as aves festejando o dia:
— São os últimos gritos que te envia
meu triste coração, morto de amores...

Se sentires uns tépidos olores,
não penses que é o rosal que te inebria:
— É minha alma nas ânsias da agonia
que, só por te beijar, se muda em flores...

Se vires balouçar as níveas gazas
do docel de teu leito, não te afoites,
nem te assustes, querida! São meus zelos

que vão, de leve, sacudindo as asas,
carinhosos, beijar, todas as noites,
teus olhos, tua fronte e teus cabelos...
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BERTA CELESTE HOMEM DE MELO
Pindamonhangaba/SP, 1902 – 1999, Jacareí/SP

Ilusão

Ilusão! sonho efêmero e falaz,
que nos seduz e embala o coração!
Sublime, terno enleio que nos traz,
de um bem sonhado, a doce sensação!

Bendita e vã, quimérica e fugaz,
dura, às vezes, tão pouco uma ilusão!
É um bem pueril que nasce e se desfaz,
qual uma frágil bolha de sabão!

Mas, enganosa e vã, fugace embora,
ai de quem segue pela vida afora,
sem que lhe cante na alma uma ilusão!

Uma ilusão que vá por seus caminhos,
piedosa e boa, a disfarçar espinhos,
despetalando flores pelo chão!...

Fonte:
Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.

Estante de Livros (Gol de Padre e outras crônicas, de Stanislaw Ponte Preta)

RESUMO


Gol de Padre e outras crônicas reúne crônicas escritas por Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo utilizado por Sérgio Porto.

Em “Gol de padre”, o narrador observa, da janela de seu trabalho, as crianças no pátio da escola na hora do recreio. Gosta de observar, pois acredita que nunca devemos deixar que “o menino morra completamente dentro da gente”. Vê que um padre, de forma firme e autoritária, organiza a partida de futebol dos meninos. O padre não deixa escapar nenhuma malandragem, faz advertência e expulsa os mais atrevidos. Ao final do recreio, a partida termina, os meninos voltam para as salas e o padre vai recolher a bola. Para a surpresa do narrador que observa, o padre, achando que ninguém mais olhava, joga a bola para o alto, levanta a batina e dribla a caminho do gol, mostrando que ainda conservava o menino dentro de si.

Na crônica “O Milagre”, havia um padre bem feitor em uma pequena cidade. Depois de sua morte, como forma de homenagem, o povo da cidade conservou intacto o quartinho atrás da venda onde o padre vivia. Certo dia, apareceu no quarto uma vela acesa no mesmo horário em que o vigário costumava acender. O milagre se espalhou e começou a aparecer gente ajoelhada na janela do quartinho pedindo graças. Foram muitos os casos de doenças curadas e preces atendidas. Com a fama, romarias se formavam em direção à cidade. Até que, com o tempo, o alvoroço passou. O narrador, ao passar pela venda, resolveu pedir uma cerveja. O dono da venda gritou para um menino: “- Ó Milagre, sirva uma cerveja ao freguês!” O narrador fica curioso e pergunta o porquê desse nome. O dono da venda explica que era o menino quem acendia vela, no quartinho do padre.

O marido ia pra São Paulo numa viagem a trabalho em “O Homem Que Não Foi a São Paulo”. Já tinha avisado a sua esposa e estava de malas prontas. Só que não estava animado, estava lhe dando uma chateação pensar que iria até São Paulo para resolver algo tão simples. Tentou fazer o que havia de ser feito pelo telefone e conseguiu. Resolve, então, ligar para a esposa, Mercedes, dizendo que viajou, mas fica no Rio. Nesse momento, seu amigo Augusto o convida para um pagode onde estariam os aguardando duas mulheres: o caso de Augusto e uma amiga que procurava companhia. O narrador rasga a passagem para sua esposa não desconfiar de nada e segue para o bar com Augusto. Chegando lá, para a sua surpresa, descobre que era a própria esposa quem o aguardava. Revoltado, parte para cima dela e lhe dá umas bolachas.

No texto “Levantadores de copo”, quatro amigos bebem num bar até tarde. Um começa a cantar um samba, o outro diz que a música não presta e começam a discutir até que os outros apartam. A fala embargada pela bebida só cessa quando passa uma mulher, depois voltam a falar novamente. Certa hora, o garçom vem trazer a conta e eles seguem juntos para suas casas. Todos os quatro eram casados. Ao chegar à porta da casa de um deles, com dificuldade, conseguem tocar a campainha. Atende uma mulher sonolenta que começa a dar uma bronca por conta do estado em que estavam e pelo horário. E um deles responde: “— Sem bronca, minha senhora. Veja logo qual de nós quatro é o seu marido que os outros três querem ir para casa”.

ANÁLISE

Gol de Padre e outras crônicas é uma coletânea de crônicas de Sérgio Porto. As crônicas apresentam uma linguagem simples e histórias do cotidiano como tema. As histórias são sempre contadas com humor e ironia. De forma irreverente, os escritos de Porto representam o retrato de sua época: o Rio de Janeiro da década de 60.

Neste livro encontramos a caracterização de tipos comuns: o adulto que se permite ter um instante de menino, recordando sua infância; o marido adúltero que acredita estar enganando, mas descobre que também está sendo enganado; o grupo de amigos que fica no bar até tarde e leva bronca quando chega a casa, entre outros. Com histórias do cotidiano o autor constrói um interessante panorama da sociedade em geral.

Os personagens das crônicas de Stanislaw Ponte Preta são caracterizados de forma bastante superficial, muitos não chegam a receber um nome, só sabemos o suficiente para entender as histórias. Por isso, em muita das crônicas, dizemos que o narrador executa as ações, pois seu nome, muitas vezes, não é relevado. Por tratar-se de narrativas muito curtas, o foco das histórias não é a construção dos personagens, mas sim a situação.

 Por trás das histórias cheias de humor, havia uma crítica à política e ao moralismo vigente na sociedade da época. Através de sua narrativa, as situações comuns vividas no dia a dia ganham um olhar peculiar, o que faz o leitor rir e ao mesmo tempo questionar a realidade. Suas críticas são feitas com humor e ironia, o que proporciona uma leitura descontraída, mas que revela muito sobre as questões sociais e psicológicas da cidade do Rio de Janeiro nos 60.

A falta de profunda caracterização dos personagens é comum ao estilo de narrativa breve, como a crônica. Isso se dá porque o foco neste tipo de narrativa está na situação apresentada. Ao final da história, podemos observar uma moral, uma mensagem que o autor deseja transmitir: seja a de não deixar morrer o lado criança que existe em cada adulto, mostrar que aquele que se acha esperto pode se surpreender ou fazer uma crítica ao funcionalismo público.

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Filemon Martins (Paleta de Trovas) 8


 

Silmar Böhrer (Croniquinha) 56

Um daqueles junhos das borrascas no sul. E foi ali no cantinho lindeiro da Canastra que nasci. Um plano alto conhecido como Chapadão, numa casa feita de retalhos-remendos de madeira, próxima do salão de bailes, tertúlias, quermesses, que animavam a comunidade de São João, em Canela-RS.

Mas pouco durou a morada. Logo papai, mamãe e o gurizinho foram de mala e cuia para os Campos de Cima da Serra. Primeiro, Jaquirana, quilômetros longe da cidade, num confim de campo onde no inverno tinha que tirar a neve do telhado de tabuinhas para não ruir. Em seguida, São Chico de Paula, numa fazenda com vastas coxilhas, serraria, pinheiros abundantes. E frio também.

O garotinho cresceu e papai queria que ele estudasse. Internato com oito anos. O abecê, os números, uma caneta, e eles, os livros. Primícias dum leitor. O guri se fez adolescente. Quinze anos.

A primeira assinatura: Seleções do Reader's Digest. A porteira se abriu na variedade das leituras.

Nos rastros dos livros vieram os escreveres - versos, crônicas, redações. E a filosofia deixando pegadas. As sementes, o fermento dos leres, viraram plantação, cultivo, colheita. A lavra acabou em investimento forte de recursos para sempre.

O escrevinhador apaixonado pelas letras e leituras saiu pelo mundo espalhando emoções, sentimentos, pensares a granel em forma de palavras. Romeiro da cultura, anda com a arrecova* recheada de livros, esses depósitos de conhecimentos que alimentam as mentes de todos nós, sendo nortes-instrumentos para que na vida se avance. 
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* Arrecova = bagagem, malas.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Baú de Trovas LI


De barro se faz o homem,
e de luz principalmente.
O barro, os anos consomem;
a luz eterniza a gente.
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
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Vendo-te os lábios vermelhos,
deles morro enamorado.
Mas, em te vendo os joelhos,
me sinto ressuscitado...
ARLINDO BARBOSA
(Matias Barbosa/MG) São Paulo/SP
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A madame era tão chique
e de tão fina linhagem,
que até para ter chilique
retocava a maquiagem!
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG
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Em nossa Constituição
este artigo deve entrar:
— Quem já tiver seu emprego,
não precisa trabalhar...
AUGUSTO LINHARES
Baturité/CE, 1879 – 1963, Rio de Janeiro/RJ
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Com teu doce viço expeles
quatro pétalas de aromas:
régia flor de rubras peles,
és Rosa, e de amor nos tomas!…
ELIAS PESCADOR
São Paulo/SP
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A justiça, rica em falhas,
corrompida por esquemas,
enche de glória e medalhas
mãos que merecem algemas!
GERSON SOUZA
São Mateus do Sul/PR
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Dei-te o melhor dos abraços,
do mais profundo querer...
Mas a força dos meus braços
não conseguiu te prender!
JANSKE NIEMANN SCHLENKER
Curitiba/PR
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Inês, a graça que tens,
a maior dentre as demais,
ninguém a vê quando vens,
sómente a vê quando vais.
JOÃO CARLOS DE VASCONCELOS
Natal/RN, 1893 –  
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Marido que quintal tendo
anda no alheio roçado,
acaba, por certo, vendo
o seu quintal capinado...
JOÃO RODRIGUES
Campos dos Goytacazes, 1911 –
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Bela filha da floresta,
Maringá é uma lição:
nela o trabalho é uma festa
e o progresso é uma canção.
JORGE FREGADOLLI
Maringá/PR
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O nosso destino até
com nomes faz ironia:
Ela é Maria José,
e eu sou José… sem Maria!
JOSÉ COELHO DE BABO
Quinta do Cedro/Portugal, 1910 – 1986, Nova Friburgo/RJ
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Com saias nunca te metas,
se queres viver feliz.
Por isso tenhas cuidado
com mulher, padre e juiz...
JOSÉ RAIMUNDO BANDEIRA
Santos Dumont/MG, 1923 –
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Na corda bamba da vida
o povo sofre, a dançar...
Mas não aprende a escolher
quem saiba a corda esticar!
JOSIAS DE PAIVA PINHEIRO
Jacutinga/MG, 1909 –   , Campinas/SP
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O teu narigão vermelho,
que parece um pimentão,
espanta qualquer espelho
que não sofra da visão!...
JULIMAR VIEIRA
Aracaju/SE
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Rosas vermelhas, paixão…
Com perfume embriagador,
despertam meu coração
para os acordes do amor!…
LUCILIA TRINDADE DE CARLI
Bandeirantes/PR
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"Se é ocê que tá me espreitando,
lá no cantim, iscundido,
bom sabê qui tô aceitando,
só farta fazê o pidido."
MÁRCIA JABER
Juiz de Fora/MG
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Solidão e violão
são irmãos e não se largam:
uma amarga o coração,
outro adoça os que se amargam.
OLIVALDO JÚNIOR
Mogi-Guaçu/SP
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O ar da serra eu lhe receito,
— disse o doutor ao Santana.
E este, em casa, satisfeito,
pega um serrote e se abana!
P. DE PETRUS
São Paulo/SP, 1920 – 1999, Rio de Janeiro/RJ
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Na estação do meu anseio,
nos perdemos de nós dois...
– Não foi o trem que não veio,
fui eu que cheguei depois!...
PEDRO MELO
União da Vitória/PR
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Sempre sozinha, aos farrapos,
mas de rosário na mão…
A fé tecida entre os trapos
remendava a solidão!
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
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Na língua ele se aprofunda
e, quando algo nos explica,
o faz com tal barafunda
que a gente mais burro fica!
PYLADES GAMA
Muzambinho/MG, 1904 –   ,Rio de Janeiro/RJ
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A bagunça  aconteceu,
a fogueira nos  clareou,
a música emudeceu…
e São João  nos   abençoou!
REGINA RINALDI
Pariquera-Açu/SP
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Ao tocar uma canção
que chora o fim de um amor,
também chora o violão
nos braços do cantador!
RENATA PACOLLA
São Paulo/SP
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Por mais que eu seja fraterno
socorrendo o pobre irmão,
pior que o frio do inverno,
é o frio do coração.
ROMILTON FARIA
Juiz de Fora/MG
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Pelo pensamento alheio,
bem lembrado, eu quero ser.
Que ampara, tal qual esteio,
tendo a força do poder.
SILVIA SVEREDA
Irati/Pr
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Entre tantas belas flores
elas são as mais airosas
e perfumam os amores…
Estou falando das rosas!
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP
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Garota que, muitas vezes,
com jantares se tapeia
vai, durante nove meses,
“chorar… de barriga cheia!”
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
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Se diante de algum tropeço
a minha fé sofre entraves,
perdão, Deus! É que me esqueço
de olhar os lírios e as aves.
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR
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As nuvens choraram tanto,
que o sol compensa o escarcéu,
tecendo com doce encanto
mais sete cores no céu!
WANDIRA F. QUEIROZ
Curitiba/PR

Fabiane Braga Lima (O poeta estuda as almas)

Cheguei numa fase da vida que me sinto privilegiada. Sabe, aquela fase, onde desatamos os nós que nos prendia a tantas futilidades. Faço o que gosto, sem pressa e sem precisar agradar ninguém. Porque no fim, sempre acabamos sozinhos(as).

Como é bom acordar bem humorada! Não, com o semblante triste, envergonhado(a) por absolver tanto desprezo, e muitas vezes sermos chamadas de louca, ou vadia. Sinceramente, eu não me importo mais, não sou uma princesa, nem pretendo ser.

Sou apenas uma mulher, na qual quebra tabus, nada santa! Tenho paixão pela escrita de vários gêneros, posso ser pura e impura, depende do dia. Não sou de dar indireta, sou direta sempre e apenas uma vez.

Cresci psicologicamente! Gosto de pessoas com espíritos livres, mas nem sempre fui assim, me prendia muito ao passado. Hoje sou errante, não tenho destino. O vento me guia. Sofri muito no passado! Mas cá entre nós, o que o passado nos reserva!? Nada, pois passado é apenas passado. Exceto que ficam as lembranças boas ainda dói muito. Como dói! Mas a vida segue, somos instantes.

Quantas vezes chorei por amores passageiros. Hoje, restou-me o presente, onde me enxergo uma mulher, com rugas em volta dos olhos, alguns cabelos brancos, um corpão excitado, sonhadora, e ao mesmo tempo realista.

São tempos sombrios de amores líquidos, fuja! Lute, lute muito, tenha sempre expectativa na vida, mas se coloque em primeiro lugar. Se priorize, quebre tabus, e (amor-próprio) sempre.

Converse com o espelho e diga: — Mulher, como você é linda, tão pura e impura! Santa!? Só você pode responder...! Apenas uma mulher.

Fonte:
Texto enviado por Samuel C. da Costa