O tuk tuk é um colorido triciclo adaptado com cobertura e banco para dois passageiros. Muito utilizado como táxi na Índia, suas três rodas simplesmente voam como um tapete mágico, pelo caótico trânsito das cidades indianas. Disputando espaço com vacas e pedestres, seu condutor sempre toma cuidado para não atropelar as vacas sagradas, não se importando tanto assim em relação aos mundanos humanos. Contratei um desses veículos para conhecer a cidade de Varanasi, que é considerada uma das cidades mais antigas e sagradas do mundo.
Pedi ao piloto dessa exótica máquina me levar a Sarnath, onde o Buda pregou pela primeira vez. E lá fomos nós, enfrentando um trânsito de vacas, elefantes e até carros!
Paramos.
– Aqui é Sarnath? – perguntei desconfiado.
– Não, senhor. Aqui é o mercado de tapetes. O senhor não quer aproveitar para comprar um tapete?
– Não, obrigado! – respondi, imaginando como seria carregar um tapete pelo mundo, uma vez que ainda viajaria por alguns meses até voltar para casa.
– Tem certeza? Conheço alguém que faz um preço muito bom para os meus amigos.
Fiquei imaginando se eu já era amigo do condutor de tuk tuk.
– Não, obrigado. Prefiro ir direto para Sarnath.
O piloto balançou a cabeça para os lados. E lá fomos nós.
– Aqui é Sarnath? – perguntei, com a certeza de que não era.
– Não, senhor. Aqui é uma lojinha de outro amigo meu. Tinha me esquecido dele! Ele vende tapetes mais baratos do que o preço de mercado. Não quer comprar um?
– Não, obrigado.
– É baratinho.
Em todo lugar do mundo, o baratinho sempre tem uma comissão. Se o guia de uma excursão visita uma loja, geralmente ele leva uma pequena porcentagem do dinheiro que o turista deixou lá. Mas esse nem era o problema, o problema era que eu não queria comprar tapete algum.
– Não, obrigado.
O piloto balançou o turbante para os lados. E lá fomos nós.
Buda já havia pregado em Sarnath, há dois mil e quinhentos anos, que tudo neste mundo é sofrimento. Comecei a acreditar nisso.
Nem perguntei se era Sarnath.
– Olha, o senhor ainda tem uma chance de comprar um tapete. Aqui…
– Meu amigo, por favor, já disse que não quero comprar tapetes. Tudo o que desejo é apenas ir para Sarnath! E se o senhor me levar para mais uma loja de tapetes, nem sei o que farei, mas sei que não será algo bom.
– Tudo bem, desculpe. Juro que não levo o senhor para outra loja de tapetes…
Era Sarnath.
Visitei os templos. Meditei. Senti uma paz profunda. E também me senti envergonhado por ter perdido a paciência com o condutor de tuk tuk. Pedi desculpas a ele e fomos embora.
Antes de chegarmos ao nosso próximo ponto de peregrinação…
Paramos.
Fiquei com medo de ver outra loja de tapetes.
– Senhor, não se preocupe. Prometi que não o levaria a outra loja de tapetes. Aqui é um museu e acho que o senhor vai gostar…
Senti um pouco de culpa por ter duvidado do condutor de tuk tuk. Caminhei até a entrada do museu. Sim, era um museu, pois na fachada estava escrito: “Museu do Tapete”.
Um sorridente bigodudo saiu para nos receber.
– Bem-vindo ao Museu do Tapete! O senhor tem muita sorte! Somente hoje, e só hoje, todo o nosso acervo está à venda!
Fonte:
André Kondo. Palavras de areia. Ed. In House, 2013.
André Kondo. Palavras de areia. Ed. In House, 2013.
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