Vejam que situação. Um jantar com lugares marcados, todos sentados, e foi logo nascer um furúnculo no Amadeu, justamente no lugar onde o impedia de sentar. Sujeito com furúnculo só deve aceitar convite pra jantar americano. Lugar marcado é fogo, nunca se sabe se daqui até lá vai nascer um furúnculo. É contra a etiqueta desmarcar em cima da hora um convite que já foi confirmado há quase uma semana.
Amadeu não teve outro jeito senão ir. Pegou a mulher pelo braço, entrou no táxi:
— Ui!
— Que foi, Amadeu?
— Nada, não.
— Ah.
Na porta, ela ajudou-o a descer, o que já foi chato. Os dois eram metidos a respeitar os pequenos detalhes que tornam mais insuportável o convívio social. A bíblia de ambos era o livro de Amy Vanderbilt, e só cometiam gafes quando nenhum dos presentes sabia qual o certo e qual o errado, muito embora eles sempre estivessem certos.
— Vai você na frente, Amadeu. – Ele ia.
— Desse lado, não, Amadeu. O cavalheiro deve ficar desse lado.
— Mas desse eu não posso, meu bem.
Lá em cima, emendaram os sorrisos num só. Tinham o apelido de “casal simpatia”, tal a força que faziam pra serem simpáticos. Muitas vezes, sua simpatia hostilizava aos menos íntimos. Dona Violeta os recebeu de braços abertos, dentro do seu imenso decote. Estava chiquérrima:
— Quero lhes apresentar o conde e a condessa,
— Prazer.
— Ui!
Amadeu não podia se curvar pra beijar a mão das senhoras.
— Ui!
Se evitasse, era pior, porque sua mulher lhe dava discretamente uma joelhada bem em cima do furúnculo.
— Aaaaaaaaaaaaaaai!
Pior foi depois, na hora do jantar. Estavam todos à mesa e o lugar do Amadeu vazio.
— Você não vem, Amadeu? — insistia dona Violeta.
— Vou já. Um minutinho só, que vou lavar as mãos.
Começaram a pilheriar com ele, surgiram as brincadeiras maliciosas, alguns chegaram a bater com os talheres no prato, como nos filmes de penitenciária. E o Amadeu, nada. O garçom já estava ficando impaciente, e quando um garçom de casa de família fica impaciente, imaginem a própria família. A mulher do Amadeu já não aguentava mais de vergonha, levantou-se furiosa e foi diretamente ao banheiro:
— Amadeu, você vai ou não sair daí de dentro?
Silêncio.
— Como é, Amadeu, está todo mundo esperando por você!
Silêncio.
— Amadeu! Ó Amadeu! Responda, pelo amor de Deus.
Sua mulher já estava em pânico, quando os convidados levantaram da mesa e foram ao seu encontro. Alguém sugeriu:
— Acho melhor arrombar a porta.
Foi o que fizeram. A torneira do lavatório estava aberta, havia um chumaço de algodão no chão. Só não encontraram o Amadeu, que havia escapulido pela janelinha. O vexame foi tão grande que ninguém entendeu nada, voltaram todos mudos para a mesa e dona Violeta mandou servir o jantar. Só que agora havia dois lugares vazios.
Amadeu não teve outro jeito senão ir. Pegou a mulher pelo braço, entrou no táxi:
— Ui!
— Que foi, Amadeu?
— Nada, não.
— Ah.
Na porta, ela ajudou-o a descer, o que já foi chato. Os dois eram metidos a respeitar os pequenos detalhes que tornam mais insuportável o convívio social. A bíblia de ambos era o livro de Amy Vanderbilt, e só cometiam gafes quando nenhum dos presentes sabia qual o certo e qual o errado, muito embora eles sempre estivessem certos.
— Vai você na frente, Amadeu. – Ele ia.
— Desse lado, não, Amadeu. O cavalheiro deve ficar desse lado.
— Mas desse eu não posso, meu bem.
Lá em cima, emendaram os sorrisos num só. Tinham o apelido de “casal simpatia”, tal a força que faziam pra serem simpáticos. Muitas vezes, sua simpatia hostilizava aos menos íntimos. Dona Violeta os recebeu de braços abertos, dentro do seu imenso decote. Estava chiquérrima:
— Quero lhes apresentar o conde e a condessa,
— Prazer.
— Ui!
Amadeu não podia se curvar pra beijar a mão das senhoras.
— Ui!
Se evitasse, era pior, porque sua mulher lhe dava discretamente uma joelhada bem em cima do furúnculo.
— Aaaaaaaaaaaaaaai!
Pior foi depois, na hora do jantar. Estavam todos à mesa e o lugar do Amadeu vazio.
— Você não vem, Amadeu? — insistia dona Violeta.
— Vou já. Um minutinho só, que vou lavar as mãos.
Começaram a pilheriar com ele, surgiram as brincadeiras maliciosas, alguns chegaram a bater com os talheres no prato, como nos filmes de penitenciária. E o Amadeu, nada. O garçom já estava ficando impaciente, e quando um garçom de casa de família fica impaciente, imaginem a própria família. A mulher do Amadeu já não aguentava mais de vergonha, levantou-se furiosa e foi diretamente ao banheiro:
— Amadeu, você vai ou não sair daí de dentro?
Silêncio.
— Como é, Amadeu, está todo mundo esperando por você!
Silêncio.
— Amadeu! Ó Amadeu! Responda, pelo amor de Deus.
Sua mulher já estava em pânico, quando os convidados levantaram da mesa e foram ao seu encontro. Alguém sugeriu:
— Acho melhor arrombar a porta.
Foi o que fizeram. A torneira do lavatório estava aberta, havia um chumaço de algodão no chão. Só não encontraram o Amadeu, que havia escapulido pela janelinha. O vexame foi tão grande que ninguém entendeu nada, voltaram todos mudos para a mesa e dona Violeta mandou servir o jantar. Só que agora havia dois lugares vazios.
Fonte:
Leon Eliachar. A mulher em flagrante. (desenhos e paginação de Fortuna). Publicado em 1965.
Leon Eliachar. A mulher em flagrante. (desenhos e paginação de Fortuna). Publicado em 1965.
Nenhum comentário:
Postar um comentário