sexta-feira, 15 de julho de 2022

Filemon Martins (Questão de valores morais)

Não sei se por formação no lar ou se o indivíduo já nasce com aquele instinto que o faz pensar ser superior aos outros. Muitas pessoas nascem em berço de ouro e no decorrer da vida têm uma educação esmerada, fazem Cursos Superiores, pós-graduação nisto ou naquilo, mas profissionalmente se tornam arrogantes e prepotentes.

O contrário também é verdadeiro: o indivíduo faz inúmeros Cursos Superiores, adquire muito conhecimento, possui uma cultura exemplar, torna-se rico, mas se mantém entre os mortais, detesta bajulação e se relaciona normalmente.

Quando na ativa, em todos os locais em que trabalhei sempre havia um ou vários autoritários e arrogantes. Imaginavam-se insubstituíveis, donos da verdade, mestres em tudo e queriam, por força, mandar em todos. Tornavam-se uns gravatinhas, como eu costumava chamá-los. Vez por outra nos enfrentávamos em embates de trabalho quanto a Organização e Métodos (OM) ou mesmo quanto à eficácia do trabalho,

No cotidiano da vida são pessoas que valorizam a aparência, o externo, a roupa, o sapato, o carro, a casa, sem enxergarem o principal que todos nós carregamos no coração. Andam pelas ruas de nariz empinado, falam bonito, de peito estufado e são capazes de pisar em qualquer pessoa descuidada que, por infelicidade, cruzem seus caminhos. Nós, pobres mortais, somos classificados como aquele antigo sabonete "VALE QUANTO PESA". Se temos uma casa, valemos a casa; se temos um carro, valemos o carro; se nada possuímos, não valemos nada.

Em minha existência, conheci muitas pessoas soberbas, vazias e arrogantes, mas pelo menos duas foram inesquecíveis. Ambas trabalhavam na Empresa Folha da Manhã S/A. A primeira pessoa trabalhava bem próximo de nós e fora conduzido ao cargo pelo famoso QI (quem indica). Era uma espécie de Assessor Especial que fazia o elo entre o setor de cobrança e figuras importantes, ator, atrizes, empresários que preferiam pagar suas assinaturas direto no jornal FOLHA DE S. PAULO, Para isso, trabalhava numa sala mais sofisticada com café, chá e bolachinhas, onde recebia essas pessoas ilustres, como Raul Cortez, Décio Piccinini, Wagner Montes, Moacyr Franco, entre outros. Quando necessário, ele solicitava ao setor de cobrança a emissão de um recibo com o valor, com o qual era possível receber em dinheiro ou cheque, conforme a preferência do pagante. Dias depois prestava conta ao setor responsável pela cobrança para depositar em banco e a consequente quitação do débito. O que ele não sabia é que nosso gerente de cobranças havia criado um setor de nome Centro de Controle, de tal forma que todo recibo ou fatura emitida na empresa deveria conter uma cópia a mais para o Centro de Controle. Por sua vez todo o pagamento recebido, após depositado em banco, obrigatoriamente seria comunicado ao setor de Controle com documentos comprobatórios dos valores pagos. Ocorre que com o passar do tempo, havia várias cópias de recibos de assinaturas pendentes, todos solicitados pelo nosso Assessor Especial. Ora, se o assinante esteve na empresa pessoalmente pagando sua assinatura, alguma coisa estranha estava acontecendo. Foi aí que o chefe do setor pegou as cópias desses recibos em aberto e comunicou ao gerente, que por sua vez, teve que chamar o gravatinha para dar explicações. Dessa vez nem o QI o salvou. Foi dispensado da empresa por ter-se apropriado do dinheiro ilicitamente.

O outro caso foi quando o jornal O Estado de São Paulo resolveu fazer uma campanha para angariar mais assinantes e lançou pela televisão uma propaganda informando que quem fizesse assinatura do jornal o receberia em 12h. Um diretor da Folha ao tomar conhecimento da promessa de O Estado, sentenciou: -"se o Estadão entrega o jornal em 12h, nós vamos entregar em 6h". Com sua prepotência aguçada, esqueceu-se de consultar o Departamento de Entregas e setores envolvidos se era viável tal entrega e se a estrutura existente suportaria tamanha demanda. O setor de vendas deitou e rolou. Foi um sucesso total de vendas. Quando o assinante percebeu que as 6h prometidas eram 72h ou mais, choveu telefonemas cancelando os pedidos.

O assinante dizia: - "Estou há 3 dias esperando a entrega do meu jornal. Não Imaginava que as 6h da Folha fossem mais de 72h". Assim, a confusão se formou. Quem vendeu a assinatura queria receber a comissão, e a empresa não queria pagar o percentual devido por uma venda não efetivada, por culpa de um diretor arrogante.

Não sei que fim levou esse diretor da empresa por atitude tão precipitada. Mas sei que a empresa teve prejuízos não só econômicos, mas também morais, por propaganda enganosa.

Muitas pessoas se deixam levar pela possibilidade de dinheiro fácil, é o que constatamos diariamente nos corredores dos negócios, especialmente entre os políticos e empresários.

Muito bem escreveu minha amiga trovadora Vanda Fagundes Queiroz;
"ÀS VEZES TENHO CISMADO
QUE, AO INVÉS DE CORAÇÃO,
MUITA GENTE TRAZ GUARDADO
DENTRO DO PEITO, UM CIFRÃO".  

Fonte:
Filemon Martins. Caminhos do Jordão da Bahia. SP: RG Editores, 2022.
Livro enviado pelo autor.

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