"Eu fui no Itororó
beber água e não achei...
Achei bela morena,
que no Itororó deixei.
beber água e não achei...
Achei bela morena,
que no Itororó deixei.
Ó Mariazinha! Ó Mariazinha..." etc
Variante:
"Eu fui no (I)Tororó
beber água, não achei.
Achei bela morena
e com ela me casei."
beber água, não achei.
Achei bela morena
e com ela me casei."
Eis duas estrofes da modinha bastante popular, que cada um altera a seu modo, e que pertencem ao poemeto referente à famosa Fonte do Itororó, ao pé do Monte Serrat, conhecida de norte a sul do Brasil, embora muitos não saibam ao certo onde está localizada como demonstra a surpresa do "Príncipe dos Trovadores do Brasil", Luiz Otávio, que, ao dar com a Fonte num dos escaninhos da cidade de Santos, exclamou: - "Esta é a famosa Fonte do Itororó?!! - Vocês, santistas, têm uma das maiores relíquias folclóricas do país!". Tão entusiasmado ficou, que partiu para pesquisas, pois pretendia escrever algo a respeito dessa relíquia, embora viesse a falecer pouco depois, sem cumprir o que a si mesmo prometera.
Entretanto, a origem desta fonte é contestada por nossos irmãos baianos, que reivindicam sua propriedade, já que têm, em Salvador, o Dique do Itororó, hoje restaurado e embelezado pela arte de Burle Marx.
Entretanto, Luiz Otávio resguardava em suas anotações, o que, repetimos, em sua memória: - "Ver: - Diário Oficial do Município de Santos, de 26 de maio de 1970, n. 96 pg. 27, página que conta a História da Fonte do Itororó, em Santos, ilustrada por uma foto da mesma. Traz um soneto de Antonio Carlos Ribeiro Machado de Andrada (faltando os dois primeiros versos do último terceto) de exaltação à fonte". A nota ainda explica: - "Sua importância vem do início da Povoação de Santos, desde o tempo da sesmaria de Paschoal Fernandes e Domingos Pires. E certo que, desde 1540, abastecia aos moradores colonos que aportavam em Enguaguassú".
"Paschoal Fernandes vendeu a sesmaria a Domingos Pires e a Brás Cubas, este último considerado fundador de Santos".
(Publicação esta confirmada pelo historiador Sérgio Willians, do Arquivo e Memória). Sem entrar no mérito da contestação, vejamos o que diz a respeito o saudoso jornalista-historiador Olao Rodrigues, que descreve a Fonte do Itororó santista em sua Cartilha da História de Santos, vinda a público em 1980, ou seja, um ano antes do seu falecimento. Diz ele:
"A Fonte do Itororó é uma das mais ricas tradições desta terra, situada em Santos, no sopé do Monte Serrat. Servida por água límpida, cristalina, que brotava da rocha a meio caminho do lendário morro, muita gente para lá acorria para saborear o bom líquido, com, ou sem sede, pois dizia-se que, quem dessa água bebesse, não mais deixaria a cidade".
"A lenda pegou. Fez fama!" - finaliza o jornalista.
Aliás, tornamos a repetir, este atributo já vem de longe. Há várias fontes que dele se beneficiam em lugares diferentes Já citados. Em Barcelona, mais uma delas goza deste privilégio, a famosa Rambla, com várias bicas, chamada "La Rambla del Cavalete", à qual também é atribuída a mesma propriedade de trazer de volta quem beba um gole da sua água.
Certo é que, muita gente, após ter provado a água da fonte santista, acabou ficando por aqui mesmo, por este ou por outro qualquer motivo. Itororó lembra o nome do riacho que atravessava as ruas do Rosário e XV de Novembro, cantante e ligeiro, ansioso por ser mar.
Pena ver, com o passar do tempo, que a chamada Fonte do Itororó perdeu aos poucos sua função mais nobre. As águas da nascente, também aproveitadas para uso doméstico, lavagem de roupas, etc., alcançaram tal nível de contaminação que, a principal função, a de saciar a sede, acabou sendo interrompida por lei, em 1930. A bica secou e a própria nascente, aos poucos, acabou também por desaparecer.
Contudo, a força da tradição santista não permitiu que a existência da Fonte do Itororó ficasse esquecida, ou, tão somente, virasse lenda. Por volta do ano 2000, foi ela "restaurada pela Prefeitura, com muito critério, sob a rigorosa supervisão do Condepasa, recebendo pintura, verde e branco, de acordo com a original, e também azulejos absolutamente iguais aos da época, ostentando figuras da mitologia grega - as mesmas da fonte original". O piso asfaltado, fugido aos padrões, foi substituído por paralelepípedos e a fonte recuperou o primitivo aspecto.
O Indicador Turístico, lançado no Brasil, em 1885, já citava a Fonte do Itororó e, também, o seu dom - "de fixar na cidade quem suas águas sorvesse".
Ao ensejo, deixamos aqui um apelo de paz:
- Que as relevantes e históricas cidades. Santos e Salvador, de modo bastante fraterno, concedam dividir entre si as honras de terem dado à Nação duas Fontes Xarás, sem que seus egos se estranhem. Afinal, por que não?! Tudo é Brasil!... E, se a proposta historicamente permanecer questionável, que seja relevada a ousadia, muitíssimo bem intencionada, desta santista que se arrisca a propô-la em nome de uma fraterna e desejável paz!
Fonte:
Carolina Ramos. Canta… Sabiá! (folclore). Santos/SP: publicado pela Editora Mônica Petroni Mathias, 2021.
Carolina Ramos. Canta… Sabiá! (folclore). Santos/SP: publicado pela Editora Mônica Petroni Mathias, 2021.
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