domingo, 10 de julho de 2022

Fabiano Wanderley (Versos Di Versos) 3

AO MEU PAI NOS SEUS 90 ANOS

Que bom te ver, meu Pai, trilhando o tempo,
aquele, que o teu verso, já dizia;
feliz, vivenciando este momento,
pedindo ao tempo um pouco, a cada dia.

Que bom te ver em plena sintonia,
embora já possuas passo lento;
pois bem sei que com tua filosofia,
procurarás impor-te ao advento.

E assim te vejo, Pai, ante o presente,
versando, nos mostrando de repente,
que o tempo não consome tudo enfim.

Se a tua mocidade foi embora,
com gestos, com saber, fazes tua hora,
teus versos nos dirão que não tens fim.
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APÓS, A HORA DERRADEIRA!

Quando eu estiver inerte, já sem vida,
sem o canto e sem versejar, jamais,
para compensar todos esses ais,
respeitem meu adeus, minha partida.

E assim, meu bem estar se consolida,
com todos que comigo fez história,
da música a poesia, quanta glória,
e do amor da família, tão querida.

E para consumar o meu desejo,
exponho aqui a minha petição,
com todo meu fervor, minha vontade.

Ter enfim o final que tanto almejo:
Que depois de uma breve cremação,
me sinta mais feliz, na eternidade!
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O MESTRE, O ESCRITOR DA MADRUGADA!

Quem foi que da cultura fez sua arte,
quem disse só verdades da história,
quem foi para o folclore um baluarte,
usando todo o elã de uma oratória.

Quem foi que preservou nossa memória,
quem tantos livros fez, com seus enleios;
a sua sapiência foi notória,
pois soube nos dizer sem entremeios.

Foi ele o gênio, o amigo, o brado forte,
um filho deste Rio Grande do Norte,
que ao mundo do folclore disse tudo.

Garboso, difundiu a terra amada,
o mestre, o escritor da madrugada,
Doutor Luiz da Câmara Cascudo!
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O RASCUNHO

Divina, angelical, meiga, singela,
encanto de mulher que me fascina,
tão terna, jovial, linda donzela,
que, até bem pouco tempo, era menina.

Querê-la se tornou a minha sina,
sonhando poder ser correspondido,
pois, quanto mais sentia, o amor ferido,
mais viva a tua imagem na retina.

Não sei se por recato, ou talvez medo,
tentou enclausurar o seu segredo,
guardo-o num esboço, em um livrete,

Mas, eis que um certo dia, o livro empunho
e com surpresa, vejo o tal rascunho,
falava em nosso amor, o seu bilhete.
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QUEM DERA

Quem dera, que eu tivesse o teu abraço,
pois tenho para ti todos desvelos;
quem dera, pelo menos, ser o laço
da fita que ornamenta os teus cabelos.

Quem dera, que escutasse os meus apelos,
sarando essa ferida incontinente,
ceifando de uma vez meus pesadelos,
na chama desse amor tão inocente.

Quem dera, eu inda guardo esta esperança,
de um dia acariciar a tua trança,
te amando, desfazendo os laços teus.

E, enfim, poder chamar-te de querida,
de tê-la como o amor da minha vida,
tão meiga, a sussurrar nos braços meus.

Fonte:
Fabiano de Cristo Magalhães Wanderley. Versos Di Versos. Natal/RN, 2014.

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