Bem no início de nossa estranha amizade, me lembro de que o avô de Renato ainda era vivo. O quintal onde moravam era composto pela casinha desse avô, seu Cândio (provavelmente “Cândido”), e sua esposa, dona Conceição, e aos fundos ficava o barraco da família de Renato.
Na frente, havia uma pequena birosca – Uma barraca, como chamamos aqui, que é na verdade uma minúscula venda dedicada fundamentalmente ao comércio de destilados (cachaça). No tempo eu era bem pequeno, mas uma memória que guardo era do coco em conserva: Pedaços de coco curtidos numa espécie de salmoura, que eram vendidos a alguns centavos cada porção. Eram gostosos!
Foi ali naquela birosca, ainda na infância, que Renato iniciou suas aventuras em algo que, anos depois, se tornaria um vício e lhe custaria a vida: O consumo de bebidas alcoolicas.
Mas deixemos de lado as rudezas da vida, e vamos ao pitoresco.
Esse seu Cândio, homem negro com traços que lembravam de muito longe o ator Grande Otelo, era cadeirante, em decorrência das pernas amputadas. O velho possuía uma estranhíssima cadeira de rodas: Era na verdade um tipo de triciclo, com uma manivela ligada a um eixo de pedais como de uma bicicleta, adaptada para ser movida com as mãos. Assim, forçando aquela manivela, o velho podia mover a cadeira-triciclo, ganhando alguma autonomia.
No objetivo de comprar mercadorias para sua venda, e também apanhar algumas doações que os comerciantes do CEASA lhe forneciam, seu Cândio costumava ir até o CEASA de São Gonçalo, que ficava a coisa de uns cinco quilômetros de nosso bairro. De ônibus são apenas dez minutos. Mas, na força da canela, era duríssima a caminhada, pois o velhote ia naquele triciclo, sendo quase sempre empurrado ou por Volnei, irmão mais velho de Renato, ou pelo próprio. Numa dessas idas ao CEASA (que eu não tinha a menor ideia do que e onde era), fui convidado a juntar-me à expedição. Quem sabe não foi aí que surgiu ou sedimentou-se nossa dupla expedicionária canelar? Confesso que não me lembro.
E lá fomos nós, para uma distância que eu jamais havia percorrido a pé, avançando pela perigosa beira da pista ou estrada.
Na volta, já exaurido, participei de algo que era normal de ocorrer, segundo Renato, quando ele saía assim com o avô, tendo chegado na altura do que hoje é a Honda Motos, naquela pequena ladeira que vai dar onde atualmente é o Instituto Médico Legal e o posto da Polícia Rodoviária de Tribobó, Renato, no que o segui, pendurou-se na parte de trás do triciclo (sim, havia um pedestal aparentemente para isso!), e lá fomos nós, descendo a toda numa única cadeira de rodas, três pessoas: Duas crianças e um senhor de quase setenta anos!
Imagine a cena, amigo leitor: Você, pacato citadino passando de automóvel ou ônibus, avançando sorumbático para seu trabalho ou estudo, refém de mil horários e sistemas, e vendo do livre lado de fora uma sinistra cadeira de rodas descendo a grande, insana velocidade asfalto abaixo, com um velhinho amputado como “piloto” e duas crianças de carona!!! Era a vida loka ainda no seu modo 1.0...
Pouco tempo depois, seu Cândio infelizmente veio a falecer, e a vendinha foi fechada.
Na frente, havia uma pequena birosca – Uma barraca, como chamamos aqui, que é na verdade uma minúscula venda dedicada fundamentalmente ao comércio de destilados (cachaça). No tempo eu era bem pequeno, mas uma memória que guardo era do coco em conserva: Pedaços de coco curtidos numa espécie de salmoura, que eram vendidos a alguns centavos cada porção. Eram gostosos!
Foi ali naquela birosca, ainda na infância, que Renato iniciou suas aventuras em algo que, anos depois, se tornaria um vício e lhe custaria a vida: O consumo de bebidas alcoolicas.
Mas deixemos de lado as rudezas da vida, e vamos ao pitoresco.
Esse seu Cândio, homem negro com traços que lembravam de muito longe o ator Grande Otelo, era cadeirante, em decorrência das pernas amputadas. O velho possuía uma estranhíssima cadeira de rodas: Era na verdade um tipo de triciclo, com uma manivela ligada a um eixo de pedais como de uma bicicleta, adaptada para ser movida com as mãos. Assim, forçando aquela manivela, o velho podia mover a cadeira-triciclo, ganhando alguma autonomia.
No objetivo de comprar mercadorias para sua venda, e também apanhar algumas doações que os comerciantes do CEASA lhe forneciam, seu Cândio costumava ir até o CEASA de São Gonçalo, que ficava a coisa de uns cinco quilômetros de nosso bairro. De ônibus são apenas dez minutos. Mas, na força da canela, era duríssima a caminhada, pois o velhote ia naquele triciclo, sendo quase sempre empurrado ou por Volnei, irmão mais velho de Renato, ou pelo próprio. Numa dessas idas ao CEASA (que eu não tinha a menor ideia do que e onde era), fui convidado a juntar-me à expedição. Quem sabe não foi aí que surgiu ou sedimentou-se nossa dupla expedicionária canelar? Confesso que não me lembro.
E lá fomos nós, para uma distância que eu jamais havia percorrido a pé, avançando pela perigosa beira da pista ou estrada.
Na volta, já exaurido, participei de algo que era normal de ocorrer, segundo Renato, quando ele saía assim com o avô, tendo chegado na altura do que hoje é a Honda Motos, naquela pequena ladeira que vai dar onde atualmente é o Instituto Médico Legal e o posto da Polícia Rodoviária de Tribobó, Renato, no que o segui, pendurou-se na parte de trás do triciclo (sim, havia um pedestal aparentemente para isso!), e lá fomos nós, descendo a toda numa única cadeira de rodas, três pessoas: Duas crianças e um senhor de quase setenta anos!
Imagine a cena, amigo leitor: Você, pacato citadino passando de automóvel ou ônibus, avançando sorumbático para seu trabalho ou estudo, refém de mil horários e sistemas, e vendo do livre lado de fora uma sinistra cadeira de rodas descendo a grande, insana velocidade asfalto abaixo, com um velhinho amputado como “piloto” e duas crianças de carona!!! Era a vida loka ainda no seu modo 1.0...
Pouco tempo depois, seu Cândio infelizmente veio a falecer, e a vendinha foi fechada.
Fonte:
Sammis Reachers. Renato Cascão e Sammy Maluco: uma dupla do balacobaco. São Gonçalo/RJ: Ed. do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.
Sammis Reachers. Renato Cascão e Sammy Maluco: uma dupla do balacobaco. São Gonçalo/RJ: Ed. do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.
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