quarta-feira, 20 de julho de 2022

Athos Fernandes (Poemas de Amor) 1

A LEI DO AMOR


Por ser o Amor a lei da espécie humana,
somente às leis da espécie ele obedece,
pois sendo um deus, atende à própria prece
E, se às vezes redime, - às vezes dana!

Tal qual a rosa de Sharon floresce
na primavera, a mocidade ufana.
É como um vinho bom, que não engana,
embriaga melhor quando envelhece.

O Amor, já disse alguém, de amor se paga.
Se fere, cura; e quando agride, afaga,
seiva que nutre e combustão que inflama.

E assim se vê que pela vida afora,
se muito pode a dor, para quem chora,
mil vezes pode o Amor, para quem ama!
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NOSSA HISTÓRIA DE AMOR

Nossa história de amor nasceu do acaso,
ou quem sabe talvez de algo divino?
Um sorriso, um olhar, um breve aceno
e a fênix morta ressurgiu das cinzas.

Foi como se o outono e a primavera
num encontro fortuito, em pleno estio,
entre roseiras e canções de ninhos,
viessem percorrer a mesma estrada.

Eu era o outono em véspera de inverno.
Você, a primavera aberta em flores,
entre nós dois o mundo, o tempo e o espaço.

Venceu, no entanto, o amor. Como detê-lo?
Como impedir que o sol sazone o fruto
quando é própria a estação para a colheita?
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SAUDADE

Saudade: olhar perdido no horizonte,
mirando as nuvens que depressa vão.
Saudade: uma casinha ao pé da fonte,
cheia de sonhos e de solidão!

Saudade, cruz plantada lá no monte,
onde alguém dorme na eternal mansão.
Saudade: bela e invisível ponte
que liga coração a coração!

Saudade! Ave Maria da Esperança!
Crepúsculo do Amor! Alma de criança,
que castigada ainda deseja bem...

Saudade é dor que só traduz quem sente,
porque a saudade é o coração da gente
já misturado ao coração de alguém.
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SEMPRE O AMOR

Nunca é demais o amor! Nunca é perdido
o mais ínfimo sonho que sonhamos.
Amemos hoje e amando envelheçamos,
que muito amar é muito ter vivido.

Toda a glória do amor é ser sentido
sem sacrifício algum de alguém que amamos.
E glória ainda maior quando choramos,
porque chorar de amor é ter sorrido.

Amor!...Sublime e lúcida loucura!
Tão forte é a sua trama, o seu poder,
de aço que fere e bálsamo que cura.

De tal modo atormenta e dá prazer,
que às vezes na tristeza traz ventura
e às vezes na alegria faz sofrer!
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VELHA MUSA

A minha velha Musa enamorada,
que comigo habitou por muitos anos,
de tanto partilhar meus desenganos
ficou também por mim desenganada.

E abandonou de vez a minha amada;
onde à custa de esforços sobre-humanos,
em pobres versos não camonianos,
do amor eu canto a última balada...

Se alguém a vir, não a maltrate nunca,
pois a coitada as próprias mágoas trunca,
como truncou meus versos tantos vezes...

Velha e caduca, ainda a quero,
pois que o amor mais velho é mais sincero,
unindo as almas como irmãos siameses!
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VERSOS DE AMOR

Versos de amor...quantos não há, querida?
Por que motivos, pois, devo escrevê-los?
Se estou junto de ti, não sinto zelos,
e longe estando, que me importa a vida?

O amor é fruta rara e apetecida
que exige trato e que requer desvelos.
Meus minutos de amor quero vivê-los
sem cogitar da hora da partida!

Deixa-me, pois, dormir no teu regaço!
Cada carícia é um hino à tua graça,
e que cada beijo um verso que te faço!

Quero-te assim, e assim, sei que me queres!
Não há ser mais feliz na humana raça,
nem mulher mais amada entre as mulheres!

Fontes:
Athos Fernandes. Miscelânea Poética. 1979.
Athos Fernandes. Shangri-La Poesias. 1979.

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