Efetivamente, por nós. Faz muito tempo, eu diria, sem medo de errar, faz muito tempo que a coisa vem de remotos espaços que eu consideraria límbicos. Apesar desses abruptos extensos cercados de densas lacunares, você mora nos meus sonhos. Desde pequena você povoa meu universo de quimeras e devaneios. É como se a vida toda eu já soubesse de sua existência, sem você sequer existir dentro de mim. Junto com a minha vida, você veio e se concretizou como um presente caído do céu.
Uma prenda, eu diria sem medo de errar, um brinde de cunho valoroso com o qual eu sonhei a vida toda e nunca chegou, de verdade, às minhas mãos. O meu querer, a minha aflição foi tão forte, tão intensa, que você acabou se materializando e caindo diretamente no meu caminho. Hoje, anos depois, que ironia! Somos adultos, temos vida própria, vivemos na mesma avenida e mesmo bairro... compramos no mesmo supermercado e quando temos alguma indisposição, a farmácia logo ali na esquina nos recebe de portas abertas.
Apesar de morarmos no mesmo prédio, dividimos a mesma portaria, vizinhos, cachorros, gatos, faxineiros, porteiros, elevadores, e quando falta luz, as mesmas escadas que nos levam ou nos trazem do topo, nos permitem descer ou subir usando os mesmos degraus e corrimões. Só o que não coincide é o andar. Uma gota no oceano, se visto pela lógica do espanto anunciado. Estou no décimo oitavo e você no décimo quinto.
Apesar desse pequeno deslize do destino, tivemos sorte. Numa dessas idas e vindas, nos esbarramos no hall de entrada. Você vinha cheia de sacolas de supermercado, e eu, as mãos sobrecarregadas de livros. A força do seu coração quando nos reencontramos, ficou marcada. Foi tão forte a emoção, tão densa a alegria, magnânimo o encantamento, enfim, tão robusta e eficaz, tão inexplicável, que ficamos estupefatos, como o doce enlevo que nos brindou, aproveitando a deixa e fez o caminho inverso, incendiando os recônditos da alma de uma maneira quase inexplicável.
Aproveitando a deixa, e fazendo o caminho inverso, incendiando os recônditos das nossas almas de uma maneira quase inexplicável, o “Acaso”. Por esse “Acaso”, os sinos nunca deixaram de reverberarem, incansáveis, em busca de nosso amor apartado. Nesse breve lapso, me senti na esteira dos vinte e cinco anos. Você e eu, cada um acondicionado dentro de um desses carrinhos de bate-bate, nos idos em que cursávamos a mesma faculdade e fugíamos das aulas chatas para comermos pipocas e tomarmos refrigerantes no parque que chegara recentemente à cidade.
Lembro que você ao me ver no saguão da porta do edifício, se abriu como mala velha, agigantou um sorriso largo, se faceirou, angelical e, ao mesmo tempo tão adulta, tão mulher... que num piscar de olhos seguinte ao reencontro, me flagrei ressuscitando pensamentos pretéritos e os colocando no ápice da sua magnificência. Você me superou. Foi além das expectativas. Se fez tão linda e carente, frágil e dócil que por breves quimeras fantasiosas imaginei, em delírio, houvesse saído do plano terrestre e ido parar em um planeta paralelo onde as eternidades se fazem plenas e intangíveis.
Sua voz, ao me reconhecer —, cedeu vez a um abalado grito clamoroso de acordar ilusões, e, acredite, todo meu ser se derramou auspicioso despertando em festa, de susto e espanto. Senti-me remoçado, como se vindo de uma academia de ginástica, os movimentos obtidos nos aparelhos, me devolvendo a flexibilidade de antes, tipo aquela força hercúlea de retorno, se engajando ao espírito e não só a ele, ao corpo inteiro, qual com uma febre de quarenta graus. Num segundo momento perdi a morbidez do medo, como um nadador que se atira na água depois de se esbambear hesitante por breves momentos perante um mergulho às escuras, apesar do pulo previamente planejado.
Com você de volta ao meu universo, desde então, cada espaço me preencheu com sua alacridade. Cada olhar, agora, é como se nascesse no meu eu “escondido”, um querer de júbilo etéreo. Mesmo tom, cada “mirada” sua, me permite perceber nitidamente um punhado de estrelas fulgurantes se revezando em pleno por do sol e, transformando as flores murchas do meu ontem esquecido, num imenso jardim, repaginando as nossas afeições imorredouras.
No vestíbulo de nosso prédio, desde aquele dia em que nos reencontramos, que nos reaproximamos, que reassumimos as almas apartadas, a partir daquele sublime minuto em que reatamos o elo que estava disperso, esquecido, adormecido e, além disso, no ensejo exato em que abrimos a passagem secreta para os desvãos possíveis, algo anormal se fez imperioso. Um milagre, eu diria, se condensou em formosuras. As sendas não ocorridas, os vales e as dimensões não percorridas... voltaram do nada, regressaram a todo vapor do agora.
Literalmente fomos atrás, saímos juntos, de mãos dadas, em busca de nosso amor. Tudo em derredor criou beleza e cor. As manhãs escuras afloraram engrinaldadas. Virou pura magia o nosso anfêmero. Não somos mais velhas lembranças adormecidas, figuras de filmes antigos, personagens de nossas dores e tristezas. Deixamos lá fora, na calçada, as fotografias amarelas, os papéis pálidos no palco onde nosso romance se tornou uma peça de final feliz. E o vento levou embora. Para bem longe, tão distante que não nos alcançará jamais.
Bem sabemos, conhecemos a realidade que a cada porvir se apressura mais forte e pujante. Na mesma linha benigna e complacente, um não sei o que de mavioso se avigorou e rejuvenesceu, rebrotou mais cálido e indestrutível dentro do nosso (ou melhor dizendo), dentro do acorrentado, no intrínseco daquilo que juntos, rostos colados, corpos em regozijo de transe, almas cativas ardendo em festa, corações tresloucados batendo na mesma pulsação, chamamos de ventura, bambúrrio, empolgação desmedida e, igualmente, de indubitável jocosidade.
Entre altos e baixos, subidas e descidas, línguas ferinas fustigando contra pessoas, a favor, outras não, chuvas e ventos, sol e escuridão... todas as intempéries, somadas a outros inumeráveis e infinitos repletados de intuitos maléficos, estamos superando, vencendo, dando a volta por cima. De todas as ciladas e insídias, saímos ilesos e vivos. Logramos viver presentemente, amarrados nos laços inquebrantáveis e indescritíveis da paz. Irmanados a ela, gozamos, a dois, do magnetismo surreal e contínuo da auspiciosa e sempre presente, FELICIDADE.
Uma prenda, eu diria sem medo de errar, um brinde de cunho valoroso com o qual eu sonhei a vida toda e nunca chegou, de verdade, às minhas mãos. O meu querer, a minha aflição foi tão forte, tão intensa, que você acabou se materializando e caindo diretamente no meu caminho. Hoje, anos depois, que ironia! Somos adultos, temos vida própria, vivemos na mesma avenida e mesmo bairro... compramos no mesmo supermercado e quando temos alguma indisposição, a farmácia logo ali na esquina nos recebe de portas abertas.
Apesar de morarmos no mesmo prédio, dividimos a mesma portaria, vizinhos, cachorros, gatos, faxineiros, porteiros, elevadores, e quando falta luz, as mesmas escadas que nos levam ou nos trazem do topo, nos permitem descer ou subir usando os mesmos degraus e corrimões. Só o que não coincide é o andar. Uma gota no oceano, se visto pela lógica do espanto anunciado. Estou no décimo oitavo e você no décimo quinto.
Apesar desse pequeno deslize do destino, tivemos sorte. Numa dessas idas e vindas, nos esbarramos no hall de entrada. Você vinha cheia de sacolas de supermercado, e eu, as mãos sobrecarregadas de livros. A força do seu coração quando nos reencontramos, ficou marcada. Foi tão forte a emoção, tão densa a alegria, magnânimo o encantamento, enfim, tão robusta e eficaz, tão inexplicável, que ficamos estupefatos, como o doce enlevo que nos brindou, aproveitando a deixa e fez o caminho inverso, incendiando os recônditos da alma de uma maneira quase inexplicável.
Aproveitando a deixa, e fazendo o caminho inverso, incendiando os recônditos das nossas almas de uma maneira quase inexplicável, o “Acaso”. Por esse “Acaso”, os sinos nunca deixaram de reverberarem, incansáveis, em busca de nosso amor apartado. Nesse breve lapso, me senti na esteira dos vinte e cinco anos. Você e eu, cada um acondicionado dentro de um desses carrinhos de bate-bate, nos idos em que cursávamos a mesma faculdade e fugíamos das aulas chatas para comermos pipocas e tomarmos refrigerantes no parque que chegara recentemente à cidade.
Lembro que você ao me ver no saguão da porta do edifício, se abriu como mala velha, agigantou um sorriso largo, se faceirou, angelical e, ao mesmo tempo tão adulta, tão mulher... que num piscar de olhos seguinte ao reencontro, me flagrei ressuscitando pensamentos pretéritos e os colocando no ápice da sua magnificência. Você me superou. Foi além das expectativas. Se fez tão linda e carente, frágil e dócil que por breves quimeras fantasiosas imaginei, em delírio, houvesse saído do plano terrestre e ido parar em um planeta paralelo onde as eternidades se fazem plenas e intangíveis.
Sua voz, ao me reconhecer —, cedeu vez a um abalado grito clamoroso de acordar ilusões, e, acredite, todo meu ser se derramou auspicioso despertando em festa, de susto e espanto. Senti-me remoçado, como se vindo de uma academia de ginástica, os movimentos obtidos nos aparelhos, me devolvendo a flexibilidade de antes, tipo aquela força hercúlea de retorno, se engajando ao espírito e não só a ele, ao corpo inteiro, qual com uma febre de quarenta graus. Num segundo momento perdi a morbidez do medo, como um nadador que se atira na água depois de se esbambear hesitante por breves momentos perante um mergulho às escuras, apesar do pulo previamente planejado.
Com você de volta ao meu universo, desde então, cada espaço me preencheu com sua alacridade. Cada olhar, agora, é como se nascesse no meu eu “escondido”, um querer de júbilo etéreo. Mesmo tom, cada “mirada” sua, me permite perceber nitidamente um punhado de estrelas fulgurantes se revezando em pleno por do sol e, transformando as flores murchas do meu ontem esquecido, num imenso jardim, repaginando as nossas afeições imorredouras.
No vestíbulo de nosso prédio, desde aquele dia em que nos reencontramos, que nos reaproximamos, que reassumimos as almas apartadas, a partir daquele sublime minuto em que reatamos o elo que estava disperso, esquecido, adormecido e, além disso, no ensejo exato em que abrimos a passagem secreta para os desvãos possíveis, algo anormal se fez imperioso. Um milagre, eu diria, se condensou em formosuras. As sendas não ocorridas, os vales e as dimensões não percorridas... voltaram do nada, regressaram a todo vapor do agora.
Literalmente fomos atrás, saímos juntos, de mãos dadas, em busca de nosso amor. Tudo em derredor criou beleza e cor. As manhãs escuras afloraram engrinaldadas. Virou pura magia o nosso anfêmero. Não somos mais velhas lembranças adormecidas, figuras de filmes antigos, personagens de nossas dores e tristezas. Deixamos lá fora, na calçada, as fotografias amarelas, os papéis pálidos no palco onde nosso romance se tornou uma peça de final feliz. E o vento levou embora. Para bem longe, tão distante que não nos alcançará jamais.
Bem sabemos, conhecemos a realidade que a cada porvir se apressura mais forte e pujante. Na mesma linha benigna e complacente, um não sei o que de mavioso se avigorou e rejuvenesceu, rebrotou mais cálido e indestrutível dentro do nosso (ou melhor dizendo), dentro do acorrentado, no intrínseco daquilo que juntos, rostos colados, corpos em regozijo de transe, almas cativas ardendo em festa, corações tresloucados batendo na mesma pulsação, chamamos de ventura, bambúrrio, empolgação desmedida e, igualmente, de indubitável jocosidade.
Entre altos e baixos, subidas e descidas, línguas ferinas fustigando contra pessoas, a favor, outras não, chuvas e ventos, sol e escuridão... todas as intempéries, somadas a outros inumeráveis e infinitos repletados de intuitos maléficos, estamos superando, vencendo, dando a volta por cima. De todas as ciladas e insídias, saímos ilesos e vivos. Logramos viver presentemente, amarrados nos laços inquebrantáveis e indescritíveis da paz. Irmanados a ela, gozamos, a dois, do magnetismo surreal e contínuo da auspiciosa e sempre presente, FELICIDADE.
Fonte:
Texto enviado pelo autor.
Texto enviado pelo autor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário