domingo, 31 de julho de 2022

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 10

As folhas secas rolando,
dão-me a nítida impressão,
de ver fantasmas brincando
de mãos dadas pelo chão!
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Cabeça cor de algodão,
cabelos da cor de neve,
relendo em cada estação
as regras que o tempo escreve!
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Contemplo a tarde morrendo
e, aos poucos, paro e medito,
ao ver a noite bebendo
a luz do Sol no infinito!!
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Depois de crucificado,
ferido e morto na cruz,
aos cegos, pelo pecado,
Deus mostra o perdão da Luz!
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Entre ilusões, sonhos vãos,
e um sonho que não se alcança...
Vão ficando em minhas mãos,
as tuas mãos, por lembrança!
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Faminta, com pés descalços,
roupinha suja, rasgada,
três dos mais tristes percalços
da criança abandonada!
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Hoje, quarenta e três anos
de casamento, completos;
mesma esposa, mesmos planos,
três lindas filhas, dois netos!
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Já venci tão duras penas
nas caminhadas que fiz,
que hoje, até mágoas pequenas
me fazem ser mais feliz!
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Mãos abertas balançando,
no mar, o velho coqueiro,
é um lenço verde acenando
à espera do jangadeiro!
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Mesmo apesar da distância,
em meio a tantas esperas...
A primavera da infância,
é a melhor das primaveras!
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Meu velho amor, vinde e vede,
como a ausência me castiga;
Meu armador, na parede,
mudou o tom da cantiga!
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Não conto como castigos
as rugas aprofundadas;
são velhos trilhos amigos
dos rastros das madrugadas!
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Não me causam queixa alguma,
os que pedradas, me dão;
eu retribuo uma a uma,
com pedradas de perdão!
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Na tapera abandonada,
berço dos primeiros passos...
Vi minha sombra sentada
sorrindo e me abrindo os braços!!!
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Noite adentro, e entre nós,
há um silêncio tão agudo,
que ao longe, se escuta a voz
do silêncio, em quase tudo!
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No poente, o Sol, em seus passos,
antes que a tarde se amoite,
cansado, estende os seus braços
e abraça os braços da noite!
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O mar se agita, se alteia,
e entre fortes vendavais...
O jangadeiro vagueia,
sem saber se volta ao cais!
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Pergunto à tarde serena,
no instante triste do adeus;
Por que de mim não tens pena,
Se há penas nos versos meus?!...
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Quando a seca, alonga o estio,
na aridez do meu sertão...
Há muito leito vazio,
poucos rastros pelo chão!
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Se a solidão apertasse,
dobrava a dor que doía...
Se a mãe, no sonho, sonhasse,
que alguém na porta batia!
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Se em teus braços me agasalho,
nada no mundo me afeta;
sem teu amor, nada valho,
mas, mesmo assim, sou poeta!
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Sem teu amor, que ainda espero,
o mundo perde o esplendor;
se eu disser que não te quero,
perco a essência desse amor!
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Ser poeta é cantar o grito
que há na voz dos oprimidos!...
E sentir Deus no infinito
e até nos sonhos perdidos!
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Sozinha... sempre sozinha...
Cansada e contando os passos,
vai para a igreja a velhinha
puxando a fé pelos braços!
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Tua ausência, ainda caminha,
sem rédeas, no meu presente!...
Minha alma, escrava e sozinha,
finge esconder, que não sente!

Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.

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