sexta-feira, 22 de julho de 2022

Renato Benvindo Frata (Nanocontos) 2

Altivez

Decididos, seus pés nunca escorregaram nos seixos: equilibraram-se na certeza.
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Compreensão

Saiu possessa com a vida. No jardim a rosa perfumada se oferecia com espinhos… aí compreendeu.
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Decência

Embora o chão tenha sido sempre irregular, conduziu-o sem abalos a lisura do seu pisar,
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Doppia faccia

Era maldoso e destemido e se enfurecia por pouco, mas, nos braços do namorado, implorava por tudo...
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Esbanjador

Beber à vida e beber a vida: pequeno acento que diferencia a gravidade do ato.
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Maléfica

A inveja pariu a curiosidade e a pôs reinar, má, nos olhos do invejoso.
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Março

A Tristeza aliou-se à carranca do tempo, mas o sol, dissolvendo nuvens, puxou pelas mãos a Alegria.
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Parasitas

Enquanto penamos com o colesterol, elas esbanjam vitalidade e robustez: malditas rugas.
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Poesia

Um belo verso nunca nasceu da pena ou da tecla; é a inspiração quem o pariu.
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Poleiro

Sentia-se o dono, por isso cantava alto e estridente, mas foi traído: por uma voz aveludada.
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Por dentro...

A lápide de granito polido brilha ao sol, mas soube sempre do miolo que teria.
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Profissão

Quis ser goleiro e foi. Montou um aviário com o resultado.
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Responsabilidade

A liberdade pesou-lhe tanto que a imaginou uma prisão de desejos.
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Sabedoria

Bom exemplo o da girafa: sempre vê tudo do alto, mas nada diz.
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Soberba

Sua inteligência brilhava tanto que iluminou a vaidade. Morreu de personalidade ofuscada.

Fonte:
Renato Benvindo Frata. 308 Nanocontos. Paranavaí/PR: Autografia, 2017.
Livro enviado pelo autor.

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