HOJE, NESTE ÓCIO INCERTO
Hoje, neste ócio incerto
Sem prazer nem razão ,
Como a um túmulo aberto
Fecho meu coração.
Na inútil consciência
De ser inútil tudo,
Fecho-o, contra a violência
Do mundo duro e rudo.
Mas que mal sofre um morto?
Contra que defendê-lo?
Fecho-o, em fechá-lo absorto,
E sem querer sabê-lo.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
HOJE 'STOU TRISTE, 'STOU TRISTE
Hoje 'stou triste, 'stou triste.
'Starei alegre amanhã...
O que se sente consiste
Sempre em qualquer coisa vã.
Ou chuva, ou sol, ou preguiça...
Tudo influi, tudo transforma...
A alma não tem justiça,
A sensação não tem forma.
Uma verdade por dia...
Um mundo por sensação...
'Stou triste. A tarde está fria.
Amanhã, sol e razão.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
INCIDENTE
Dói-me no coração
Uma dor que me envergonha...
Quê! Esta alma que sonha
Âmbito todo do mundo
Sofre de amor e tortura
Por tão pequena coisa...
Uma mulher curiosa
E o meu tédio profundo?
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
JÁ NÃO VIVI EM VÃO
Já não vivi em vão
Já escrevi bem
Uma canção.
A vida o que tem?
Estender a mão
A alguém?
Nem isso, não.
Só o escrever bem
Uma canção.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
JÁ OUVI DOZE VEZES DAR A HORA
Já ouvi doze vezes dar a hora
No relógio que diz que é meio dia
A toda a gente que aqui mora.
(O comentário é do Camões agora:)
«Tanto que espera! Tanto que confia!»
Como o nosso Camões, qualquer podia
Ter dito aquilo, até outrora.
E ainda é uma grande coisa a ironia.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
LADRAM UNS CÃES A DISTÂNCIA
Ladram uns cães a distância
Cai uma tarde qualquer,
Do campo vem a fragrância
De campo, e eu deixo de ver.
Um sonho meio sonhado,
Em que o campo transparece,
Está em mim, está a meu lado,
Ora me lembra ou me esquece,
E assim neste ócio profundo
Sem males vistos ou bens,
Sinto que todo este mundo
É um largo onde ladram cães.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
LÁ FORA ONDE ÁRVORES SÃO
Lá fora onde árvores são
O que se mexe a parar
Não vejo nada senão,
Depois das árvores, o mar.
É azul intensamente,
Salpicado de luzir,
E tem na onda indolente
Um suspirar de dormir.
Mas nem durmo eu nem o mar,
Ambos nós, no dia brando,
E ele sossega a avançar
E eu não penso e estou pensando.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
LÂMPADA DESERTA
Lâmpada deserta,
No átrio sossegado.
Há sombra desperta
Onde se ergue o estrado.
Na estrada está posto
Um caixão floral.
No átrio está exposto
O corpo fatal.
Não dizem quem era
No sonho que teve.
E a sombras que o espera
É a vida em que esteve.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
LEMBRO-ME OU NÃO? OU SONHEI?
Lembro-me ou não? Ou sonhei?
Flui como um rio o que sinto.
Sou já quem nunca serei
Na certeza em que me minto.
O tédio de horas incertas
Pesa no meu coração,
Paro ante as portas abertas
Sem escolha nem decisão.
Hoje, neste ócio incerto
Sem prazer nem razão ,
Como a um túmulo aberto
Fecho meu coração.
Na inútil consciência
De ser inútil tudo,
Fecho-o, contra a violência
Do mundo duro e rudo.
Mas que mal sofre um morto?
Contra que defendê-lo?
Fecho-o, em fechá-lo absorto,
E sem querer sabê-lo.
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HOJE 'STOU TRISTE, 'STOU TRISTE
Hoje 'stou triste, 'stou triste.
'Starei alegre amanhã...
O que se sente consiste
Sempre em qualquer coisa vã.
Ou chuva, ou sol, ou preguiça...
Tudo influi, tudo transforma...
A alma não tem justiça,
A sensação não tem forma.
Uma verdade por dia...
Um mundo por sensação...
'Stou triste. A tarde está fria.
Amanhã, sol e razão.
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INCIDENTE
Dói-me no coração
Uma dor que me envergonha...
Quê! Esta alma que sonha
Âmbito todo do mundo
Sofre de amor e tortura
Por tão pequena coisa...
Uma mulher curiosa
E o meu tédio profundo?
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JÁ NÃO VIVI EM VÃO
Já não vivi em vão
Já escrevi bem
Uma canção.
A vida o que tem?
Estender a mão
A alguém?
Nem isso, não.
Só o escrever bem
Uma canção.
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JÁ OUVI DOZE VEZES DAR A HORA
Já ouvi doze vezes dar a hora
No relógio que diz que é meio dia
A toda a gente que aqui mora.
(O comentário é do Camões agora:)
«Tanto que espera! Tanto que confia!»
Como o nosso Camões, qualquer podia
Ter dito aquilo, até outrora.
E ainda é uma grande coisa a ironia.
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LADRAM UNS CÃES A DISTÂNCIA
Ladram uns cães a distância
Cai uma tarde qualquer,
Do campo vem a fragrância
De campo, e eu deixo de ver.
Um sonho meio sonhado,
Em que o campo transparece,
Está em mim, está a meu lado,
Ora me lembra ou me esquece,
E assim neste ócio profundo
Sem males vistos ou bens,
Sinto que todo este mundo
É um largo onde ladram cães.
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LÁ FORA ONDE ÁRVORES SÃO
Lá fora onde árvores são
O que se mexe a parar
Não vejo nada senão,
Depois das árvores, o mar.
É azul intensamente,
Salpicado de luzir,
E tem na onda indolente
Um suspirar de dormir.
Mas nem durmo eu nem o mar,
Ambos nós, no dia brando,
E ele sossega a avançar
E eu não penso e estou pensando.
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LÂMPADA DESERTA
Lâmpada deserta,
No átrio sossegado.
Há sombra desperta
Onde se ergue o estrado.
Na estrada está posto
Um caixão floral.
No átrio está exposto
O corpo fatal.
Não dizem quem era
No sonho que teve.
E a sombras que o espera
É a vida em que esteve.
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LEMBRO-ME OU NÃO? OU SONHEI?
Lembro-me ou não? Ou sonhei?
Flui como um rio o que sinto.
Sou já quem nunca serei
Na certeza em que me minto.
O tédio de horas incertas
Pesa no meu coração,
Paro ante as portas abertas
Sem escolha nem decisão.
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