SONETO A ADRIANO CÉSAR
Senta-te aqui, meu filho, e ouve o teu velho pai:
esta vida, querido, é duro embate, é luta
em que as regras morais não entram na disputa
e o império da ambição sempre crescendo vai.
E aqui, tal como ali, - Roma, Paris, Xangai, -
é o ouro o ditador das normas de conduta.
E entre as leis do Direito e as leis da força bruta,
quem acaso não sabe onde a razão recai?
É triste esta verdade, ó filho meu! No entanto,
quero que sejas bom e honesto como um santo,
que ames a Pátria, o humilde e protejas o só.
E assim aprenderás esta lição que prezo:
se há muito de Mamon no coração de um Creso,
há muito mais de Deus, no coração de um Jó!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
SONETO À ELISÂNGELA
As Musas convoquei dos montes do Parnaso,
para dar a você, querida, um bom soneto,
que da primeira quadra ao último terceto
fosse pleno de amor de pai, de que me abraso!
Mas eis que o estro me foge e a claudicar me atraso.
E sinto que entro mal no segundo quarteto.
Vou pedir rouxinóis ao velho Capuleto
e rosas ao jardim, crisântemos ao vaso.
Pois só o teu sorriso, ó meiga filha, é tudo!
Se do riso infantil alguém fizesse o estudo
no afã de descobrir tudo quanto traduz,
Por certo saberia este alguém, sem tardança,
que lê diz que este mundo é nada sem criança,
como um verso sem rima e a Igreja sem Jesus!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
BRUNO ROGÉRIO
Bruno Rogério Magalhães Monteiro,
é o nome todo do meu novo filho,
raio final de um sol que perde o brilho
e já se esconde por detrás do outeiro.
Que importa que ele seja o derradeiro?
O que importa é que siga honesto trilho,
que colha a espiga onde plantou seu milho,
que regue a flor nascida em seu canteiro.
Que seja puro e nobre. E ame a Virtude!
E à sua mãe dê tudo o que eu não pude
de bens terrenos dar, porque não os tinha...
Que preste culto a Deus e à Liberdade!
Que seja um bom no ardor da mocidade,
qual tento eu ser nesta velhice minha!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
MATER
Faz muito tempo já! Era no outono...
Folhas soltas levadas pelo vento...
Em nossa casa o luto, o desalento,
o vazio do tédio e do abandono!
Foi quando, ó mãe! Ao derradeiro sono
levou-te a morte, em meio ao sofrimento.
Mas ficaste vivendo em pensamento,
e em nossos corações, como num trono.
Que importa o tempo transcorrido? Importa
é que a mãe viva, mesmo estando morta,
pois vai além da morte o seu dulçor.
Santo nome imortal que nos encanta!...
Quer viva ou morta, a mãe é sempre santa,
- na santificação do seu amor.
TRÊS SONETOS DE AMOR
I
Chegaste em minha vida em hora amarga,
quando o estio se fora ao vir do inverno,
e a minha estrela, peregrina e pura,
por meu mal deixará o céu vazio!
Chegaste à minha vida quando as flores
murchas jaziam pelo chão nevado,
quando os meus lábios, trêmulos, cantavam
o cantochão dos tristes misereres.
Chegaste à minha vida solitária,
quando se fora a última esperança
no adeus final do derradeiro porto.
Chegaste à minha vida e a iluminaste
com teu sorriso de trigal maduro,
com teu olhar de estrela matutina!
II
Chegaste e me disseste: - “eis que te trago
uma esperança nova à tua vida.
Serás o meu Boaz* e eu serei Rute,
farta será de amor nossa colheita!
Venho da Shangri-La dos teus sonhares,
da terra da perpétua juventude.
O sangue quente que me aquece as veias
duplicará os grãos da tua eira.
Serei a tua Agar. E nova estirpe
há de nascer do nosso amor fecundo,
num consórcio de outono e primavera.
Serei tua Vestal, esposa e amante.
Mantendo deste amor acesa a pira,
com nardo e mirra incensarei teus deuses!”
III
Assim disseste e assim ficaste. E agora,
que o estio retornou, passado o inverno,
já estão voltando as musas forasteiras
que me haviam deixado o lar vazio.
Cresce a colheita em grãos centuplicados!
Já preparo o lagar para a vindima.
Os deuses lares já tem mirra e incenso.
Arde a pira no altar. Volta a alegria!
É o milagre do Amor ressuscitado!
É a esperança que chega e toma assento,
que se hospeda comigo, e janta e fica.
Não mais entoarei canções de outono,
que a primavera esplende em teu sorriso,
e há fartura de espigas na seara!...
Senta-te aqui, meu filho, e ouve o teu velho pai:
esta vida, querido, é duro embate, é luta
em que as regras morais não entram na disputa
e o império da ambição sempre crescendo vai.
E aqui, tal como ali, - Roma, Paris, Xangai, -
é o ouro o ditador das normas de conduta.
E entre as leis do Direito e as leis da força bruta,
quem acaso não sabe onde a razão recai?
É triste esta verdade, ó filho meu! No entanto,
quero que sejas bom e honesto como um santo,
que ames a Pátria, o humilde e protejas o só.
E assim aprenderás esta lição que prezo:
se há muito de Mamon no coração de um Creso,
há muito mais de Deus, no coração de um Jó!
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SONETO À ELISÂNGELA
As Musas convoquei dos montes do Parnaso,
para dar a você, querida, um bom soneto,
que da primeira quadra ao último terceto
fosse pleno de amor de pai, de que me abraso!
Mas eis que o estro me foge e a claudicar me atraso.
E sinto que entro mal no segundo quarteto.
Vou pedir rouxinóis ao velho Capuleto
e rosas ao jardim, crisântemos ao vaso.
Pois só o teu sorriso, ó meiga filha, é tudo!
Se do riso infantil alguém fizesse o estudo
no afã de descobrir tudo quanto traduz,
Por certo saberia este alguém, sem tardança,
que lê diz que este mundo é nada sem criança,
como um verso sem rima e a Igreja sem Jesus!
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BRUNO ROGÉRIO
Bruno Rogério Magalhães Monteiro,
é o nome todo do meu novo filho,
raio final de um sol que perde o brilho
e já se esconde por detrás do outeiro.
Que importa que ele seja o derradeiro?
O que importa é que siga honesto trilho,
que colha a espiga onde plantou seu milho,
que regue a flor nascida em seu canteiro.
Que seja puro e nobre. E ame a Virtude!
E à sua mãe dê tudo o que eu não pude
de bens terrenos dar, porque não os tinha...
Que preste culto a Deus e à Liberdade!
Que seja um bom no ardor da mocidade,
qual tento eu ser nesta velhice minha!
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MATER
Faz muito tempo já! Era no outono...
Folhas soltas levadas pelo vento...
Em nossa casa o luto, o desalento,
o vazio do tédio e do abandono!
Foi quando, ó mãe! Ao derradeiro sono
levou-te a morte, em meio ao sofrimento.
Mas ficaste vivendo em pensamento,
e em nossos corações, como num trono.
Que importa o tempo transcorrido? Importa
é que a mãe viva, mesmo estando morta,
pois vai além da morte o seu dulçor.
Santo nome imortal que nos encanta!...
Quer viva ou morta, a mãe é sempre santa,
- na santificação do seu amor.
TRÊS SONETOS DE AMOR
I
Chegaste em minha vida em hora amarga,
quando o estio se fora ao vir do inverno,
e a minha estrela, peregrina e pura,
por meu mal deixará o céu vazio!
Chegaste à minha vida quando as flores
murchas jaziam pelo chão nevado,
quando os meus lábios, trêmulos, cantavam
o cantochão dos tristes misereres.
Chegaste à minha vida solitária,
quando se fora a última esperança
no adeus final do derradeiro porto.
Chegaste à minha vida e a iluminaste
com teu sorriso de trigal maduro,
com teu olhar de estrela matutina!
II
Chegaste e me disseste: - “eis que te trago
uma esperança nova à tua vida.
Serás o meu Boaz* e eu serei Rute,
farta será de amor nossa colheita!
Venho da Shangri-La dos teus sonhares,
da terra da perpétua juventude.
O sangue quente que me aquece as veias
duplicará os grãos da tua eira.
Serei a tua Agar. E nova estirpe
há de nascer do nosso amor fecundo,
num consórcio de outono e primavera.
Serei tua Vestal, esposa e amante.
Mantendo deste amor acesa a pira,
com nardo e mirra incensarei teus deuses!”
III
Assim disseste e assim ficaste. E agora,
que o estio retornou, passado o inverno,
já estão voltando as musas forasteiras
que me haviam deixado o lar vazio.
Cresce a colheita em grãos centuplicados!
Já preparo o lagar para a vindima.
Os deuses lares já tem mirra e incenso.
Arde a pira no altar. Volta a alegria!
É o milagre do Amor ressuscitado!
É a esperança que chega e toma assento,
que se hospeda comigo, e janta e fica.
Não mais entoarei canções de outono,
que a primavera esplende em teu sorriso,
e há fartura de espigas na seara!...
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* Boaz é um personagem do Antigo Testamento da Bíblia, citado no livro de Rute.
Fonte:
Athos Fernandes. Shangri-La Poesias. 1979.
Athos Fernandes. Shangri-La Poesias. 1979.
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