sábado, 17 de julho de 2010

18 de Julho - Dia do Trovador

O dia 18 de julho é considerado em todo o território nacional, o Dia do Trovador, por ser a data de nascimento de Luiz Otávio, fundador e presidente perpétuo da União Brasileira de Trovadores. Luiz Otávio era o pseudônimo usado por Gilson de Castro, cirurgião dentista nascido no Rio de Janeiro em 1916 e falecido em Santos em 1977. Foi ele, na década de cinqüenta que deu um grande impulso à trova, divulgando-a, maciçamente, no rádio, nas revistas e nos jornais, culminando com o lançamento do livro "Meus Irmãos, os Trovadores", em 1956. Este livro que reuniu 2.000 trovas de autores diversos pode ser considerado como marco inicial do movimento dos atuais trovadores. Em 1960, contando com a colaboração de J. G. de Araújo Jorge, Luiz Otávio lançou os I Jogos Florais de Nova Friburgo, iniciativa que se espalhou por todo o território brasileiro e ainda hoje e a principal forma de divulgação da trova no Brasil. Com os Jogos Florais multiplicaram-se os trovadores a tal ponto que para melhor congrega-los foi fundada em 1966 a União Brasileira de Trovadores. E é desta UBT que partem as principais comemorações do 18 de julho. Praticamente todas as seções e delegacias criam formas para tais celebrações como reuniões festivas, palestras, almoços ou jantares de confraternização, lançamento de livros, concursos de trovas, etc. O dia 18 de julho se transformou, por força de lei, no Dia do Trovador em dezenas de municípios por todo o Brasil e em alguns estados da federação.
 A Trova não morre nunca, Retempera a humanidade E vence a tristeza adunca, Alegrando a mocidade! Apollo Taborda França A trova é gota de pranto que cai dos olhos de alguém e por alguém chorou tanto que nem mais lágrima tem. Antonio Salomão Sete sílabas por cima Com idéia sempre nova, E cadência, boa rima, Numa quadra… a bela Trova! Apollo Taborda França A trova pra ser bonita tal qual filhinha dileta: traz sempre o laço de fita da inspiração do poeta! Joaquim Carvalho Sou trovador, tenho senso Da importância da poesia: Encerra tudo o que penso, Realidade e fantasia! Apollo Taborda França Há trovas que o vento leva; outras, o vento desfaz… Mas, as minhas, sem reserva são trovas que o vento traz. Maria Nicolas Uma Trova pra ser boa, Expressiva, universal, Na mensagem apregoa A cultura e a moral! Apollo Taborda França Dia dezoito de julho, é dia do trovador. Eu faço trovas - me orgulho, pois as faço com amor. HLuna Canta, canta, trovador e promove a festança, convidando com amor todo mundo para a dança. Ana Maria Gazzaneo E desse dia festivo eu venho participar, pois das trovas sou cativo: não sei ficar sem trovar. Mário Roberto Guimarães Da poesia fiz meu canto, do meu canto a alegria! Fiz meus versos com amor, a canção do trovador. Maurélio Machado Trova é cantiga bonita, nascida do coração! Dessa inspiração bendita vertida em linda canção. Zélia Nicolodi A minha vida é uma Trova, trova de ilusão perdida, pois a vida é grande prova, que prova a Trova da vida! Gislaine Canalles Trovador, qual o motivo desse teu mundo risonho? O segredo é porque vivo envolvido no meu sonho! Pedro Viana Filho Nesta casa tão singela Onde mora um Trovador É a mulher que manda nela Porém nos dois manda o amor. Clério José Borges Ó linda trova perfeita, que nos dá tanto prazer, tão fácil, - depois de feita, tão difícil de fazer.” Adelmar Tavares "A trova tomou-me inteiro! tão amada e repetida, agora traça o roteiro das horas de minha vida." Luiz Otávio No simples fazer da trova A Poesia tem valor. E o poeta tem a prova Que, se trova, é por amor! Luiz Carlos Lemos "Trovador, grande que seja, tem esta mágoa a esconder: a trova que mais deseja jamais consegue escrever ... “ Luiz Otavio Quando nasce a boa trova O coração está cheio Do amor que sempre renova O homem, para o seu meio!... Luiz Carlos Lemos Por estar na solidão, tu de mim não tenhas dó. Co trovas no coração, eu nunca me sinto só.” Luiz Otavio Trovando, deixa pegadas Que outros podem seguir. Porque as pedras, paradas, Não têm razão pra sorrir! Luiz Carlos Lemos "Pelo tamanho não deves medir valor de ninguém. Sendo quatro versos breves como a trova nos faz bem. Luiz Otávio É dia do trovador, sonhando a sua dama. Faz poesia e amor, rosa vermelha lhe chama… António Zumaia Tão simples, as trovas são cantigas com que a alma expande tudo que há no coração do poeta - um menino grande. J. G. de Araújo Jorge Tudo é trova: a flor, a onda, a nuvem, que passa ao léo... E a lua... trova redonda que a noite canta no céu! J. G. de Araújo Jorge Cartilhas do coração, onde o povo se inicia, os livros de trovas são um ABC de poesia! J. G. de Araújo Jorge A trova, conta de um canto, poça d'água sobre o chão - tão pequenina, e entretanto, reflete toda a amplidão! J. G. de Araújo Jorge A trova é como uma conta de um rosário multicor, é a cantiga que desponta do peito de um trovador. J. G. de Araújo Jorge Pequeninas e redondas as trovas são contas, são como as cantigas das ondas que se espraiam no coração. J. G. de Araújo Jorge Uma quadrinha é uma cova, onde a poesia é uma flor, por isso é que numa trova vou sepultar este amor. J. G. de Araújo Jorge Quis tornar-me um trovador para dizer que ela é minha, mas tudo em vão, meu amor não coube numa quadrinha. J. G. de Araújo Jorge

Nany Schneider (Poemas Avulsos)


EMBALOS DE LUZ

Sem ao menos esperar,
Puxa-me pela mão e enlaça nossos corpos,
Para que juntos possamos sentir a harmonia,
Daquele som que inebria.

Pela madrugada escura, brilha a luz desses momentos.
Pois deles sempre renasce, a sensação violenta do amor.
Dançando sobre o tapete, pés descalços, só o toque.
Sentindo mais e mais a proximidade que nos envolve.

Essa é a dança da luz, luz que vem do coração.
Só a música quebra o silêncio, dos beijos apaixonados.
Dança da luz, onde estrelas descem para acompanhar,
A pureza de sentimentos, da beleza desse par.

Luz que dança a nossa volta,
Luz que está dentro de nós.
Luz que embala nossos passos,
Nesta dança que me faz tão sua em seus braços.

REI DO NADA

Se a dor que hoje causas,
Faz bem à tua alma perversa...
Alegra-te !!
Se as lágrimas que fazes correr,
Dão forças às águas escuras de teus sentimentos...
Beba-as !!
Se os destroços de sonhos dourados
Constroem teu reino de sadismo...
Aproveite-os !!
Pois os teus desejos pequenos,
Não alcançam a plenitude do amor...
Pois a tua indiferença ingrata,
Não conhece a extensão da doação...
Teu caminho é calçado, na esperança destruída...
Teu leito é forrado, de amarguras e solidão...
Pobre de teu reino pobre !!!
Teu cetro de egoísmo, se erguerá ao nada...
E no meio de tanta angústia...
Lembrarás, tardiamente, que um dia...
Foste a razão de viver, de alguém...

IMPOSSÍVEL!!!?

O que na vida será impossível, senhor?
Se tiver um amor para amar...
O que pode tornar-se impossível, Senhor?
Se aquela pessoa ficar...

O que pode chamar de impossível, Senhor?
Se a alegria de um sonho viver...
Como pode achar impossível, Senhor?
Tendo amor em cada amanhecer...

Não há nada que o faça impossível, Senhor.
Pois da terra é o florescer....
Nunca diga que é impossível, Senhor...
É meu ar, da manhã ao anoitecer...

Por isso tudo não é impossível, Senhor...
Nesta vida jamais se sentir dor...
É possível que a tristeza me leve, Senhor...
Se de mim, afastar-se esse amor....

CIRANDA DA FELICIDADE

Cria no amor a criatura,
que criará a ciranda.
Ciranda da vida criada,
da cantiga entoada.

Cria no perdão a vivência,
que transita pelo eterno.
Retira do mundo a carência,
do louco viver moderno.

Cria na mente a lembrança,
dos pés descalços, da liberdade.
Cirandando como herança,
Uma semente de felicidade.

ENTÃO, CARNAVAL!

Chega outra vez a alegria de tantos,
A espera trabalhosa dos sonhos da avenida.
Montam-se verdadeiros cenários, madeira, papel, lantejoulas...
Bordam-se os panos da bandeira, fantasias e mantos.

Ensaia sonhando em encantos, a cabrocha escolhida.
Com seu par tão bem formulado, dança, seduz, tão brejeira...
Cheios de evoluções, cada um tomando cuidado, para melhor demonstrar,
O requinte apaixonado, do Mestre-Sala e sua Porta-Bandeira.

Mas mesmo com tanta magia, tanto samba e dedicação...
O coração da saudade, não deixa de relembrar,
A história meiga e antiga, tão cheia de emoção...
De um tristonho Pierrot e sua linda Colombina,
Em todos os carnavais, presentes na eterna canção.

DOIS LADOS DE MIM

Há um lado de mim que se mostra frio, escuro.
O outro lado recria a aurora de esperança.
Um lado de mim claudica por vielas.
O outro lado rompe barreiras ao que procuro.

Há um lado de mim que ruma perdido pelo céu.
O outro encontra a paz na terra.
Um lado de mim esconde medos, inseguranças.
O outro vê o futuro entre doces véus.

Há um lado de mim que em desvantagem.
O outro é forte, leonino, em eterna luta.
Um lado de mim permanece sombrio.
O outro grita em voz límpida a coragem.

Há sempre dois lados nessa vida irreal.
Há sempre dois gumes nessa afiada adaga.
Há sempre dois caminhos a escolher viver.
Há sempre dois lados no amplo espelho moral.

ILUSÃO

Ilusão é sonhar um sonho perfeito,
Querendo guardar no peito, a sensação do seu sono?
Ilusão é sonhar acordada,
Cada gesto perfeito, do seu modo protetor?
Ilusão é se pegar pensando,
Na maneira de você respirando, olhando a me chamar?
Se tudo o que vivo é ilusão,
Permita, meu Deus que seja eterna.
Que nunca, nunca termine,
Essa linda sensação.

JANGADA DA DOR

Na madrugada dos sentimentos,
Parte a débil jangada da esperança.
Com a coragem ingênua em proventos,
Inspirada pelo sonhar de mudança.

Acolhida pelas águas inconstantes,
De um mar de humor caprichoso.
Deixa para trás rostos em nuances,
Procurando provável futuro ardiloso.

Não pensa o que deixa, tola jangada,
Parte em busca de um horizonte qualquer.
Não vê que a maré a mudanças é dada,
Não vê a tempestade em andamento, sequer.

Jangada que procura vida sem pensar,
Encontra na próxima vaga de um mar revolto,
Pedaços de felicidade jogados a boiar,
Estilhaços do amor que ao vento foi solto.

Não sabe se volta jangada amargura.
Não sabe se algo vai encontrar.
Esquece da praia onde ficou a doçura,
Por dias e dias a lhe esperar.

Assim vai a jangada, agora sem rumo.
Assim entra a renúncia salgada do mar.
Agora sabe que é jangada sem prumo.
Agora sente a dor infinita do desamar.

SONHO

De tão reais nossos sonhos,
O véu do passado desvendou.
Desvendou o amor torturado,
De puro coração arrancado.
Mas a vida não é cega.
Nem o tempo, sem razão.
Da espera fez-se o encanto,
Do encontro, pura emoção.

Fontes:
- Poetas Del Mundo
- http://www.bettyboopstar.com.br/

Nany Schneider


Nasceu e vive em Curitiba capital do Paraná, Brasil.

Nany Schneider, escreve desde pequena, sempre participando ativamente de movimentos literários.

Desenhista, fazendo cursos de aperfeiçoamento e estudante extra-curricular de japonês e alemão.

Tem como formação psicologia/parapsicologia/professora, atuando hoje, como escritora, webmistress e designer.

Possui e-books presenteados por grandes formatadores e escritores e poemas traduzidos em vários idiomas.

Tem como site, seu BETTY BOOP STAR, onde lança escritores amadores e mantém uma gama imensa de poemas e mensagens para divulgação da cultura.

Seus poemas podem ser encontrados em vários sites famosos, como Castillo Sekher, Locura Poética,Sokarinhos, Ligia Tomarchio e outros.

Possui membresia como 'Dama de Honra' em Castillo Sekher e em Puent de La Amistad.

Sua luta é pela divulgação cultural, ajuda espiritual de irmãos em sofrimento e à proteção dos animais por diversas ONGS.

Fonte:
Poetas Del Mundo

Inscrições para o Concurso Literário “Um olhar sobre Sorocaba” são prorrogadas


Os interessados têm até o dia 19 para entregar os textos

As inscrições para o Concurso "Um olhar sobre Sorocaba”, que tem como um dos objetivos a preservação da memória da cidade, foram prorrogadas até o dia 19 de julho de 2010.

Os interessados podem enviar os trabalhos pelo correio, desde que chegue até a data limite, ou entregar no endereço: Rua Fernandópolis, 514 – Jardim Iguatemi – CEP 18085-550 – Sorocaba/SP. Os originais devem ser acompanhados de uma ficha de inscrição assinada pelo autor a ser retirada no mesmo endereço ou ainda solicitada através do e-mail contato@hagentedecomunicacao.com.br

Os textos selecionados farão parte de um livro - coletânea que registrará o olhar de cada autor, cujo lançamento será durante a 6ª Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba que acontece de 24 a 28 de agosto de 2010 na FUNDEC.

Formato - Os trabalhos deverão ter no mínimo uma e no máximo três laudas, inéditos, digitados em papel ofício A4, fonte em tamanho 12, espaço 1,5 em 2 ( duas) vias assinadas, com nome completo do concorrente, endereço, telefone e e-mail, juntamente com todos os trabalhos gravados em um CD.

Seleção – Uma Comissão julgadora ficará encarregada da análise dos trabalhos que serão publicados no livro.

O Concurso é aberto às pessoas com mais de 18 anos de idade, que possuam textos em prosa e/ou em verso e contemplem a cidade Sorocaba.

Informações: (15) 3228.6209 ou (15) 8119.2476 - www.hagentedecomunicacao.com.br

Cintian Moraes e Sonia Orsiolli - Hágente de Comunicação

Fonte:
Colaboração de Hágente de Comunicação

Caravana da Leitura chega a Osasco para comemorar o "Dia do Escritor"


O projeto realizado em praça pública disponibiliza ao público livros por um preço simbólico.

O projeto “Caravana da Leitura” criado pelo escritor Laé de Souza, depois de percorrer mais de 100 cidades brasileiras chega ao município de Osasco pela terceira vez. Aplicado desde 2004, em parceria com as Secretarias de Educação e de Cultura dos municípios e apoio do Ministério da Cultura, o trabalho acontecerá nos dias 22 e 23 de julho/2010, no Calçadão da Rua Antonio Agu, próximo ao Osasco Plaza Shopping das 9h30 às 17h, em homenagem ao Dia do Escritor que é comemorado no dia 25.

Até o final de 2010 o público terá a oportunidade de conferir a passagem da “Caravana” em diferentes praças públicas do país, oferecendo livros para o público infantil, juvenil e adulto, pelo valor simbólico de R$1,99. O projeto reúne uma grande variedade de obras literárias do escritor Laé de Souza, apresentando histórias do cotidiano, em uma linguagem bem-humorada e pontuada por reflexões.

Aos amantes da literatura, a atividade oferece uma ótima oportunidade para rechear a estante e saciar o desejo de boa cultura. De acordo com Laé de Souza, idealizador do projeto, a ação é inédita e tem como objetivo gerar oportunidades de leitura a pessoas de todas as idades e classes sociais.

Este ano, o evento deverá passar por mais de 40 cidades dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, com previsão de distribuição de cerca de 120 mil livros. “O objetivo do trabalho é levar cultura e incentivar o hábito da leitura em todo o Brasil. Dessa forma acreditamos que a leitura pode ser democratizada”, destaca Laé de Souza.

Interessados poderão conhecer outros projetos de incentivo à leitura, de Laé de Souza e o roteiro da Caravana da Leitura, em "Agenda", no site http://www.projetosdeleitura.com.br

Fonte:
Colaboração de Laé de Souza.

Taba Cultural abre espaço para Novos Autores

A Taba Cultural Abre Espaço Para Novos Autores Com Projetos de Antologias de Poesia e Prosa

Inscrição e publicação
gratuitas.

VEJA ABAIXO AS PROPOSTAS

CONTOS MÍNIMOS
Antologia de microcontos. Tema livre.

Os contos devem ter no máximo 800 (oitocentos) caracteres, contando os espaços, independente
do título.

Você poderá mandar até 3(três) trabalhos para avaliação.

Prazo de recebimento dos textos: 30 de julho de 2010

Data de lançamento do livro: outubro de 2010
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À FLOR DA PELE
Antologia de Poemas

Você pode enviar no máximo 3(três) poemas para avaliação, com qualquer tema ou modalidade poética.
Verso livre ou metrificado.

Prazo de recebimento dos textos: Até 30 de julho de 2010

Data de lançamento do livro: outubro de 2010
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CONTOS DA MEIA-NOITE
Contos de assombração e mistério.

O tema aqui é o terror, mas não precisa ser necessariamente sério, uma história de terror com humor cai muito bem. Histórias de assombração, almas penadas, vampirismo, bruxas, aliens etc, deixe sua imaginação rolar.

Você pode mandar até 3 (três) trabalhos.

Prazo de recebimento dos textos: Até 30 de agosto de 2010

Data de lançamento do livro: novembro de 2010
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CONTOS DE ALCOVA
Antologia para público adulto.

Aqui o tema são os encontros amorosos, a sedução, o romance, o erotismo, o adultério e outras faces do relacionamento amoroso.

Você pode mandar até 3 (três) contos para avaliação.

Prazo de recebimento dos textos: Até 30 de agosto de 2010

Data de lançamento do livro: novembro de 2010

Antes de mandar os trabalhos leia os regulamentos completos no site:
www.tabacultural.com.br/antologias.htm

e faça sua inscrição através do próprio site.

Fonte:
http://www.tabacultural.com.br

Nilto Maciel (Poemas Escolhidos)


POEMA EM DÓ MAIOR

Agora, longe da praça,
dos pássaros, de meus passos,
longe de mim, do passado.
Aqui, no sofá estendido,
silencioso, só, presente,
porvir. Ao fundo,
música, chorinho,
valsa inacabada.
Tudo pequeno,
o mundo, o tempo.
Ou tudo sem fim,
e sem começo,
sem meio.

Agora o sono,
a mariposa insone,
a lua perplexa,
a noite sumindo.

VISIONARIO

Da varanda do apartamento
olho para a cidade.
Torre de marfim,
torre de babel.
Árvores agitadas,
carros correndo na avenida,
pessoas andando à toa,
um cão vadio.
Cheiros diversos,
chiados, barulhos.
Onde estará o centro do mundo?
Onde estará acontecendo
a notícia de amanhã?
Dentro daquele ônibus
viajará a moça iludida
e que poderia estar comigo.
Viajará o rapaz triste,
embriagado e que poderia
me contar sua vida
- arcabouço de um conto.
O motorista irá atropelar
uma criança sem futuro.
No automóvel de luxo
vai a mulher
que brigou com o marido
e anda atrás de vingança.
Na parada de ônibus
talvez esteja o assassino
de logo mais.
Na tela do cinema
a musa de todos nós,
estrela que se apagará.
Numa cadeira
um homossexual olhará
para as pernas do rapaz
que come pipoca.
Noutra cadeira um senhor
alisará o próprio bigode
pensando no passado.
No banco da praça
o mendigo comerá pão
olhando para as nádegas
das mocinhas que passam.
No palácio o presidente
alinhará o decreto
que me dará dor de cabeça.
O deputado beberá uísque
no bar e falará de si mesmo.
Sentado num sofá o homem
lerá o romance da mulher
deitada eternamente
em berço esplêndido.
O poeta escreverá uns versos
que lerão daqui a dez anos,
versos sem rima ou sem ímã,
sem métrica e sem ritmo.
No meio do mato a onça
farejará o veado;
o macaco morderá o rabo
do tatu; a formiga
caminhará sem rumo;
e tudo estará escuro.
No rio o peixe, a água,
o frio, o pescador.
No mar o tubarão,
a baleia, o turbilhão.
No céu a estrela virando pó,
o foguete se espatifando,
o infinito e nada.

Aqui, sozinho, longe e perto
de todos, de tudo,
quero estar no centro do mundo,
na crista da onde,
quero ser testemunha do crime,
da crise, do apocalipse.
Quero ver de perto o amor, o ódio,
a solidão, a multidão.
Quero estar no palco, no show,
no centro da cidade,
do campo, do rio, do mar,
do céu, do universo.
Quero a onipresença,
a onisciência,
toda a ciência.

O JANGADEIRO

Para Edinardo, às vésperas do primeiro
ano de sua partida.

Arrodeio a superesfera
na minha jangada amiga,
rindo de quem me espera,
chorando à moda antiga.

De quantos paus ela é feita
só dizem os jangadeiros
velhos e companheiros,
fugidos da rota estreita.

Não rio por palhaçada
nem choro angustiado;
já me bastava a maçada
de ansiar o desejado.

Levo comigo a coroa
dos filhos da Eternidade,
relendo Fernando Pessoa
frente a toda realidade.

Passeio as nebulosas,
os astros, o espaço sem fim,
saudadoso das carinhosas
meninas do Otávio Bonfim.

De dois velhos meus criadores,
meu primeiro e doce abrigo,
de duas pequenas flores,
em quem pensando prossigo.

De uma soidade que amei
e que na Bahia deixei,
de sete meus germanos
deixados a fazer planos.

Dos parceiros risonhos
do pobre Amadeu Furtado,
esses bebedores bisonhos
de fel, cachaça e melado.

Mergulho a atmosfera
montado em cavalo-de-pau,
zombando da besta-fera,
lembrando o primeiro mau.

Conduzo comigo um poema
jamais publicado em papel
para reler na suprema
corte do mais alto céu.

Vasculho os tempos perdidos
no carro dos deuses gregos,
tristonho de ver iludidos
os que ficaram aos pregos.

De recordar os pileques
que com meu mano bebi,
choroso de ver os moleques
famintos do que comi.

Cavalgo o cavalo das eras
na mais incrível carreira,
carregando uma flor de parreira
para o homem e para as feras.

Na minha ida desejei
deixar o que sempre sonhei:
projetos de muito amar
para a terra e para o mar.

O mundo que nos aguarda
não tem regulamentos nem leis,
é o país do povo sem guarda,
não tem um, nem dois, nem três,

tem milhões de seres iguais,
é a utopia dos pensadores,
o sonho dos ancestrais,
a terra só dos amores.

Comigo navegam poetas,
revolucionários e santos,
partimos no rumo das metas,
dos fins, começos e cantos.

Fonte:
Nilto Maciel. Visionário.
http://www.niltomaciel.net.br

Panorama da Literatura Italiana



Após a queda do Império Romano, verificou-se na Europa uma série de transformações políticas que determinaram um processo de desenvolvimento das línguas faladas, dando origem ao “vulgar”, no qual a língua do povo prevalece sobre a língua erudita. Entre as línguas românicas, isto é, derivadas do “romano”, ou seja do latim, tiveram especial importância para o início da literatura italiana a língua e a literatura provençal, e a língua e a literatura francesa. No Século XII, a cultura ainda é monástica e assim não surpreende o florescer de uma literatura religiosa com Francisco de Assis, Jacopone da Todi, etc. Mais importante, na segunda metade do século, foi o movimento do Dolce Stil Nuovo, que teve início em Bolonha com Guido Guinizelli e prosseguiu em Florença com Guido Cavalcanti, Dante Alighieri, Lapo Gianni, etc.

No final do século, aparece a primeira obra de Dante Alighieri (Vida Nova) e os anos iniciais do século XIV são marcados pela publicação das outras obras de Dante (Convivio, De Vulgari Eloquentia, De Monarquia) e, sobretudo, pela Divina Commedia, a grande composição em versos que sintetiza e conclui a Idade Média, obra que tanta importância teve em toda a história literária da Europa até à nossa época. Mas quando a Idade Média entrava em declínio, uma nova cultura, inspirada na redescoberta das obras clássicas da antiguidade, dava os seus primeiros passos. Dessa nova era são testemunhas imortais as obras de Francesco Petrarca, do Secretum ao Canzoniere, inspiradas no mais alto lirismo, cristão e profano, clássico e renovador ao mesmo tempo.

Se as obras do Petrarca já parecem voltadas no sentido de uma nova cultura humanista, o Decameron de Giovanni Boccaccio demonstra estar profundamente ligado à realidade comum, numa narração cómico-realística, inspirada nos horizontes da classe mercantil que nela encontrava o seu momento privilegiado.

O século XV oferece-nos a explosão do conhecido movimento humanista que, nos primeiros cinquenta anos procura e estuda os clássicos, mas que, na segunda metade do século, dá-nos uma floração de obras de inspiração nova e de uma beleza singular.

E do Humanismo passou-se ao Renascimento, que domina toda a cultura italiana do século XVI. Eis aqui as obras de Ludovico Ariosto (autor do poema Orlando Furioso), Torquato Tasso (autor da Gerusalemme Liberata), de Niccolò Machiavelli (autor de Il Principe e I Discorsi), de Francesco Guicciardini (Storia d’Italia), de Castiglione (Il Cortegiano). Foi uma época memorável não só para a literatura, bem como para todas as artes e até a língua se renovou, não somente nas obras dos autores, mas também nos estudos dos filólogos.

A busca de um esmero formal exagerado, as dificuldades criadas pelas autoridades religiosas, a decadência política, privou a Itália daquela supremacia cultural da qual até então tinha desfrutado. Entretanto, a Europa se encaminhava para um novo ciclo de civilização, o Iluminismo, que chegou à Itália só em meados do século XVIII.

O século regista também um nome importante, o de Carlo Goldoni, reformador da Commedia dell’arte e do teatro italiano em geral. As suas peças são ainda hoje representadas em todo o mundo.

Depois de um breve período neoclássico, o romantismo, que já se tinha afirmado na Europa do Norte, chegou à Itália, precedido de mil disputas e polémicas com os defensores do Classicismo.

As motivações principais do Romantismo italiano resumem-se ao princípio de espontaneidade da poesia, na recusa das regras clássicas e da imitação de modelos, no carácter popular da literatura que deve ter motivações nacionais e patrióticas, na exaltação dos grandes acontecimentos do passado, na função social, moral, educativa e religiosa da literatura e, finalmente, na pesquisa de uma linguagem cada vez menos académica.

Ugo Foscolo e Giacomo Leopardi encontram-se numa posição dialéctica entre Classicismo e Romantismo. Enquanto Le ultime lettere di Jacopo Ortis de Foscolo são ricas em influências pré-românticas e Le Grazie reproduzem uma arquitectura clássica, os Sepolcri ainda estão parcialmente ligados a modelos do século XVIII com a criação de grandes mitos e a pesquisa romântica do sublime. De Leopardi podemos sublinhar a classicismo de alguns Canti, a elegância e o equilíbrio da composição e o romantismo da autobiografia, o sentimento do infinito, a concepção existencial, a ideia do destino e da natureza, a linguagem poética que tanto nos Idilli, quanto nas Operette morali, oferece a lúcida constatação da inelutável infelicidade humana.

Rejeitando o Romantismo lírico e individualista, Alessandro Manzoni revoluciona de vez a tradição clássica italiana, de tipo lírico e ainda inspirada em Petrarca, a fim de actuar na História, vista como relação homem-sociedade, dirigida pela Providência e pela Graça.

Após a tensão espiritual que nos Inni Sacri parece uma verdade reencontrada e nas tragédias colide com a história e com a descoberta da vitória do mal, o autor de I Promessi Sposi chega a uma afirmação confiante de que o bem acaba finalmente triunfando. O romance histórico torna-se, com Manzoni, um romance de ideias e o realismo literário coincide com a substância do seu cristianismo numa concepção da obra de arte estritamente ligada a um fim moral e civil.

O Romantismo italiano correspondeu ao espírito nacional e literal do Risorgimento, ao qual transmitiu também um firme fundamento ideológico, influenciando o público que viveu o problema nacional mais como um problema moral do que político. A literatura dos primeiros anos do século XIX é, portanto, uma literatura “militante”, visando a criação de uma consciência nacional e a pesquisa de um conteúdo moderno, popular e concreto. Podemos distinguir duas correntes dentro do Romantismo, de acordo com a distinção feita por Mazzini: os manzonianos eram os escritores que actuavam baseando-se num prudente reformismo; os foscolianos, os que procuravam soluções radicalmente revolucionárias. O crítico De Santis aceitou esta distinção e falou de uma escola liberal cujos máximos expoentes foram Manzoni, Cesare Cantù, Massimo D’Azeglio, Niccolò Tommaseo, Tommaso Grossi, o grupo toscano da Antologia e uma escola democrática que se desenvolveu em torno da figura de Giuseppe Mazzini e que produziu uma corrente de adeptos que chegou até Carlo Cattaneo.

No período do Risorgimento desenvolveu-se o género “memorialístico” que, por um lado, correspondia a uma precisa exigência de compromisso ético-político e, por outro lado, apoiava o gosto romântico pela confissão autobiográfica. Desta corrente, que voltará um século mais tarde com a literatura memorialística do segundo pós-guerra, são testemunhas Le mie prigioni, de Silvio Pellico, Le ricordanze della mia vita, de Luigi Settembrini e I miei ricordi, de Massimo D’Azeglio.

Na poesia, ao lado das composições épico-políticas de Berchet e das sátiras de Giuseppe Giusti, verificou-se uma grande produção de obras em dialecto, como as Poesie do milanês Carlo Porta, os Sonetti do romano Giuseppe Goacchino Belli, La scoperta dell’America de Cesare Pascarella e as poesias napolitanas de Salvatore di Giacomo.

Uma característica da segunda metade do século XIX é o novo papel intelectual que explode em toda a sua contraditoriedade com o movimento chamado Scapigliatura segundo o título de um romance de Cletto Arrighi.

A Scapigliatura não encontrou uma formulação teórica e poética completa como o Futurismo, mas teve, da mesma forma, o papel de colocar em crise a cultura oficial e o gosto burguês, embora não tenha com seguido evitar muitos motivos da escola romântica, como a ideia do suicídio, da morte, do macabro, do individualismo, motivos que até mesmo o Romantismo dos primeiros anos do Século XIX não tinha recusado. Emilio Praga, Arrigo Boito, Iginio Ugo Tarchetti e Giovanni Camerana são considerados os escritores mais interessantes do movimento.

A “Scapigliatura” é o momento no qual a literatura italiana começa a se separar do provincianismo e da falta de correspondência com a grande literatura europeia: começa-se a ler Victor Hugo, Edgar Allan Poe, Charles Baudelaire, Heinrich Heine e, mais tarde, Maupassant, Zola, Goncourt e Balzac.

Dali vemos surgir o fenómeno do Verismo, literalmente ligado ao Naturalismo francês, mas com a notável diferença que o Verismo italiano tem carácter regional, dialectal e provincial (sobretudo do Sul de Itália), enquanto o Naturalismo francês se coloca num ambiente de proletariado urbano (Zola). O maior teórico do Verismo é Luigi Capuana, mas não podemos esquecer Federico De Roberto, Matilde Serao e os representantes da cultura regional toscana, Mario Pratesi e Renato Fucini. O maior representante do Verismo italiano é Giovanni Verga, cuja actividade literária é claramente dividida em dois períodos pela primeira novela de ambiente siciliano e de inspiração verística, Nedda, do ano de 1874, Grazia Deledda da Sardenha, Prémio Nobel no ano de 1926, escreveu seus romances com um estilo sóbrio, vigoroso e austero.

Também Carducci, Pascoli e D’Annunzio representam um problema para a crítica contemporânea, embora esta concorde em sublinhar a sua importância para a poesia do século XX. Os três poetas representam três diferentes soluções para um único problema, o métrico-estilístico, que se torna uma tentativa de superar a métrica italiana tradicional no sentido do verso livre e da grande revolução poética deste século.

Crítico e filólogo, Giosuè Carducci inaugurou um tipo de escola chamada “histórica” erudita, dirigida no sentido de pesquisas positivistas e analíticas, de edições críticas e da reconstrução do desenvolvimento da cultura e da vida nacional italiana, influenciando as tendências historiográficas sucessivas.

Gabriele D’Annunzio é considerado o maior representante do Decadentismo famoso graças aos romances Il Piacere e L’Innocente aos quatro livros das Laudi às poesias de Alcyone, às tragédias La figlia di Iorio e La Fiaccola sotto il moggio e à sua poesia, rica de uma temática variada, que abrange problemas de estética, parnasianismo, a ideia do super-homem, etc., características estas do chamado fenómeno do dannunzianesimo. A poesia torna-se, para D’Annunzio, uma descoberta intuitiva, para além das mediações intelectuais e reais, uma verdadeira orgia de imagens, sons, sensações, que encontram a sua expressão literária num estilo refinado e sensual.

A personagem-homem (naturalista) morre num dos romances mais famosos de Luigi Pirandello, Il fu Mattia Pascal, aonde, pela primeira vez, um protagonista actua sem motivações, podendo ou não fazer certas coisas. A personagem é desumanizada, avulso do seu próprio ser, observa a realidade, mas não participa nela.

É esta a linha da grande literatura europeia, de Pasternick a Beckett, que na Itália continua até hoje, nos romances de Moravia ou nas tentativas da nova-vanguarda.

Além de Pirandello, autor de romances, novelas e dramas (Così è se vi pare, Sei personaggi in certa d’autore, Enrico IV, Tutto per bene) è preciso recordar um inovador da nossa tradição cultural: Italo Svevo de Trieste, pseudónimo de Schmitz. Representante da cultura da Europa Central, foi o criador do romance psicológico La coscienza di Zeno, ao qual se seguiu Una vita e Senilità.

Ao lado de uma poesia denominada “crepuscular”, cujos maiores expoentes são Sergio Corazzini, Guido Gozzano e Marino Moretti, que nos transmitiram uma produção poética e narrativa de tipo intimista e decadente, porém rica, como demonstrou a crítica mais recente, de temas e técnicas que relembram as experiências de Pascoli e Montale, encontramos a poesia futurista.

O movimento que se desenvolveu em torno da figura de Filippo Tommaso Marinetti é importante, não só pela produção artística em si, mas também por ter sido a primeira verdadeira vanguarda, na Itália e na Europa, em que a arte tem ligação com a vida. O Futurismo é caracterizado pelo gesto, pela revolução anarquista, voltada no sentido da destruição, do enfraquecimento do poder burguês, através dos mesmos mitos que da sociedade eram símbolo e produto.

O período entre as duas guerras regista uma série de fenómenos: na poesia, o Hermetismo; na prosa, o Surrealismo italiano, o Realismo e o Neo-realismo de Vittorini e Pavese. Vittorini, depois da experiência de revolta política de Il garofano rosso atingiu, apenas em 1936-37, a superação definitiva do Naturalismo e a identificação da celebração histórica da personagem com o seu lirismo. Toda a produção de Pavese se desenvolveu na dialéctica entre o mundo do campo e a cidade, pólo negativo que significa falsidade e engano. Entre as suas obras lembramos Paesi tuoi, la Spiaggia, Ferie d’Agosto, La luna e i Falò, Il carcere, Il Compagno e I dialoghi com Leucò.

Ungaretti, Montale, Quasimodo e Saba, representam as vozes mais importantes da lírica do século XX, dirigida no sentido de uma realidade inexplicável, desdobrada em momentos, impossível de ser configurada num significado preciso, num estilo justamente chamado “hermético” que, como foi demonstrado em recentes estudos, representa o último desenvolvimento de uma tendência clássica que percorre toda a literatura italiana.

Em torno da década de 30, paralelamente à literatura tradicional, embora renovada com romances tipo Il Mulino del Po, de Bacchelli, Le Sorelle Materassi, de Palazzaschi, desenvolve-se, em Itália, o fenómeno chamado Realismo ou Primeiro Realismo, para diferenciá-lo do Neo-realismo da década de 50, parcialmente inspirado na tradição literária do período entre as duas guerras.

Levi e Pratolini não se incluem cronologicamente na geração do Realismo da década de 30, mesmo tendo ressentindo-se da sua influência. O primeiro escolheu um caminho criado com a experiência de Turim e o exemplo de Gobetti, e o segundo voltou ao regionalismo toscano, seguindo a linha Pratesi-Palazzeschi-Tozzi.

Levi foi o arquétipo do escritor que transmitiu nas suas obras o empenho e a problemática do pós-guerra, como em Cristo si è fermato a Eboli e L’orologio, enquanto Pratolini se manteve sempre em equilíbrio entre autobiografia lírica, o memorialismo e o compromisso político.

O clima cultural do imediato pós-guerra sofreu enormemente com os problemas que a reconstrução impôs à classe política e, logo, também à intelectual.

No entanto, o termo “Neo-realismo” dilatou-se até atingir um arco de produção que abrange Vittorini, Pavese, Moravia, Calvino, Fenoglio, Soldati, Levi, Pratolini, Mastronardi e Seminara.

O fenómeno esgota-se no decénio 1950-60 por um processo interno de esclerotização. De qualquer modo, é importante lembrar Moravia que, a partir de 1929, assumiu o papel de moralista crítico da sociedade burguesa, ainda que permanecendo exclusivamente no campo narrativo. Da sua vasta produção podemos lembrar Gli Indifferenti, Le ambizioni sbagliate, L’imbroglio, Agostino, La romana, La ciociaria, Il conformista e i Racconti romani.

Tommasi di Lampedusa, autor do Gattopardo, representa o retorno a uma forma literária mais refinada e ao gosto do romance histórico.

Um discurso à parte merecem dois autores como Carlo Emilio Gadda e Pier Paolo Pasolini, os quais, na sua diversidade estilística, cronológica e literária, representam duas soluções diferentes para o problema da linguagem. Gadda iniciara a sua actividade literária em 1926, com Il giornale di guerra e di prigionia, ao qual se seguiram La madonna dei filosofi, Il castello di Udine, L’Adalgisa, Novelle del ducato in fiamme, até ao sucesso com Quer pasticciaccio brutto de Via Merulana, editado em 1957, mas já anteriormente publicado em capítulos, em 1947, na revista Letteratura. Gadda depois de ter passado por três diferentes fases literárias, inaugurou um tipo de experimentação linguística que se tornou o produto de uma série de elementos diversos, amalgamados de forma, às vezes, caricatural.

Pasolini pertence a uma geração mais jovem de escritores. Começou a escrever em dialecto friulano com La meglio gioventù até chegar à ideologia marxista, interpretada através de uma visão pessoal de Gramsci (Le ceneri di Gramsci). O momento final deste processo – do individual ao colectivo – é representado pelos romances, pela exaltação do primitivo, da adolescência e do proletariado urbano. Nascem, assim, Ragazzi di vita e Una vita violenta e, mais tarde, as poesias de La religione del mio tempo e Poesia in forma di rosa.

Cassola e Bussani são talvez os escritores mais representativos de uma certa atitude intelectual, visando mais a análise dos insucessos do que a interpretação da situação.

Depois de 1968, também a neo-vanguarda se encaminhou no sentido da liquidação de certos produtos que já tinham perdido grande parte da sua característica provocatória junto do público, que agora os consome como um produto literário qualquer. Por um lado, assiste-se à repetição de experimentações já conhecidas e parcialmente desgastadas, por outro lado, é restaurada uma literatura tradicional que põe entre aspas a neo-vanguarda: explode, com toda a sua força, a literatura kitsch.

Ressurge a literatura de tipo naturalístico e o romance psicológico, tendências que frequentemente se entrelaçam até mesmo numa única obra. Saem os novos romances de Cassola, Bassani, Berto, Piovene, Prisco, Pomilio e das escritoras Manzini, Morante e Ginzburg.

Um caso a parte é representado pelo escritor Ignazio Silone. Ele viveu a sua utopia em apartada solidão: o sonho do encontro entre socialismo e cristianismo. Dão disso testemunho os seus romances: Fontamara, talvez o primeiro romance coral do século XX italiano, Vino e Pane, Una manciata di mare, L’avventura di un povero cristiano, expressões do drama da sua consciência.

Fonte:
www.iicbelgrado.esteri.it/

Marcus Vinicius (Os Vasos)


O verso é um vaso sagrado
com tampa e adorno incrustrado
se aberto assim com cuidado
revela a palavra encantada
a muito tempo aguardada
que vai se sentar no poema
bela como um diadema
feito um cristal burilado

Mas se o vaso ao chão for lançado
em mil pedaços partido
seus cacos forem esmagados
seu pó então diluído
basta ao poeta apanhá-lo
bebê-lo em taça de vinho
saborear cada gole
engolir bem devagarinho

Tomai nas mãos e bebei
o rubro sangue da poesia!

Come a carne do verso
deixe-o embeber seu corpo
circular nas suas veias
numa profusão epilética
em cada cadeia genética
cada elétron fundido
que o coração semi-morto
bata quase explodindo

O poeta não é humano
nem nada tem de divino!

Mas diferente dos sábios
que arrancam tudo do vaso
a canção lhes queima a alma
num ardor que nunca acalma
numa paz que não serena
e com simples gestos de afeto
em noites quentes e amenas
o sonhador delirante
descobre a lágrima errante
beleza e dor: seu dilema
assim se sente mais vivo
e vira a própria poesia
como as daquele vaso
que nunca foram escritas

Nessa hora
a carne do poeta se entrelaça
no insólito mistério das palavras
o templo incabável do etéreo
agora se quiser
ante a magia que se encerra
provar da fantasia que há nos livros
esquece o vaso
deixa o verso vagar livre

Devorem o poeta ainda vivo!

Fonte:
http://literaciapoemasetc.blogspot.com/

Alexandre Drayton (Domingo de Chuva)



Domingo, mais um dia como tantos outros, no frio janeiro da Cidade Luz. Dia de lavar a roupa suja, de tentar arrumar a bagunça (permanente!) da casa, de passar o pano no chão, de pensar na semana que começa. Um momento de reflexão desleixada, de estudar o atrasado, dia diferente talvez.

E' pena que a meteorologia não ajudou, empurrando todo mundo algumas horas a mais na cama. Vento, chuva, frio e tempo cinzento podem vencer a idéia de visitar um museu gratuitamente, como é o caso do primeiro domingo de cada mês. E sou capaz de apostar que muitos cederam à tentação da preguiça e, absortos neste clima envolvente, em pouco ou quase nada pensaram.

E comigo não foi diferente. Até que a físico-química dependência de “checar“ o e-mail, fez-me vir ao tal computador. Eis-me aqui, donc, sem sono e com o estoque de sites a visitar esgotado, tentando escrever algo que tenha sentido ao fim.

Experimento dar uma sacudida e animada no espírito, saindo um pouco para espiar o tempo. Teve jeito não: as amigas ventania e temperatura baixa me receberam com pompa e circunstância. Sem outra opção entrei, e teimoso como sou, recomecei a teclar.

Foi difícil não sentir o que se tenta afastar num dia como esse: a tal da cruel saudade. Palavra impar, que dizem só existir em português, chegou sem pedir licença. Entrou, puxou a cadeira e, saboreando um café amargo com Malboro ligths, pôs-se a me incomodar. Esboçando uma resistência esqueço-me dela por longos segundos, ao fim dos quais recebo um direto de direita, perdendo por knock-out.

Numa ultima tentativa, ensaio comparar àquela do inicio, quando cheguei, essa de hoje. Queria ver se tinha amadurecido, se era mais forte, se podia vir a ser exemplo para os amigos recém-desembarcados. Uma vez mais, o gongo deu-lhe ganho de causa. Houvera de fato apenas uma mudança de nomes, pois a antiga Senhora Saudade hoje se chamava La Madame Nostalgie.

E assim continuei a senti-la, na certeza de que uma vez mais um mundo de lembranças viria-me à mente. Pensei na família distante, nos amigos que ha’ muito não vejo, em praia, na comidinha gostosa do fundo da panela. Imaginei coisas simples, lugares comuns, mentiras infantis e os tempos de infância. Em verdade, senti-me só.

Vi, portanto, que solidão e saudade são almas gêmeas. Velhas conhecidas de outrora, promovem incômodos e aleatórios encontros, onde tentam desafiar o sorriso e a alegria, banindo-os para longe algumas vezes. E foi justamente num desses rendez-vous casuais em que vi-me metido. Pensei poder sair de fininho, mas ao final do corredor encontrei porta fechada.

Não existia outra alternativa, a não ser mascar feito chiclete e digerir sozinho minha angústia. Injusto seria fazer conjecturas, pois tristeza que se preze não se explica, sente-se. E caminhando por essa mesma estrada, imaginei os milhares de solitários mundo afora: habitantes de um mesmo universo, do grande consciente coletivo poeticamente chamado la solitude.

Mas percebi que esta mesma solidão, inenarrável, dura e difícil, tinha outras facetas. Não era a maior de todas, pois conseguia guardar traços de beleza dentro de si. A maior solidão, na verdade, é dos quem não amam e fecham-se no absoluto vazio do nada. Solitários são aqueles que temem a ajuda mútua e que não partilham com o próximo os pequenos segundos da vida. Triste e mísero é o homem que evita sentir suas emoções, permutando solidariedade com egoísmo. A maior solidão é a dos que não acreditam e fazem de seus sentimentos algo torpe, que reflete o amargo e apaga a luz do bem-viver. Solidão real é aquela do infeliz que perdeu suas esperanças, vivendo um pesadelo constante, permeado de pseudo-angústias e cego em relação ao belo mundo ao seu redor.

Eu, do alto dessas tolas idéias, acreditando na vida e num mundo melhor, vi-me um feliz e pequeno solitário, nada mais. Pois, como bem disse o poetinha:

— “A fé desentope as artérias; a descrença é que dá câncer“.

Fonte:
http://www.lardobomleitor.com

Miguel Marelenquelem (O Conto de Fadas e o Imaginario Infantil)



RESUMO: Este artigo apresenta uma pesquisa em andamento, que questiona a preocupação do corpo docente em buscar um sentido didático para a utilização da literatura em sala de aula, não levando em consideração a importância dos contos de fadas para a construção do imaginário infantil. O estudo é baseado em autores como Bruno Bettelheim e Nelly Novaes Coelho, que tratam de contos de fadas cada autor, em uma área específica: psicanalítica e literária, e outros autores como, por exemplo, Gianni Rodari e Marcel Postic, que tratam do imaginário. O objetivo desse trabalho é observar a influência dos contos de fadas no imaginário infantil. Acredita-se que o contato com os contos de fadas possibilitará a criança o ensaio de vários papéis sociais, proporcionando a construção de uma personalidade sadia, bem como, promover a socialização, a troca de experiência e uma maior inserção no grupo social.

INTRODUÇÂO

Acredita-se cada vez mais na importância e na influência dos contos de fada, no desenvolvimento do imaginário infantil.

Ouvir e contar histórias é fundamental para o desenvolvimento da identidade da criança, pois através dos contos ela tem a possibilidade de ensaiar seus papéis na sociedade, adaptando-se a situações reais e colocando-se dentro da história, como também desencadeia idéias, opiniões, sentimentos e criatividade, antecipando situações que a criança só iria experimentar na vida adulta.

Objetivamos neste projeto demonstrar que os contos de fadas proporcionam desenvolvimento da imaginação, socialização em grupo, percepção de mundo, e na construção da identidade e autonomia da criança.

O CONTO DE FADAS

Os contos de fadas têm origem Celta, e surgiram como poemas que revelaram amores eternos, ou estranhos e até mesmo fatais. A princípio estes poemas eram independentes, mais tarde foram integrados como um ciclo novelesco, idealista, preocupado com os valores humanos. Historicamente, os contos clássicos nasceram na França no século XVII, na corte do rei Luís XIV e pela mão de Charles Perrault, inicialmente para falar aos adultos. Mas foram encontrados por estudiosos, fontes antes do nascimento de Cristo eram estas orientais e célticas, que a partir da Idade Média foram conhecidas por fontes européias.

Hoje em pleno século XXI os contos maravilhosos ainda têm algo a nos dizer? Com certeza! “o que nelas parece apenas infantil, divertido ou absurdo, na verdade carrega uma significativa herança de sentidos ocultos e essenciais para a nossa vida” NELLY (1987: 09). Em nossa sociedade os contos de fadas ganharam um nova roupagem indo além do prazer da leitura, pois com a “descoberta” de sua importância simbólica, do lúdico, da imaginação e da fantasia proporcionamos a construção de uma personalidade sadia na criança.

Além dos tradicionais contos de fadas, encontramos autores que se apropriam dos personagens ou situações dos contos de fadas, para recriarem novos textos simbólicos, como: “O menino e o Lobo”, “A fada que tinha idéias”, “A fada desencantada”, “A verdadeira história dos três porquinhos”, “Chapeuzinho amarelo”, entre muitas outras.

Segundo Nelly apund Câmara Cascudo, o conto popular maravilhoso é justamente o mais amplo e mais expressivo, pois ele nos traz informações históricas, etnográficas, sociológicas, e jurídicas. É um documento vivo, mostrando costumes, idéias, decisões e julgamentos da Humanidade em um determinado momento histórico. Para todos nós é o primeiro “leite intelectual”, os primeiros heróis, as primeiras cismas, os primeiros sonhos, os movimentos de solidariedade, amor, ódio, e compaixão vêm com as histórias fabulosas, ouvidas na infância.

De acordo com Khéde, os contos de fadas surgiram como forma de produção e organização social pré-capitalista. Eles representam em seus personagens valores burgueses que surgiram e se consolidaram entre os séculos XVII e XIX.

O Gato de Botas é o pícaro, pois tira proveito da corrupção social. O Pequeno Polegar, é o anão astuto que vence gigantes bobos. Perraut, também utiliza em seus contos o confronto dualista entre bons e maus, feios e belos, fracos e fortes, como exercício de crítica a corte, onde personagens pobres superam a nobreza com sua inteligência. “A presença da fada unívoca do narrador nos contos de fadas sugere um modelo fechado de narrativa que, por sua vez, reproduz uma realidade sociocultural também fechada. Mas eles apresentam o confronto entre, geralmente, duas posições: A dos que dominam, e a dos são dominados” (KHÉDE, 1990:19). Os contos de fadas são caracterizados por um único traço, e quando este é muito repetido, faz com que surja um esteriótipo, onde a bruxa será sempre um personagem maravilhoso, a serviço do mal; a fada sempre bondosa; o sapo vai virar príncipe; os gênios ora são bons ora maus (os magos são de origem pagã e exibem sabedoria); reis e rainhas, podem usar seus poderes tanto para o bem, quanto para o mal, reproduzindo sempre valores clássicos, significam a fantasia do poder e os conflitos dos relacionamentos interpessoais; príncipes e princesas, estão ligados a aventuras, e são transgressores. A princesa é caracterizada por sua função social ligado ao cuidar da casa e da família, são bonitas, honestas, e piedosas, e por isso merecem como prêmio seu príncipe encantado.

O Pinóquio, o qual podemos comparar como a volta do filho pródigo sustentado pela Bíblia. A história possui forte cunho moralista e Pinóquio alterna situações de infração, punição e salvação. Como prêmio pelo seu bom coração acaba transformado em um menino de verdade, perdoando-o as estrepolias do passado, e ao mesmo tempo ganha bens materiais como um quarto bem equipado, e também recupera a saúde de seu pai. “Os contos, representam valores que se cruzaram através de ciclos históricos, assim, podem significar ritmos de iniciação, símbolos tatômicos e a luta mítica entre forças da natureza” (KHÉDE, 1990:24).

Os personagens maravilhosos seguem inúmeras funções, tanto dentro da narrativa eminentemente lúdica, quanto à de denúncia social. As soluções maravilhosas são hoje questionadas por sociólogos, lembrando o estímulo à alienação provocada por resoluções mágicas, que são defendidas pela psicanálise mostrando a possibilidade de resoluções de problemas reais, através da representação simbólica. A criança aparece pouco, ou simbolizando o bom sendo e a inteligência, ou aparece como vítima da autoridade familiar.

OS IRMÃOS GRIMM

Na pesquisa prática com as crianças, foi utilizado as Obras dos Irmão Grimm.

A Família GRIMM, de Hanau, na Alemanha, teve o privilégio de dar ao mundo três nomes ilustres no terreno das Letras e das Artes. Contudo, como "Irmãos Grimm", são mais conhecidos os dois mais velhos, Jakob Ludwig Karl e Wilhelm Karl, ambos filólogos e colecionadores de histórias populares.

Com o Irmão, fez preciosas pesquisas no campo da tradição popular, anotando ambos, diretamente da boca do povo humilde, histórias, lendas, superstições e fábulas da velha germânia. Wilhelm Karl, com estudos acurados nesse setor, fez-se o precursor da moderna ciência do folclore.
As histórias recolhidas pelos Irmãos Grimm, que tem na fantasia e no sobrenatural seus elementos constitutivos, são conhecidas de todo o mundo civilizado, e apoiam-se em recontos da antiguidade ou da Idade Média. Muito se fala numa senhora Katheri Wiehmann, esposa de um alfaiate, que com sua memória extraordinária, transmitiu aos dois curiosos das tradições germânicas um verdadeiro tesouro de sagas.

Tais sagas foram levadas ao livro através da pena de Wilhelm Karl, e vieram dar a coleção de histórias que de gerações a gerações foi se repetindo, e apresentadas sob formas diversas e atribuídas a autores diversos, encontrando traduções e adaptações mais ou menos livres em todos os recantos do mundo.

A LEITURA DOS IRMÂOS GRIMM HOJE

Hoje, discute-se a conveniência de fornecer a crianças essas leitura relacionada com o mundo fabuloso da imaginação, histórias em que se mesclam fatos cruéis, criaturas fantásticas, bem como animais encantados, heróis impossíveis, madrastas perversas. Fala-se, ainda, na incongruência de dar à infância desta época, essencialmente científica e informatizada, histórias que se ajustariam, talvez, à cultura medieval, mas não tem razão de ser na nossa época.

Ora, acreditamos que a necessidade do maravilhoso se conserva latente, é positiva nas criaturas, mesmo naquelas que já se despediram da quadra efêmera em que se vê o mundo do nível dos olhos infantis. O dragão de goela chamejante de ontem, é tão excitante para a imaginação alerta de uma criança quanto a nave espacial de hoje, cuspindo fogo em busca de mundos inexplorados. E, no fundo do coração, todos desejaríamos dispor de um fada madrinha que nos cobrisse de dons, ou de uma vara de condão que nos permitisse atravessar sem medo as florestas sombrias, latejantes de mistérios e avejões, que surgem no caminho de nossas vidas, por muito prosaicas que elas sejam.

O DESENHO DA CRIANÇA

“Se a literatura infantil se destina a crianças e se acredita na qualidade dos desenhos como elemento a mais para reforçar a história e a atração que o livro pode exercer sobre os pequenos leitores, fica patente a importância da obra infantil. É o caso, por exemplo, da ilustração”. (LAJOLO, 1991: 13)

Nessa pesquisa, o desenho é uma fonte fundamental para compreendermos como os contos de fadas influenciam no Imaginário Infantil. Portanto, faz-se necessário, fazermos uma pequena abordagem sobre o tema, a fim de conhecermos de maneira mais apropriada, este foco de estudo.

No livro “O Desenho Infantil”, escrito por MEREDIEU e traduzido por LORENCI, coloca o desenho como sendo uma expressão da personalidade, “As análises infantis demonstram sempre que por detrás do desenho, da pintura e da fotografia, escondeu-se uma atividade inconsciente muito mais profunda: trata-se da procriação e da produção no inconsciente do objeto representado”. Cada traço, cor, forma, pressão do lápis, tem um significado específico na interpretação do desenho. Para analisarmos o desenho temos três principais aspectos:

1. A maneira como a criança utiliza as linhas e formas. As linhas curvas e sinuosas nos indivíduos sensíveis e temerosos; ângulos retos, linhas firmes, nos opositores e nos realistas. (CARDOSO e VALSASSINA, completam sua idéia dizendo que as crianças realistas, por vezes agressivas tendem a desenhar linhas retas, as crianças sensíveis, imaginativas, com pouca confiança, tendem a desenhar linhas curvas, e linhas em zigue – zague, representam sinais de instabilidade).

2. O modo de distribuição do espaço-localização dos personagens. A terça parte superior, representa o ideal; a terça parte média, representa o sentido da realidade; a terça parte, inferior, representa as pulsões inconscientes. Vale lembrar que segundo o autor, a criança tímida desenha-se pequenina no centro da página, enquanto a instável preenche toda a superfície como traços nervosos.

3. Escolha da cor. A ausência de cor pode ser considerada como a marca de “vazio afetivo”, sua integração harmoniosa” ao desenho mostraria, pelo contrário, um bom equilíbrio. O emprego das cores puras: vermelho, amarelo e azul, e das tonalidades firmes seria um bom sinal até seis anos. Além daí, a utilização abusiva do vermelho traria a agressividade, a ausência de qualquer controle emocional. A frequência do tons escuros preto e marrom, e sujos amarelo e castanho, indicam uma má adaptação e denuncia num estado de regressão.

Vale lembrar que CARDOSO e VALSASSINA, afirmam que “a escolha da cor é feita segundo a sua sensibilidade e descobertas de momento”. (1988:86), citando Ebenezer Looke, 1985, complementa “Tão profundamente interessada está a criança pela cor que nenhum ensino de desenho adaptado à natureza Infantil poderá excluí-la” (1988:84).

Segundo CARDOSO, Camilo e VALSASSINA, Manuela M., apud Duquet, "a criança quando desenha reproduz o seu modelo interno e ainda as impressões que vive através dos traços a formas que executa, fase que esse autor denominou de realismo intelectual” (1988:82)

É importante destacar que quando a criança desenha, ela desenha para alguém, com alguma finalidade, esteja essa pessoa presente ou não, o objetivo claro ou não. A criança espera uma troca, uma resposta deste pessoa. A criança pinta para se exprimir, ainda segundo o autor “a criança é criadora duma expressão viva porque, dotada de faculdades que no adulto vão estar mutiladas, ela representa a sua maneira o mundo que vive (...) A criança não transmite recordações visuais, antes traduz plasticamente as sensações e os pensamentos” (1988:69).

O desenho é o “palco” para onde caminham a observação da criança, guiado pela sua memória aliado a sua imaginação. Através do desenho a criança tem a possibilidade de desenvolver toda sua motricidade, como é de conhecimento geral, e também o seu cognitivo, pois traz a luz da imagem que representa no papel, suas recordações já há muito tempo guardadas. Com a mesma facilidade que recorda seu passado a criança também imagina o futuro, criando personagem, e situações, em busca do novo. Afirma DERDYK, Edith “A memória evoca fatos vividos, a imaginação projeta no futuro desejos de conquista. E o presente é a materialização desses instantes, é a ponte de comunicação entre o que já foi e o que será. O desenho vai registrando, em seu processo de trabalho, o mapa da ampliação da consciência” (1989:130).

A capacidade de imaginação, é fundamental para a construção do conhecimento. Ela é o eixo norteador entre o desenho, e a criança. Continua DERDYK, “Imaginar é projetar, é antever, é a mobilização interior orientada para determinada finalidade antes mesmo de existir a situação concreta. A imaginação possui uma natureza visionário, detectando a intencionalidade contida na ação humana” (1989:131).

O IMAGINÁRIO INFANTIL

O imaginário da criança pode ser comparado a um rio, quando jogamos uma pedra no rio, ondas circulares se formam ao redor e vão se movimentando e atingindo correntes de águas cada vez mais longe. A pedra ao mergulhar vai assustando peixes, atraindo curiosos, e mudando a rotina do local, mesmo que por pouco tempo.

Uma criança ao ouvir contos de fadas, transforma a pedra em cada uma das palavras que lhe são contadas, trazendo lembranças, sonhos, desejos, personagens, dúvidas, medos e associações.

Marcel Postic (1993:19) apund Gurvitch, 1996, coloca-nos que imaginar não é só pensar, não significa apenas relacionar fatos, e analisar situações, tirando-lhe significados. “imaginar é penetrar, explorar fatos dos quais se retira uma visão. Esta só poderá ser comunicada ao outro através de símbolos, que provocam harmônicos e estabelecem a comunhão. O símbolo age como mediador para revelar ocultando, ocultar revelando, e ao mesmo tempo incitar à participação que, embora com impedimentos e obstáculos, fica favorecida”.

Gianni Rodari (1982:142), apund Dewey, apresenta nos a função da imaginação: “A função da própria imaginação é a visão de realidades e possibilidades que não se mostram nas condições normais da percepção visível. Seu objetivos é penetrar claramente no remoto, no ausente, no obscuro. Não só a história, a literatura, a geografia, e a aritmética, contém uma quantidade de argumentos sobre os pais a imaginação deve operar, para que possam ser compreendidos” e completa; “A função criativa da imaginação pertence ao homem comum, ao cientista, ao técnico, é essencial para descobertas científicas bem como para o nascimento da obra de arte, é realmente condição necessária da vida cotidiana”.

No conto, o símbolo pode ser um personagem, que irá enriquecer a identidade da criança, porque ela ira experimentar outras formas, de ser e de pensar, possibilitando a ampliação de suas concepções sobre o meio, pois no faz de conta a criança desempenha vários papéis sociais, e aprende com eles, acreditamos que ela os imita para compreendê-los.

Quando a criança entra no “mundo” da fantasia e da imaginação de um conto de fadas, ela elabora hipóteses para a resolução de seus problemas e toma atitudes do adulto indo além daquelas de sua experiência cotidiana, buscando alternativas para transformar a realidade. No faz de conta, seus desejos podem facilmente ser realizados e quantas vezes a criança desejar, criando e recriando situações que ajudam a satisfazer alguma necessidade presente em seu interior. Bettlheim, afirma que a criança precisa compreender seu inconsciente, para poder dominar seus problemas psicológicos de crescimento, superar suas decepções narcisistas, dilemas édipicos, ser capaz de abandonar dependências infantis, obtendo um sentimento de individualidade e valorizando-se.

Segundo POSTIC “ O pensamento progride de forma linear. A imaginação se processa em espiral, por alargamento de seu espaço. Ela não se dirige para níveis mais diferenciados, mais especializados, estende-se por extensão e por conquista de novos territórios” (1993:19).

Vygotsky, contribui com seus estudos do brincar, afirmando que ele irá permitir que a criança aprenda e elaborar e resolver situações conflitantes que vivencia ou vivenciará no seu cotidiano. Para isso a criança usará suas capacidades básicas como a observação, imitação e imaginação.

Segundo Gianni Rodari (1982:139), “Germes da imaginação criativa, reforça Vygotski, manifestam-se nas brincadeiras dos animais: assim manifestam-se ainda mais na vida infantil. A brincadeira, o jogo não é uma simples recordação de impressões vividas, mas uma reelaboração criativa delas, um processo através do qual a criança combina entre si os dados de experiência no sentido de construir uma nova realidade, correspondente às suas curiosidades e necessidades”.

Quando Vygotsky discute o papel do brinquedo refere-se especificamente à brincadeira do faz de conta, como o brincar de casinha, de escolinha, de cavalo com o cabo da vassoura, entre outras. Faço relação com Vygotsky, porque o faz de conta, do conto de fadas é também um jogo lúdico, e faz parte do brincar. As crianças amadurecem por intermédio de suas próprias brincadeiras e das invenções das brincadeiras de outras crianças e adultos. No princípio suas imitações poderão ser simples, de acordo com a idade, e a experiência de vida de cada criança, mas com o passar do tempo, (e com o desenvolvimento das atividades programadas), o faz de conta da criança fica mais elaborado.

Para Vygotsky, ao reproduzir o comportamento social do adulto em seus jogos, a criança esta combinando situações reais com elementos de sua ação fantasiosa. Esta fantasia surge da necessidade da criança de reproduzir o cotidiano da vida do adulto da qual ela ainda não pode participar como gostaria. Contudo, esta elaboração no faz de conta necessita de conhecimentos prévios do mundo que a cerca, portanto, quanto mais rica forem suas experiências, mais informações a criança irá dispor para materializar em seus jogos lúdicos.

A brincadeira e o faz de conta criam a Zona de Desenvolvimento Proximal na criança, que através da mediação de colegas, família, e educadores, a criança irá passar para o desenvolvimento potencial. No faz de conta, a criança passa a dirigir seu comportamento pelo mundo imaginário, isto é, o pensamento está separado dos objetos e a ação surge das idéias.

Assim do ponto de vista do desenvolvimento, o jogo do faz de conta pode ser considerado um meio para desenvolver o pensamento abstrato, em que a imaginação é uma ação, sendo ela concreta ou não, mas acima de tudo é algo em permanente amadurecimento, e não uma coisa, “A imaginação da criança, estimulada a inventar palavras, aplicará seus instrumentos sobre os traços da experiência que provocarão sua intervenção criativa”. Valotto (1997:19), fala nos sobre o contato com as histórias, sendo que elas não somente ampliam o horizonte cultural das crianças, e promovem seu enriquecimento lingüístico e literário, mas também colocam em doação, a disponibilidade do contador, contemplando a equilibrada formação das crianças em sua relação com eles mesmos e com o mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo como base os objetivos deste projeto:

Possibilitar as crianças o contato com a Literatura Infantil, através dos contos de fada;
Promover o desenvolvimento da imaginação, da criação, e da percepção de mundo, a partir das possíveis interpretações dos contos de fada.; e
observar através da aplicação do trabalho a importância que é dada aos contos de fadas na escola. É possível definir alguns parâmetros:

Na escola pública, existem trabalhos isolados que valorizam a literatura infantil, mas em sua maioria todos a utilizam para fins didáticos. No centro de Educação Infantil, existe uma preocupação do corpo docente em valorizar o imaginário da criança, bem como suas demais potencialidades.

Percebemos que em ambas as instituições as crianças participam das atividades, e demonstram através de textos, desenhos, dramatizações, gestos, e conversas suas angústias, alegrias, vontades e dúvidas ao colocarem-se no lugar dos personagens, vivenciando momentos do seu cotidiano.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO:

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas.15.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
CARDOSO, Camilo.VALSASSINA,Manuela. Arte Infantil. Linguagem Plástica. 2ed. Lisboa: Presença, 1988.
CHAUI, Marilena. Convite a Filosofia. 8 ed. São Paulo: Ática, 1997.
LAJOLO, Marisa, ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira - Histórias e Histórias. 5 ed. São Paulo: Ática,1.991.
NOVAES, Nelly. Coelho Literatura Infantil. 7.ed.Ed. São Paulo: Moderna, 2.000.
______* O Conto de Fadas. São Paulo: Ática, 1987.
PAULINO, Graça. O Jogo do Livro Infantil. Textos Selecionados para Formação de Professores .Belo Horizonte: Dimensão, 1.997.
POSTIC, Marcel. O imaginário na Relação Pedagógica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993.
RODARI, Gianni. Gramática da Fantasia. 8 ed. São Paulo: Summus, 1982.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social da mente. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Contos (A Verdade)


Conto Judaico

Um dia, a Verdade andava visitando os homens sem roupas e sem adornos, tão nua como o seu nome. E todos que a viam viravam-lhe as costas de vergonha ou de medo e ninguém lhe dava as boas vindas.

Assim, a Verdade percorria os confins da Terra, rejeitada e desprezada.

Uma tarde, muito desconsolada e triste, encontrou a Parábola, que passeava alegremente, num traje belo e muito colorido.

- Verdade, por que estás tão abatida? - perguntou a Parábola.

- Porque devo ser muito feia já que os homens me evitam tanto!

- Que disparate! - riu a Parábola - não é por isso que os homens te evitam. Toma, veste algumas das minhas roupas e vê o que acontece.

Então a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola e, de repente, por toda à parte onde passa era bem-vinda.

- Pois os homens não gostam de encarar a Verdade nua; eles a preferem disfarçada.
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Conto Árabe (Maneira de Dizer as Coisas)

Uma sábia e conhecida anedota árabe diz que, certa feita, um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse seu sonho.

- Que desgraça, senhor! - exclamou o adivinho. Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade.

- Mas que insolente! - gritou o sultão, enfurecido. Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui!

Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem cem acoites. Mandou que trouxessem outro adivinho e lhe contou sobre o sonho.

Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe:

- Excelso senhor! Grande felicidade vos está reservada. O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos parentes.

A fisionomia do sultão iluminou-se num sorriso e ele mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho. E quando este saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse admirado:

- Não é possível ! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito. Não entendo porque ao primeiro ele pagou com cem acoites e a você com cem moedas de ouro.

- Lembra-te meu amigo - respondeu o adivinho - que tudo depende da maneira de dizer...

Um dos grandes desafios da humanidade é aprender a arte de comunicar-se. Da comunicação depende, muitas vezes, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra.

Que a verdade deve ser dita em qualquer situação, não resta dúvida. Mas a forma com que ela é comunicada é que tem provocado, em alguns casos, grandes problemas. A verdade pode ser comparada a uma pedra preciosa. Se a lançarmos no rosto de alguém pode ferir, provocando dor e revolta. Mas se a envolvemos em delicada embalagem e a oferecemos com ternura, certamente será aceita com facilidade.

A embalagem, nesse caso, é a indulgência, o carinho, a compreensão e, acima de tudo, a vontade sincera de ajudar a pessoa a quem nos dirigimos.

Ademais, será sábio de nossa parte se antes de dizer aos outros o que julgamos ser uma verdade, dizê-la a nós mesmos diante do espelho.

E, conforme seja a nossa reação, podemos seguir em frente ou deixar de lado o nosso intento.

Importante mesmo, é ter sempre em mente que o que fará diferença é a maneira de dizer as coisas...

Fontes:
http://textos_legais.sites.uol.com.br/
Imagem = http://sandersonmoura.blogspot.com

Hilda Simões Lopes (Tempo de Ler Clarice)



Perceba os paradoxos e pense em como nunca o homem foi tão poderoso para o bem e para o mal. Podemos modificar espécies, viajar no sistema solar e destruir o planeta. Montamos uma rede de comunicação universal e instantânea, vemos e ouvimos tudo, falamos quando e com quem queremos. E vivemos imersos em corrupção e violência, banalizamos a vida e a morte e, ruminando pânico, erguemos grades, trancamos portas e nos encarceramos. É o tempo da contradição onde se aprofundam abismos, medos e inseguranças. O homem está abandonado, perdeu o contato com a terra, com o céu. Ele não vive mais, ele existe. Clarice Lispector disse assim.

Nessa época de homens poderosos em todos os sentidos, ler Clarice, a hermética, a intimista, a escritora que se afasta da sociedade em crise para a crise do indivíduo, a escritora do torvelinho das almas, cada vez mais parece água fresca em dia de quarenta graus à sombra.

Clarice Lispector também fala em assassinato mais profundo: aquele que é um modo de relação..... um modo de nos vermos e nos sermos e nos termos, assassinato onde não há vítima nem algoz, mas uma ligação de ferocidade mútua.

Clarice não enxergava a desumanidade do social e sim a das almas, punha a mão na fome de integridade e não na de comida, gritava pela ausência de ser e não pela de saúde e saneamento. Queria mexer na seiva e não nos galhos da árvore. Coisa difícil, afinal a “fome” é imensa e tem muitas faces, e metaforicamente Clarice explica: a pessoa come a outra de fome, mas eu me alimentei de minha própria placenta. E me pergunto se ler sua literatura não é isso mesmo, comer placenta, engolir fermento de vida, deixar as bordas e afundar no miolo.

O interessante é que essa fome por uma humanidade centrada no ser, presente na obra de Clarice Lispector, vive no imaginário dos africanos e faz parte de seu vocabulário. Eles diriam que Clarice Lispector anseia um mundo de “ubuntu”. Tal expressão, usada hoje para sistemas operacionais simples e gratuitos, vem da África onde é bonita em significado como em seu uso virtual. Tem a ver com nossa essência, algo como “sou o que sou devido ao que todos somos”, e para os africanos, quanto mais nos apropriamos dessa idéia mais humanos ficamos. Tem muito “ubuntu” quem não se intimida com o sucesso, a capacidade ou a beleza dos outros porque sabe que, igual ao outro, é parte de um todo, ou quem não rouba do outro porque sabe como atingirá o todo do qual faz parte. Este sentimento nutriu o “ontem eu tive um sonho, todos éramos cidadãos do mesmo mundo” de Martin Luther King, o “Imagine” de John Lennon e vários discursos de Bill Clinton.

Ignoro se Clarice conhecia a palavra africana, mas a idéia se derrama de sua literatura: Não me mostre o que esperam de mim porque vou seguir meu coração, não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual porque sinceramente sou diferente........ Não copie uma pessoa ideal, copie a você mesma........ O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo.

Claro, Clarice, claríssimo, ser o que se é porque cada um é um e temos de nos somar e não nos copiar.

Os todos poderosos homens de hoje, para o bem e para o mal, como diz Clarice Lispector, não vivem, existem. Vivem apenas um carnaval de vaidades, teres e poderes, usando as fímbrias de suas existências cambaleantes, controladas por comprimidos e sedentas por paz e alegria genuína.

Imagine todas as pessoas/ vivendo pelo hoje / nada porque matar ou morrer / nenhuma necessidade de ganância ou fome / imagine todas as pessoas / compartilhando o mundo todo. John Lennon disse assim. Bem igual a Clarice.

Ele usou a música, ela as metáforas. Era uma humanidade deslumbrada pelo poder tecnológico alcançado, mas eles queriam alcançar a mudança das almas. E alma, sabe? é um negócio imenso. Clarice usou as metáforas porque as palavras não chegavam lá, e acharam difícil de entender. Passou o tempo e o deslumbramento implodiu, todo mundo viu, os poderes avançaram, para o bem e para o mal. Por dentro, fome por outro tempo. Tempo de ler Clarice.

Fonte:
Zero Hora.