sexta-feira, 16 de julho de 2010

Monteiro Lobato (O Rabo do Macaco)


Era um macaco que resolveu sair pelo mundo a fazer negócios. Pensou, pensou e foi colocar-se numa estrada, por onde vinha vindo, lá longe, um carro de boi. Atravessou a cauda na estrada e ficou esperando. Quando o carro chegou e o carreiro viu aquele rabo atravessado, deteve-se e disse:

- Macaco, tire o rabo da estrada, senão passo por cima!

- Não tiro! – respondeu o macaco – e o carreiro passou e a roda cortou o rabo do macaco.

O bichinho fez um barulho medonho.

- Eu quero o meu rabo, eu quero o meu rabo ou então uma faca!

Tanto atormentou o carreiro que este sacou da cintura a faca e disse:

- Tome lá, seu macaco dos quintos, mas pare com esse berreiro, que está me deixando zonzo.

O macaco lá se foi, muito contente da vida, com a sua faca de ponta na mão.

- Perdi meu rabo, ganhei uma faca! Tinglin, tinglin, vou agora para Angola!

Seguiu caminho.

Logo adiante deu com um tio velho que estava fazendo balaios e cortava o cipó com os dentes.

- Olá amigo! – berrou o macaco – estou com dó de você, palavra! Tome esta faca de ponta.

O negro pegou a faca mas quando foi cortar o primeiro cipó a faca se partiu pelo meio.

O macaco botou a boca no mundo – eu quero, eu quero minha faca ou então um balaio!

O negro, tonto com aquela gritaria, acabou dando um balaio velho para aquela peste de macaco que, muito contente da vida, lá se foi cantarolando:

- Perdi meu rabo, ganhei uma faca; perdi minha faca, pilhei um balaio! Tinglin, tinglin, vou agora para Angola!

Seguiu caminho.

Mais adiante encontrou uma mulher tirando pães do forno, que recolhia na saia.

- Ora, minha sinhá – disse o macaco, onde já se viu recolher pão no colo? Ponha-os neste balaio.

A mulher aceitou o balaio, mas quando começou a botar os pães dentro, o balaio furou.

O macaco pôs a boca no mundo.

- Eu quero, eu quero o meu balaio ou então me dê um pão.

Tanto gritou que a mulher, atordoada, deu-lhe um pão. E o macaco saiu a pular, cantarolando:

- Perdi meu rabo, ganhei uma faca; perdi minha faca, pilhei um balaio; perdi meu balaio, ganhei um pão. Tinglin, tinglin, vou agora para Angola!

E lá se foi muito contente da vida, comendo o pão.

Fonte:
Covil do Orc. Contos do Covil.

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