quarta-feira, 7 de julho de 2010

Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso (Soneto)


DEFINIÇÕES:

Soneto – Pequena composição poética composta de 14 versos, com número variável de sílabas, sendo o mais freqüente o decassílabo, e cujo último verso (dito chave de ouro) concentra em si a idéia principal do poema ou deve encerrá-lo de maneira a encantar ou surpreender o leitor. Pode ter a forma do soneto italiano (o mais praticado) ou do soneto inglês. (…). Fonte: Houaiss

Soneto – Composição poética, formada por quatorze versos geralmente distribuídos por dois quartetos e dois tercetos. S. estramboto: soneto com três tercetos, usado no século XVII. S. inglês: soneto formado por três quartetos independentes e um dístico. Fonte: Michaelis

COMO ESCREVER UM SONETO

Introdução

É quase um desaforo tentar ensinar regras a alguém que pretende escrever um poema, onde cada verso produzido resulta de uma inspiração que, além de individual, é uma manifestação do pensamento livre. Em outras palavras, não dá para dizer a um poeta “seja metódico em seus versos”. Deve partir do próprio poeta a iniciativa de seguir ou não as regras que existem nos sonetos.

A maioria dos poetas citados nessas páginas não se limitou a elaborar sonetos. Alguns deles, eu creio, foram atraídos pela história e pela sonoridade dessa composição. Um soneto é uma obra curta criada para transmitir uma mensagem em seus catorze versos, divididos em dois quartetos (grupos de quatro versos) e dois tercetos (três versos), ou três quartetos e um dístico (dois versos).

Métrica

Em primeiro lugar, os versos devem possuir a mesma métrica, ou seja, o mesmo número de sílabas poéticas. Uma sílaba poética é bem diferente de uma sílaba comum. É possível unir duas ou mais palavras em apenas uma sílaba poética. Veja o verso abaixo: “Busque amor, novas artes, novo engenho…” (Luis de Camões). Tente ler esse verso devagar, como se fosse uma só palavra, e vá contando quantas pausas existem até a última sílaba tônica.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Bus/que a/mor,/no/ vas/ ar/ tes,/ no/ vo en/ge/ nho

Você encontrou as dez sílabas poéticas, certo? Repare que a expressão “busque amor”, ao invés das quatro sílabas comuns (bus-que-a-mor), tem na poesia apenas três sílabas. Costuma-se ensinar as sílabas poéticas como sendo a forma em que são “ouvidos” os versos, por isso a sonoridade é importante em um soneto.

Camões escreveu seus sonetos (e Os Lusíadas também) usando sempre dez sílabas poéticas. Outro exemplo pertence a Vinícius de Moraes: “De tudo, ao meu amor serei atento…”. Poeticamente, o verso acima é dividido assim:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
De/tu/ do ao /meu /a/ mor/ se/ rei/ a/ ten/ to

Versos com dez sílabas poéticas são chamados decassílabos. Outra forma famosa de escrever são os versos alexandrinos ou dodecassílabos (doze sílabas), conforme exemplo: “Sinto que há na minha alma um vácuo imenso e fundo…” (Machado de Assis). Tente perceber as doze sílabas. Se não conseguir, veja abaixo como o verso é dividido.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Sin /to/ que há /na/ mi/ nha al/ ma um/ vá /cuo i /men/ so e/ fun /do

Curiosamente, Olavo Bilac, um dos maiores poetas brasileiros, tinha em seu próprio nome um verso alexandrino: Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac. Dizem que ele já nasceu predestinado à poesia. Coincidência ou não, meu nome completo também é um verso alexandrino: Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso.

Posicionamento de rimas

Além do número de sílabas, outra característica importante de um soneto é a ordem em que os versos rimam, ou posicionamento de rimas. Para os quartetos, existem três formas principais de posicionamento:

Rimas entrelaçadas ou opostas – abba (o 1º verso rima com o 4º, o 2º rima com o 3º):

“Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão – esta pantera -
Foi tua companheira inseparável…”
(Augusto dos Anjos)

“Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido,
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado…”
(Gregório de Matos)

Rimas alternadas – abab (o 1º verso rima com o 3º, o 2º rima com o 4º):

“Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha…”
(Olavo Bilac)

“Quando em teus braços, meu amor, te beijo,
se me torno, de súbito, tristonho,
é porque às vezes, com temor, prevejo
que esta alegria pode ser um sonho…”
(Martins Fontes)

Rimas emparelhadas – aabb (o 1º verso rima com o 2º, o 3º rima com o 4º):

“No rio caudaloso que a solidão retalha,
na funda correnteza na límpida toalha,
deslizam mansamente as garças alvejantes;
nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes…”
(Fagundes Varela)

“Nada vai separar; existem laços.
Nem vai desenlaçar, nem nos espaços
Entre os passos que, juntos, damos sós,
Nem antes dos abraços, nem após…”
(Bernardo Trancoso)

Os tercetos, por sua vez, são mais flexíveis com relação ao posicionamento das rimas. Fernando Pessoa, por exemplo, usou a estrutura cdc ede nos tercetos a seguir:

“Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas – esta é boa! – era do coração
que eu falava… e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação?…”

William Shakspeare, por sua vez, escrevia, ao invés de dois tercetos, um quarteto e um dístico (cdcd ee).

“But thy eternal Summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou ow’st,
Nor shall Death brag thou wander’st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow’st,
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee…”

Outros exemplos de posicionamento de rimas nos tercetos são cde cde, um dos mais famosos, cde edc e também cce dde. Ao passear pelos sonetos dessas páginas, tente notar que estilo o autor empregou em seus versos.

Escolha o que achar melhor para o seu soneto.

Até aqui falei de métricas e de rimas, encontradas na quase totalidade dos sonetos clássicos. Há sonetistas modernos, entretanto, que aboliram esses conceitos, usando versos brancos (sem rima) em suas composições. Martins Fontes escreveu o Soneto Monossílabo, onde cada verso tem uma sílaba apenas.

“Negro jardim onde violas soam
e o mal da vida em ecos se dispersa:
à toa uma canção envolve os ramos
como a estátua indecisa se reflete…”
(Carlos Drummond de Andrade)

Sonoridade

O último componente importante de um soneto é a sonoridade, isto é, onde estão as sílabas tônicas (ou fortes) de cada verso. Quando combinadas, essas sílabas fazem com que o soneto se pareça com uma suave canção. Quanto à sonoridade, os versos decassílabos classificam-se em dois tipos: heróicos e sáficos.

“Já Bocage não sou!… À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento…”
(Bocage)

Esses são versos decassílabos heróicos, porque as sílabas poéticas tônicas são a sexta e a décima, indicadas em negrito. Todos os 8816 versos de “Os lusíadas” são decassílabos heróicos. Um verso decassílabo sáfico, por sua vez, reforça a quarta, a oitava e a décima sílaba poética: “Vozes veladas, veludosas vozes…” (Cruz e Souza)

Finalmente, os versos alexandrinos possuem a quarta, a oitava e a décima-segunda sílaba poética como sílabas fortes, ou a sexta, a décima e a décima-segunda.

Conclusão:

O que mais torna um soneto possível? A inspiração, o tema, o conhecimento das palavras e das rimas, que serão mais ricas quanto mais rico for o vocabulário do sonetista. Por isso, a leitura de outros sonetos, poesias e livros é importante. A minha intenção é um dia poder publicar o seu soneto entre essas páginas. Escreva! Assim, você estará dando um passo rumo à eternidade das palavras e dos versos que compõem a nossa tão grandiosa literatura

Fonte:
Academia de Letras de Maringá. Obtido no site http://www.sonetos.com.br/

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