domingo, 11 de julho de 2010

Carlos Alberto Omena (Crime na Mansão)


De repente, quebrando o silencio daquela madrugada fria e chuvosa, ouve-se um grito estridente de pavor seguido de dois estampidos de revolver, saindo de uns dos inúmeros cômodos da mansão do Sr. Marques.

O Sr. Marques com a idade já beirando os 60 anos, mas com aparência de 50, era um empresário bem sucedido, muito rico e poderoso, enérgico, rigoroso, mas um bom coração, gostava de tratar bem os empregados da casa e funcionários de suas empresas. Sempre que algum deles aparecia com algum problema, o Sr. Marques tratava logo de ajudá-lo, pois entendia que se o funcionário estivesse bem, seus negócios também iriam bem e apesar de toda a sua fortuna, era um homem de atitudes muito simples. Não gostava de pompas, de festas badaladas, gostava de dirigir seu próprio carro, que alias não era novo, mas se sentia confortável com ele, comia no refeitório da empresa juntamente com seus funcionários, enfim, uma pessoa muito simples.

Ao contrario de sua esposa, dna. Vera, uma mulher muito bonita, esbelta e muito jovem pois tinha apenas 30 anos, metade da idade do Sr. Marques, que gostava de badalações, de festas, gastava dinheiro como se eles nascessem em arvores, mulher muito fútil ,gastava somente pelo prazer de gastar igualmente com seu filho Silas, um rapaz com 14 anos, muito mimado.
Dna. Vera odiava a maneira do Sr.Marques de ser e por conta disso as brigas eram constantes. Ela achava que pelo dinheiro e a posição que tinha, não deveria se misturar com os empregados,mas ele simplesmente ignorava os desmandos da mulher.

A mansão do Sr. Marques ficava numa rua muito arborizada, tipo daquelas que só se vê em filmes estrangeiros e tinha como vizinhos outras mansões não tão diferentes ou imponentes da dele. Os carros importados na garagens dava a real e nítida visão do poder aquisitivo dos moradores da rua. Nessa rua ficavam sempre a postos dois seguranças particulares, um de cada lado da rua e andando de um lado para outro, fazendo o patrulhamento da área.

A rua era regada pela tranqüilidade e paz, brindada por um silencio mórbido e às vezes assustador, principalmente ao cair da noite quando as luzes dos postes de iluminação sombreavam os muros altos das casas dando um ar ainda mais sombrio ao local.

E todo esse silencio e tranqüilidade fora quebrado naquela madrugada onde a garoa fina aliada a um frio gélido e cortante caia sobre a cidade por aquele grito pavoroso e os tiros.

Logo as luzes das mansões vizinhas começam a se acender e os moradores sem saber o que estava de fato acontecendo, dirigem-se ainda meio sonolentos à casa do Sr. Marques.

-Ninguém entra na casa antes da polícia chegar! Grita um.

- Mas se tiverem precisando de ajuda? Grita outro.

- Deve ter sido um assalto! Exclama mais um.

Minutos depois a policia chega à mansão, arromba a porta e entra encontrando em um dos cômodos da casa, mais precisamente no escritório o corpo inerte e já sem vida do Sr. Marques.

Ele fora morto com um tiro fatal na região da cabeça bem próximo ao ouvido.

Logo a notícia tomou conta da rua, deixando perplexa a multidão de vizinhos que se aglomerava diante da mansão, pois não acreditavam que um homem tão bom e generoso como aquele pudesse ter um fim tão trágico.

Quem teria assassinado aquele pobre homem? Ou teria sido suicídio?Afinal a arma foi encontrada na mão do morto. Essa era a pergunta dos curiosos e da policia que iniciava seu trabalho de investigação.

De cara a policia chega a conclusão de que assalto não teria sido, pois da casa nada foi roubado. Suicídio também não, tendo em vista a posição da arma e o tiro, pois segundo as testemunhas que ouviram os gritos e os tiros juraram terem ouvido dois disparos, fato que chamava atenção dos investigadores porque no corpo só fora encontrado uma perfuração e numa detalhada vistoria pelo escritório, palco da tragédia, não foi encontrado nenhum outro projétil.

Era um mistério.

Restava então interrogar parentes e empregados que moravam com ele e que estavam na mansão naquela noite.

Os primeiros a serem interrogados foram D.Vera, a esposa, e o filho Silas, que acabavam de chegar tão logo foram informados do ocorrido.

D.Vera e seu filho tinham saído cedo para uma visita a sua mãe, onde passaria a noite e só retornariam no dia seguinte.

Abalada e totalmente descontrolada, D.Vera mal podia falar, inclusive foi necessário a presença do médico da família para acalmá-la através de sedativos.

Depois vieram os empregados da casa: mordomo, cozinheira, faxineira, motorista. Todos um a um foram interrogados. E a cada interrogatório, mais difícil ficava a conclusão do caso, pois todos aparentemente inocentes poderiam ter cometido o crime.

Porque justamente naquela noite a esposa fora visitar a mãe, coisa que não fazia há meses?

Muito estranho e conveniente, inclusive porque nunca durante sua vida de casada dormiu fora de casa.

O mordomo tivera dias antes uma leve discussão com o patrão porque descobriu que ele mantinha um casso amoroso com a cozinheira e se utilizavam dos aposentos da empregada para seus encontros noturnos e o Sr. Marques por não admitir essa situação chamou-o às falas inclusive ameaçando-o de demissão caso perdurasse esses encontros, isso tornava o empregado e a serviçal também como suspeito do crime.

A faxineira alegou que dormia profundamente naquela noite e não viu e ouviu nada, mas, descobriu-se no entanto que ela entrou em casa por volta da 1 hora da madrugada,cerca de duas horas antes do crime pois jovem encontrava-se no portão lateral da casa com seu namorado Sebastião, jardineiro de uma das mansões vizinhas , que inclusive também tinha sido empregado do Sr. Marques alguns meses antes mas fora demitido após ameaçar bater no menino Silas,filho do patrão,por ter pisado no jardim onde trabalhava e estragado algumas flores.

Sebastião no dia de sua demissão estava muito nervoso e gritava muito pronunciando palavras obscenas, afrontando Sr.Marques, a Dna Vera chegando até a jurar vingança.

Para a polícia, estava ali um verdadeiro candidato a réu. Sebastião tinha todos os motivos e pelo seu jeito estourado, rude e violento e por já ter ido parar na delegacia uma vez por ter agredido um homem num bar da cidade tornou-se um suspeito em potencial, só faltava a confissão.

Mas e o segundo tiro? O que foi feito daquele projétil? A polícia não tinha a resposta ainda e isso intrigava os investigadores.

O único com álibi perfeito e que facilmente provou sua inocência no caso foi o motorista da casa.

Ele encontrava-se na casa de sua mulher juntamente com suas duas filhas depois que seu patrão dispensou seus serviços por aquela noite.

Mas apesar de ser considerado acima de qualquer suspeita tinha que ficar ali, participando de tudo, dando depoimentos, consolando a pobre viúva, tentando distrair Silas, que se encontrava desolado. O motorista era muito querido por todos na casa, por sua conduta sempre seria e responsável e pelo seu comportamento amável e prestativo.

Enquanto o entra e sai da policia e dos vizinhos curiosos continuava, o corpo do Sr. Marques permanecia ali estendido no chão e coberto com um lençol que já não era mais branco devido ao sangue que verteu de suas têmporas.

A primeiro plano, para os investigadores,o caso estava prestes a ser resolvido pois para eles o raciocínio utilizado era que Dna Vera cansada do controle do marido sobre seus gastos e por estar ainda na flor da idade, e a repressão devido as festas que dava na mansão, planejou o crime e contratou Sebastião,o jardineiro, a executá-lo. Pronto. Estava ali a solução do enigma.

Agora era só fazer a acareação ,colocar os dois um em frente do outro e aguardar que eles confessassem, simples.

Mas...e o outro projétil?

O dia já estava clareando e aquela chuva fina acompanhada do frio teimava em cair chegando até a trazer um certo desconforto, quando de repente entra na sala, vindo dos fundos da casa, uma mulher completamente encharcada , com suas vestes sujas de lama, carregando algo no colo enrolado num cobertor.

Todos se viram para a mulher, atônitos e sem entenderem nada . Ela, sem falar nada, completamente atordoada, com ar de sofrimento estampado no rosto totalmente desfigurado pela chuva e lama, caminha lentamente como se estivesse dopada e parecendo um zumbi , aproximou-se do corpo do Sr. Marques, abaixou-se, levantou o lençol que cobria seu rosto, acariciou-o carinhosamente ,deu-lhe um beijo , depositou o pacote que carregava junto ao corpo, cobriu-o novamente e levantou-se calmamente em direção dos policiais e num tom sereno e anestesiado fala:

- Pronto. Agora está tudo acabado; e desmaia.

Refeitos do susto e do clima sheaskeperiano que se instalara naquele momento, o médico da família que ainda se encontrava na casa reanima a mulher. Foram minutos de muita emoção e tensão.

Já reanimada e envolta de uma colcha para que se aquecesse pois estava tremendo muito de frio devido a chuva que pegara, a mulher começa a falar:

-Meu nome é Mirtes, eu entrei nessa casa enquanto todos estavam dormindo, já fizera isso antes, depois que sai fiquei assustada e me escondi num canto próximo a casa dos empregados atrás de uma árvore grande.

- Sabe, eu fui amante do Sr.Marques por muitos anos, eu era muito feliz ao lado dele ate o dia em que ele descobriu tudo. A partir daí ele mudou totalmente comigo, não me procurava mais, mandava recados que estava ocupado e por isso eu vim aqui hoje trazer o presente que ele tanto queria e por isso me chantageava.

- Isso mesmo, eu estava sendo vítima de chantagem por parte dele. Ele dizia que se eu não entregasse o que lhe pertencia, ia acabar comigo e ia conseguir a qualquer custo me tomar o que achava que era seu.

-Inclusive tentou me comprar, oferecendo-me muito dinheiro e eu não aceitei.

Todos estavam paralisados diante daquela confissão e ainda sem entenderem nada. E ela continuou num tom mais seguro e firme e agora mais amargurada.

- Eu entrei aqui de madrugada para dar um fim em tudo isso, pois já não aguentava mais a pressão sofrida por esse monstro, então vim aqui dar-lhe finalmente o presente que ele tanto queria, dar-lhe o que achava que era só seu.

Fui eu, sr. delegado, quem deu os tiros, fui eu ! gritou histericamente a mulher.

- Primeiro nós discutimos, ele estava irredutível, então no auge da discussão ele me arrancou dos braços o que eu havia lhe trazido dizendo que não ia levar de volta, foi ai, dr.que eu fiz a besteira.

- Tomada pelo ódio e vendo parte da minha vida sendo arrancada de mim não pestanejei. Peguei a arma que trouxera na bolsa, fechei os olhos e atirei. Atirei duas vezes.

-Mas o destino brincou comigo, eu errei um dos tiros. Um dos tiros não acertou onde devia.
Nesse momento, Mirtes levanta-se da cadeira onde estava sentada, caminha novamente ao encontro do corpo do Sr. Marques, de novo abaixa-se e levanta o cobertor que embrulhava o pacote que trouxera.

Todos arregalam os olhos, como se não acreditassem no que estavam vendo e continua:

- Esse era o presente que ele queria tomá-lo de mim. Ele queria só para ele.

- Esse era nosso filho!

Todos chocados com a cena dantesca que presenciavam não puderam deixar de notar um fato.
O bebê enrolado no cobertor tinha uma perfuração próximo ao coração.

Era o segundo tiro que faltava.

Neste exato momento e diante desse clima de grande tensão, rouba a cena um outro grito que invade completamente o ambiente, misturando a ficção com a realidade:

- Corta! Beleza pessoal, ficou perfeito. Amanhã continuaremos com as filmagens...

Fonte:
Editora Protexto

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