Joaquim Moreira Maria Cardozo, nasceu no Recife (bairro do Zumbi), a 26 de agosto de 1897.
No campo da dramaturgia escreveu, inovando o gênero bumba-meu-boi: Coronel de Macambira, De uma noite de festa e Marechal, boi de carro . Escreveu ainda os dramas O Capataz de Salema , e Antônio Conselheiro , além do pastoril Os anjos e os demônios de Deus.
Com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa participou da construção da cidade de Brasília, respondendo pelos cálculos estruturais. Dentre os edifícios calculados por Joaquim Cardozo, em Brasília, destacam-se o Palácio da Alvorada, o Congresso Nacional e a Catedral.
Como engenheiro calculista, sensível à beleza das formas da arquitetura moderna, Joaquim Cardozo, à época em que foi, no Recife, professor das escolas de Engenharia e Belas Artes (década de 30) escreveu também sobre questões pertinentes à engenharia e à arquitetura. Esses escritos foram publicados em periódicos como Módulo, Arquitetura e Revista do SPHAN..
No final de 1939, paraninfando uma turma de engenheiros, criticou, no seu discurso, o mau uso e as distorções que o poder público fazia no tocante à utilização da engenharia. Ficou mal visto pelo governo do estado e essa situação, intolerável para ele, motivou sua transferência para o Rio de Janeiro.
Lá fez diversas amizades, dentre as quais Oscar Niemeyer e Rodrigo M. F. de Andrade. Pouco tempo depois de sua transferência para o sul do país foi convidado pelo arquiteto que projetou o Conjunto de Pampulha, em Belo Horizonte, para fazer os cálculos dos edifícios (Igreja, Cassino, Casa do Baile). Mais tarde, como funcionário da Novacap, passou a integrar a equipe de Niemeyer nos cálculos da cidade de Brasília.
Desde criança, Cardozo interessava-se pelas manifestações da cultura popular. Ele próprio relata que muitas vezes ficava até altas horas da noite vendo o bumba-meu-boi. Não é difícil concluir que tal interesse representou o solo onde fincou raízes. Onde se formou a personalidade artística responsável por uma obra literária em que o povo, com suas crenças, mitos, lendas, estaria sempre presente. O mesmo interesse levou-o, mais tarde, a pesquisar as origens do bumba, remontando aos autos pastoris da idade média. De uma noite de festa é um texto popular e ao mesmo tempo erudito, em que ao saber popular – como por exemplo a utilização de plantas medicinais – misturam-se outros saberes, como a física.
Ainda no Recife, nos meados da década de 30, Cardozo integrou a equipe que fazia a Revista do Norte, junto com José Maria de Albuquerque Melo. Nessa época freqüentava a Esquina Lafayette, onde se reuniam artistas e intelectuais como Luiz Jardim, Ascenso Ferreira, Benedito Monteiro, Otávio Moraes e outros, que ali se encontravam para conversar sobre assuntos de interesse geral, incluindo evidentemente poesia e as novas tendências artísticas.
Pessoas que conviveram mais de perto com o poeta comentam que, devido à sua timidez e senso crítico, Cardozo falava de tudo, mas a sua poesia era quase toda guardada “de cor”. Sua maneira preferida de dar a conhecê-la era dizendo-a em voz alta, nas reuniões com os amigos. Tanto é que foram alguns deles que tomaram a iniciativa de publicar em livro os seus poemas. Dessa iniciativa veio à luz o primeiro livro de Joaquim Cardozo, Poemas, editado em 1947, quando o poeta estava com 50 anos de idade.
Na poesia do Signo Estrelado, o Nordeste aparece transfigurado em imagens e ritmos entrelaçados; ao colorido, aos cheiros, aos sabores, às formas, à fauna nordestina, transfundidos por uma finíssima sensibilidade aberta às dimensões universais da arte. O livro é uma demonstração da altura em que o sentimento lírico de identificação com a terra se transcende numa dimensão introspectiva, como em A várzea tem cajazeiras, lembrando o Fernando Pessoa das sondagens do próprio eu:
(...)
A várzea tem cajazeiras...
Cada cajazeira um ninho
Que entre o verde e o azul oscila;
Mocambo de passarinho...
(...)
Nessa várzea sou planície,
vaga dimensão dormente,
tendida no chão conforme
sou de mim sombra somente.
Rumos de céus desvelados
onde chego e me afugento?
- já me escuto como em sonho
de tão longe que me ausento!
Em redes de ramos verdes
me estendo como um caminho,
me espreguiço dessa várzea,
e me embalo desse ninho.
O poder de transfiguração dos motivos temáticos refina-se em várias outras composições, como “Imagens do Nordeste”, na qual uma vela de jangada pode ser uma flâmula, uma lâmina (notem as correspondências sonoras), ou uma mariposa.
Joaquim Cardozo foi também crítico de artes plásticas e exerceu, durante algum tempo de - 1955 a 1958 – essa atividade, escrevendo artigos na revista Para Todos, dirigida por Jorge Amado. Muitos artistas de renome tiveram suas exposições comentadas por ele, numa linguagem que não era apenas fruto de um saber técnico, mas da convivência amorosa com as mais diversas expressões da criação artística.
Joaquim Cardozo faleceu aos 81 anos, em Olinda, em 4 de novembro de 1978.
Seu nome conquistou um lugar ímpar entre os poetas modernos brasileiros, além da participação que teve como um dos pioneiros em introduzir no Brasil as formas ousadas da arquitetura moderna.
Sinopse cronológica da vida e da obra de Joaquim Cardozo:
1897 - Nasce em 26 de agosto, no bairro do Zumbi, em Recife, Joaquim Moreira Cardozo. Filho de José Antônio Cardoso e Elvira Moreira Cardoso.
1910 - Muda-se com a família para Jaboatão (PE).
1914 - Começa a trabalhar como caricaturista no Diário de Pernambuco.
1915 - Inicia os estudos na Escola de Engenharia de Pernambuco.
1919 - Interrompe o curso de engenharia para servir no exército.
1920/24 - Realiza trabalhos de levantamento topográfico no município do Recife e no estado da Paraíba. Frequenta a Esquina Lafayette, onde se reuniam intelectuais de diversas tendências, entre os quais o grupo ligado à Revista do Norte, dirigida então por José Maria de Albuquerque Melo.
1924/25 - Dirige e colabora com a Revista do Norte.
1927 - Reinicia os estudos na Escola de Engenharia.
1930 - Cola grau como engenheiro civil.
1931 - Trabalha na Secretaria de Viação e Obras Públicas.
1935 - Leva para a Exposição comemorativa da Revolução Farroupilha, em Porto Alegre, a primeira mostra da arquitetura brasileira moderna. Giro pelo Uruguai e pela Argentina.
1936 - Reassume as cadeiras nas Escolas de Engenharia e de Belas Artes.
1938 - Permanência de três meses na Europa, aonde vai para realizar o desejo de visitar museus e lugares artísticos.
1939 - Paraninfo da turma de engenharia de 1939. Discurso considerado subversivo e atrito com o governo de Pernambuco. Mudança para o Rio.
1940 - Começa a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) com Rodrigo de Andrade, Lúcio Costa e Burle-Marx.
1941 - Conhece o arquiteto Oscar Niemeyer e começa a fazer os cálculos dos projetos. do arquiteto. Dentre esses, os mais famosos seriam as obras que integram o Conjunto Pampulha, em Minas, e os da cidade de Brasília (Palácio da Alvorada, Catedral, Itamarati, Congresso Nacional e outros).
1946 - Incluído por Manuel Bandeira na "Antologia de Poetas Bissextos". A Revista do Norte, nos 50 anos do poeta, dedica-lhe o número de outubro.
1952 - Escreve o primeiro poema do livro Trivium "Prelúdio e Elegia para uma Despedida" editado pela Hipocanpo, em tiragem limitada.
1955/58 - Colabora com a revista "Para Todos", dirigida por Jorge Amado e a revista Módulo, de arquitetura.
1956 - Convidado por Oscar Niemeyer para fazer os cálculos estruturais dos mais importantes edifícios de Brasilia, entre eles a Catedral.
1960 - Editado o livro "Signo Estrelado",pela Livros de Portugal.
1963 - Editada a peça "O Coronel de Macanbira", pela Civilização Brasileira.
1967 - Sob a direção de Amir Haddad é encenado "O Coronel de Macanbira".
1968 – Participa, junto com Audálio Alves e outros poetas do Recife, do movimento poético denominado "Espectralismo".
1973 - Paraninfo da Escola Politécnica do Recife.
1974 - Homenageado pelo I..A..B. da Guanabara, em 17 de dezembro.
1975 - Edição de "O Interior da Matéria", com ilustrações de Burle-Marx.
1981 - Editado o livro póstumo "Um Livro Aceso e Nove Canções Sombrias".
Fonte:
Maria da Paz Ribeiro Dantas. Apresentando Joaquim Maria Moreira Cardozo.
http://www.joaquimcardozo.com/paginas/joaquim/biografia8.htm
No campo da dramaturgia escreveu, inovando o gênero bumba-meu-boi: Coronel de Macambira, De uma noite de festa e Marechal, boi de carro . Escreveu ainda os dramas O Capataz de Salema , e Antônio Conselheiro , além do pastoril Os anjos e os demônios de Deus.
Com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa participou da construção da cidade de Brasília, respondendo pelos cálculos estruturais. Dentre os edifícios calculados por Joaquim Cardozo, em Brasília, destacam-se o Palácio da Alvorada, o Congresso Nacional e a Catedral.
Como engenheiro calculista, sensível à beleza das formas da arquitetura moderna, Joaquim Cardozo, à época em que foi, no Recife, professor das escolas de Engenharia e Belas Artes (década de 30) escreveu também sobre questões pertinentes à engenharia e à arquitetura. Esses escritos foram publicados em periódicos como Módulo, Arquitetura e Revista do SPHAN..
No final de 1939, paraninfando uma turma de engenheiros, criticou, no seu discurso, o mau uso e as distorções que o poder público fazia no tocante à utilização da engenharia. Ficou mal visto pelo governo do estado e essa situação, intolerável para ele, motivou sua transferência para o Rio de Janeiro.
Lá fez diversas amizades, dentre as quais Oscar Niemeyer e Rodrigo M. F. de Andrade. Pouco tempo depois de sua transferência para o sul do país foi convidado pelo arquiteto que projetou o Conjunto de Pampulha, em Belo Horizonte, para fazer os cálculos dos edifícios (Igreja, Cassino, Casa do Baile). Mais tarde, como funcionário da Novacap, passou a integrar a equipe de Niemeyer nos cálculos da cidade de Brasília.
Desde criança, Cardozo interessava-se pelas manifestações da cultura popular. Ele próprio relata que muitas vezes ficava até altas horas da noite vendo o bumba-meu-boi. Não é difícil concluir que tal interesse representou o solo onde fincou raízes. Onde se formou a personalidade artística responsável por uma obra literária em que o povo, com suas crenças, mitos, lendas, estaria sempre presente. O mesmo interesse levou-o, mais tarde, a pesquisar as origens do bumba, remontando aos autos pastoris da idade média. De uma noite de festa é um texto popular e ao mesmo tempo erudito, em que ao saber popular – como por exemplo a utilização de plantas medicinais – misturam-se outros saberes, como a física.
Ainda no Recife, nos meados da década de 30, Cardozo integrou a equipe que fazia a Revista do Norte, junto com José Maria de Albuquerque Melo. Nessa época freqüentava a Esquina Lafayette, onde se reuniam artistas e intelectuais como Luiz Jardim, Ascenso Ferreira, Benedito Monteiro, Otávio Moraes e outros, que ali se encontravam para conversar sobre assuntos de interesse geral, incluindo evidentemente poesia e as novas tendências artísticas.
Pessoas que conviveram mais de perto com o poeta comentam que, devido à sua timidez e senso crítico, Cardozo falava de tudo, mas a sua poesia era quase toda guardada “de cor”. Sua maneira preferida de dar a conhecê-la era dizendo-a em voz alta, nas reuniões com os amigos. Tanto é que foram alguns deles que tomaram a iniciativa de publicar em livro os seus poemas. Dessa iniciativa veio à luz o primeiro livro de Joaquim Cardozo, Poemas, editado em 1947, quando o poeta estava com 50 anos de idade.
Na poesia do Signo Estrelado, o Nordeste aparece transfigurado em imagens e ritmos entrelaçados; ao colorido, aos cheiros, aos sabores, às formas, à fauna nordestina, transfundidos por uma finíssima sensibilidade aberta às dimensões universais da arte. O livro é uma demonstração da altura em que o sentimento lírico de identificação com a terra se transcende numa dimensão introspectiva, como em A várzea tem cajazeiras, lembrando o Fernando Pessoa das sondagens do próprio eu:
(...)
A várzea tem cajazeiras...
Cada cajazeira um ninho
Que entre o verde e o azul oscila;
Mocambo de passarinho...
(...)
Nessa várzea sou planície,
vaga dimensão dormente,
tendida no chão conforme
sou de mim sombra somente.
Rumos de céus desvelados
onde chego e me afugento?
- já me escuto como em sonho
de tão longe que me ausento!
Em redes de ramos verdes
me estendo como um caminho,
me espreguiço dessa várzea,
e me embalo desse ninho.
O poder de transfiguração dos motivos temáticos refina-se em várias outras composições, como “Imagens do Nordeste”, na qual uma vela de jangada pode ser uma flâmula, uma lâmina (notem as correspondências sonoras), ou uma mariposa.
Joaquim Cardozo foi também crítico de artes plásticas e exerceu, durante algum tempo de - 1955 a 1958 – essa atividade, escrevendo artigos na revista Para Todos, dirigida por Jorge Amado. Muitos artistas de renome tiveram suas exposições comentadas por ele, numa linguagem que não era apenas fruto de um saber técnico, mas da convivência amorosa com as mais diversas expressões da criação artística.
Joaquim Cardozo faleceu aos 81 anos, em Olinda, em 4 de novembro de 1978.
Seu nome conquistou um lugar ímpar entre os poetas modernos brasileiros, além da participação que teve como um dos pioneiros em introduzir no Brasil as formas ousadas da arquitetura moderna.
Sinopse cronológica da vida e da obra de Joaquim Cardozo:
1897 - Nasce em 26 de agosto, no bairro do Zumbi, em Recife, Joaquim Moreira Cardozo. Filho de José Antônio Cardoso e Elvira Moreira Cardoso.
1910 - Muda-se com a família para Jaboatão (PE).
1914 - Começa a trabalhar como caricaturista no Diário de Pernambuco.
1915 - Inicia os estudos na Escola de Engenharia de Pernambuco.
1919 - Interrompe o curso de engenharia para servir no exército.
1920/24 - Realiza trabalhos de levantamento topográfico no município do Recife e no estado da Paraíba. Frequenta a Esquina Lafayette, onde se reuniam intelectuais de diversas tendências, entre os quais o grupo ligado à Revista do Norte, dirigida então por José Maria de Albuquerque Melo.
1924/25 - Dirige e colabora com a Revista do Norte.
1927 - Reinicia os estudos na Escola de Engenharia.
1930 - Cola grau como engenheiro civil.
1931 - Trabalha na Secretaria de Viação e Obras Públicas.
1935 - Leva para a Exposição comemorativa da Revolução Farroupilha, em Porto Alegre, a primeira mostra da arquitetura brasileira moderna. Giro pelo Uruguai e pela Argentina.
1936 - Reassume as cadeiras nas Escolas de Engenharia e de Belas Artes.
1938 - Permanência de três meses na Europa, aonde vai para realizar o desejo de visitar museus e lugares artísticos.
1939 - Paraninfo da turma de engenharia de 1939. Discurso considerado subversivo e atrito com o governo de Pernambuco. Mudança para o Rio.
1940 - Começa a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) com Rodrigo de Andrade, Lúcio Costa e Burle-Marx.
1941 - Conhece o arquiteto Oscar Niemeyer e começa a fazer os cálculos dos projetos. do arquiteto. Dentre esses, os mais famosos seriam as obras que integram o Conjunto Pampulha, em Minas, e os da cidade de Brasília (Palácio da Alvorada, Catedral, Itamarati, Congresso Nacional e outros).
1946 - Incluído por Manuel Bandeira na "Antologia de Poetas Bissextos". A Revista do Norte, nos 50 anos do poeta, dedica-lhe o número de outubro.
1952 - Escreve o primeiro poema do livro Trivium "Prelúdio e Elegia para uma Despedida" editado pela Hipocanpo, em tiragem limitada.
1955/58 - Colabora com a revista "Para Todos", dirigida por Jorge Amado e a revista Módulo, de arquitetura.
1956 - Convidado por Oscar Niemeyer para fazer os cálculos estruturais dos mais importantes edifícios de Brasilia, entre eles a Catedral.
1960 - Editado o livro "Signo Estrelado",pela Livros de Portugal.
1963 - Editada a peça "O Coronel de Macanbira", pela Civilização Brasileira.
1967 - Sob a direção de Amir Haddad é encenado "O Coronel de Macanbira".
1968 – Participa, junto com Audálio Alves e outros poetas do Recife, do movimento poético denominado "Espectralismo".
1973 - Paraninfo da Escola Politécnica do Recife.
1974 - Homenageado pelo I..A..B. da Guanabara, em 17 de dezembro.
1975 - Edição de "O Interior da Matéria", com ilustrações de Burle-Marx.
1981 - Editado o livro póstumo "Um Livro Aceso e Nove Canções Sombrias".
Fonte:
Maria da Paz Ribeiro Dantas. Apresentando Joaquim Maria Moreira Cardozo.
http://www.joaquimcardozo.com/paginas/joaquim/biografia8.htm
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