sábado, 13 de dezembro de 2008

Lançamento dos livros de Marli Fantini Scarpelli "A Poética migrante de Guimarães Rosa" e "Crônicas da antiga corte"

A poética migrante de Guimarães Rosa é uma coletânea de textos que privilegia a diversidade dos olhares sobre a obra do escritor. Os autores abordam a riqueza lingüística, estrutural e temática do romance, de novelas, contos, crônicas e poemas produzidos com dedicação e genialidade do escritor mineiro. Crônicas da antiga corte – Literatura e memória em Machado de Assis, também uma coletânea, evidencia o paralelismo entre a obra e a vida de Machado de Assis. Ser-tão natureza – a natureza em Guimarães Rosa é resultado da tese de doutorado defendida por Mônica Meyer em 1998.
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Marli de Oliveira Fantini Scarpelli

Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq 2 É professora Associada da Faculdade de Letras da UFMG, onde leciona na Graduação e na Pós-Graduação, nas áreas de Teoria da Literatura, Literatura Comparada e Literatura Brasileira. É Coordenadora da Câmara de Pesquisa da FALE/UFMG, Coordenadora da Comissão editorial da Ed. FALE/Ed. da UFMG, Membro titular do Comitê Assessor de Letras, Lingüística e artes da Pró-Reitoria de Pesquisa da FALE/UFMG. Foi chefe do Departamento de Semiótica e Teoria da Literatura, Diretora do Centro de Estudos Portugueses e Editora da Revista do CESP. É líder (CNPq) do Grupo de pesquisa REDES - Literatura e Cultura ibero-afro-americanos; e Coordenadora do Núcleo de Pesquisa MESCLA - Literatura, Memória e Cultura na Esfera Ibero-Afro-Americana, na FALE/UFMG. Atua principalmente nos seguintes temas: Guimarães Rosa, Machado de Assis, literatura ibero-afro-americana. Possui Mestrado em Estudos Literários (1994) e Doutorado em Literatura Comparada, ambos pela FALE-UFMG (2000); e Pós-Doutorado em Literatura Brasileira na USP (2003-2004).
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Livros publicados

1. A poética migrante de Guimarães Rosa. 1. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
2. Guimarães Rosa: Fronteiras, margens, passagens. 2. ed. São Paulo: Senac; Ateliê Editorial, 2008.
3. Crônicas da antiga corte: literatura e memória em Machado de Assis. 1. ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008.
4. Guimarães Rosa: fronteiras, margens, passagens. 1. ed. São Paulo: Senac/Ateliê, 2004. v. 1.
5 FANTINI, e DUARTE, E. A. (Org.) . Poéticas da diversidade. Belo Horizonte: POSLIT/Faculdade de Letras da UFMG, 2002.
6. FANTINI e DUARTE, C. L. (Org.) . Gênero e representação nas literaturas de Portugal e África. Belo Horizonte: POSLIT/Faculdade de Letras da UFMG, 2002. v. III.
7. FANTINI, Marli (Org.) . Revista do Centro de Estudos Portugueses. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2002. v. 22.
8. FANTINI e OLIVEIRA, Paulo Motta (Org.) . Os centenários: Eça, Freyre, Nobre. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2001. v. 1.

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Fontes:

Colaboraçaõ de Douglas Lara. http://www.sorocaba.com.br/acontece
Currículo Lates

Caldeirão Literário do Rio Grande do Sul

ADEMIR ANTONIO BACCA

iceberg

o que escondo
nem sempre é
a minha parte
mais perigosa

um bloco de ternura
hiberna
há muitos invernos
submerso em mim
à espera
de tantos reencontros
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insônia

inventei tantos mundos
e abri tantas portas
em minha insônia
que tem noites
que não encontro caminho
para voltar para dentro de mim
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ferido de morte


me deixe quieto
no meu canto

não toque no rádio
não mexa na ferida
nem provoque o sonho

deixe a noite
acontecer sem pressa

não fale meu nome
não atravesse a ponte

fique onde estás
e me deixe entregue
ao meu silêncio

hoje,
eu calo por nós dois
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nós

essa coisa
que há em nós

busca que não cessa
palavra que não sacia

esperança que a gente tece
teimosamente
todos os dias

essa coisa
que há em nós

bálsamo para tantas dores
que a gente acostumou
e nem mais sente

força estranha
que há em nós
e nos leva pelas ruas
em busca dessas coisas todas
que na madrugada
desatam sobre nós
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migração

sonhos

sonhos
batem asas
dentro de mim

quem sabe para o norte
quem sabe para morte
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do conformismo

eu toco
a minha vida
como que conduz
um tropa de bois

de que me vale
a sensibilidade
de poeta
se a insensatez
dos governantes
sempre põe tudo
a perder?
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Sobre o Autor

Natural de Serafina Corrêa, RS, é poeta, contas, folclorista e jornalista. Publicou, até 2007, oito livros de poesia, além de organizar e participar de muitas antologias. Ativista cultural, organizador de festivais e eventos de poesia com repercussão nacional e internacional.

“Ao alçar seu Plano de Vôo, com poemas curtos e tocantes, é possível imaginar o poeta navegando sua asa delta emocional pelas querências gaúchas, captando o silêncio do silêncio, num horizonte sempre distanciado.”

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CELSO GUTFREIND


Conversa de menino

O silêncio era infinito
mas acabou
perguntando ao menino:
- O que fazes nesta manhã?

Ele agarrou no que não tinha:
- Reinvento a minha mãe.
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NADO


De máscara em máscara
passas como um fósforo.
Já riscas a próxima,
porém ainda lembras
um outro de antes
ou depois da chama.
E segues a luta
de torna-se alguém
igual a ti mesmo,
até encontrar
tua natural
e forma própria,
a de
teu pai.
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OS INOCENTES


Nós íamos ao parque na inocência
para muito prazer, divertimentos
e um pouco de sorte nas argolas.
Jamais nós retivemos uma imagem
de forma superior à sua essência
a fim de que depois fosse expressada.
Jamais observamos qualquer ritmo
de carrossel, de roda ou trem-fantasma
exatos e velozes como o medo.
Jamais nos dirigimos ao porteiro
a fim de questionar o que não fosse
um preço de bilhetes ou a hora.
Jamais pensamos que essa arte toda
seria assim um dia necessária.
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PROMESSA DE PALAVRA


Embora tornado texto
frio, gabinete, impres-
tável para os quintais,
fechado em coisas de coisas
velhas, frias e sem dança,
a cada novo capítulo,
escreve-se uma esperança.
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A LONGEVA

E lidos todos os livros
o dos livros incluído
letra pequena história comprida
conteúdos fundo vivos
Amadas muitas das carnes
de águas fotos ofícios
incluída a dos planos
na reta curva da vida
(e dos livros os seus ritmos
e das carnes seus espíritos)
restam vivos somente os decassílabos
fluentes na extensão de suas imagens
talvez levando em si seu próprio modo

e a amiga querendo saber como vais
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PRESCRIÇÃO DE ANDARILHO


Dar a volta ao mundo
para tocar flauta
Tocar cada volta
apesar do áspero
Parar num lugar
apesar do tempo
Dizer desdizer
até o som, a dança
Ver cor sentir cor
olhar um segundo
Esquecer a hora
sonhar muitos anos
Viver e viver
antes que seja arte
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Sobre o Autor

Nasceu em Porto Alegre, em 1963. Como escritor tem 12 livros publicados, entre poesia e histórias infantis. Também participou de diversas antologias e recebeu alguns prêmios. Tem textos traduzidos para o espanhol, francês e inglês. Colabora na imprensa, assiduamente, sobretudo com crônicas. Como médico, Celso Gutfreind especializou-se em Medicina Geral Comunitária (Hospital Nossa Senhora da Conceição), Psiquiatria (Fundação Mário Martins e Associação Brasileira de Psiquiatria) e Psiquiatria Infantil (Universidade Paris V). Realizou na França doutorado em Psicologia Clínica (Universidade Paris XIII) e pós-doutorado em Psiquiatria Infantil, no grupo hospitalar Pitié-Salpetrière, da Universidade Paris VI. Atualmente, é professor da Faculdade de Medicina e do mestrado de Saúde Coletiva da ULBRA e da Fundação Universitária Mário Martins.
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DOLORES MAGGIONI

O meu Fantasma e seu Bloco de Rabiscos

ESTAÇÃO PRIMEIRA- É NOITE DE OUTONO


Há alguém batendo à porta. É ele, o meu fantasma
trazendo na algibeira um bloco de rabiscos.
Descansa o chapéu roto, no encosto da cadeira
me olha de soslaio. Nos seus olhos ariscos
o jeito de quem veio ficar a noite inteira.
Desfaz-se da sandália e calça o seu chinelo.
No colo estende. o abrigo da manta de pelúcia.
Debruça o seu olhar tristonho na janela
perscruta o céu violáceo, em cada sua minúcia.
Vivaldi e seus violinos, na sua Estação de Outono.
O bloco de rabiscos é aberto e o meu fantasma
ensaia no rascunho a minha história antiga.
Invade docemente a minha intimidade
e assim, enternecido, com sua mão amiga
rabisca no seu bloco, do Adágio de Vivaldi,
o ébrio adormecido, dos aldeões o canto,
os cães, a espingarda, a fera abatida.
O seu olhar se esteira por sobre mim em prece
e ele, o meu fantasma, sem um sinal de pressa
se aninha na cadeira, tão terno, e adormece.
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ESTAÇÃO SEGUNDA - É NOITE DE INVERNO


Crepita, tão sombrio, o fogo na lareira.
De volta, o meu fantasma, tão trêmulo de frio.
Se assenta na cadeira, aperta a minha mão
com sua mão gelada.
O seu roto chapéu descansa na almofada.
Fica a me olhar de um jeito, tão meigo e tão antigo,
parece que hoje veio para ficar comigo.
Um copo de conhaque. Faz parte da rotina.
A chama sinuosa que arde na lareira
se espelha, do fantasma, em sua triste retina.
O bloco de rabiscos se amolda, à sua maneira,
por sobre seus joelhos, de frio enrijecidos.
O disco chora agora o Largo de Vivaldi
na sua Estação de Inverno.
Saudades batem pés, pra não morrer de frio
e a chuva, sem cuidado, escorre pelo chão
formando enorme rio. O meu triste fantasma
parece pouco a pouco, se transformar num louco.
Estampa velozmente, com seus olhos ariscos,
toda a poesia da alma, no bloco de rabiscos.
Lá fora, pavoroso, o vento, todos ventos
explodem na vidraça. Os sonhos, congelados,
deslizam sobre o gelo, iguais ao movimento
do Alegro de Vivaldi.
Tristeza que não passa.
A chama assim brejeira do olhar do meu fantasma
se apaga lentamente, junto à última brasa
que arde na lareira.
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ESTAÇÃO TERCEIRA- É NOITE DE PRIMAVERA


A tarde anoitecida se veste de estrelas. Chegou a primavera.
Num terno azulado, na sala acomodado, está o meu fantasma,
de novo à minha espera.
Saímos de mãos dadas, ele de temo azul, eu, com azul na saia.
A imensa lua cheia brilha novo poema, em cada onda da praia.
O mar nos faz suas rondas, quebrando o silêncio
com o espocar das ondas.
Voltamos irmanadas, as nossas duas almas.
Um drink bem gelado. Borbulhas no espumante.
Gemidos de violinos irrompem o constante
Alegro de Vivaldi louvando-a primavera.
Se assenta o meu fantasma, em sua fiel cadeira.
No rosto, tão de volta, os seus olhos ariscos
e tão nas mãos de volta, o bloco de rabiscos.
Trovões, cantar de aves, até um pastor que dorme,
as fontes que murmuram, também plantas e folhas,
a dança pastoral, na sua tristeza enorme.
Só ele, o meu fantasma, me lembra, sem prudência
histórias do passado. Imploro por clemência,
mas ele, o meu fantasma, assim, rindo-se de mim
vai rascunhando um sonho, do início até o fim.
Já tarde. A lua se esconde, prateada de carinho
e ele, o meu fantasma, suave adormece
tão doce ... de mansinho.
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ESTAÇÃO QUARTA - É NOITE DE VERÃO

Parece que hoje o sol retarda em retirar
seu cobertor vermelho de sobre o entardecer.
Me chega bem mais cedo, esta noite, o meu fantasma,
ansioso por me ver. Veio jantar comigo.
Pois fique à vontade. Assim seja. Não se vá.
Trazidos na bagagem, presentes de sonhar.
Me veio o meu fantasma, como quem vai ficar.
De volta ao aconchego do seu antigo ninho
lhe sirvo, com ternura, um cálice de vinho.
Vivaldi e os movimentos da sua Estação Verão.
Sobras de antigos sonhos, olhando-me das coisas
como velhos retratos, com olhos de piedade
Alegro na saudade e sua languidez.
O cuco, a rolinha, este calor intenso
e este rubor na tez.
O pintassilgo, o vento, o pranto do aldeão,
as moscas, os moscões, o Presto que descreve
trovões e temporais. O meu fantasma triste
com seus olhos ariscos, de súbito rascunha
seu bloco de rabiscos.
Logo um pranto desliza, na sua face mansa.
Ele hoje se parece com tímida criança
que crê que tem um bicho
papão dentro da lua. A dor que se insinua
é como uma serpente, que enrosca sua curvas
na dor da alma da gente.
É tarde. As estrelas nos olham distraídas
por sobre a noite intensa.
Eu sirvo framboesa, pra uma saudade imensa.
De novo, o meu fantasma, sem um sinal de pressa
esteira sobre mim o olhar enternecido.
Se aninha na cadeira ... Tão doce ... adormecido.
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Sobre a Autora

Pós-graduada em História das Artes é professora Universitária de Estética e Filosofia da Arte e História da Música Universal. Desempenha atualmente a função de Assessora Cultural da Escola "Província de São Pedro" em Porto Alegre, RS. Integra várias Academias Literárias do País e do Exterior: Membro "Ad Honorem" do Centro Cultural e Artístico a Gazeta de Felgueiras ¬Felgueiras - Portugal e Membro Simpatizante do Centro Europeu para Promoção das Artes e das Letras - cadeira n° 225 - Ano 2001 ¬Thoinville - França. Foi publicada na Espanha: obra Poetas da Humanidade em homenagem a Garcia Lorca.

Uma das 20 personalidades que marcaram o século XX em Farroupilha, RS, sagrou-se vencedora do Prêmio lararana de Poesia da Revista de Arte, Crítica e Literatura - Salvador - Bahia Ano 2000. Foi painelista em Conclaves Literários, destacando-se o Seminário Nacional de Literatura Brasileira - Acre - Rio Branco, O Seminário de Literatura de Ibiraçu - Espírito Santo e o Congresso Nacional de Trova Literária - Corumbá - Mato Grosso do Sul.

Detentora de inúmeros prêmios em poesia e prosa poética tem 15 livros publicados, Lps e Cds gravados com poemas recitados, por ela própria.
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MARILENE CAON PIERUCCINI

TOQUE DE CARRILHÕES

A manhã adormece o sol.
No beiral fundo do mundo
Rouxinol acalanta o ninho
Trança de corda e espinho,
Escondido no ramo vazio

De caladas rosas, só rosas.

Sozinho voa o pássaro
Das asas abertas na rua.

Ícaro se faz sonho escorrido
Nas violas desacordoadas
De notas perdidas na aragem.

A imagem de luz desaparece,
Além da vida, as Três Marias
Sopram forte o vento do norte

Sozinho canta o pássaro
Das asas despidas de lua.

A roupagem da ave canora
Seduz na cor da folha ausente,
O trinado afina, ressente dor.

Criança ergue o véu e chora.
Na esquina a piorra balança
É hora de sombras vazias

Sozinho está o pássaro

De asas partidas e nuas.
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PRELÚDIO

No espaço da noite os passos
Da hora que se nega ir embora

Assola o tempo aflito
O grito de vento d’alma

Calma, mas que’inda chora
os traços de idos abraços
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SOLO DE CLARINETA


Escuto o barulho do mar
Marulho de cantiga
Antiga mais que o ar

Magia que nina a lua
Na rua vazia de você

Pensamentos desertos
Abertos com a sombra
Que assombra o lugar

Perdidos na dor da escolha
Havida no meio de mim
Nunca há paz neste jardim
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NOTA DE VIOLA

É um encanto sob a lua
O canto da rua, se tonta
Desponta a alegria de voltar
A canção da fantasia voa
No abraço da saudade
Onde a ansiedade de chegar
É acorde de segundo a toa
Que muda o mundo vão
No toque do coração
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COMPASSO PARA TUBA

No filme das paredes de vento
Cenas que o tempo reteve

Uma bola
Uma mão
Um rabisco

Um nome escrito de giz

Roda inteira a história
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TIO FONSIO

Tio Fonsio era um velho preto
Que vivia nas bandas de Vacaria.
Carregava no peito um amuleto
A respeito do qual sempre dizia
Ser a marca de sua vida escrava.
Porém o que ele nunca contava,
Por farejar catinga de agouro no ar,
Era a quantia de anos que fazia.

À noitinha com a lua já despontada
Sentava ao lado do fogo de chão
Chamava acenando a calejada mão
E com memória lúcida e endomingada
Encantada história se largava a contar.
O galpão então todo de cor se iluminava
Na faísca de vento do cavalo orelhano
Que em quatro paletadas varava
De laço a laço o assovio do frio Minuano

A luz do candieiro se transformava
Em madrinheiro da tropa de sonho
Que ele criava com seu jeito risonho
Prá eu cavalgar no galope da fantasia.
De mim escondia o lombo guasqueado
E a marca da tronqueira que desenhava
Nos pulsos a porteira do Rio Grande amado
Sabia, com certeza, onde morava a coruja.

E quando o braseiro enfim se apagava
Feiticeiro me aconselhava: menina não fuja
Das taperas que pela vida vier encontrar
Reponte as feras pra dentro da mangueira.
Tendo charola, nunca deixe o poncho rasgar
E quando alguém lamber a canga pro seu lado
No mesmo espeto querendo churrasquear
Se achar que não vale a pena, se faça fumaça,
Que é melhor seguir só que mal acompanhado.

Há muito tio Fonsio partiu e eu já cresci
Nunca dele e de seus conselhos esqueci.
Quando a tristeza de mim se aproxima,
Juro por Deus e pela luz que me ilumina,
É só pensar no que o preto velho ensinava
Quando a noite no campo descambava
E no braseiro pro chimarrão a água aquentava
Para voltar a ser dia na dor de minha alma.
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PIALO DE AMOR


Quando é tardinha no pampa espraiado
As chilenas anunciam o taita aporreado
Que boleia a perna, lento solta a açoiteira
Levanta os olhos prá Estrela-Boeira,
E faz uma prece a Senhora-Madrinha
Enquanto no céu aguado a lua caminha.

Acende o fogo de chão sob a chaleira
Arruma de pelego e badana a esteira
Estende como coberta o poncho azulado
E ouve o Minuano na ceva do chimarrão,
Rebenqueando de saudades o coração.
No entanto, vira o mate o guasca orelhano.

Charla só, jogando de mano com a solidão.
Lança o olhar matreiro em direção à coxilha
Ao escutar o chasque da tropilha de vento.
O estandarte farroupilha preso no tento
Da alma maltrapilha é o seu parceiro alento
Tão longe dos olhos da chinoca caborteira.

Cincha o peito do bravo o cabresto da paixão
A Água-Benta desenha a imagem faceira
Do cambicho que lhe pialou entranha e emoção
O guapo seca a lágrima na noite estranha
Que não é vergonha chorar a dor de amor,
Uma braça de sesmaria separando a moça-flor.

O viço da aurora encontra as Três Marias
Boleando a relva orvalhada e macia
O guasca, num tranco, encilha a montaria
Bota na mala de garupa só a sua poesia
Retoça por diante o manotaço da vida
E vai buscar a sua prenda tão querida.

Como regalo leva com carinho e jeito
Embretado no aramado do seu peito
Um querer haragano para ser domado,
Marca de estância velha a ser garantida
Orelhada na esperança de jamais
Riscar a estrada em solita andança.
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Sobre a Autora

Nascida em Vacaria, Rio Grande do Sul. Brasil.Formação superior em Filosofia e mestre em História da América Latina.Historiadora e escritora.
Membro da Academia Caxiense de Letras, cadeira nº 15, do Conselho de Cultura Municipal, da Comissão de Avaliação do Fundoprocultura e Responsável pela Área de Literatura da Lei Municipal de Incentivo à Cultura do município de Caxias do Sul, onde reside atualmente.
Autora de diversos livros, tendo recebido inúmeras premiações, inclusive o de “Melhor Obra Literária” em Caxias do Sul. Pesquisadora e documentalista do livro “Lendas do Brasil”.
Destacam-se entre seus livros já publicados: “Os Sertões na Teoria de Carl Gustav Jung”, “Retalhos de Mim”; “Retalhos de Uma Alma Nua”, “Retalhos”, “História do Aço no Brasil”. Incorporada na antologia “Grandes Escritores do Cone Sul”, volumes 1 e 2 e no “Dicionário de Escritores da Serra Gaúcha”.
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SIMÕES LOPES NETO(1865-1916)

A GALINHA MORTA

Vou cantar a galinha morta:
Por cima deste telhado.
Viva branco, viva negro,
Viva tudo misturado!

Eu vi a galinha morta,
Agora, no fogo fervendo...
A galinha foi p´ra outro,
Eu fiquei chorando e vendo!

Minha galinha pintada...
Ai! Meu galo carijó...
Morreu a minha galinha,
Ficou o meu galo só.

Minha Galina pintada...
Com tão bonito sinal!
Meu compadre me roubou
Pelo fundo do quintal.

Minha galinha morta
Bicho do mato comeu:
Fui ao mato ver as penas,
Dobradas penas me deu.

A galinha e a mulher
Não se deixam passear:
A galinha o bicho come...
A mulher dá que falar!

Eu vi a galinha morta,
A mesa já estava posta;
Chega, chega, minha gente,
A galinha é p´ra quem gosta!

Minha galinha pintada,
Pontas d´asas amarelas:
Também serve de remédio
P´ra quem tem dor de canelas...
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A POLCA MANCADA

A mancada ´sta doente,
Muito mal, para morrer;
Não há frango nem galinha
Para a mancada comer.

A dita polca mancada
Tem mau modo de falar:
De dia corre co´a gente,
À noite manda chamar.

A mancada está doente,
Muito mal, para morrer;
Na botica tem remédio
P´ra mancada beber.
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QUERO-MANA


Tão bela flor digo agora,
Tão bela flor quero-mana.
Que passarinho é aquele
Que está na flor da banana.
Co´o biquinho dá-lhe, dá-lhe,
Co´as asinhas, quero-mana!

Tão bela flor digo agora,
Tão bela flor quero-mana.
Que eu ando neste fado,
A própria sombra m´engana.

Tão bela flor quero-mana,
As barras do dia aí vêm.
Os galos já estão cantando.
Os passarinhos também.
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O PINHEIRO

Quem tem pinheiros tem pinhas
Quem tem pinhas tem pinhões,
Quem tem amores tem zelos
Quem tem zelos tem paixões.

Quem tem pinheiro tem pinha,
Quem tem pinha tem pinhão,
Do homem nasce a firmeza,
Da mulher a ingratidão.

Oh! Que pinheiro tão alto,
Com tamanha galharada;
Nunca vi moça solteira
Com tamanha filharada...

Oh! Que pinheiro tão alto,
Que por alto se envergou.
Que menina tão ingrata,
Que d´ingrata me deixou!
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O BOI BARROSO


Meu boi barroso,
Que eu já contava perdido,
Deixando o rastro na areia
Foi logo reconhecido.

Montei no cavalo escuro
E trabalhei logo de espora
E gritei — aperta, gente,
Que o meu boi se vai embora!

No cruzar uma picada,
Meu cavalo relinchou,
Dei de rédea p´ra esquerda,
E o meu boi me atropelou!

Nos tentos levava um laço
Com vinte e cinco rodilhas,
P´ra laçar o boi barroso
Lá no alto das coxilhas!

Mas no mato carrasquento
Onde o boi ´stava embretado,
Não quis usar o meu laço,
P´ra não vê-lo retalhado.

E mandei fazer o laço
Da casaca do jacaré,
P´ra laçar meu boi barroso
No redomão pangaré.

Eu mandei fazer um laço
Do couro da jacutinga,
P´ra laçar meu boi barroso
No remomão pangaré.

Eu mandei fazer um laço
Do couro da jacutinga,
P´ra laçar meu boi barroso
Lá no paço da restinga.

E mandei fazer um laço
Do couro da capivara,
P´ra laçar meu boi barroso
E lacei de mia cara.

Pois era um laço de sorte,
Que quebrou do boi a balda
Quando fui cerrar o laço,
Só peguei de meia espalda!
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O BALAIO

Mandei fazer um balaio
P´ra guardar meu algodão;
Balaio saiu pequeno;
Não quero balaio, não.

Corta, meu bem, recorta,
Recorta o teu bordadinho;
Depois de bem recortado,
Guarda no meu balainho.
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O GUARAXAIM

Lá vem o guaraxaim
Com cara de disfarçado;
Ele vem comer galinha
E soltar cavalo atado!
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O ANU


O anu é pássaro preto,
Passarinho de verão;
Quando canta à meia-noite
Oh! que dor no coração!

E se tu, anu, soubesses,
Quanto custa um bem querer,
Oh! pássaro, não cantarias
Às horas do amanhecer.

O anu é pássaro preto,
Pássaro do bico rombudo:
Foi praga que Deus deixou
Todo negro ser beiçudo!...
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TROVAS DOS FOLIÕES

Aqui chegou o Divino
que a todos vem visitar;
vem pedir-vos uma esmola
p´ra o seu império enfeitar.

O Divino Espírito Santo
não pede por carestia,
pede somente uma esmola
p´ra festejar o seu dia.

O Divino Espírito Santo
agradece a sua oferta,
que lhe deram seus devotos,
para fazer sua festa.

O Divino agradece
aos senhores e senhoras,
e também aos inocentes
que lhe deram sua esmola.

A pombinha do Divino
de voar já vem cansada,
vem pedir aos seus devotos
que lhe dêem uma pousada.

O Divino Espírito Santo
vai seguir sua jornada;
agradece aos seus devotos
que lhe deram esta pousada.

Se despeçam, nobre gente,
que a pombinha do Divino
vai seguir sua jornada,
visitar outros vizinhos.
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O GAÚCHO FORTE

Sou gaúcho forte, capeando vivo
Livre das iras da ambição funesta;
Tenho por teto do meu rancho a palha
Por leito a pala, ao dormir a sesta.

Monto a cavalo, na garupa a mala,
Facão na cinta, lá vou eu mui concho;
E nas carreiras, quem me faz mau jogo?
Quem, atrevido, me pisou no poncho?

Por Deus, eu digo! que já fiz, um dia,
Uma gauchada de fazer pasmar:
De — ginetaço — ela deu-me o nome;
Tinha razão; eu lhes vou contar:

Foi que num dia numa bagualada,
Passei o laço num quebra, um puava;
Montei; ferrei-lhe na paleta a espora;
Ele ia às nuvens, porém eu brincava!

Mas, de repente, o animal se atira;
E sai correndo, pela várzea fora;
E eu, que, folheiro, lhe pisei a orelha,
Maneei as bolas, e o bagual estoura.

Gauchadas destas, tenho feito muitas,
Por isso ela me chamou um dia,
Rei dos monarcas, gauchão em regra!
Por Deus! te digo: que ela não mentia!

E, se duvidam, eu já marco a raia,
E que se enfrente parelheiro ousado;
Tiro ou parada; não reservo guasca;
E sou o juiz... de facãozinho ao lado!...

Lá no fandango, de botas e esporas,
Danço a tirana, o folgazão balaio;
E ainda mesmo que me dêem pancadas,
Saio rolando, porém; qual! não caio!

Lá na cidade, qualquer um baiano,
Pode, sem susto, me passar bucal;
Mas, tenho consolo, que cornetas desses,
Cá nos meus pagos têm passado mal!...

Se lá me perco nas encruzilhadas;
Eles sorriem pro me ver assim;
Aqui eu monto num cuerudo desses,
E rio, mesmo sem lhe dar mau fim.

Isto é que é vida; o demais é história;
E nem invejo do monarca a sorte;
Se a fronte cinge-lhe uma coroa de ouro
Eu cinjo a coroa de um gaúcho forte...

Se ele adormece em florido leito,
Sobre os arreios, é meu sono igual;
Se ele se nutre de iguarias mil,
Eu de churrasco, muita vez sem sal!

Não tenho trono onde vá sentar-me,
Nem falsa corte de adulação servil:
Mas sou a glória, perenal e eterna,
Da minha terra, do feliz Brasil!
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A ROCEIRA


Minha mãe nasceu na roça,
E eu criei-me na palhoça,
Eu sou filha do sertão;
Sou delgada e sou faceira,
Como o leque da palmeira,
Como o ramo do chorão.

Minha irmã é mais morena...
Tem os seios de açucena,
Tem os lábios de carmim...
Minha irmã é tão mimosa!
Minha irmã chama-se Rosa...
Porém gostam mais de mim!

Eu vagueio pelos campos,
Semelhante aos pirilampos,
As mariposas azuis...
Sei cantar... e canto e choro...
Sei bordar com fios d´ouro
Sei rezar na minha cruz.

Eu sei tudo quanto quero!
Sou esbelta, sou faceira,
Como a rama do chorão...
Minha mãe nasceu na roça,
Eu criei-me na palhoça,
Eu sou filha do sertão!

A quem amo? Não o digo;
Fique o segredo comigo,
Guardado no coração!
Amo os valos... amo a roça...
Eu criei-me na palhoça
Eu sou filha do sertão!
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MUSA GAÚCHA

Bonitaça no mais a Maricota.
Guapetona chinoca requeimada,
Braba como potranca malmarcada
Quando, de cola alçada, se alvorota.

Um defeito qualquer ninguém lhe nota:
Mãos pequenas, a face colorada,
E uma graça dengosa, malcriada,
Se requebra o fandango, a perdigota.

Não quer casar; e quando algum pealo
De sobre-lombo atiram-lhe, no calo
Ofendida se sente e faz negaça,

Pega o freio nos denes, e adeusito!...
Que então, como bagual que sai no jeito,
Nem à bola se pega a matreiraça!...
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Sobre o Autor

João Simões Lopes Neto (Pelotas, 9 de março de 1865 — Pelotas, 14 de junho de 1916) foi, segundo estudiosos e críticos de literatura, o maior escritor regionalista do Rio Grande do Sul.

Filho dos pelotenses Catão Bonifácio Lopes e Teresa de Freitas Ramos, era neto paterno do Visconde da Graça, João Simões Lopes Filho, e de sua primeira esposa Eufrásia Gonçalves, e neto materno de Manuel José de Freitas Ramos e de Silvana Claudina da Silva. Nasceu na Estância da Graça, propriedade de seu avô paterno.

Com treze anos de idade, foi para o Rio de Janeiro, estudar no famoso colégio Abílio. Retornando ao Sul, fixa-se em sua terra natal, Pelotas, então rica e próspera pelas mais de cinqüenta charqueadas que lhe davam a base econômica.

Envolveu-se em uma série de iniciativas de negócios que incluíram uma fábrica de vidros e uma destilaria. Os negócios fracassaram. Uma guerra civil no Rio Grande do Sul - a Revolução Federalista - e a economia local fora duramente abalada. Depois disto, construiu uma fábrica de cigarros. Os produtos, fumos e cigarros, receberam o nome de "Diabo", "Marca Diabo", o que gerou protestos religiosos. Sua audácia empresarial o levou ainda a montar uma firma para torrar e moer café, e desenvolveu uma fórmula à base de tabaco para combater sarna e carrapatos. Fundou ainda uma mineradora, para explorar prata em Santa Catarina.

Casou-se em Pelotas, aos 27 anos, com Francisca de Paula Meireles Leite, de 19 anos, no dia 5 de maio de 1892, filha de Francisco Meireles Leite e Francisca Josefa Dias; neta paterna de Francisco Meireles Leite e Gertrudes Maria de Jesus; neta materna de Camilo Dias da Fonseca e Cândida Rosa. Não tiveram filhos.

Como escritor, Simões Lopes Neto procurou em sua produção literária valorizar a história do gaúcho e suas tradições.Entre 15 de outubro e 14 de dezembro de 1893, J. Simões Lopes Neto, sob o pseudônimo de "Serafim Bemol", e em parceria com Sátiro Clemente e D. Salustiano, escreveram, em forma de folhetim, "A Mandinga", poema em prosa. Mas a própria existência de seus co-autores é questionada. Provavelmente foi mais uma brincadeira de Simões Lopes Neto. Em certa fase da vida, empobrecido, sobreviveu como jornalista em Pelotas.

Publicou apenas quatro livros em sua vida: Cancioneiro Guasca (1910), Contos Gauchescos (1912), Lendas do Sul (1913) e Casos do Romualdo (1914).

Morreu em Pelotas, aos 51 anos, de uma úlcera perfurada.

Fonte:
http://www.antoniomiranda.com.br

Miguel Perrone Cione (Ouvir Estrelas…)

Vincent Van Gogh (1853-1890)
Não há quem não esteja farto de conhecer as coisas da Terra; por isso, saber um pouco das maravilhas que se encontram além de nós, é salutar para o homem que, perdido na explosão das suas paixões, não consegue avaliar a fragilidade e a insignificância de sua presença no universo.

Talvez para que não olvidemos nunca essa insignificância, o Criador resolveu colocar diante dos nossos olhos, no painel das noites amenas, o infinito reino fulgurante das estrelas.

Muito além da Terra há um imensurável universo que tem vida, porque palpita no sinergismo dos seus componentes, tem luzes, cores, som, energia, e se eterniza na substituição cíclica dos seus elementos; é um universo intangível, sem limites, repleto de belezas e mistérios insondáveis, onde só o olhar dos que buscam a luz no fulgor divino das estrelas pode penetrar.

Mas, o fascínio e o esplendor das estrelas, vão além da nossa fantasia, do encanto e da fé que elas podem nos proporcionar: elas são responsáveis pelo equilíbrio do Cosmos, porque, como os seres vivos, elas nascem, vivem e morrem, mantendo constante o número necessário ao desempenho universal. Elas são das mais variadas cores, as branco-azuladas são as mais novas e as mais quentes, as amarelas, como o nosso sol, são as de média temperatura e meia vida. As alaranjadas, e por fim as vermelhas, são as menos quentes e mais idosas. Quanto maior é a estrela, mais breve a sua existência, porque a sua fornalha acesa consome mais rapidamente o combustível da sua reserva.

Vistas com um simples binóculo, ou ao telescópio, elas ficam mais brilhantes realçando a limpidez do seu colorido.

Existem agrupamentos de rara beleza, é o caso da jewell box, chamado em nosso idioma a caixa de jóias, no qual se aglomeram estrelas de diversos matizes, formando a figura de um “A” deitado; não menos de 50 estrelas fazem parte desse aglomerado. O colorido vai do esverdeado ao azulado e ao violeta, no centro do grupo há uma pequena estrela vermelha. Essa jóia celeste, do mais fino lavor, pode ser vista na constelação do Cruzeiro do Sul. Outra jóia é encontrada no sistema binário de Abireo, uma dupla da constelação do Cisne, observável desde o fim do outono até o início da primavera, que se compõe de duas belas estrelas, uma alaranjada e outra de cor azul intenso.

Por incrível que pareça, as estrelas também falam, mas em um idioma que ainda nos é totalmente estranho. Existem nelas potentíssimas fontes sonoras, como se fossem emissoras de rádio. A ciência que estuda essa linguagem com auxílio de computadores é a Radioastronomia. A mais potente de todas essas emissoras do espaço situa-se na constelação de Sagitário, praticamente no centro da Via-Láctea. O nosso sol também não foge à regra. Southworth, nos EUA, foi o primeiro observatório a registrar as radioemissões do sol, em 1942.

Embora os próprios computadores não tenham conseguido ainda codificar o idioma das estrelas, há na Terra os que podem entendê-las; são os que trazem na alma a crença e as sutilezas do amor. Talvez por essa razão que Bilac, referindo-se às estrelas, escreveu:

“Direis agora: Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
tem o que dizem, quando estão contigo?
E eu vos direi: Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
capaz de ouvir e de entender estrelas”.

Fonte:
http://www.movimentodasartes.com.br/miguelcione/default.htm

O Nosso Português de Cada Dia (Deram Duas Horas)



Deu duas horas no relógio da praça ou deram duas horas no relógio da praça???

Está aí uma dúvida comum. O correto é a segunda maneira de dizer: DERAM duas horas no relógio. Tanto a palavra BATER quanto a palavra DAR concordam com o número de horas. Se for mais de uma hora, as palavras BATER e DAR devem ficar no plural. Assim o correto é:

Deu uma hora, mas DERAM duas horas.

Bateu uma hora, mas BATERAM dez horas.

No entanto, preste atenção! Quando na frase eu digo quem é que deu ou quem é que bateu as horas, então os verbos BATER e DAR concordam com essa palavra, independente do número de horas. Por exemplo:

O relógio bateu dez horas.

O relógio deu dez horas.

Nesses dois casos, os verbos BATER e DAR concordam com a palavra relógio, pois ela indica que bateu ou deu as horas.

Fonte:
Prof. Dr. Ozíris Borges Filho. http://www.movimentodasartes.com.br/

Machado de Assis (O Relógio de Ouro)



AGORA CONTAREI a história do relógio de ouro. Era um grande cronômetro, inteiramente novo, preso a uma elegante cadeia. Luís Negreiros tinha muita razão em ficar boquiaberto quando viu o relógio em casa, um relógio que não era dele, nem podia ser de sua mulher. Seria ilusão dos seus olhos? Não era; o relógio ali estava sobre uma mesa da alcova, a olhar para ele, talvez tão espantado, como ele, do lugar e da situação.

Clarinha não estava na alcova quando Luís Negreiros ali entrou. Deixou-se ficar na sala, a folhear um romance, sem corresponder muito nem pouco ao ósculo com que o marido a cumprimentou logo à entrada. Era uma bonita moça esta Clarinha, ainda que um tanto pálida, ou por isso mesmo. Era pequena e delgada; de longe parecia uma criança; de perto, quem lhe examinasse os olhos, veria bem que era mulher como poucas. Estava molemente reclinada no sofá, com o livro aberto, e os olhos no livro, os olhos apenas, porque o pensamento, não tenho certeza se estava no livro, se em outra parte. Em todo o caso parecia alheia ao marido e ao relógio.

Luís Negreiros lançou mão do relógio com uma expressão que eu não me atrevo a descrever. Nem o relógio, nem a corrente eram dele; também não eram de pessoas suas conhecidas. Tratava-se de uma charada. Luís Negreiros gostava de charadas, e passava por ser decifrador intrépido; mas gostava de charadas nas folhinhas ou nos jornais. Charadas palpáveis ou cronométricas, e sobretudo sem conceito, não as apreciava Luís Negreiros.

Por este motivo, e outros que são óbvios, compreenderá o leitor que o esposo de Clarinha se atirasse sobre uma cadeira, puxasse raivosamente os cabelos, batesse com o pé no chão, e lançasse o relógio e a corrente para cima da mesa. Terminada esta primeira manifestação de furor, Luís Negreiros pegou de novo nos fatais objetos, e de novo os examinou. Ficou na mesma. Cruzou os braços durante algum tempo e refletiu sobre o caso, interrogou todas as suas recordações, e concluiu no fim de tudo que, sem uma explicação de Clarinha, qualquer procedimento fora baldado ou precipitado.

Foi ter com ela.

Clarinha acabava justamente de ler uma página e voltava a folha com o ar indiferente e tranqüilo de quem não pensa em decifrar charadas de cronômetro. Luís Negreiros encarou-a; seus olhos pareciam dous reluzentes punhais.

— Que tens? perguntou a moça com a voz doce e meiga que toda a gente concordava em lhe achar.

Luís Negreiros não respondeu à interrogação da mulher; olhou algum tempo para ela; depois deu duas voltas na sala, passando a mão pelos cabelos, por modo que a moça de novo lhe perguntou:

— Que tens?

Luís Negreiros parou defronte dela.

— Que é isto? disse ele tirando do bolso o fatal relógio e apresentando-lho diante dos olhos. Que é isto? repetiu ele com voz de trovão.

Clarinha mordeu os beiços e não respondeu. Luís Negreiros esteve algum tempo com o relógio na mão e os olhos na mulher, a qual tinha os seus olhos no livro. O silêncio era profundo. Luís Negreiros foi o primeiro que o rompeu, atirando estrepitosamente o relógio ao chão, e dizendo em seguida à esposa:

— Vamos, de quem é aquele relógio?

Clarinha ergueu lentamente os olhos para ele, abaixou-os depois, e murmurou:

— Não sei.

Luís Negreiros fez um gesto como de quem queria esganá-la; conteve-se. A mulher levantou-se, apanhou o relógio e pô-lo sobre uma mesa pequena. Não se pôde conter Luís Negreiros. Caminhou para ela, e, segurando-lhe nos pulsos com força, lhe disse:

— Não me responderás, demônio? Não me explicarás esse enigma?

Clarinha fez um gesto de dor, e Luís Negreiros imediatamente lhe soltou os pulsos que estavam arrochados. Noutras circunstâncias é provável que Luís Negreiros lhe caísse aos pés e pedisse perdão de a haver machucado. Naquela, nem se lembrou disso; deixou-a no meio da sala e entrou a passear de novo, sempre agitado, parando de quando em quando, como se meditasse algum desfecho trágico.

Clarinha saiu da sala.

Pouco depois veio um escravo dizer que o jantar estava na mesa.

— Onde está a senhora?

— Não sei, não senhor.

Luís Negreiros foi procurar a mulher; achou-a numa saleta de costura, sentada numa cadeira baixa, com a cabeça nas mãos a soluçar. Ao ruído que ele fez na ocasião de fechar a porta atrás de si, Clarinha levantou a cabeça, e Luís Negreiros pôde ver-lhe as faces úmidas de lágrimas. Esta situação foi ainda pior para ele que a da sala. Luís Negreiros não podia ver chorar uma mulher, sobretudo a dele. Ia enxugar-lhe as lágrimas com um beijo, mas reprimiu o gesto, e caminhou frio para ela; puxou uma cadeira e sentou-se em frente de Clarinha.

— Estou tranqüilo, como vês, disse ele, responde-me ao que te perguntei com a franqueza que sempre usaste comigo. Eu não te acuso nem suspeito nada de ti. Quisera simplesmente saber como foi parar ali aquele relógio. Foi teu pai que o esqueceu cá?

— Não.

— Mas então...

— Oh! não me perguntes nada! exclamou Clarinha; ignoro como esse relógio se acha ali... Não sei de quem é... deixa-me.

— É demais! urrou Luís Negreiros, levantando-se e atirando a cadeira ao chão.

Clarinha estremeceu, e deixou-se ficar aonde estava. A situação tornava-se cada vez mais grave; Luís Negreiros passeava cada vez mais agitado, revolvendo os olhos nas órbitas, e parecendo prestes a atirar-se sobre a infeliz esposa. Esta, com os cotovelos no regaço e a cabeça nas mãos, tinha os olhos encravados na parede. Correu assim cerca de um quarto de hora. Luís Negreiros ia de novo interrogar a esposa, quando ouviu a voz do sogro, que subia as escadas gritando:

— Ó seu Luís! ó seu malandrim!

— Aí vem teu pai! disse Luís Negreiros; logo me pagarás.

Saiu da sala de costura e foi receber o sogro, que já estava no meio da sala, fazendo vira-voltas com o chapéu de sol, com grande risco das jarras e do candelabro.

— Vocês estavam dormindo? perguntou o Sr. Meireles tirando o chapéu e limpando a testa com um grande lenço encarnado.

— Não, senhor, estávamos conversando...

— Conversando?... repetiu Meireles.

E acrescentou consigo:

"Estavam de arrufos... é o que há de ser".

— Vamos justamente jantar, disse Luís Negreiros. Janta conosco?

— Não vim cá para outra coisa, acudiu Meireles; janto hoje e amanhã também. Não me convidaste, mas é o mesmo.

— Não o convidei?...

— Sim, não fazes anos amanhã?

— Ah! é verdade...

Não havia razão aparente para que, depois destas palavras ditas com um tom lúgubre, Luís Negreiros repetisse, mas desta vez com um tom descomunalmente alegre:

— Ah! é verdade!...

Meireles, que já ia pôr o chapéu num cabide do corredor, voltou-se espantado para o genro, em cujo rosto leu a mais franca, súbita e inexplicável alegria.

— Está maluco! disse baixinho Meireles.

— Vamos jantar, bradou o genro, indo logo para dentro, enquanto Meireles seguindo pelo corredor ia ter à sala de jantar.

Luís Negreiros foi ter com a mulher na sala de costura, e achou-a de pé, compondo os cabelos diante de um espelho:

— Obrigado, disse.

A moça olhou para ele admirada.

— Obrigado, repetiu Luís Negreiros; obrigado e perdoa-me.

Dizendo isto, procurou Luís Negreiros abraçá-la; mas a moça, com um gesto nobre, repeliu o afago do marido e foi para a sala de jantar.

— Tem razão! murmurou Luís Negreiros.

Daí a pouco achavam-se todos três à mesa do jantar, e foi servida a sopa, que Meireles achou, como era natural, de gelo. Ia já fazer um discurso a respeito da incúria dos criados, quando Luís Negreiros confessou que toda a culpa era dele, porque o jantar estava há muito na mesa. A declaração apenas mudou o assunto do discurso, que versou então sobre a terrível coisa que era um jantar requentado, — qui ne valut jamais rien.

Meireles era um homem alegre, pilhérico, talvez frívolo demais para a idade, mas em todo o caso interessante pessoa. Luís Negreiros gostava muito dele, e via correspondida essa afeição de parente e de amigo, tanto mais sincera quanto que Meireles só tarde e de má vontade lhe dera a filha. Durou o namoro cerca de quatro anos, gastando o pai de Clarinha mais de dous em meditar e resolver o assunto do casamento. Afinal deu a sua decisão, levado antes das lágrimas da filha que dos predicados do genro, dizia ele.

A causa da longa hesitação eram os costumes pouco austeros de Luís Negreiros, não os que ele tinha durante o namoro, mas os que tivera antes e os que poderia vir a ter depois. Meireles confessava ingenuamente que fora marido pouco exemplar, e achava que por isso mesmo devia dar à filha melhor esposo do que ele. Luís Negreiros desmentiu as apreensões do sogro; o leão impetuoso dos outros dias, tornou-se um pacato cordeiro. A amizade nasceu franca entre o sogro e o genro, e Clarinha passou a ser uma das mais invejadas moças da cidade.

E era tanto maior o mérito de Luís Negreiros quanto que não lhe faltavam tentações. O diabo metia-se às vezes na pele de um amigo e ia convidá-lo a uma recordação dos antigos tempos. Mas Luís Negreiros dizia que se recolhera a bom porto e não queria arriscar-se outra vez às tormentas do alto mar.

Clarinha amava ternamente o marido, e era a mais dócil e afável criatura que por aqueles tempos respirava o ar fluminense. Nunca entre ambos se dera o menor arrufo; a limpidez do céu conjugal era sempre a mesma e parecia vir a ser duradoura. Que mau destino lhe soprou ali a primeira nuvem?

Durante o jantar Clarinha não disse palavra, — ou poucas dissera, ainda assim as mais breves e em tom seco.

"Estão de arrufo, não há dúvida, pensou Meireles ao ver a pertinaz mudez da filha. "Ou a arrufada é só ela, porque ele parece-me lépido."

Luís Negreiros efetivamente desfazia-se todo em agrados, mimos e cortesias com a mulher, que nem sequer olhava em cheio para ele. O marido já dava o sogro a todos os diabos, desejoso de ficar a sós com a esposa, para a explicação última, que reconciliaria os ânimos. Clarinha não parecia desejá-lo; comeu pouco e duas ou três vezes soltou-se-lhe do peito um suspiro.

Já se vê que o jantar, por maiores que fossem os esforços, não podia ser como nos outros dias. Meireles sobretudo achava-se acanhado. Não era que receasse algum grande acontecimento em casa; sua idéia é que sem arrufos não se aprecia a felicidade, como sem tempestade não se aprecia o bom tempo. Contudo, a tristeza da filha sempre lhe punha água na fervura.

Quando veio o café, Meireles propôs que fossem todos três ao teatro; Luís Negreiros aceitou a idéia com entusiasmo. Clarinha recusou secamente.

— Não te entendo hoje, Clarinha, disse o pai com um modo impaciente. Teu marido está alegre e tu pareces-me abatida e preocupada. Que tens?

Clarinha não respondeu; Luís Negreiros, sem saber o que havia de dizer, tomou a resolução de fazer bolinhas de miolo de pão. Meireles levantou os ombros.

— Vocês lá se entendem, disse ele. Se amanhã, apesar de ser o dia que é, vocês estiverem do mesmo modo, prometo-lhes que nem a sombra me verão.

— Oh! há de vir, ia dizendo Luís Negreiros, mas foi interrompido pela mulher, que desatou a chorar.

O jantar acabou assim triste e aborrecido. Meireles pediu ao genro que lhe explicasse o que aquilo era, e este prometeu que lhe diria tudo em ocasião oportuna.

Pouco depois saía o pai de Clarinha protestando de novo que, se no dia seguinte os achasse do mesmo modo, nunca mais voltaria a casa deles, e que se havia coisa pior que um jantar frio ou requentado, era um jantar mal digerido. Este axioma valia o de Boileau, mas ninguém lhe prestou atenção.

Clarinha fora para o quarto; o marido, apenas se despediu do sogro, foi ter com ela. Achou-a sentada na cama, com a cabeça sobre uma almofada, e soluçando. Luís Negreiros ajoelhou-se diante dela e pegou-lhe numa das mãos.

— Clarinha, disse ele, perdoa-me tudo. Já tenho a explicação do relógio; se teu pai não me fala em vir jantar amanhã, eu não era capaz de adivinhar que o relógio era um presente de anos que tu me fazias.

Não me atrevo a descrever o soberbo gesto de indignação com que a moça se pôs de pé quando ouviu estas palavras do marido. Luís Negreiros olhou para ela sem compreender nada. A moça não disse uma nem duas; saiu do quarto, e deixou o infeliz consorte mais admirado que nunca.
"Mas que enigma é este? perguntava a si mesmo Luís Negreiros. Se não era um mimo de anos, que explicação pode ter o tal relógio?"

A situação era a mesma que antes do jantar. Luís Negreiros assentou de descobrir tudo naquela noite. Achou, entretanto, que era conveniente refletir maduramente no caso e assentar numa resolução que fosse decisiva. Com este propósito recolheu-se ao seu gabinete, e ali recordou tudo o que se havia passado desde que chegara a casa. Pesou friamente todas as razões, todos os incidentes, e buscou reproduzir na memória a expressão do rosto da moça, em toda aquela tarde. O gesto de indignação e a repulsa quando ele a foi abraçar na sala de costura, eram a favor dela; mas o movimento com que mordera os lábios no momento em que ele lhe apresentou o relógio, as lágrimas que lhe rebentaram à mesa, e mais que tudo o silêncio que ela conservava a respeito da procedência do fatal objeto, tudo isso falava contra a moça.

Luís Negreiros, depois de muito cogitar, inclinou-se à mais triste e deplorável das hipóteses. Uma idéia má começou a enterrar-se-lhe no espírito, à maneira de verruma, e tão fundo penetrou, que se apoderou dele em poucos instantes. Luís Negreiros era homem assomado quando a ocasião o pedia. Proferiu duas ou três ameaças, saiu do gabinete e foi ter com a mulher.
Clarinha recolhera-se de novo ao quarto. A porta estava apenas cerrada. Eram nove horas da noite. Uma pequena lamparina alumiava escassamente o aposento. A moça estava outra vez assentada na cama, mas já não chorava; tinha os olhos fitos no chão. Nem os levantou quando sentiu entrar o marido.

Houve um momento de silêncio.

Luís Negreiros foi o primeiro que falou.

— Clarinha, disse ele, este momento é solene. Responde-me ao que te pergunto desde esta tarde?

A moça não respondeu.

— Reflete bem, Clarinha, continuou o marido. Podes arriscar a tua vida.

A moça levantou os ombros.

Uma nuvem passou pelos olhos de Luís Negreiros. O infeliz marido lançou as mãos ao colo da esposa e rugiu:

— Responde, demônio, ou morres!

Clarinha soltou um grito.

— Espera! disse ela.

Luís Negreiros recuou.

— Mata-me, disse ela, mas lê isto primeiro. Quando esta carta foi ao teu escritório já te não achou lá: foi o que o portador me disse.

Luís Negreiros recebeu a carta, chegou-se à lamparina e leu estupefato estas linhas:
"Meu nhonhô. Sei que amanhã fazes anos; mando-te esta lembrança.
Tua Iaiá."
Assim acabou a história do relógio de ouro.

Fontes:
ASSIS, Machado de. Histórias da Meia Noite. 1. Ed. SP: Companhia Editora Nacional, 2005.
Foto do Relógio = http://www.artmuseum.gov.mo

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

ONE diploma novos associados em Sorocaba



Em novembro o presidente da Ordem Nacional dos Escritores, José Verdasca dos Santos, diplomou e entregou colares a novos associados junto ao diretor coordenador do núcleo de Sorocaba, Douglas Lara. A cerimônia aconteceu no salão de exposições da Fundação de Desenvolvimento Cultural – Fundec e contou com a presença de mais de uma centena de pessoas. Entre os diplomados, estavam cinco escritores adolescentes, todos com trabalhos já publicados na antologia "Rodamundinho 2008". A cerimônia contou também com o lançamento de três livros, o “O Lobvampiro” do jovem José Estevão Pinto de Oliveira, "Saudade e uma Canção Desesperada" do escritor Guilem Rodrigues da Silva e "Vidas Entrelaçadas" do escritor e poeta Nicanor Filadelfo.

Almoço e imposição de novos colares

José Verdasca do Santos estará novamente em Sorocaba no dia 19 de dezembro realizando mais uma cerimônia de imposição dos colares da ONE. O encontro será no Gabinete de Leitura Sorocabano às 10h, segue com um almoço junto aos escritores e novos associados, e às 14h com a cerimônia. Outros vários escritores, interessados na sociedade, receberão os colares e poderão contar com a Ordem para divulgar suas obras. Os jovens de até 15 anos participam gratuitamente e recebem o apoio e o incentivo para escrever e editar o seu trabalho literário.

Entre os novos associados estarão o escritor e criador do blog literário Singrando Horizontes, José Feldman, sua esposa, os jovens Serânia Silva, Maria Giulia Jacção Alves e Matheus Dantas, escritores da Antologia Rodamundinho. Também presente, estará o jornalista e escritor, Pedro Viegas que trabalhou no Jornal Cruzeiro do Sul, e que no episódio da “Noite do Beijo”, participou ativamente do protesto. O jornalista estará acompanhado pela sua esposa Elza Pereira Viegas que foi assessora de imprensa da Secretaria de Saúde e repórter fotográfica. Essa será uma oportunidade para os jornalistas da velha guarda rever e conversar com os jornalistas.

O Gabinete de Leitura Sorocabano fica na Praça Coronel Fernando Prestes nº 27, Centro - Sorocaba/SP. Os interessados devem entrar em contato com o coordenador do núcleo local, Douglas Lara pelo telefone: (15) 3227.2305 ou douglara@uol.com.br

Cintian Moraes - jornalista

Fonte:
Douglas Lara.
http://www.sorocaba.com.br/acontece

Itaú Cultural (Seminário Internacional Rumos da Literatura)


O Seminário Internacional Rumos da Literatura trata do diálogo entre a crítica literária, os meios de comunicação e as novas vertentes da literatura, entre outros temas. Realizado no Itaú Cultural, em São Paulo, entre 16 e 18 de dezembro, o evento reúne ensaístas, professores, sociólogos, poetas e tradutores.

Ensaístas, professores, sociólogos, poetas e tradutores examinam e questionam o ofício da crítica literária, cuja essência é, justamente, o exame e o questionamento.

Como se comporta a crítica diante de novos gêneros e, mais ainda, diante das metamorfoses da cultura literária? Qual o lugar da crítica nos novos meios e veículos de comunicação? Que direção tomaram as formas do discurso crítico?

Com curadoria de Samuel Titan Jr., o seminário encerra a edição 2007-2008 do Rumos Literatura com o lançamento do livro Protocolos Críticos, que traz o resultado e as reflexões dessa última edição do programa.

Uma oficina será realizada dias 16 e 17, na Casa das Rosas, com a convidada Heloisa Buarque de Hollanda, professora e coordenadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Também será lançado o livro Protocolos Críticos, resultante do programa.

Confira a programação e participe!

Terça 16

Oficina
14h30
Literatura ou práticas literárias
com Heloisa Buarque de Hollanda
[Ainda há vagas]

Seminário
19h30
Crítica literária e crítica cultural com José Miguel Wisnik e Martín Kohan mediação Natalia Brizuela
Seja a respeito da história, seja da música, da política ou do futebol, o crítico literário vive constantemente a tentação íntima - e a solicitação pública - de se pronunciar sobre temas que vão além da arte verbal. Como entender e avaliar esse ímpeto em tempos de crise da cultura letrada e da instituição da literatura? Nesta mesa reúnem-se Wisnik, músico, ensaísta e professor de literatura brasileira na Universidade de São Paulo (USP); Martín Kohan, professor de teoria literária na Universidade de Buenos Aires; e Natalia Brizuela, professora do Departamento de Espanhol e Português da Universidade Berkeley.

19h30
Lançamento livro Protocolos Críticos

Quarta 17

Oficina
14h30
Literatura ou práticas literárias
com Heloisa Buarque de Hollanda
[Ainda há vagas]

Seminário
17h30
Atualidade de Erich Auerbach com Earl Jeffrey Richards, Leopoldo Waizbort e Martin Elsky mediação Samuel Titan Jr
Nome central da crítica e da historiografia literária no século XX, Erich Auerbach sempre evitou formular um corpo de doutrina - ao mesmo tempo que encarnava com toda nitidez certa atitude intelectual diante do século e da literatura. Qual a atualidade de sua discrição e firmeza? Debatendo o tema, estão o alemão Earl Jeffrey Richards, professor de literaturas românicas na Universidade Bergische, em Wuppertal; Leopoldo Waizbort, professor de sociologia da USP; Martin Elsky, professor da City University de Nova York; e o curador do seminário, Samuel Titan Jr., tradutor, ensaísta e professor da USP.

Seminário
19h30
As formas da crítica com Flora Süssekind e Silviano Santiago mediação Lourival Holanda
Do tratado e da epístola à resenha e ao ensaio - a crítica das formas verbais viveu e vive uma contínua transformação verbal, a ponto de muitas vezes confundir-se com a própria criação literária. Por quais caminhos se deu essa reinvenção das formas críticas e o que devemos esperar pela frente? A mesa traz a pesquisadora da Casa de Rui Barbosa e crítica literária, Flora Süssekind; o escritor, crítico literário e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Silviano Santiago; e o ensaísta e professor da Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe), Lourival Holanda.

quinta 18

Seminário
17h30
Crítica e poesia com Marco Lucchesi e Marcos Siscar mediação Gonzalo Aguilar
O século XX assistiu à transformação das relações tradicionais entre poesia e crítica: longe de se submeter como objeto passivo ao exame crítico, a poesia moderna, em suas várias vertentes, apresentou-se como lugar privilegiado do exercício da crítica. Lírica e crítica, poesia e reflexão constituem o objeto desta mesa, com a participação do poeta, tradutor de poesia e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marco Lucchesi; do professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Marcos Siscar; e do professor da Universidade de Buenos Aires, Gonzalo Aguilar.

Seminário
19h30
Atualidade de Machado de Assis com João Cezar de Castro Rocha e Pedro Meira Monteiro mediação Sandra Vasconcelos
Medalhão ou subversivo, figura veneranda ou agente provocador? Machado de Assis é o tema desta mesa, que reúne jovens críticos literários para discutir menos o legado e mais o enigma desse autor crucial para a formação da literatura brasileira. O brasileiro radicado na Inglaterra, professor de literatura na Universidade de Manchester, João Cezar de Castro Rocha; o brasileiro radicado nos Estados Unidos, professor de literatura brasileira na Universidade de Princeton, Pedro Meira Monteiro; e a professora de literatura de língua inglesa na USP, Sandra Vasconcelos, debatem sobre Machado de Assis.

Sala Itaú Cultural Avenida Paulista, 149 - Paraíso [próximo à Estação Brigadeiro do metrô]
195 lugares
entrada franca − ingresso distribuído com meia hora de antecedência

Casa das Rosas Av. Paulista, 37 - Paraíso [próximo à estação brigadeiro do metrô]
informações 11 2168 1777 http://www.itaucultural.org.br/

Fonte:
E-mail enviado pela Itaú Cultural

Casa do Poeta de Canoas (Sarau de Encerramento)


Contamos com o prestígio de sua presença.

Fone: (51) 3476.4431 / 9669.4615
http://www.casadospoetas.com.br/ poetas@casadospoetas.com.br

Fonte:
Casa dos Poetas de Canoas

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Lançamento do Livro "Saboreando Crônicas", de Luiz Eduardo Caminha

artigo de Tchello d'Barros

Luiz Eduardo Caminha é um homem do Renascimento. Só que atuando em plena contemporaneidade com seus vários talentos, seja cantando, tocando, pintando, escrevendo, gourmetiando ou ainda organizando encontros, sejam literários, gastronômicos ou culturais. Mas a tônica é sempre a mesma, a aproximação das pessoas em torno da amizade, como por exemplo o grande sucesso que é o mega evento Stammtische, de Blumenau/SC.

Bem, eu já conhecia a produção poética do rapaz, e quando, aqui em Maceió, abro seu recente livro Saboreando Crônicas, fiquei um pouco apreensivo com esse título tão singular, mas bastou ler a primeira crônica e a ficha caiu na hora. Trata-se de uma obra das mais saborosas, nos dois sentidos, pois não bastasse o fato de cada crônica vir acompanhada de uma receita gastronômica, o autor tempera suas contações de causos e histórias com uma linguagem que é praticamente o autor falando, conversando, coisa rara nos cronistas contemporâneos. Quem conhece o Caminha pessoalmente vai confirmar isso. Manuel Bandeira já dizia que o Brasil é o único país onde as pessoas escrevem de uma forma diferente da que falam. Taí um livro pra andar um pouco na contramão dessa afirmação.

Quanto a leitura do livro, talvez caiba uma metáfora culinária: sabe aquele almoço onde a gente já se alimentou o suficiente mas não consegue parar de comer porque a comida está muito saborosa? Pois é, assim é o Saboreando Crônicas. Havia me planejado pra ler uma crônica por dia, mas quem disse que a gente consegue parar de ler? É que o autor, com sua linguagem de bate-papo entre amigos, nos transporta para as historietas de uma forma que a gente se sente envolvido pelos causos e personagens, muitos deles hilários, e mal termina uma crônica, já se quer saber da próxima, como se fosse num rodízio de pizza ou churrasco.

É possivel que o livro seja recebido como uma coletânea de crônicas sobre causos, sobre culinária ou mesmo de humor, já que é impossível não rir sozinho ao ler as presepadas dos personagens do Caminha. Mesmo na escrita o autor consegue traduzir os sotaques de manezinhos de Floripa, dos alemães da germânica Blumenau, e até mesmo o inconfundível e musical sotaque de nossos irmãos nordestinos. Mas digo que esse trabalho vai além. É um livro de Crônicas no sentido mais amplo do termo, pois trata de costumes, hábitos e de vivências de uma época e de um lugar, de vários lugares. Nas entrelinhas dos fatos percebemos o modo de viver não apenas de alguns grupos de cidades catarinenses, mas também do Nordeste, onde esse escritor e agitador cultural é figurinha fácil, dadas as suas andanças e confessa paixão por várias cidades desse lado do país.

Saboreando Crônicas é um livro para se gostar e degustar. É ainda uma obra que surge como um acréscimo de qualidade para a literatura contemporânea de Santa Catarina.
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Release

"Estão todos convidados, afinal o livro tem tudo a ver com Florianópolis e Blumenau, já que muitas das crônicas retratam situações aqui vividas", assim o escritor e Poeta Luiz Eduardo Caminha convoca os interessados em literatura para o lançamento/noite de autógrafos, de seu livro, na Livraria Livros & Livros. FCB.

O novo livro de Luiz Eduardo Caminha marca sua estréia no universo das crônicas, gênero que, aliás, se diz um admirador. “Embora escreva romances e poemas, considero-me muito mais um cronista. Diria até que muito mais que um poeta, não obstante ame a poesia” refere o autor. “A crônica me faz viajar pelo dia-a-dia de minha vida, tanto passado, como presente, permitindo-me pincelar, muitas vezes, o momento que estou passando. É mais factual e, portanto, certas vezes, mais contusa, aguda ou cômica” continua Caminha.,

Nesta obra, Caminha reúne algumas divertidas – outras sérias – passagens de sua vivência com amigos, pacientes e, em especial, no seu quase que diário contato com os “Stammtische” (grupos de amigos), dos quais sempre foi um incentivador e cujo resgate histórico teve o autor como um dos responsáveis. Há também passagens sobre suas vivências de manézinho da ilha, “pois sou manézinho, de fato e de direito, desde criancinha, nascido na Maternidade Carlos Correa, quarto 21 e crescido nas bandas da Conselheiro Mafra e da Avenida Mauro Ramos”, acrescenta o autor.

De curiosidade em todas as crônicas, há referência a algum prato culinário – talvez por sua simpatia pelas artes da cozinha – Caminha dispõe aos leitores, ao fim de cada narrativa, receitas destes pratos, passo-a-passo, que, segundo ele mesmo afirma, foram todos experimentados antes de submetidos ao público.

São deliciosas crônicas e, não menos, saborosas receitas.

Conforme o autor, as coisas não ficarão por aí. “Por sugestão de meu amigo Tchello d’Barros. Estou preparando outros dois livros de crônicas com a mesma motivação do Saboreando. Cada um deles com receitas de entradas, sobremesas e outros pratos. Quem sabe não nasce aí uma Trilogia?”, indaga o autor de maneira divertida.
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Quem é Luiz Eduardo Caminha?
Luiz Eduardo Caminha é médico, proctologista, graduado em Florianópolis e pós-graduado no Rio de Janeiro, Inglaterra e Alemanha. Nasceu em Florianópolis, em 04/10/51, Dia de São Francisco de Assis. Residiu em Blumenau por 25 anos. Dedicou-se a inúmeras atividades sócio-comunitárias, religiosas, políticas, representativas de classe e culturais. Casado com Seluta, pai de 3 filhos, Alexandre, Luciano e Maria Eduarda e duas noras Elianir e Francielle, costuma dizer que estas são as maiores dádivas que Deus lhe concedeu.

Seus inúmeros amigos, pacientes e sua família são, para ele, “a maior alavanca para superar as dificuldades enfrentadas nos últimos 5 anos de minha vida, onde a doença me foi uma parceira infame, mas que ajudou a me lapidar”.

Exerceu estreita ligação com os meios de comunicação, uma paixão ladeada pela medicina. Foi co-responsável pelo movimento que resgatou a tradição germânica dos “Stammtische”, de seus encontros e dos encontros de amigos e patotas, em Blumenau e em Santa Catarina.

Publicou inúmeros artigos e crônicas na internet e na imprensa, onde foi colunista de “Opinião e Política” da Folha de Blumenau. Aventura-se, agora, em sua terceira produção literária, as duas primeiras com o livro de poesias Reflexos, de 1997 e o “e-book” Poemas, de 2007, editado por Iara Melo, do Portal CEN – Cá Estamos Nós (o maior site da lusofonia do mundo). É mentor e editor do site “Stammtisch, Confrarias e Patotas” http://www.stmt.com.br/ e foi Coordenador do III Encontro Luso-Brasileiro de Escritores, realizado em Blumenau entre 12 e 15 de Junho de 2008. É o atual Vice-Presidente do Portal CEN para o Brasil um Site que reúne mais de 1.200 escritores da língua portuguesa..

A par disto, é membro fundador do Capítulo Santa Catarina da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores; ocupa a Cadeira nº. 078, da Galeria dos Decanos do Conselho Acadêmico do Clube dos Escritores de Piracicaba; autor do Portal CEN - “Cá Estamos Nós”, e da Sociedade de Escritores de Blumenau (SEB).

Sua paixão por escrever vem dos tempos de Primário e aflorou em 1975 quando da aula magna proferida pelo poeta Lindolf Bell, no Curso de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Santa Catarina. Pensava em fazer Jornalismo mas, com a transferência do Curso para Porto Alegre, desistiu e prestou novo Vestibular para Medicina. Graduou-se Médico em 1976, com especialização em Colo-Proctologia realizada no Rio de Janeiro, Londres (Inglaterra) e Wiesbaden (ex-Alemanha Ocidental).

Foi Presidente da Associação Médica de Blumenau no biênio 1992/93, Secretário de Saúde de Blumenau entre 1993 e 1996, Presidente do Conselho Estadual de Secretários Municipais de Saúde de 94 a 97 e Vice-Presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde de 93 a 97.

De 1985 a 1989, editou, sozinho, o Jornal “Clarins do Vale”, impresso nas oficinas da Fundação Cultural de Blumenau. De 1989 a 1992 foi produtor e apresentador do Programa Canal Livre no Rádio, na então Rádio União AM, Rede Fronteira de Comunicação. Entre 1999 e 2002 produzia e apresentava o Programa Feliz Cidade, na TV Galega. De Abril de 2000 a agosto de 2004 produziu e apresentou o Programa Stammtisch, na mesma emissora.

Foi através deste programa que se iniciou o resgate da tradição dos “Stammtische”, em Blumenau e região. Como tal, foi um dos articuladores dos Encontros de Stammtisch (Strassenfest mit Stammtischtreffen).

Seu conhecimento e pesquisas sobre esta tradição germânica, além da estreita relação com a literatura e o jornalismo, motivaram-lhe a lançar um Sítio na Internet denominado “Stammtisch, Confrarias e Patotas” http://www.stmt.com.br/ , em 23 de dezembro de 2005. Desde abril de 2006 o site situa-se em 1º lugar entre todas as referências mundiais para o termo “stammtisch” nos principais sítios de busca do mundo (Google, Yahoo, Cadê, MSN Buscas, entre outros).

De março/2006 a julho/2007, escreveu a “Coluna Caminha” , no Jornal Folha de Blumenau.

Em 11/09/2007 foi inscrito como Jornalista no Serviço de Identificação e Registro Profissional – SIRP do Ministério do Trabalho, sob nº 2966SC.

Fontes:
Colaboração do autor

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Caldeirão Literário de São Paulo


Serginho Poeta (Largo e Profundo)

No instante
Em que o sino da igreja anuncia
A hora da Ave Maria
O Menino outra vez desafia
A Guarda Municipal
Precipita-se por entre o comércio informal
E o mar de gente confusa
Desce a alameda em queda livre
E vai se abrigar nos braços da Meretriz
O Ambulante canta a oferta
Abafando o alerta de pega ladrão
No instante seguinte
O Padre bendiz o Menino
No ato do seu sermão
E a Carola, samaritana boa
Que momentos antes
Perdera a bolsa e a fé nos meninos
Reza e perdoa
E tudo volta ao normal

Percebo um olhar de soslaio
No Largo Treze de Maio
Coberta de jóia falsa
A maquiagem realça
O rosto da Moça da Vida
E a pouca idade que tem
A Guarda esquece o menino
O Ambulante grita de novo
E o povo se agita na praça

É tudo pressa de novo
E o Ônibus passa
E passo Eu e o Menino
A Carola e a Puta
Só o Largo Treze não passa.
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Sobre o Autor
Serginho Poeta é Sergio Luis Oliveira Mesiano nas horas vagas. Morador do Campo Limpo (SP), nasceu em São Paulo, tem 38 anos e escreve poesia desde sempre. Sua descoberta como poeta se deu aos dezenove anos e a afirmação junto ao público, no antigo bar Ziriguidum, onde acontecia o Samba da Vela, comunidade que o lançou. Hoje é atuante em diversos movimentos e um dos organizadores da Expedición Donde Miras.
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Paulo Almeida (Santo Amaro de Vários Artistas)

Nem todos os demônios se dissiparam
Na barra da manhã...
Quando amanheceu era sábado,
O sétimo dia,
E pouca coisa era sagrada :
Quem sabe a necessidade do camelô
Dizendo nunca se sabe ,
Atento à guarda municipal,
Quem sabe a pouca idade da menina
Calcando ruas já tão prostituídas,
Quem sabe a febre de Paulo,
Eiró,perseguindo noivas,poemas,
e represas entre ruas, catedrais
E hospícios .
Na casa amarela treze poetas
E treze visões se entrelaçam.
Colecionadores de pedras
Extravasam poemas e vidraças
Com um novo olhar .
Um planeja ornar com flores
A carabina de Borba Gato.
Outra ,poeta e menina,
Dança no coreto enquanto recita
Nua poesia sobretudo Santo Amaro.
Vamos ao largo de dvds , piratas ,
E da catedral sufocada,
Colocar versos na boca da estátua,
Ouvir o uivo dos albergados,
Confissões púbicas e sem preço
Da fantasia em hotéis baratos.
Vamos comungar o pão e a poesia,
Perecíveis artistas no monumental teatro das ruas.
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Sobre o Autor
Paulo Almeida, poeta tardio, obcecado e um tanto melancólico. Dado a extravasos, excessos, extravios e pensamentos vagos. Tudo sob uma capa de aparente normalidade. Respira como se de fato existisse. Não sabe mais o que sabia, às vezes intui e escreve e nomeia
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Laura Guimarães (Ecos do Largo Treze)

Que tipo de fé, seu moço,
consola as noites
desse pedaço de chão?

Sabe, seu moço,
um tipo de Deus diferente
passeia pelo Largo.

Pequenos milagres
escorrem pelas sarjetas
e abotoam as camisas
daqueles que não as têm.

O sopro de sarcasmo que falta
transborda dos copos cheios de mágoa
que toma conta do corpo
daqueles que não têm mais corpo, não.

Sabe, seu moço,
há um rio mudo
correndo, ao largo,
por entre as veias desse povo.

Correnteza forte, sim senhor!

Sabe, seu moço,
há um largo sorriso de medo
preso em suas gargantas.

Protestariam, se soubessem.
Contestariam, se pudessem.

Mas de que adianta força sem direção?

O pai de família corre atrás do pão.
A dona de casa faz milagre na ponta da faca.
A criança faz brinquedo do lixo que sobra.

Do pouco que sei,
sei que esse pedaço de chão
é como se fosse o mundo inteiro.
Santo Amaro.
.......................Meu mundo, meu chão.
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Sobre a autora
Laurinha Guimarães tem 22 anos e cursa Letras na USP. Sua poesia é carregada de musicalidade e sonoridade, já que, além de poeta, é violonista, cantora e compositora. Já apresentou-se na Casa das Rosas, Teatro do Ator e no projeto "A Curva da Praça", que lhe rendeu o convite para participar deste projeto: "Treze visões do largo treze de maio".
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João Rosalvo (Ao Santo armado)

ajoelhado
devotado em oração
surge no banquinho inexistente da praça
um homem
na noite
que diante de sua devoção paulista
(a estátua do Borba Gato)
começa:

"Oh, meu Santo Armado,
de guerra construído e preparado,
que guardas a cidade amarga de barro,
bairro da grande metrópole, São Paulo,
meu tempo anti-lunar vem te pedir,
salve nossas noites de esperança
salve nossas boites, nossas danças,
nas ruas terminais de Santo Amaro
nas praças floreais de poucos atos,
nas casas da antiga: antigos fatos.

Fazei de nossa flor Matriz,
da alameda eira e da Eiró Meretriz,
a chave para acharmos o paraíso,
asfalto e carro e condutor divinos.

Com goles de cerveja, salvai as nossas almas padecidas
e as pobres caras, um tanto parecidas
dos jovens moços que roem o osso sujo e bebem do esgoto pútrido da cidade esquecida.

Aos maltrapilhos que cantam vícios
em coro triste no coreto limpo da Floriano,
dá menos planos e mais oportunidade
de fumarem um cigarro novo por noite
ou de cobrirem seus corpos poucos com lençóis de verdade.

Salve nossas Ladys e nossos End Nights.
E salve esta alma de homem pobre
que toda noite se cobre com manto de jornal
e diante da lua: silêncio sepulcral;
clama pelo povo sofrido
da noite querida
da Santo Amaro perdida
entre os becos e os beijos de suas meninas."
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Sobre o autor
João Rosalvo da Silva Júnior, tem 23 anos, é natural da capítal paulista e nela mora desde que nasceu, mais precisamente no distrito de Santo Amaro (região de Guarapiranga). Há 4 anos se mudou para o Jardim Catanduva, na região de Campo Limpo, mas não perdeu suas ligações com Santo Amaro. Está no último ano do curso de letras na (falida) Universidade de São Paulo (USP).
Como poeta participou do movimento Sarauê, além da organização dos dois Festivais de Música e Literatura da Faculdade de Filosofia , Letras e Ciências Humanas (FFLCH - USP), tendo um poema (SONIFESTO) publicado no livro do primeiro festival. Ao ser convidado para participar das "Treze visões" relutou, pois não sabia exatamente qual a proposta, mas hoje se entusiasma com as dimensões que um movimento como esse pode ter e espera que seja um forte sopro para reavivar a chama da cultura para a região santamarense e com essa chama incendiar a cultura de uma maneira mais ampla.
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Indiara Nicoletti ("Ciclo de Vida")
.
Gira rodopia
a criança no coreto
Menina que dorme
de olhos semiaberto

No relento da calçada
O plástico preto
que sonora ao vento

Pode ser o cobertor
Pode ser a cama
Para o mijar
Embriagado

Os olhos fecham-se
Na esperança de um sono
Continuo ...

Mas o som da praça
Adormecida
De gritos de liquidações
Mudas

Na voz muda de garças
Que migram em direção
As águas represadas

A menina passeia
As margens da Guarapiranga

Muitas crianças
Pulam se jogam
Nas águas em
Um dia de sol

A mãe pede ao filho
Que não arrisque
A pele na sombridez
Da água turva

Mas o menino vê o verde
Do parque da mata
Do corredor de arvores
Ao lado da hípica

O céu azul
Refletido nas
Águas

Ora mansa recheada de peixes
Ora redemoinho que engole gente
Nas turbinas da Sabesp

A menina sonha
Os cabelos acariciados
Pelo vento

Pelas mãos de vento
Da Donzela Guaianazes
Moça que também
Habita a praça

Viajante de outros tempos
Raiz plantada nestas terras
Aos pés da árvore tombada
Para a construção do camelódromo

Plásticos brandam
Mortos, matéria
descartada

Olhares esquecidos
Na calçada composta
De passos ligeiros

Marcas nas mãos
Ciclo de vida

Reciclar as relações
Corriqueiras, fugazes
Como as promessas
Da cidade das luzes modernistas

Um dia no coreto
Habitou uma princesa
Bonecas de porcelana
Na jazida casa alemã

Bomba de chocolate
No rosto emnuviado
Da menina
Na jazida doceria Yramaia

Ecos de vozes do papagaio
No corredor da madrugada
Na também jazida pensão
Talvez uma Espanhola

Sonha a menina
Travesseiro de colo materno
Da donzela Guaianazes

Ela seria mãe
Se não fosse
Interrompida por
Fogo azul

Jaz Borba ao vento
Duro concretizado
No mosaico de Júlio Guerra

Borba andarilho de ladrilhos
Dá as costas para o fruto
Da semente mal plantada

Cayubi olha sua filha
Hoje mãe acariciando
Os cabelos da menina

Gira a menina no coreto
Ciclo de vida
Ciclo das águas
Que levam as lágrimas de mazelas

Julio Guerra limpa as pedras
De mármore e basalto
Julio Guerra lava o painel
Poluído por tinta preta

Em casas de outrora
Espanhóis, Portugueses
Alemães... habita uma tela
De Júlio que observa
A porta Veneziana do teatro

Lava as pedras no painel
Com lágrimas derramadas

Descansa Júlio Guerra

As lágrimas que brotam da terra
Na construção do metro
Fura o lençol freático

Com sede, do alto
A menina observa
Acompanhada
Pela donzela Guaianazes

Na igreja
Vultos de um jazido cemitério
Assustada ela volta para o coreto

Cayubi limpa o sono
De quem dorme ao relento
Guaranis com suas maracás
Hoje em Parelheiros

Cayubi abençoa a praça
Terebê planta ao pé
Da grande arvore
A semente de um povo

Útero da Terra
Aqüífero Guarani
Jorrando água
Na calçada

Cayubi guardião de toda a Terra
Olha a praça de frente
Com sua gente
Sua casa amarela

Onde em uma madrugada
Uma cidade virou bairro
Promessa fugaz...

Cayubi olha Borba
Olhar concretizado
Pelo chumbo
Olhar amolecido
Pelas lágrimas

Água Guarani
Sangue da Terra
Água cíclica
As margens da represa

Ciclo de vida na matéria ignorada
Trabalho de mãos calejadas
Jorrando o desperdício na calçada

Hoje são poucas as arvores
São diferentes os frutos
Plástico brotando no concreto

A donzela Guaianazes
Puxa um galho de Jasmim
E abençoa sua filha tão pequena
Tão sofrida

Com um beijo deixa a praça
Ciclo de vida na calçada

Criança gira no coreto
No tempo sonha
E com o vento
Se despede
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Sobre a autora:
Indiara Nicoletti Ramos nasceu dia 9/7/1979 em Santo Amaro, São Paulo – SP. Passou boa parte de sua infância neste bairro, participando de atividades culturais na Casa de Cultura de Santo Amaro (antigo CACE) quando era criança. Estudou no Colégio ENSEL – Externato Nossa Senhora De Lourdes, na Rua: São José.
No colegial aprendeu fotografia, formando-se como técnico em Publicidade e foi também no colegial que começou a escrever poesia e a desenhar e pintar...
Participou do projeto de pintura de postes(intervenção urbana): Totens da Paz, no bairro da Lagoa da Conceição em Florianópolis, coordenado por Lis Figueiredo.
Atualmente estuda Artes Plásticas na UDESC(Universidade do Estado de Santa Catarina), aonde vem realizando trabalhos em Artes Visuais utilizando-se de diversas técnicas e linguagens como: gravuras(metal, litogravura, serigrafia), fotografia, vídeo-arte e vídeo-poesia, desenhos...
Em Janeiro de 2006 participou da exposição "Feliz aniversário Nelson Leirner", com um trabalho em Litogravura na galeria Casa da Xiclet em São Paulo.
E entre Junho e Julho de 2006 participou da exposição"Emparedados" no MHSC Museu Histórico de Santa Catarina (Palácio Cruz e Souza), com um trabalho coletivo juntamente com Gabriela Dreher e Fernanda Junqueira um site-arte tendo como foco o próprio Museu Histórico, Palácio Cruz e Souza.
Em 2007 e 2008 vem participando do Sarau Boca de Cena, em Florianópolis. Projeto de Extensão Universitária pela UFSC (Universidade do Estado de Santa Catarina) coordenado por Juliana Impaléa.
Em 2008 teve poemas publicados nas revistas: "Sarau Boca de Cena em revista" Florianópolis-SC e revista "Não Funciona" – São Paulo-SP.
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Carlos Galdino (A Curva da Praça)

A curva da praça
é curva de rio
Tem gente com fome
Tem gente com frio

Na curva da praça
Tem gente que fica
Tem gente que passa
Tem gente esquisita

Na curva da praça
Tem gente que joga
E gente jogada
Tem gente com tudo
Gente sem nada

A curva da praça
Tem crime e segredo
Tem gente esperta
E gente com medo

A curva é de um só
A curva é de massa
A curva tem preço
A curva é de graça

A curva da praça...
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Sobre o Autor
Carlos Galdino é poeta e produtor musical, atuante na cena artística de São Paulo, tem seis coletâneas de poesia publicadas, entre elas: "Novos poetas da Biblioteca Mario de Andrade", "Notas Poéticas", "Versos Versus Versos", todas pela Meireles Editorial. Ministra oficinas de cultura popular, literatura e cordel. Apresenta-se em saraus e eventos artísticos em geral. É líder do grupo Candeeiro Incendiário (mistura de cultura popular, cordel, aboio, repente e percussão) e do Coletivo S.A.M.P.A - Serviço Ambulante de Música Poesia Alternativa, coletivo que se apresenta com performances poéticas, realiza eventos, edita zines, e a Revista Subsolo – voltada para artes e cultura.
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Poetas integrantes de Treze Poetas, de Treze Visões do Largo Treze de Maio.
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Fonte:
http://www.trezevisoes.blogspot.com/