sábado, 18 de dezembro de 2010

José Feldman (Nilto Maciel, O Mago das Almas)


Por José Feldman

Esta semana recebi o livro Contos Reunidos, volume II, de Nilto Maciel, enviado pelo próprio autor, ano passado já me havia enviado o volume I. Aliás, estou profundamente agradecido ao escritor que tem me enviado periodicamente seus livros e jornais literários do Ceará.
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O que podemos falar de Nilto? Antes uma breve apresentação do escritor, para passarmos aos comentários sobre seus textos. Uma biografia mais completa você poderá encontrar em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/04/nilto-maciel-1945.html.

Nilto nasceu em Baturité, cidade localizada ao norte do Ceará, cerca de 100 km, cuja população é de cerca de 30 mil habitantes. Foi o ano de 1945. Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará em 70. Em parceria com outros escritores, no ano de 1976 criou a revista Saco (http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/08/nilto-maciel-revista-o-saco-e-o-grupo.html). Transferiu-se no ano seguinte para Brasília, trabalhando na Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Justiça do DF. Em 2002 regressou a Fortaleza onde reside atualmente. Venceu inúmeros concursos literários, e escreveu diversos livros, tendo contos e poemas publicados em esperanto, espanhol, italiano e francês. Além de contos e romances publicados, também Panorama do Conto Cearense, Contistas do Ceará, Literatura Fantástica no Brasil. Mais sobre o autor pode ser encontrado em seu site http://www.niltomaciel.net.br/ .

Contos Reunidos vol. I, são os 66 contos escritos por Nilto em seus livros Itinerário (1974 a 1990), Tempos de Mula Preta (1981 a 2000) e Punhalzinho cravado de ódio (1986). O volume II conta com 122 contos dos livros As Insolentes patas do cão (1991), Babel (1997) e Pescoço de Girafa na Poeira (1999).

Deste modo, no total são 188 contos para que o leitor possa viajar em suas folhas, entre o trágico e a comédia, a paisagem nordestina e a cidade grande. Seus contos fazem aflorar as nossas emoções mais profundas, desde a revolta pela vida de pessoas (como a Última Guerra de Hiroito, http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/08/nilto-maciel-ltima-guerra-de-hirohito.html) e mesmo dos animais (Carlim, http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/08/nilto-maciel-carlim.htm). Como no caso de Carlim, a revolta pela injustiça da vida de uns, misturada à tristeza que nos domina pelo resultado final. Mas, Nilto não pára só em sentimentos de desconfortos, segue adiante percorrendo cada emoção, a dúvida, a curiosidade que o ser humano possui, como neste que classifico como “fantástico conto fantástico”, O Riso do Gato (http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/05/nilto-maciel-o-riso-do-gato.html), em que coloca em um caldeirão a dúvida, o suspense, a curiosidade, o fantástico e o humor.

Nilto possui esta capacidade de fazer com que nossas almas percorram desde um estado de profunda tristeza ao de êxtase. Não é apenas um escritor, são muitos escritores dentro de um só. A cada conto terminado, aflora o anseio pelo próximo. Aonde Nilto nos conduzirá agora? Cada conto é um conto, que faz com que nossa imaginação nos leve às vezes a adentrar dentro dele e participar, deixando que nos levemos pelo seu encanto, pela sua linguagem simples e deliciosa.

Segundo João Carlos Taveira, no prefácio do livro de Nilto, Vasto Abismo: “Sua oficina romanesca comporta o absurdo, o fantástico, o linear, o surreal e, não raras vezes, o satírico, o burlesco, o humorístico. Seus temas, por diversos, exploram desde o corriqueiro e trivial triângulo amoroso, passando por perquirições do gênero policial, até o mais intrincado universo psicológico. Carpintaria digna dos melhores mestres da arte ficcional”.

Enfim, Nilto nos faz navegar num oceano de sentidos, com as velas da realidade içadas, mas fazendo-nos entregar-se as ondas da ilusão. Nos leva a enfrentar ventos contrários, hora fazendo com que sejam brisa em nosso rosto, hora tempestades que nos jogam contra os rochedos. Sorrisos, lágrimas, desespero, ansiedade, desejos, sonhos, dores, ressurreição são as águas deste oceano. Em cada conto encontramos um refúgio para a nossa dor, que nos transforma e faz com que cada página seja como o mar a beijar a areia, deixando sua marca.

Contos Reunidos vol. I e vol. II são momentos de magia que nos fazem transgredir as fronteiras do conhecimento e do desconhecido. Nilto faz com que o leitor deixe de ser um mero espectador e seja personagem integrante de seus textos.

Nilto Maciel (A Última Festa de um Homem Só)


Estirado no sofá, Fausto lia. Ou talvez apenas namorasse as letras. Não havia mulher no resto da casa. Ninguém mais. Apesar disso, ele vestia um roupão elegante e de seu corpo recendiam perfumes de devassidão.

O livro por pouco não lhe caiu das mãos, quando uma campainha tocou. Não eram horas de despertar. Quem estaria à porta?

Tocou de novo. Fausto largou o livro e correu ao telefone. Alô, boa noite, quem fala?

A voz dizia ser de Sardanapalo.

No entanto, Fausto não se lembrava de ninguém com esse nome. Não seria Assurbanipal?

De qualquer forma, desejava o quê?

Ajuda. Preciosa ajuda. Só ele, Fausto, poderia ajudá-lo. Queria promover uma festa em seu palácio.

Fausto riu. O sujeito só podia estar brincando. Ora, não entendia nada de festas nem de palácios. Fosse para o inferno.

Ia desligar o aparelho e dizer, embora para si mesmo, mais uns desaforos.

— Sou o rei da Assíria.

Conteve-se e comprimiu o fone contra o ouvido. À festa deveriam comparecer os monarcas de todos os tempos. Vivos e mortos.

Riu mais uma vez Fausto. Aquele rei vivia em algum manicômio. Continuasse, pois, a dizer disparates. Rir até fazia bem.

Como Fausto fosse pessoa bem relacionada, amigo de reis e rainhas, contava Sardanapalo com a valiosa ajuda dele. Em troca, oferecia-lhe a sua amizade. Aliás, precisavam se conhecer pessoalmente. Aguardasse, pois, sua visita. Assim arranjariam juntos a relação dos nomes dos convidados. Porque nenhum monarca poderia faltar à sua festa.

Despediam-se e Fausto voltava ao sofá. Conversa mais sem sentido. Parecia até sonho.

O livro jazia aberto sobre o sofá. Nem se lembrava mais do que havia lido. Seriam versos de Goethe? Histórias do Diabo? As vidas dos imperadores romanos?

Fausto agarrou o livro, leu um trecho. Riu satisfeito. Não havia perdido a memória. O livro chamava-se A morte de Sardanapalo.

Preocupou-se de novo. A “conversa” de há pouco teria sido sonho ou realidade? No entanto sonhos não faziam mal a ninguém. Além do mais, costumava sonhar com personagens de livros. Sobretudo quando o personagem o impressionava muito. Sardanapalo, então, comovia o leitor mais insensível. Sua vida era de uma riqueza sem limites. Até sua morte, durante o incêndio do palácio real.

O livro caiu-lhe das mãos, quando tocou uma campainha. Mais uma vez o louco? Não, nem pegaria o telefone. Tocasse à vontade.

A campainha tocou de novo. Porém a da porta. Talvez algum amigo.

Correu e girou a chave. Um sujeito esquisito deu-lhe boa-noite. Vestia roupas fosforescentes. E se dizia Sardanapalo.

Mudo, Fausto deixou-o entrar. E o homem entrou, luminoso, esquisito.

E toda a casa se pôs a pegar fogo.

Fontes:
MACIEL, Maciel. As Insolentes Patas do Cão. In Contos Reunidos volume II. Porto Alegre/RS: Bestiário, 2010.
Imagem – Edmund Siderius

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.73)


Trova do Dia

Embora rudes e escassos
os bons atos, em geral,
o Natal recria laços
num simples “Feliz Natal!”
FLÁVIO ROBERTO STEFANI/RS

Trova Potiguar

É fruto do coração,
esta trova especial...
- Levar à cada um irmão,
"meu abraço de Natal".
FRANCISCO MACEDO/RN

Uma Trova Premiada

2007 > Caicó/RN
Tema > NATALINO > 2º Lugar

Na manjedoura em Belém,
nasce um mistério profundo:
Uma luz vinda do além,
que se fez a luz do mundo!
PROF. GARCIA/RN

Uma Trova de Ademar

Para a ceia que traduz
um grande significado,
quero que seja Jesus
meu principal convidado.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Chega o Natal... e as criança,
na pobreza sem brinquedo,
não tendo mais esperanças
ficam adultas mais cedo.
NYDIA IAGGI MARTINS/RJ

Estrofe do Dia

No Natal compre presentes
compre flores e perus,
encha a árvore de bolinhas
enfeite com muita luz;
prepare um belo jantar
e não deixe de convidar
o nosso amado Jesus.
JOSÉ ACACI/RN

Soneto do Dia

– Antonio Roberto Fernandes/RJ –
O MAIOR MILAGRE.

Meu jovem Jesus Cristo, um dia aqui viestes
para sentir na carne a angústia dos humanos,
porém voltastes cedo às vastidões celestes,
pregado numa cruz, aos trinta e poucos anos.

No ardor da juventude afugentastes pestes,
vencestes vendilhões, demônios, oceanos,
provocando, ao pregar pelas trilhas agrestes,
o assombro dos judeus e o ódio dos romanos.

Sofrestes muito, eu sei, mas não ficastes velho.
Morrestes moço e, assim, pôde o Vosso Evangelho
os séculos vencer e vir chegar a nós.

Mas o maior milagre não foi realizado.
Voltai... Envelhecei... E fraco e esclerosado
fazei, de novo, o mundo acreditar em Vós.

Fonte:
Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) Capítulo XXIV: E o Visconde?

Tornava-se preciso descobrir o Visconde. A sua misteriosa "sumição", como dizia a boneca, vinha preocupando a todos seriamente. As informações obtidas eram poucas e vagas. O vigia da Senhora Anticonstitucionalissimamente contara que o tinha visto por lá com um Ditongo debaixo do capote, a espernear. Uma das Frases que tomavam sol no Jardim das Orações também dissera que ele havia raptado um Ditongo. E foi só. Nada mais conseguiram colher.

— Um Ditongo! — murmurava Emília com ruguinhas na testa. — Raptou um Ditongo!. . . Mas para quê, Santo Deus? Com que fim? Há em tudo isto um grande mistério. . .

— Com certeza trata-se dalgum Ditongo arcaico, que ele furtou levado pela sua mania de antiguidades — sugeriu Pedrinho.

— Não há Ditongos Arcaicos — disse Quindim.

O remédio era um só — irem ao bairro das Sílabas, que é onde moram os Ditongos.

— Pois vamos — decidiu Narizinho.

Foram — e montados em Quindim por ser meio longinho. Ao alcançar o bairro o rinoceronte parou a fim de orientar-se.

— É aqui mesmo — disse ele, vendo as ruas cheias de Sílabas, num ir e vir constante. — Mas onde será a Rua dos Ditongos?

— Melhor indagar — lembrou a menina, e, chamando uma silabazinha muito curica que ia passando, disse: — A senhorita poderá informar-nos onde fica a Rua dos Ditongos?

— Com todo gosto — respondeu a lambetinha na sua voz de formiga. — Fica nesta direção, três quadras à esquerda.

Quindim trotou para lá.

— É aqui :— disse ele, ao penetrar numa rua onde só existiam Sílabas formadas de duas Vogais. — Os Ditongos são estes.

— Quê! — exclamou Narizinho, surpresa. — Ditongo, uma palavra tão gorda, quer dizer só isso — sílaba de duas vogais? Pensei que fosse coisa mais importante. . .

— Pois, menina, os gramáticos não tiveram dó de gastar um quilo de grego para classificar estas minúsculas silabazinhas. Eles dividem-nas em DITONGOS, SEMIDITONGOS, TRITONGOS e MONOTONGOS.

Todos se riram daquele grande luxo "nomenclástico", como talvez dissesse a boneca, se não continuasse absorta em profundas cogitações.

— Emília está "deduzindo!" — murmurou a menina ao ouvido de Quindim. — Quando lhe dá o sherlockismo, ninguém conte com ela.

— Havia por ali duas espécies de Ditongos — os ORAIS, que só se pronunciam com a boca, e os NASAIS, em que o som sai também pelo nariz, AI, AU, EI, EU, IU, OU, OI, UE e ui eram os Orais, ÃE, AM, EM, ÕE eram os Nasais. Mas Quindim, que conhecia todos os Ditongos de cor e salteado, estranhou não ver entre eles o mais importante de todos — o Ão.

"Querem ver que o Visconde raptou o Ão?", refletiu, lá consigo, o paquiderme.

Os meninos notaram uma certa agitação entre os Ditongos. Evidentemente havia sucedido qualquer coisa grave. Andavam de cá para lá, escabichando os cantinhos e informando-se uns com os outros, na atitude clássica de quem procura objeto perdido.

Emília entrou em cena. Agarrou um dos Ditongos Nasais pelo til e pousou-o na palminha da mão. Era o Ditongo ÕE. — Diga-me, ditonguinho, que foi que houve por aqui? Noto uma certa agitação entre vocês, como em formigueiro de saúva em dia que sai içá.

— De fato, estamos agitados — respondeu o ditonguinho. — Um dos meus manos, o Ão, que era justamente o mais importante da família, desapareceu misteriosamente. Temo-lo procurado por toda parte, mas sem resultado. Sumiu. . .

— Quem sabe se alguém o raptou? — sugeriu a boneca.

— Impossível! Que alguém haverá no mundo que queira um Ditongo Nasal? Nós só servimos para formar palavras; não temos outra função na vida, e nenhuma casa de ferro velho daria um vintém por todos nós juntos.

— Espere — disse Emília, refletindo. — Diga-me uma coisa: Não andou por aqui um filósofo de fora, sem cartolinha na cabeça e com umas palhas de milho ao pescoço?

— Andou, sim. Um sábio um tanto embolorado, não é?

— Isso mesmo! Bolor verde. . .

— Esteve cá, sim. Esteve de prosa conosco e depois desapareceu. Foi logo em seguida que demos pela falta do Ão. A senhora acha que. . .

— Mais que acho! Sei que foi ele quem raptou o Ditongo. O que não consigo achar é a explicação de semelhante coisa. Esse sábio é o grande Visconde de Sabugosa, que mora no sítio de Dona Benta. O guarda da Senhora Anticonstitucionalissimamente me disse que o viu com um Ditongo debaixo do capote; e mais tarde uma Frase, lá no Jardim das Orações, também nos declarou positivamente que o Visconde havia raptado um Ditongo.

— Ora veja!. . . — exclamou o ditonguinho arregalando os olhos. — Mas, para quê? Para que um tão ilustre sábio quererá um Ditongo? ..

É o que me preocupa — disse Emília, recaindo em cismas.

O mistério do sumiço do Visconde continuava a embaraçar os meninos. Teria sido preso como gatuno? Teria sido assassinado? Teria voltado para o sítio com o Ditongo no bolso? Mistério. . .

— Se houvesse por aqui um jornal, poderíamos pôr um anúncio: "Perdeu-se um Visconde assim, assim; dá-se boa gratificação a quem o achar".

— Mas não existe jornal, e é tolice ficarmos toda a vida a campeá-lo. Vamos esquecer o Visconde. Olhem que ainda temos de visitar a Senhora Ortografia.

Foi resolvido esquecerem o Visconde e visitarem a Senhora Ortografia. Montaram de novo em Quindim e partiram. A meio caminho Emília bateu na testa.

— Heureca! Achei! Achei!... Já descobri tudo! Já descobri a razão do "delito" do Visconde. . .

Todos se voltaram para ela.

— O Visconde — explicou Emília — sofre do coração, como vocês muito bem sabem, e por isso se assusta com as palavras que trazem o tal Ditongo Ão. O coitado assusta-se como se o Ão fosse um tiro, ou um latido de cachorro bravo. . .

— É verdade! — confirmou Narizinho. — Lembro-me que uma vez ele levou um grandíssimo tombo, quando Tia Nastácia berrou da cozinha para o camarada do compadre Teodorico, que ia para a cidade: "Seo Chico, não esqueça de me trazer da venda um pão de sabão!" Aquele "pão de sabão" berrado foi o mesmo que dois tiros de espingarda de dois canos no coraçãozinho do Visconde, que estava distraído lendo a sua álgebra. O coitado caiu de costas. Lembro-me perfeitamente disso. . . ele até andou de coranchim machucado uma porção de dias.

— Pois é — concluiu a boneca, radiante. — O Visconde raptou esse Ditongo para livrar a língua de todas as palavras que dão tiros, ou que latem como cachorro bravo. . .

— E fez muito bem — disse Quindim. — O maior defeito que acho nesta língua portuguesa é esse latido de cachorro, que a gente não encontra em nenhuma outra língua viva. Até a mim, que sou bicho africano, o Ão me assustava no começo. Trazia-me a idéia de latido de cães de caça, seguidos de homens armados de carabinas. . .

Como fosse ali o bairro ortográfico, Narizinho propôs que se procurasse a pessoa que tomava conta da zona.

— Quem sabe se ela sabe onde está o Visconde? — sugeriu.

— Pode ser, mas duvido muito — disse Emília. — O Visconde ou está na cadeia, como gatuno, ou está no cemitério, enterrando o coitadinho do Ditongo. Eu bem que compreendo a idéia dele. E se ele fizer isso, vai haver a maior das atrapalhações na língua. Sem o Ão como é que a gente se arruma para , comprar um Pão? Fica Pao. . . E Sabão fica Sabao. . . E Ladrão fica Ladrao. . . Atrapalha a língua completamente. . .
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Continua ... Capítulo XXV: Passeio Ortográfico
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.72)


Trova do Dia

Fartura à mesa é quimera,
um sonho que muita gente,
todo Natal sempre espera,
mas, não ganha de presente...
DARLY O. BARROS/SP

Trova Potiguar

Tocam sinos de alegria
no encanto do firmamento...
E a luz da estrela anuncia
Jesus em seu nascimento!
MARA MELINNI GARCIA/RN

Uma Trova Premiada

2002 > Garibaldi/RS
Tema > Natal > 3º Lugar

Que cesse, enfim, toda a guerra,
que vença o amor a Jesus,
que seja o Natal na Terra
sem luz de bombas... só luz...
LEDA MARIA BECHARA/MG

Uma Trova de Ademar

Noel quase nunca vem
visitar nossas favelas,
pois, lá, crianças não têm
nem sapatos, nem janelas...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Papai Noel, bom velhinho,
neste Natal, sob a lua...
Procure meu sapatinho
sobre a janela da rua!....
ADELIR MACHADO/RJ

Estrofe do Dia

O Natal nos lembra vida
que a outra "vida" conduz...
Vinte séculos sem Jesus
e a missão não foi cumprida.
se fez de desentendida
a humanidade cruel,
deu a Cristo cruz e fel
que culminou na paixão
pela grande salvação
da sua igreja infiel.
FRANCISCO MACEDO/RN

Soneto do Dia

– Divenei Boseli/SP –
NATAL PROFANO

Em meio ao tilintar de copos e talheres
do champanhe barato e o vinho de segunda,
o suor e o avental de simplórias mulheres
garantem saciar a gula que as circunda...

Na sala o pisca-pisca ofusca o olhar de alferes
dos pais sobre os guris que, à luz pouco profunda,
procuram na etiqueta os muitos caracteres,
rasgando embrulho a embrulho, em plena barafunda!

E dizem que é Natal... no costume imitando
os mesmos fariseus que acabaram matando
quem hoje se festeja sem lhe seguir o exemplo...

Neste “natal” profano imploro, e me comovo:
renasça, Nazareno, aqui, dentre o meu povo,
para expulsar, de novo, os vendilhões do templo.

Fonte:
Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) Capítulo XXIII: Exame e Pontuação

Depois de brincarem por algum tempo naquele jardim de Períodos, e de discutirem novamente a campeação do Visconde, os meninos resolveram ir ao bairro das Sílabas sherlockar o rapto do Ditongo — como dizia a Emília.

— Não ainda — propôs Dona Sintaxe. — Quero correr um exame nos meus alunos. Venham todos cá — e o senhor também, Seu Rinoceronte.

Os meninos e o paquiderme perfilaram-se diante da grande dama.

— Muito bem — disse ela. — Vou agora ver se essas, cabecinhas guardaram o que ensinei, e para isso temos que analisar uma frase.

E voltando-se para um grupo de frases passeadeiras:

— Aproxime-se um Período para ser analisado! Depressa! ...

Apresentou-se incontinenti aquele assanhadíssimo Período que dizia assim: Tia Nastácia faz bolinhos que todos acham muito gostosos.

— Vamos ver, Emília, quantas Orações há neste Período?

— Duas! — respondeu imediatamente a boneca. — A primeira é a Principal e a segunda é a Subordinada.

— Muito bem. E qual o Sujeito da primeira, Pedrinho?

— Tia Nastâcia.

— Muito bem. E qual o Sujeito da segunda, senhor paquiderme?

— Todos — rosnou o rinoceronte com um bamboleio de corpo.

— Muito bem. E qual o Predicado da primeira, Narizinho?

— Faz bolinhos — disse a menina com água na boca, porque estava chegando a hora do jantar.

— Muito bem. E qual o Predicado da segunda, Quindim?

— Acham muito gostosos — respondeu o rinoceronte, lambendo os beiços.

— Muito bem. E qual o Complemento Verbal da primeira, Emília?

— Bolinhos! — berrou a boneca. — Bolinhos é o Objeto Direto do Verbo Faz — quem não sabe disso?

— Muito bem. E qual o Complemento Verbal da segunda, Pedrinho?

— Que.

— Esse Que a que se refere?

— Refere-se a Bolinhos.

— Bravos! — exclamou Dona Sintaxe. — Vejo que não perdi o meu tempo. Podem ir brincar.

Foi uma gritaria, e todos saíram aos pinotes. Emília espreguiçou-se e Quindim deu uma chifrada no ar, de brincadeira.

— E agora? — disse Narizinho. — Ela nos mandou brincar; mas brincar de quê, nesta cidade de palavras? Uma idéia!. . . Vamos ver a Pontuação! Onde fica a Pontuação, Quindim?

— Aqui perto, num bazar. Eu sei o caminho — respondeu o paquiderme.

No tal bazar encontraram os SINAIS DE PONTUAÇÃO, arrumados em caixinhas de madeira, com rótulos na tampa. Emília abriu uma e viu só VÍRGULAS dentro.

— Olhem que galanteza! — exclamou. — Vírgulas, Vírgulas e mais Vírgulas! Parecem bacilos do cólera-morbo, que Dona Benta diz serem virgulazinhas vivas.

Emília despejou um monte de Vírgulas na palma da mão e mostrou-as ao rinoceronte.

— Essas Vírgulas servem para separar as Orações, as Palavras e os Números — explicou ele. — Servem sempre para indicar uma pausa na frase. A função delas é separar de leve.

Emília soprou o punhadinho de Vírgulas nas ventas de Quindim e abriu a outra caixa. Era a do PONTO E VÍRGULA.

— E estes, Quindim, estes casaizinhos de Vírgula e Ponto?

— Esses também servem para separar. Mas separar com um pouco mais de energia do que a Vírgula sozinha.

Emília despejou no bolso de Pedrinho todo o conteúdo da caixa.

— E estes aqui? — perguntou em seguida, abrindo a caixinha dos DOIS PONTOS.

— Esses também servem para separar, porém com maior energia do que o Ponto e Vírgula.

Metade daqueles Dois Pontos foram para o bolso do menino. Emília abriu uma nova caixa.

— Oh, estes eu sei para que servem! — exclamou ela, vendo que eram PONTOS FINAIS. — Estes separam duma vez — cortam. Assim que aparece um deles na frase, a gente já sabe que a frase acabou. Finou-se. . .

Em seguida abriu a caixa dos PONTOS DE INTERROGAÇÃO.

— Ganchinhos! — exclamou. — Conheço-os muito bem. Servem para fazer perguntas. São mexeriqueiros e curiosíssimos. Querem saber tudo quanto há. Vou levá-los de presente para Tia Nastácia.

Depois chegou a vez dos PONTOS DE EXCLAMAÇÃO.

— Viva! — gritou Emília. — Estão cá os companheiros das Senhoras Interjeições. Vivem de olho arregalado, a espantar-se e a espantar os outros. Oh! Ah!!! Ih!!!

A caixinha imediata era a das RETICÊNCIAS.

— Servem para indicar que a frase foi interrompida em certo ponto — explicou Quindim.

— Não gosto de Reticências — declarou Emília. — Não gosto de interrupções. Quero todas as coisas inteirinhas — pão, pão, queijo, queijo — ali na batata! — e, despejando no assoalho todas aquelas Reticências, sapateou em cima.

Depois abriu outra caixa e exclamou com cara alegre:

— Oh, estes são engraçadinhos! Parecem meias-luas. . . Quindim explicou que se tratava dos PARÊNTESES, que servem para encaixar numa frase alguma palavra, ou mesmo outra frase explicativa, que a gente lê variando o tom da voz.

— E aqui, estes pauzinhos? — perguntou Emília, abrindo a última caixa.

— São os TRAVESSÕES, que servem no começo das frases de diálogo para mostrar que é uma pessoa que vai falar. Também servem dentro duma frase para pôr em maior destaque uma Palavra ou uma Oração.

— Que graça! — exclamou Emília. — Chamarem Travessão a umas travessinhas de mosquito deste tamanhinho! Os gramáticos não possuem o "senso da medida".

Quindim olhou-a com o rabo dos olhos. Estava ficando sabida demais. . .
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Continua ... Capítulo XXIV: E o Visconde?
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Cidade de Santos (SP) em Trovas


Fornecendo os alimentos
do seu meio tão fecundo,
o mar, em todos momentos
sacia a fome do mundo.
ALVARO HILINSKI

Que no instante derradeiro,
ao fechar meus olhos nus,
ancore, enfim, meu veleiro
num porto pleno de luz...
AMÉRICO DEG'LESPOSTI

Eu sou como o cais vazio...
Um porto de despedida,
o corroído navio...
sem chegada... nem partida!
ANA MARIA GUERRIZE GOUVEIA

Da infância guardo a magia
do meu veleiro encantado.
Era nele que eu fugia
do mundo feio e pesado.
ÁUREA NAVARRO TURINI

Singra os mares desta vida
nosso amor, forte veleiro,
bate a procela atrevida
e chega ao porto, altaneiro.
BELLARMINO FRANCO

No verde mar, o arrebol
reflete uma linda imagem,
o veleiro, à luz do sol,
é a brnca cor da paisagem.
BRITES QUARESMA FIGUEIREDO

Juventude embevecida!
Entre as rosas da ilusão,
roubaram-te a flor da vida
e as hastes do coração!
CARMEN CERDEIRA VENTURA

O porto pulsa, fecundo,
nas chegadas e partidas,
nutrindo artérias do mundo
dando vida a tantas vidas!
CAROLINA RAMOS

A brisa leve balança
o veleiro sobre o mar,
e traz de volta a esperança
na força do teu olhar!
CÉLIA S. OLIVEIRA

Mar revolto, se agitando,
lembra a vida em seu passar...
Sou veleiro flutuando,
me equilibrando no mar.
CIDOCA DA SILVA VELHO

Em noite alta... madrugada,
contemplo a lua contrito
- Barca de prata aportada
nos segredos do infinito.
CLÁUDIO DE CÁPUA

Espera por mim, veleiro,
sem minhas malas não partas...
leva o meu sonho primeiro
e as esperanças mais fartas!
CYNIRA ANTUNES DE MOURA

Singrando mares de espinhos,
meu coração, quase, morto,
encontrou nos teus carinhos
a segurança de um porto.
EDNA GALO

No tempo da juventude,
nada sabemos da vida.
Qualquer paixão nos ilude,
toda estrada é reflorida.
ENÉAS DE CASTRO

Quando a tristeza me alcança
e teima em ficar comigo,
eu me ancoro na esperança,
pois é sempre um porto amigo.
ILZE DE ARRUDA CAMARGO

Juventude, quero crer,
é fé, força de vontade,
por isso podemos ver
jovens de qualquer idade.
IRACY APARECIDA CARRIJO

Segue o destino traçado
da trilha a ti concedida,
não lamentes do passado
a juventude perdida.
IZABEL MORAES AGUIAR

Evolando após a infância,
a juventude é fumaça,
tão fugaz, como a fragrância
de um bom perfume que passa...
LAVÍNIO GOMES DE ALMEIDA

Contemplo o mar... E lembrando
os dias da mocidade,
parece-me ver, singrando,
o veleiro da saudade.
MARGARIDA MARIA FORTES DE MELLO

Censurar a juventude
por seu desleixo ou pecado
é de fato um modo rude
de olvidar nosso passado.
MARIA DA GLÓRIA C. DE VASCONCELLOS

Dos bens que a vida levou,
recuperei o que pude,
só um foi e não voltou:
o tempo da juventude!
MARIA JOSÉ ARANHA DE REZENDE

O quintal da juventude
tem horta, pomar, jardim,
tem céus, voos, amplitude...
O meu quintal foi assim!
MARIA MAGDALENA D. DE MENDONÇA

De solidão quase morto,
meu coração, sonhador,
é um batel de porto em porto
na esperança de um amor.
MARIA NELSI SALES DIAS

Pérolas! Filhas do mar,
resumem os meus anseios,
quando em rútilo colar
na alva concha dos teus seios!
MOACYR FIGUEIREDO

Na juventude, a paixão
traz feitiço verdadeiro
pois grava no coração
o fremir do amor primeiro.
NEUSA SIMÕES CARITO

Guardas, porto, e silencias,
quando chegam ao teu cais,
solidões de calmarias...
destroços de vendavais.
NILO ENTHOLZER FERREIRA

Debocham da sociedade,
usam mala, mensalão...
Neste mar de impunidade,
afogam nossa nação!
PAULO RENATO ALMEIDA COSTA

Eu tenho sido um veleiro
nos mares da fantasia,
mas faço sempre o roteiro
levado pela poesia...
ROSÁLIA HELENA G. BONSEGNO

Ainda que não pareça,
e mesmo em tempo mais rude,
por mais que a gente padeça,
é feliz na juventude!
ROSALINA ROSA

Meu barco... um dia lancei-o
enfrentando o mar bravio.
Partiu de sonhos tão cheio
e ao porto voltou vazio...
SILVINA ANTUNES LEAL

Juventude trago na alma
e também no coração
e assim enfrento com calma
os dias de solidão...
SELMA MORAES

Qual uma esteira de prata,
o luar cai sobre a areia,
e o mar, numa serenata,
faz trovas à lua cheia!
SOPHIA LEITE CRUZ

Juventude! Quem me dera,
que essa quadra colorida
voltasse a ser primavera
nos dias de minha vida!
ZILDA PEDROSO

Fonte:
Colaboração de Carolina Ramos

Efigênia Coutinho (Benção de Natal)


Nesta noite que se festeja o Natal,
Comemoramos com o Menino Jesus
Uma Aliança muito especial...
Sua chegada ao mundo de Luz.

É a festa que traz muita esperança
Numa reverência que marca a união
De Deus Filho, feito criança,
E os homens com grande emoção.

É Natal e com alegria os sinos dobram,
Numa canção feita de Amor que Reluz,
Onde os nossos votos se renovam
Diante da bênção do Menino Jesus.

A plantar nos corações a Esperança,
O Pai Eterno o Seu Filho enviou,
Para marcar da vida a bonança,
Deixando seu Amor, nos abençoou!.
------------------

Efigenia Coutinho é Presidente Fundadora da AVSPE - Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores www.avspe.eti.br/

Fontes:
A Autora

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.71)


Trova do Dia

Natal e a loja enfeitada
em nada lembra Jesus:
Jesus viveu sem ter nada,
do berço de palha à cruz!
GABRIEL BICALHO/MG

Trova Potiguar

Aleluia! nova luz
há de brilhar no universo,
no renascer de Jesus
unindo o povo disperso.
DJALMA MOTA/RN

Uma Trova Premiada

2001 > Petróplis/RJ
Tema > “JESUS” > 44º Lugar.

Tem Jesus, no olhar sereno
o próprio reino do bem;
no entanto, nasceu no feno
lá na gruta de Belém.
ADILSON MAIA/RJ

Uma Trova de Ademar

Peço a Noel que ele faça
com toda bondade sua,
um grande “Natal” na praça
para as crianças de rua.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Natal. No céu e na terra
quanta alegria! Natal!
A paz adoçando a guerra,
o bem adoçando o mal.
BELMIRO BRAGA/MG

Estrofe do Dia

Se papai Noel voltasse
a ser aquele velhinho,
distribuindo presentes
durante a noite e sozinho...
devolveria à criança
novamente a confiança,
o amor, a fé, o carinho.
MANOEL DANTAS/RN

Soneto do Dia

– Hermoclydes Siqueira Franco/RJ –
"N A T A L"

Sob o céu estrelado da Judéia,
Nasceu o Deus-Menino, em noite linda...
Cobriu o mundo, então, ternura infinda
E o fato fez sagrada a Galiléia!

Os Reis-Magos, após longa odisséia,
- Na homenagem maior de sua vinda -
Contemplavam a luz, brilhante, ainda,
Da Estrela-Guia sobre a terra hebréia!...

Da natureza, o bem que sempre traz,
E os pastores, sorrindo à intensa paz,
Mostravam que o Senhor era chegado.

Maria, a Virgem Santa, estava aflita,
Pois sabia que a glória era infinita
E o destino do Filho era traçado!...

Fonte:
Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) Capítulo XXII: As Orações ao Ar Livre

Foram todos para o jardim, onde numerosas Orações costumavam passear ao sol. Dona Sintaxe apontou para uma delas e disse:

— Vamos ver, Emilinha, se você sabe o que significa um grupo de palavras como aquele que ali está, junto ao canteiro de margaridas.

— Pois é uma Oração, está claro! Quem não sabe?

— Você não sabe, Emília. Aquilo é mais que uma Oração — é todo um PERÍODO GRAMATICAL, composto de várias Orações.

— Um Período é então um cacho de Orações — disse Emília. — Estou entendendo. A Oração é uma banana; o Período é uma penca de bananas.

O rinoceronte gostou do exemplo e lambeu os beiços, enquanto Dona Sintaxe explicava que os Períodos se dividem em duas classes — PERÍODOS SIMPLES e PERÍODOS COMPOSTOS.

— O Período Simples é o que... — foi dizendo Emília, mas engasgou.

— É o que se compõe só de uma Oração — concluiu Dona Sintaxe.

— E o Período Composto é o que se compõe de duas! — gritou a boneca vitoriosamente.

— De duas ou mais — corrigiu Dona Sintaxe. — Aquele que ali vai passando é um Período Composto.

O tal Período Composto dizia o seguinte: Emília soltou o preso, mas não ganhou nem um muito obrigado.

— Notem — observou Dona Sintaxe — que há duas Orações, governadas por dois Verbos — Soltou e Ganhou. Por isso o Período é Composto. A Conjunção Mas amarra a segunda Oração à primeira.

— Estou vendo — disse Emília. — E aquele outro, perto do canteiro de cravos?

— Aquele é um Período Simples, formado de uma só Oração: O Visconde está com medo. Repare que há um só Verbo.

— E aquele outro lá perto do canteiro das dálias? — indagou Pedrinho, mostrando um Período que dizia assim: O rinoceronte, que é um sabido, está calado.

— Aquele é um Período Composto que traz uma Oração pendurada em outra. Note que uma Oração não está ligada à outra, mas sim pendurada no meio da outra. Se sair dali não estraga o resto. Chama-se Oração INTERFERENTE.

— Pendurada com que gancho? — perguntou Emília.

— Com o gancho daquele pronominho Que. Notem que nesse Período Composto há duas Orações: (1) O rinoceronte está calado; (2) Que é um sabido. Mas esta última está apenas enganchada no meio da primeira, como numa rede, por meio do gancho do Pronome Que.

— Que tem mesmo jeito dum ganchinho! — observou Emília, e todos concordaram, para não haver briga.

— Vamos agora ver como estas Orações se classificam quanto ao papel que representam no Período — disse Dona Sintaxe. — Elas podem ser de três classes - COORDENADAS, PRINCIPAIS e SUBORDINADAS.

E, para exemplificar, gritou na direção dum grupo de Períodos que estavam parados diante dum repuxo:

— Aproxime-se um Período Composto que queira servir de exemplo! Depressa!

Todo saltitante, destacou-se do grupo este Período: O pica-pau picou o pau e fugiu quando viu Quindim.

— Reparem — disse Dona Sintaxe — que temos três Orações neste Período. Uma Coordenada, porque está ligada a outra Coordenada pela Conjunção E: O pica-pau picou o pau. E temos a segunda Oração, que é a Principal: E fugiu; e temos a terceira, que é a Subordinada, ou escrava da Principal: Quando viu Quindim. Sem estar ligada à Oração Principal esta terceira fica sem sentido, ninguém a entende. Mas ligada torna-se clarinha como água de pote; quem lê compreende logo que o pica-pau fugiu quando viu Quindim.

— Oração Principal? — estranhou a menina.

— Oração Principal é a que pensa que é independente mas não é, porque depende das outras para completar o que ela quer dizer. Aquela ali, por exemplo. Venha cá, Senhor Período!

Aproximou-se um Período Composto que se lia assim: Quindim está com fome porque não encontrou capim por aqui.

— Reparem. A Oração Quindim está com fome é a Principal, mas não fica bem, bem, bem, bem completa sem a outra: Porque não encontrou capim por aqui. Esta outra ajuda a completar a Principal. As Senhoras Orações Principais trazem sempre o Verbo no Modo Indicativo ou no Modo Imperativo, não se esqueçam.

Dona Sintaxe despediu aquele Período e chamou outro.

— Aproxime-se uma Oração na voz ATIVA! Depressa. Muito lampeira, destacou-se do grupo uma Oração que dizia assim: O gato comeu o pica-pau.

— Que história de Voz Ativa é essa? — indagou Emília.

— Já irá saber --- respondeu a Senhora Sintaxe, e voltando-se para a nova oraçãozinha: —- Você está na Voz Ativa, não é assim? Pois então passe parada voz PASSIVA para esta boneca ver. Incontinenti a oraçãozinha desmanchou-se toda para formar outra da seguinte maneira: O pica-pau foi comido pelo gato.

— Muito bem! — aprovou Dona Sintaxe. O E para os meninos:

— Notem que Pica-Pau, que é o Objeto Direto da primeira Oração, passou a ser Sujeito desta última, e reparem que o Sujeito da primeira (Gato) passou a ser Complemento.

— Que Objeto Direto é esse, que apareceu aí sem mais nem menos? — berrou Emília.

— Objeto Direto é aquilo que completa o sentido do Verbo diretamente. A gente pergunta ao Verbo: o quê? E a resposta é o tal Objeto Direto. O gato comeu o quê? O pica-pau. Logo, pica-pau é o Objeto Direto.

— Que peste é a tal Gramática! — disse Emília. — Tem coisas que não acabam mais. Só sinto que, em vez de ter comido o pobre pica-pau, o gato não tivesse comido a Senhora Gramática, com todas estas damas que andam por aqui. . .

Dona Sintaxe não ouviu e continuou:

— Por meio destas passagens de Sujeitos para Complementos e de Complementos para Sujeitos é que as Orações passam da Voz Ativa para a Voz Passiva. Entenderam?

Os meninos fizeram com a cabeça que sim.

Durante toda a conversa Quindim manteve-se de parte, ouvindo com muita atenção as palavras da grande dama e aprovando-as com movimentos de chifre. Emília, que gostava de tirar a prova de tudo, foi ter com ele para lhe perguntar num cochicho:

— Que acha desta senhora, Quindim?* Sabe mesmo Gramática ou está nos tapeando?

O rinoceronte riu-se filosoficamente.

— Como não há de saber, Emília, se ela é a Sintaxe, ou uma das partes da própria Gramática? A Sintaxe dum lado e a Lexiologia de outro formam a Gramática inteira. Nunca duvide do que a Senhora Sintaxe disser. . .
______________________
Continua ... Capítulo XXIII: Exame e Pontuação
____________________________
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Lúcia Constantino (Antologia Poética)


QUANDO UM POETA MORRE

Quando um poeta morre
o céu se cobre de sombras
e um raio tomba
a luz foge.

Quando um poeta morre
a seara dorme.
Alforra do dar.
Fica remido no tempo
o intento do pensamento.
Sonetos do ar.

Quando um poeta morre
o céu incorre em engano
porque deixa de abrir a boca
por muitos anos.

AMAR

(dedicado a todos aqueles que lutam em favor dos animais)

Todo o bem do mundo
cabe dentro de um segundo
num sorriso que nos enlaça.

Amar é receber do vento
um sorriso em pensamento.
E a alma, entontecida,
desprende-se
como folha de outono,
da árvore do seu sono
pra sonhar no chão da vida.

Amar
é deitar-se sob o lume santo
das estrelas e sem espanto
saber-se assim distante
mas também igual.

E numa irmandade celeste,
sempre apreender a luz
desses mestres
sem solidão lilás,
e sem se ferir pra trás.

Amar...
ser doador
como o sol,
pastor como o vento,
mestre como o tempo,
enquanto vida for.

NOITES

As noites sempre vão... vão mais além...
desse púlpito de lembranças que é o luar.
Mas essa esfera imanta nuvens que me vêm
derramar a infância pelo meu olhar.

Estou, nessa vida, encarcerada
pelo escriba da noite em minha fronte.
Às vezes me desperto nessa fonte d’água
quando sei que nada sou
- apenas uma serva do horizonte.

O que vejo além do tempo que deforma
o rosto, o corpo, o pensamento:
vejo minha alma como simples rocha
que abraça o mar e se revela nos ventos.

RE-ENCONTRO

Quero adivinhar a vida
e essa luz que se infiltra
nos meus passos.

Talvez esse novo jeito de ser
seja apenas a terra a tremer
dentro do meu abraço.

Sentindo o calor do meu corpo
florescem seus campos
no meu rosto
e minha noite é seu cansaço.

Tão leves são essas horas
em que a alma se demora
propondo à terra essa irmandade.

Olhos nos olhos do amanhecer
reverencio auroras pra viver
até meu pôr-de-eternidade.

SOB O OLHAR DE UMA AZALÉIA

Me olhas com estes teus botões nascendo,
tão pequeninos e já espiando
esse retiro dos meus olhos -
porque às vezes te olho sem te ver,
quando estou longe, arqueando
os meus sóis sob este peso
das minhas saudades.
E quando descem as sombras, venho a ti.
Venho tirar-te o corpo,
desnudar-te, para vestir a minha alma.
E entrego-o sobre a terra fria,
em nome de um sentimento que tem ainda
dentro do meu peito a cor do sol
e o brilho de todas as estrelas.
Te peço perdão por esse ato de covardia.
E de coragem. Vais murchar sobre o chão,
mas renascer no âmago de minha alma.
Vais adornar aquele átrio de esperança
do templo daquele que aqui dorme
para que essa minha linguagem de mudo amor
o acorde e ele te olhe, te sinta, te ame,
e me ame em ti,
serva fiel do que de belo
ainda conservo em mim:
essa saudade viva
e o respeito por ti.

ESPERANÇA

Nasci de um sonho da noite,
quando a luz tecelã perfurou
os vitrais da aurora
e o grito das esferas ecoou pelos vales.
Revolvi-me dentro da casca
sorvendo aquele raio de vida
como se fosse o primeiro e o último.
Era imperativo renascer
das crostas dolorosas do passado,
da bifurcação da realidade presente,
e do sono das folhas que transmutam
os traços das larvas e da poeira.
Os sentidos purificaram-se à passagem
do sangue pelas letras
e da alma pelas palavras.
O que é imensidão no papel
nada mais é do que um vagido.
Um único vagido para tentar respirar
num novo amanhecer.

EPÍGRAFE

Frágil infinito azul
sob os cílios dos abismos.
Doce poente no dorso do mar
teus olhos
imensidão de ter sido

Fontes:
http://asasonoras.blogspot.com/

SIQUEIRA, Maria Lúcia. Asas ao anoitecer. Curitiba, 2004.

Lúcia Constantino


Maria Lúcia Siqueira nasceu em Curitiba, PR. Professora e tradutora (inglês e espanhol).

Estudou na Georgia State University, em Atlanta e viveu quinze anos no Rio de Janeiro, onde se formou em teatro pela Escola de Teatro Martins Pena e em espanhol pelo Centro Cultural Brasil-Argentina.

Participou, quando morava no Rio, de várias antologias literárias.

Em 2004, lançou o livro “Asas ao anoitecer”, com incentivo da Fundação Cultural de Curitiba e da empresa Eletrolux, com prefácio da poeta, jornalista e tradutora Olga Savary (RJ).

A partir de 2005, passa a escrever sob o pseudônimo de Lúcia Constantino, sobrenome adotado de sua avó materna.

Tem trabalhos publicados na Revista da Literatura Brasileira (SP), antologias (RJ) e Revista AMORC (GLP).

Estudiosa da obra de Saint-Exupèry, foi Consultora de Pesquisa e redigiu a introdução do programa da peça “O Pequeno Príncipe”, detentora do Troféu Gralha Azul, de 1998.

Obteve prêmios em concursos realizados em organismo afiliados à Ordem Rosacruz (AMORC/RJ), Litteris Editora (RJ) e Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro/ Biblioteca Popular do Grajaú.

Na Internet participa da Antologia “Saciedade dos Poetas Vivos Digital”, volume 8, editado pela Editora Blocos. Possui poemas em sites e blogs diversos, como http://asasonoras.blogspot.com/, http://recantodasletras.uol.com.br/autores/luciaconstantino, http://www.blocosonline.com.br/.

A poetisa dedica-se à causa em prol dos animais, que são sua maior paixão na vida.

Fonte:
A Autora
http://www.blocosonline.com.br/

Livia Garcia-Roza (O Cachorro)

Imagem criada por Alex Koti
Eu estava conversando com minha filha que dizia que tinha ganhado um cachorro e estava muito feliz porque havia E muito tempo ela nos pedia um cachorro, a mim e ao pai, mas nós achávamos melhor ela ter um cachorro quando estivesse com mais idade e pudesse cuidar dele. Ela dizia que ia cuidar do seu cachorro, dar banho, ração, catar as pulgas, e levá-lo pra passear. Nunca mais ia ficar longe dele. Todas as suas amigas, suas primas, e até as professoras do colégio tinham cachorro, menos ela. Na mão dela havia uma espécie de coleira feita com um cinto; o cachorro amarrado ao cinto era o seu velho ursinho de pelúcia. Então ela me perguntou se eu tinha visto seu cachorro. Eu disse que sim.

- Qual é a cor dele?
- Amarelo, eu disse.
- Não, não é amarelo, ele é preto! - E disse que eu não estava vendo direito o cachorro dela.
- Estou sim, eu disse.

Aí ela me perguntou se ele era bonito.
- Claro que é! Uma beleza! - Achei que ela ficaria feliz com a resposta.
- Não, não é, ele é feio, muito feio, mas eu gosto dele assim mesmo, respondeu. - E repetiu que eu não estava vendo o cachorro e que ele estava ficando muito triste, e ela achava que ele ia começar a chorar.
- Estou, estou vendo sim, não se preocupe, disse eu.
- Então como ele é, grande ou pequeno?
- Ah, ele é grande.
- Não é, ele é muito pequeninho, não sabe andar, acho que vou ter que levá-lo no colo.
- Mais uma pergunta, mamãe, disse ela: Ele tem rabo ou cortaram o rabo dele?
- Espera, deixa eu olhar bem. Acho que cortaram o rabo dele, disse.
- Não, nada disso! Ele tem rabo, olha.
- Está bem, filha, acho que você tem razão, a mamãe está precisando de óculos.

Então ela falou: Vamos, Bobo, vamos passear e pegou o cachorro do chão abraçando-o no colo. - Ela não é mais sua avó, disse no ouvido dele. Referia-se a mim.

Nesse momento, o pai chegou. Disse para ele que tínhamos novidade. Então contei que nossa filha tinha ganhado um cachorro de presente e estava muito feliz. Antes que ela fizesse todas as perguntas e ele errasse as respostas, perguntei se ele estava vendo o cachorro.
- Que cachorro? Disse ele.
- O cachorro que está no colo de nossa filha, meu bem.
- Que filha? Disse ele me olhando fixo.
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Lívia Garcia-Roza
carioca, é psicanalista e autora de "Quarto de Menina" (1995), "Meus queridos estranhos" (1997), "Cartão Postal" (1999), "Cine Odeon" (2001), "Solo feminino: amor e desacerto" (2002), "A palavra que veio do sul" (2004), "Meu marido" (2006) e "A cara da mãe" (2007) e "O sonho de Matilde" (2010). Organizou a antologia "Ficções Fraternas" (2003) e integra as coletâneas "Boa companhia - Contos" (2003), "25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira" (2004) e "35 segredos para chegar a lugar nenhum: Literatura de baixo-ajuda" (2006).
Os livros Cine Odeon e Solo feminino foram semifinalistas no Prêmio Jabuti.

Fonte:
Suplemento Literário de Minas Gerais -Setembro-Outubro/2010 numero 1.332.

Lyslei Nascimento (O Fascínio dos Gatos)

Linus - Foto de José Feldman
O fascínio dos gatos pelos escritores e pelas bibliotecas é imemorial. Por conta disso, os gatos habitam, assombrando ou confortando, o imaginário de tantos autores. Célebres por sua astúcia, rapidez, sensibilidade, destreza e capacidade de sobrevivência, os gatos povoam os ritos de magia e, se negros, sãos os companheiros inseparáveis das bruxas e feiticeiras. Em dias de azar, associam-se às escadas para causar obstáculos à sorte. Sua aparição no repertório de crendices populares é infinita: os gatos tem sete vidas, a gordura deles pode curar doenças respiratórias, os alérgicos a gatos, dizem, não conseguem amar.

Os espertos, metaforicamente, dão o pulo do gato. Erros, descuidos e enganos são chamados de gato. Compra-se ou vende-se gato por lebre, fascínio quando se é enganado ou se quer enganar. Os gatos simbolizam, metaforicamente, os ladrões. São, contemporaneamente, os enamorados, chamados de gato e gata, mas, desde o antigo Egito, possuíam a condição ilustre de deuses. Gatos obesos são objeto do “olho gordo” que é dirigido aos seus donos.

Outros tantos provérbios, máximas populares e expressões caracterizam esse animal em sua rica acepção simbólica. Escritores famosos dedicaram obras ou criaram gatos ilustres como personagens: Kipling, T.S. Eliot, Baudelaire, Lewis Carroll, Edgar Alan Poe, só para citar alguns. Memoráveis são também os gatos dos contos de fadas, O Gato de Botas, os gatos das Histórias em Quadrinhos e, também, dos filmes de animação.

Joaquina cochila, indiferente, sob os livros de Borges. No poema “Beppo”, Jorge Luis Borges homenageia o “gato branco e casto” que se contempla no luzidio vidro do espelho e não pode saber que essa brancura e esses olhos de ouro nunca vistos são sua própria imagem. Em outro poema, “A um gato”, o animal se transforma e transcende: é, à luz da lua, uma pantera, que ao longe divisamos temerosos. Adivinha, Borges, que em minha biblioteca, Joaquina, anos depois, leria, com olhos de ouro, páginas amarelas. Avizinha-se, pois, em Borges, os gatos, os espelhos e a pantera. Gesto que se repete no conto “A escrita de Deus”, em que o narrador imagina uma rede de tigres, um quente labirinto de tigres, onde reside um mistério.

Em “Ode ao gato”, de Pablo Neruda, o poeta afirma que “todo o terrestre, porque tudo é imundo para o imaculado pé do gato”. Desse modo, narra-se, como uma fábula, a criação dos animais, que imperfeitos se apresentam compridos de rabo, tristes de cabeça. “Pouco a pouco se foram compondo, fazendo-se paisagem, adquirindo pintas, graça vôo”. Mas “o gato, só o gato apareceu completo e orgulhoso: nasceu completamente terminado, anda sozinho e sabe o que quer”.

Otto Lara Resende, no Brasil, no extraordinário “Gato gato gato”, descobre que “a palavra não cabe o gato, toda a verdade de um gato” e que no duelo entre gato e menino, no quintal, estabelece-se o que poderia ser, belicamente, o milagre da comunicação perfeita. O gato, o alvo. O gato é o alvo. A pedrada passa assobiando pela crista do muro. O gato corre, elástico e cauteloso. “Inatingível às pedras e ao perigoso desafio de dois seres a se medirem”, sumiu por baixo da parreira ao sol. Dessa vez, ufa… escapa da pedrada. Outras pedras, outro menino, o encontrarão no caminho. Desenham-se, assim, as presas inúteis, a boca entreaberta. “O gato fora do gato, somente o corpo do gato”, “O gato sem o que nele é gato”, "a morte, que é ausência de gato no gato”.

“Os gatos da tinturaria”, de Cecília Meireles, são misteriosos e reais. No chão xadrez, ruídos “atropelam a geometria” e os “grandes gatos abrem compridos bocejos”. Assim, diz a poeta, proclamam a monarquia da renúncia e, tranquilos, vencidos, “dormem seu tempo de agonia”. Em sua realeza, a que renunciam e de quais batalhas se sentem vencidos?

A realeza dos gatos da tinturaria que se inscreve, sob um manto de bocejos, em Cecília, aparece, sutil, no poema “Pensão familiar”, de Manuel Bandeira. No jardim, há gatos espaçados ao sol. Um deles, pequenino, faz pipi e, registra o poeta, “encobre cuidadosamente a mijadinha”, “sai vibrando com elegância a patinha direita”, sendo este, “a única criatura fina na pensãozinha burguesa”.

No poema “Gatos que brincas na rua”, de Fernando Pessoa, o poeta inveja a sorte do gato que brinca na rua como se fosse na cama. Assim, a rua pública é comparada à cama, íntima e pessoal. Por isso, a felicidade do gato: “és feliz porque és assim, todo o nada que és é teu”. Os gatos na tinturaria, os gatos ensolarados da pensãozinha e os gatos de rua, são membros de uma genealogia de príncipes e de mendigos. Todos divinos e célebres. Todos, como “O gato”, de Vinícius de Moraes, possuem uma singela realeza. Os gatos passam do chão ao muro, mudando de opinião. Do muro ao chão, espaços sazonais para os felinos.

Gatos somem no Rio de Janeiro, diz a crônica “Perde o gato”, de Carlos Drummond de Andrade, marcando a indústria doméstica das cuícas à perda de Inácio. Para Drummond, livros e papéis beneficiam-se com a presteza austera do gato. Depois do sumiço de Inácio, a mesa do escritório se desvaloriza. Se se agravar a mediocridade das crônicas, admite, é falta de Inácio. O poeta, assim, reivindica mais do que a coruja, o gato como símbolo e guardião da vida intelectual. Nada contra as corujas.

Os dois gatos de meu amigo Rodrigo Gurgel, sentados sobre o Houaiss, ou esparramados no sofá, com os olhos faiscando num verde ambíguo, e, mostrando que sua intimidade com a biblioteca não tem sido vã, e Joaquina, branca, como nuvem em dia de sol, sobre os tomos de Borges, sugerem o final do ensaio “Os gatos, as bibliotecas e a literatura”, de Rodrigo, sussurrando-lhe, ao ouvido, uma frase que fecha o seu texto iluminado. Com esse sussurro, uma frase de Jean Cocteau, também termino “O fascínio dos gatos”: “Prefiro os gatos aos cães, porque não há gatos policiais”.

Fonte:
Suplemento Literário de Minas Gerais -Setembro-Outubro/2010 - edição 1332.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.70)


Trova do Dia

Trouxe um anjo às almas puras
a boa-nova mais linda:
- Glória ao Senhor nas alturas,
e aos homens a paz infinda!
A. A. DE ASSIS/PR

Trova Potiguar

Desejo aos amigos meus
um Natal pleno de luz,
com todas bênçãos de Deus
e a santa paz de Jesus!
CLARINDO BATISTA/RN

Uma Trova Premiada

2001 > Petróplis/RJ
Tema > “JESUS” > 25º Lugar.

Que o renascer de JESUS,
nesta Noite de Natal,
traga uma réstia de luz
à cegueira universal!...
MARIA MADALENA FERREIRA/RJ

Uma Trova de Ademar

Por coisas que nos consomem,
peço ao filho de Maria
que, no coração do homem
haja um Natal todo dia.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Deus na terra... Eis o Natal!
Repicam sinos... Festanças...
Feriado nacional
no coração das crianças!
J. G. DE ARAÚJO JORGE/AC

Estrofe do Dia

Mamãe, cadê meu presente?
perguntei já acordando.
ela foi se desviando
da resposta sutilmente
e me disse: - Zé Vicente
prometeu... nele eu confio!
Vá lá na beira do rio
pra ver se ele voltou!
papai Noel desprezou
meu sapatinho vazio.
WELLINGTON VICENTE/PE

Soneto do Dia

– Carolina Azevedo de Castro/PE –
O NATAL DO REI.

Numa cascata azul, resplandecente,
do firmamento à Terra se estendeu
a luz da estrela-guia, lentamente,
na santa noite em que Jesus nasceu!

Jerusalém vibrara intensamente,
quando a feliz notícia recebeu,
e postara-se, em preces, toda a gente,
em honra ao soberano Galileu.

Repleta estava a humilde estrebaria
e entre reis e pastores, enlevada,
orava a Mãe das Mães, Virgem Maria...

Velava pelo sono angelical
daquela criancinha bem-amada,
no seu mais belo e cândido Natal!...

Fonte:
Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) Capítulo XXI: Os Vícios de Linguagem

Logo depois Dona Sintaxe disse:

— Vou agora mostrar a vocês os vícios DE LINGUAGEM.

— Quê?! Andam soltos pela cidade, esses monstros?

— Não, menina. Os Vícios, eu os conservo em jaulas, como feras perigosas. Vamos vê-los.

A grande dama tomou a frente e os meninos a acompanharam até a uma cadeia com grades nas janelas e toda dividida em cubículos, também gradeados. Dentro desses cubículos estavam O BARBARISMO, O SOLECISMO, a ANFIBOLOGIA, a OBSCURIDADE, O CACÓFATO, O ECO, O HIATO, a COLISÃO, O ARCAÍSMO, O NEOLOGISMO e O PROVINCIANISMO.

Pedrinho notou que havia ainda um cubículo sem nenhuma fera dentro.

— E o Vício aqui desta gaiola?

— Esse já se reabilitou e anda solto pela cidade nova. Só não tem licença de aparecer na cidade velha.

— Quem era ele?

— O BRASILEIRISMO. . .

Emília espiou para dentro do primeiro cubículo, onde um monstro cabeludo estava a roer as unhas. Era o BARBARISMO.

— Que mal faz ao mundo este "cara-de-coruja"? — perguntou ela.

— Gosta de fazer as pessoas errarem estupidamente na pronúncia e no modo de escrever as palavras. Sempre que você ouvir alguém dizer poribir em vez de proibir, sastifeito em vez de satisfeito, púdico em vez de pudico, percurar ou percisa em vez de procurar ou precisa, saiba que é por causa deste cretino. Emília passou ao cubículo imediato, onde havia outro "cara-de-coruja" ainda mais feio.

— E este? — perguntou.

— Este é o tal SOLECISMO, outro idiota que faz muito mal à língua. Quando uma pessoa diz: Haviam muitas moças na festa, em vez de Havia muitas moças, está cometendo um Solecismo. Fui na cidade em vez de Fui à cidade, Vi ele na rua, em vez de Vi-o na rua, Não vá sem eu, em vez de Não vá sem mim, são outras tantas "belezas" que saem da cachola deste imbecil.

Emília botou-lhe a língua e passou ao terceiro cubículo. Viu lá dentro um vulto de mulher com duas caras.

— E esta "bicarada"? — perguntou.

— Esta é a ANFIBOLOGIA, que faz muita gente dizer frases de sentido duplo, ou duvidoso, como: Ele matou-a em sua casa. Em casa de quem, dele ou dela? Quem ouve fica na dúvida, porque a matança tanto pode ter sido na casa do matador como da matada.

Emília passou a espiar o quarto cubículo, onde estava presa uma negra muito feia, preta que nem carvão.

— E esta pretura? — perguntou.

— Esta é a OBSCURIDADE, que faz muita gente dizer frases sem nenhuma clareza, dessas que deixam quem as ouve na mesma.

Emília passou ao quimo cubículo, onde viu um sujeito sujo e de cara cínica.

— E este porcalhão?

— Este é o CACÓFATO, que faz muita gente ligar palavras de modo a formar outras de sentido feio, como aquele sujeito que ouviu no teatro uma grande cantora e foi dizer a um amigo: Ela trina que nem um sabiá. . .

Emília tapou o nariz e dirigiu-se ao sexto cubículo, onde estava um maluco muito barulhento.

— E este, com cara de cachorro? — indagou.

— Este é o ECO, que faz muita gente formar frases cheias de latidos, ou com desagradável repetição de sons. Quem diz: O pão de sabão caiu no chão late três vezes numa só frase, tudo por causa desta bisca.

Emília passou ao sétimo cubículo, onde havia um freguês com cara de gago.

— E este pandorga? — perguntou.

— Este é o HIATO, que faz muita gente formar frases com acentuação incômoda para os ouvidos. Quem diz: A aula é lá fora está sendo vítima deste Senhor Hiato.

Emília passou ao oitavo cubículo, onde estava presa uma mulher, toda requebrada.

— E esta ciciosa? — perguntou.

— Esta é a COLISÃO, que faz muita gente dizer frases cheias de consonâncias desagradáveis. Zumbindo as asas azuis é uma frase com o vício da Colisão.

Emília passou ao nono cubículo, onde estava um velho de cabelos brancos, todo coberto de teias de aranha.

— Este Matusalém?

— Este é o ARCAÍSMO, que faz muita gente pedante usar palavras que já morreram há muito tempo e que, portanto, ninguém mais entende.

—Já estive no bairro das palavras Arcaicas e travei conhecimento com algumas — observou Narizinho. — Mas por que está preso o pobre velho? Ele não tem culpa de haver palavras arcaicas.

— Mas tem culpa de botar essas velhas corocas nas frases modernas. Para que não faça isso é que está encarcerado.

Emília passou ao décimo cubículo, onde estava preso um moço muito pernóstico.

— E este aqui, tão chique? — perguntou.

— Este é o NEOLOGISMO. Sua mania é fazer as pessoas usarem expressões novas demais, e que pouca gente entende.

Emília, que era grande amiga de Neologismos, protestou.

— Está aí uma coisa com a qual não concordo. Se numa língua não houver Neologismos, essa língua não aumenta. Assim como há sempre crianças novas no mundo, para que a humanidade não se acabe, também é preciso que haja na língua uma contínua entrada de Neologismos. Se as palavras envelhecem e morrem, como já vimos, e se a senhora impede a entrada de palavras novas, a língua acaba acabando. Não! Isso não está direito e vou soltar este elegantíssimo Vício, já e já. . .

— Não mexa, Emília! — gritou Narizinho. — Não mexa na Língua, que vovó fica danada. . .

— Mexo e remexo! — replicou a boneca batendo o pezinho, e foi e abriu a porta e soltou o Neologismo, dizendo: — Vá passear entre os vivos e forme quantas palavras novas quiser. E se alguém tentar prendê-lo, grite por mim, que mandarei o meu rinoceronte em seu socorro. Quero ver quem pode com o Quindim. . .

Dona Sintaxe ficou um tanto passada com aquele rompante da Emília, mas nada disse. Quindim estava perto, de chifre pronto para entrar em cena ao menor sinal da boneca. . .

— Como está ficando despótica — murmurou a menina para Pedrinho. — Ainda acaba fazendo uma revolução e virando ditadora. . .

— É de tanta ganja que vocês lhe dão — observou o menino com uma ponta de inveja.

Emília encaminhou-se para o último cubículo, onde estava preso um pobre homem da roça, a fumar o seu cigarrão de palha.

— E este pai da vida que aqui está de cócoras? — perguntou ela.

— Este é o PROVINCIANISMO, que faz muita gente usar termos só conhecidos em certas partes do país, ou falar como só se fala em certos lugares. Quem diz naviu, menino, mecê, nhô, etc. está cometendo Provincianismos.

Emília não achou que fosse caso de conservar na cadeia o pobre matuto. Alegou que ele também estava trabalhando na evolução da língua e soltou-o.

— Vá passear, Seu Jeca. Muita coisa que hoje esta senhora condena vai ser lei um dia. Foi você quem inventou o Você em vez de Tu e só isso quanto não vale? Estamos livres da complicação antiga do Tuturututu. Mas não se meta a exagerar, senão volta para cá outra vez, está ouvindo?

O Provincianismo agarrou a trouxinha, o pito, o fumo e as palhas e, limpando o nariz com as costas da mão, lá se foi, fungando. Tão bobo, o coitado, que nem teve a idéia de agradecer à sua libertadora.

— Não há mais nenhum? — perguntou Emília logo que o Jeca se afastou.

— Felizmente, não — respondeu Dona Sintaxe. — Estes já bastam para me deixar tonta.

Terminada a visita aos Vícios de Linguagem, os meninos ficaram sem saber para onde ir.

— Esperem! íamo-nos esquecendo do Visconde. Temos de continuar na "campeação" dele — disse Emília, mordendo o lábio e olhando firme para a Sintaxe, a ver que cara ela faria diante daquela "campeação".

— Isso depois — opinou Pedrinho. — Estou com vontade agora de ver como as Orações se formam.

— Pois vamos a isso — concordou Dona Sintaxe. — Há aqui perto um jardim muito freqüentado pelas Senhoras Orações.

— Quem são essas damas?

— São frases que formam sentido, ou que dizem uma coisa que a gente entende.

— E a frase que não forma sentido? — perguntou Emília.

— Isso não é nada. É bobagem. . . — respondeu Dona Sintaxe, afastando-se dali.
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Continua ... Capítulo XXII: As Orações ao Ar Livre
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Carlos Neto (A Morte do Cão)


Esta poesia já havia sido publicada, contudo não estava completa, e não conseguia obter a parte que o completava, até que um leitor do blog, o Padre Getúlio de Alencar, possuía o texto completo, extraido de um único exemplar da biblioteca do Senado Federal em Brasília, e mui cordialmente enviou ao Pavilhão, o qual agradeço a atenção para divulgar esta jóia da poesia, triste, mas maravilhosa.
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Chamaram-no Gelert. Soberbo cão de raça
Que um caçador famoso, um doudo pela caça,
Mandara vir de fora a peso de dinheiro;
Era um ídolo o cão, e ao carinho doce
Dos agrados gentis, o cão acostumou-se
A consagrar também a vida ao companheiro.

Na época melhor das ótimas caçadas,
Os dois partiam sós, à luz das alvoradas,
Buscando o coração estúpido das matas,
E voltavam depois, alegres e contentes,
Despertando em redor os íncolas dormentes,
Ao compassado som de estranhas serenatas.

Quantas vezes na caça o dente das panteras,
O bramido soturno e tétrico das feras,
Ameaçaram do cão o derradeiro instante! ...
Que perigos passou, quanta arriscada empresa
Não sofrera fiel, para apanhar a presa
Que ao dono provocasse um bravo delirante! ...

Mas, depois de algum tempo o cão envelhecido,
Desdentado, sem força, exausto, entorpecido,
Já bem dificilmente acompanhava o dono.
Era um cão sem valor, inútil companhia
Que preciso se fez, de dia para dia,
Ir deixando ficar em mísero abandono.

A fortuna também girou rapidamente;
E o velho caçador tão rico, de repente,
Sentiu minguar-lhe o pão, sentiu faltar-lhe o ouro;
A morte lhe roubara a esposa muito amada,
E ele viu sua casa erma e abandonada,
Tendo um filhinho só por único tesouro.

Um dia, disfarçando o peso da desgraça
Que aos poucos lhe esmagava o triste coração,
Ele partiu, cantando às emoções da caça,
Mas quis partir sozinho, e acorrentara o cão.

0 pobre companheiro, a pérola do pranto
Descera, mas ao ver o caçador contente,
O pobre cão lá foi resignado a um canto
Deitar-se, carregando o peso da corrente.

A noite que descia,
Em silencio profundo e em trevas envolvia
A casa. De repente
Ouve-se estranho passo. E logo, frente a frente,
Negro, ameaçador, sinistro, fero, enorme,
Farejando a amplidão, faminto, um lobo avança.
E lá no berço a criancinha dorme,
Como dorme no berço uma criança ...

Nesse momento,
No turvo olhar do cão, lucila um pensamento.
O lobo se aproxima... Escancarada a porta
Encontrava-se então ... Eis repentinamente,
A ganir, a uivar, o cão forceja e corta,
Num ímpeto de amor, os elos da corrente.
Travou-se então uma horrorosa luta,
No silencio da noite, indiferente e bruta...

Surdo ranger de dentes,
Ossos que estalam, ímpetos frementes
E contrações de dor, e urros, e gemidos,
Mil instintos da raiva em gritos comprimidos,
Na sede da vingança, e baques pelo chão,
Tudo acordava em torno a quieta solidão...
E o sangue a borbulhar, e o fogo do cansaço,
E a relva machucada, estendem pelo espaço
Um acre odor de guerra ...

Depois ... o baquear d'um corpo, em cheio, em terra,
Depois... um abafado e último gemido ...
- Um preito ao vencedor por parte do vencido -
Depois, diminuindo gradativamente,
Vagaroso arrastar de um corpo indiferente.
Depois. .. depois mais nada !
Era a tragédia finda e a noite sossegada ...

Mais tarde, ao despertar da fresca madrugada,
O caçador voltara.
E vendo a porta aberta e a casa palmilhada
Com o sangue do cão,
Corre para o filhinho... anseia... estua, para,
E ao ver ensangüentado o berço da criança
E vazio... Estremece, aperta o coração
E louco de amor paterno e louco de vingança,
Apanha junto ao peito o cabo do punhal,
E vendo aos pés, a festejar-lhe, o cão,
Atira um golpe rijo ao peito do animal,
Que exânime resvala em último estertor.
Mas nisto, ouve uma voz que chama o caçador:
"Papá ... Papá!" Alucinado, incerto,
(Era a voz do filhinho. .. o filho estava perto)
Correu - e espavorido ... atônito, absorto,
O foi achar contente, e rindo, e sossegado,
Junto à casa do cão; e ali, bem perto, ao lado,
O lobo enorme ensanguentado e morto.

Fontes:
- Imagem = http://www.maedecachorro.com.br/
- Poesia completa gentilmente enviada pelo Padre Getúlio de Alencar

Cida Freitas (Poesias Avulsas)


INQUIETAÇÃO

Se alguém pensa que é ruim estar inquieto
Não sabe o que é inquietação.
É ela que empurra a gente
Para buscar, de repente,
O que nem estava nos planos.
Inquietar-se é não se conformar
É não se omitir, é não se acomodar...
Inquietar-se é questionar a vida
Quando ela está mal resolvida...
É buscar verdades, é querer saber
É perguntar a Deus que quer responder...
É discordar da hipocrisia
Da corrupção, da covardia...
É descobrir-se também construtor do mundo
Num desprendimento profundo...
Inquietar-se é querer ternura
É dizer não à violência
É projetar utopias
É construir consciências...
Inquietar-se é não aceitar discursos vazios
De quem não possui ideal...
É fortalecer-se no outro que pensa igual
Inquietar-se é ser meio louco, meio poeta
Que projeta absurdos é fazer deles sua meta
Sabendo que o absurdo é relativo...
O louco é quem ousa
E quem não ousa não vai longe...
Poeta é quem vê portas no universo
E define a vida num verso...
É quem sabe que o relativo é importante
E o que o absoluto também é relativo...
Inquietar-se é ter coragem de revirar as ilusões
De colocar-se cara a cara com a vida
E com ela aprender as lições...
Inquietar-se é descobrir que só encontra quem busca
E só busca quem se inquieta
Verdade não só de louco e de poeta.

ESPERA

Pensando bem, a vida é uma longa espera:
Espero que amanheça
Que todo bem aconteça
Que a chuva não venha forte
Que o vento não traga a morte
Espero que meus filhos cresçam
E diante dos obstáculos não esmoreçam
Espero a filha que presta vestibular
Espero o amor que prometeu voltar
Espero estar viva amnhã
E não precisar de um divã...
Espero encontrar um amigo
Que saiba dialogar comigo
Espero que o mundo se entenda
Para evitar a morte horrenda
Espero que o Sol não nos mate
E a camada de ozônio se salve
Espero que a Amazônia não seja
Apenas o pulmão que se almeja
Espero que a consciência exista
E à hipocrisia resista...
Espero que os poderosos aprendam
Que o mundo não é só deles
Espero que o ser humano se encontre
No amor, na fé, na procura
Espero que Deus me dê forças
Pra que eu dê conta do recado
Espero que a igreja mude
Seu conceito de pecado
Espero que o mundo seja
Um lugar de muita paz
Espero que tudo se ajeite
Pra que possamos ser nós
Espero que o homem compreenda
Que todos precisam ter voz
Espero viver mais cem anos
Pra compreender os enganos
Espero que a vida aconteça
Em todo momento que existe
Espero ser feliz hoje e sempre
Pois não saberia ser triste
Espero ter descoberto
Que nem tudo é quimera
E que apesar de se ir à luta
A vida é mesmo uma espera.
–––––––-

OBS: Poesia que reflete um pouco da angústia de não poder interferir em certos aspectos da vida já que somos alguém limitado nessa complexidade que é existir.
Este poema faz parte do livro: Um Pouco de Nòs editado em 1991 pela Editora EDICON - SP.

Fonte:
http://sitedepoesias.com/poesias/28144

Cida Freitas (1950)


Nasceu em 14 de junho de 1950 na cidade de Santa Mariana, Pr, onde concluiu seus estudos primários e secundários. Filha de Júlio de Freitas e Palmira Mareze de Freitas, é a segunda dos seis irmãos. Cursou Letras pela Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão, hoje, UNESPAR. Na mesma Instituição fez o Curso de Especialização em Língua Portuguesa e, posteriormente, especializou-se em Supervisão Escolar. Casou-se em 1971 com Hélio Dias França com quem teve quatro filhos: Tânia, Luci Mara, Susi e Júnior. Divorciou-se em 1990.

Profissionalmente começou como balconista em sua cidade natal aos 14 anos. Aos dezoito, prestou concurso municipal e passou a lecionar no distrito Panema em Santa Mariana. No ano seguinte trabalhou no distrito Quinzópolis, no mesmo município. Após o casamento, mudou-se para Jesuítas, 1971, ano em que lecionou Língua Portuguesa na Escola Normal (Ensino Médio) na cidade de Formosa D'Oeste.

Em 1972 transferiu-se para Cianorte e em 1974, abriu uma empresa comercial de produtos esportivos. Optou pelo ramo empresarial para poder ficar perto dos filhos. Em 1979, transfere-se para Campo Mourão, onde abre a Casa dos Esportes que funcionou até 1996.

Voltou para o magistério em 1986. Lecionou no Colégio João D’ Oliveira Gomes, FECILCAM, Colégio Integrado e, há 10 anos, trabalha como Supervisora Pedagógica no Colégio Vicentino Santa Cruz onde, em 1995, ajudou a criar o curso de Ensino Médio. Em 1996, casou-se com o professor Jacó Gimenes e juntos criaram a empresa Instituto de Cultura e Desenvolvimento da qual foi sócia proprietária. Em 2000 criou o Centro Interativo de Aprendizagem.

Começou como escritora aos 14 anos, quando venceu um concurso promovido pela Secretaria Estadual de Educação, escrevendo 40 páginas sobre Natureza.

Em 1987, incentivada pela professora Sinclair Pozza Casemiro, participou do “I Varal de Poesias da FECILCAM” ficando com três dos cinco prêmios.

Lançou seu primeiro livro, “VIDA E POESIA”, na IV Bienal do Livro, no Rio de Janeiro em 1989. Depois vieram: “DEUS ABSTRATO”; “UM POUCO DE NÓS”; “TOQUE DA ALMA” e a revista especial “MÃE”, lançada pelo Rotary Club Verdes Campos durante a XLI Conferência Distrital em Campo Mourão.

Participa das Antologias: “Benditos Alternativos e Independentes” (EDICON-SP); “Antologia de Contos, Crônicas e Poesias” (EDICON-SP); “Selectio Prima” (FICILCAM-PR); “Proseando” (EDICON-SP); “Poeta, mostra tua cara” (Edições Garatuja-RS); “Vivência” (Artes Gráficas Mourãoense-PR). Assinou, por dois anos, a coluna “Vida e Poesia” no jornal Tribuna do Interior; hoje escreve para a Gazeta do Centro Oeste em sua coluna “Pensando...”.

Possui publicações no jornal “Turismo é Aqui”, na revista do “Lions Club”, fevereiro de 2002 e em jornais alternativos. Compôs para o CD “Meu Canto em Oração” (Paulinho): “Meu Querer”; “Doce pedido” e “Oferenda”. Para o CD Meu Canto em Oração II, compôs: “Só tu, Senhor”; “Meu canto”; “Minha Senhora” e “Oração”.

Foi membro da ACICAM, onde integrou a Diretoria por três gestões consecutivas. Presidente do Fórum Popular de Cultura. Coordenadora da Associação de Educação Católica do Paraná (AEC), Núcleo de Campo Mourão.

É membro da AME Associação Mourãoense de Escritores.

Cadeira numero 8 da Academia Mourãoense de Letras.

Membro do Conselho Municipal do Turismo, coordenando a área de Cultura. Presidente da Academia Mourãoense de Letras no biênio 2008-2010.

Fonte:
http://www.academiacm.org.br/academicos/cida-freitas