sábado, 19 de abril de 2008

XVI Congresso Brasileiro de Poesia (120 anos de Fernando Pessoa)

A coordenação do CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA, em sua décima-sexta edição, definiu os homenageados deste ano: Portugal e os cento e vinte anos de nascimento do poeta Fernando Pessoa.

Parceria neste sentido foi firmada entre o Proyecto Cultural Sur/Brasil, Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves, Instituto Cultural Português e Consulado de Portugal no Rio Grande do Sul, em encontro recentemente realizado na capital do Estado.
Na oportunidade, o cônsul Dr. Pedro Coelho recebeu o prefeito em exercício de Bento Gonçalves, Jaury da Silveira Peixotto e o coordenador-geral do evento, Ademir Antonio Bacca, ciceroneados pelo presidente do Instituto Cultural Português, António Soares.

Durante o encontro, que também contou com a participação da Diretora Cultural do ICP, Santa Inéze da Rocha, e da Secretária do Congresso, Maria Clara Segóbia, foi apresentada a proposta de homenagem por parte do município de Bento Gonçalves ao poeta maior da língua portuguesa, que recebeu entusiasmada adesão do representante diplomático português no estado gaúcho.

Ficou acertado já no primeiro encontro que, através do Instituto Cultural Português, serão realizadas diversas atividades culturais alusivas a Fernando Pessoa e também à literatura portuguesa na cidade de Bento Gonçalves já a partir do mês de maio, durante a realização da Feira do Livro, atividades estas preparatórias ao Congresso Brasileiro de Poesia, que será realizado entre os dias 6 e 11 de outubro vindouro.

O consulado intermediará a vinda de poetas portugueses ao evento, que é considerado o maior encontro de poetas realizado no Brasil e um dos três mais importantes de toda as Américas.
Fonte:
Colaboração de Douglas Lara, in www.sorocaba.com.br/acontece

Dia do Índio (19 de Abril)

História do Dia do Índio

Comemoramos todos os anos, no dia 19 de Abril, o Dia do Índio. Esta data comemorativa foi criada em 1943 pelo presidente Getúlio Vargas, através do decreto lei número 5.540. Mas porque foi escolhido o 19 de abril?

Para entendermos a data, devemos voltar para 1940. Neste ano, foi realizado no México, o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano. Além de contar com a participação de diversas autoridades governamentais dos países da América, vários líderes indígenas deste contimente foram convidados para participarem das reuniões e decisões. Porém, os índios não compareceram nos primeiros dias do evento, pois estavam preocupados e temerosos. Este comportamento era compreensível, pois os índios há séculos estavam sendo perseguidos, agredidos e dizimados pelos “homens brancos”.

No entanto, após algumas reuniões e reflexões, diversos líderes indígenas resolveram participar, após entenderem a importância daquele momento histórico. Esta participação ocorreu no dia 19 de abril, que depois foi escolhido, no continente americano, como o Dia do Índio.

Comemorações e Importância da data

Neste dia do ano ocorrem vários eventos dedicados à valorização da cultura indígena. Nas escolas, os alunos costumam fazer pesquisas sobre a cultura indígena, os museus fazem exposições e os minicípios organizam festas comemorativas. Deve ser também um dia de reflexão sobre a importância da preservação dos povos indígenas, da manutenção de suas terras e respeito às suas manifestações culturais.

Devemos lembrar também, que os índios já habitavam nosso país quando os portugueses aqui chegaram em 1500. Desde esta data, o que vimos foi o desrespeito e a diminuição das populações indígenas. Este processo ainda ocorre, pois com a mineração e a exploração dos recursos naturais, muitos povos indígenas estão perdendo suas terras.

Índios do Brasil

Introdução

Historiadores afirmam que antes da chegada dos europeus à América havia aproximadamente 100 milhões de índios no continente. Só em território brasileiro, esse número chegava 5 milhões de nativos, aproximadamente. Estes índios brasileiros estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco lingüístico ao qual pertenciam: tupi-guaranis (região do litoral), macro-jê ou tapuias (região do Planalto Central), aruaques (Amazônia) e caraíbas (Amazônia ).

Atualmente, calcula-se que apenas 400 mil índios ocupam o território brasileiro, principalmente em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo governo. São cerca de 200 etnias indígenas e 170 línguas. Porém, muitas delas não vivem mais como antes da chegada dos portugueses. O contato com o homem branco fez com que muitas tribos perdessem sua identidade cultural.

A sociedade indígena na época da chegada dos portugueses.

O primeiro contato entre índios e portugueses em 1500 foi de muita estranheza para ambas as partes. As duas culturas eram muito diferentes e pertenciam a mundos completamente distintos. Sabemos muito sobre os índios que viviam naquela época, graças a Carta de Pero Vaz de Caminha (escrivão da expedição de Pedro Álvares Cabral ) e também aos documentos deixados pelos padres jesuítas.

Os indígenas que habitavam o Brasil em 1500 viviam da caça, da pesca e da agricultura de milho, amendoim, feijão, abóbora, bata-doce e principalmente mandioca. Esta agricultura era praticada de forma bem rudimentar, pois utilizavam a técnica da coivara (derrubada de mata e queimada para limpar o solo para o plantio).

Os índios domesticavam animais de pequeno porte como, por exemplo, porco do mato e capivara. Não conheciam o cavalo, o boi e a galinha. Na Carta de Caminha é relatado que os índios se espantaram ao entrar em contato pela primeira vez com uma galinha.

As tribos indígenas possuíam uma relação baseada em regras sociais, políticas e religiosas. O contato entre as tribos acontecia em momentos de guerras, casamentos, cerimônias de enterro e também no momento de estabelecer alianças contra um inimigo comum.

Os índios faziam objetos utilizando as matérias-primas da natureza. Vale lembrar que índio respeita muito o meio ambiente, retirando dele somente o necessário para a sua sobrevivência. Desta madeira, construíam canoas, arcos e flechas e suas habitações (ocas ). A palha era utilizada para fazer cestos, esteiras, redes e outros objetos. A cerâmica também era muito utilizada para fazer potes, panelas e utensílios domésticos em geral. Penas e peles de animais serviam para fazer roupas ou enfeites para as cerimônias das tribos. O urucum era muito usado para fazer pinturas no corpo.

A organização social dos índios

Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco. Todos têm os mesmo direitos e recebem o mesmo tratamento. A terra, por exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo. Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões) são de propriedade individual. O trabalho na tribo é realizado por todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. As mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores.

Duas figuras importantes na organização das tribos são o pajé e o cacique. O pajé é o sacerdote da tribo, pois conhece todos os rituais e recebe as mensagens dos deuses. Ele também é o curandeiro, pois conhece todos os chás e ervas para curar doenças. Ele que faz o ritual da pajelança, onde evoca os deuses da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura. O cacique, também importante na vida tribal, faz o papel de chefe, pois organiza e orienta os índios.

A educação indígena é bem interessante. Os pequenos índios, conhecidos como curumins, aprender desde pequenos e de forma prática. Costumam observar o que os adultos fazem e vão treinando desde cedo. Quando o pai vai caçar, costuma levar o indiozinho junto para que este aprender. Portanto a educação indígena é bem pratica e vinculada a realidade da vida da tribo indígena. Quando atinge os 13 os 14 anos, o jovem passa por um teste e uma cerimônia para ingressar na vida adulta.

Os contatos entre indígenas e portugueses

Como dissemos, os primeiros contatos foram de estranheza e de certa admiração e respeito. Caminha relata a troca de sinais, presentes e informações. Quando os portugueses começam a explorar o pau-brasil das matas, começam a escravizar muitos indígenas ou a utilizar o escambo. Davam espelhos, apitos, colares e chocalhos para os indígenas em troca de seu trabalho.

Interessados nas terras, os portugueses usaram a violência contra os índios. Para tomar as terras, chegavam a matar os nativos ou até mesmo transmitir doenças a eles para dizimar tribos e tomar as terras. Esse comportamento violento seguiu-se por séculos, resultando no pequenos número de índios que temos hoje.

A visão que o europeu tinha a respeito dos índios era eurocêntrica. Os portugueses achavam-se superiores aos indígenas e, portanto, deveriam dominá-los e colocá-los ao seu serviço. A cultura indígena era considera pelo europeu como sendo inferior e grosseira. Dentro desta visão, acreditavam que sua função era convertê-los ao cristianismo e fazer os índios seguirem a cultura européia. Foi assim, que aos poucos, os índios foram perdendo sua cultura e também sua identidade.

Algumas tribos eram canibais como, por exemplo, os tupinambás que habitavam o litoral da região sudeste do Brasil. A antropofagia era praticada, pois acreditavam que ao comerem carne humana do inimigo estariam incorporando a sabedoria, valentia e conhecimentos. Desta forma, não se alimentavam da carne de pessoas fracas ou covardes. A prática do canibalismo era feira em rituais simbólicos.

Religião Indígena

Cada nação indígena possuía crenças e rituais religiosos diferenciados. Porém, todas as tribos acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos antepassados. Para estes deuses e espíritos, faziam rituais, cerimônias e festas. O pajé era o responsável por transmitir estes conhecimentos aos habitantes da tribo. Algumas tribos chegavam a enterrar o corpo dos índios em grandes vasos de cerâmica, onde além do cadáver ficavam os objetos pessoais. Isto mostra que estas tribos acreditavam numa vida após a morte.

Principais etnias indígenas brasileiras na atualidade e população estimada
Ticuna (35.000), Guarani (30.000), Caiagangue (25.000), Macuxi (20.000), Terena (16.000), Guajajara (14.000), Xavante (12.000), Ianomâmi (12.000), Pataxó (9.700), Potiguara (7.700).

Fontes:
Funai (Fundação Nacional do Índio).
http://www.suapesquisa.com/datascomemorativas/dia_do_indio.htm

Augusto Monterroso (O Coelho e o Leão)

Um célebre Psicanalista encontrou-se certo dia no meio da selva, semiperdido.

Com a força que dão o instinto e o desejo de investigação, conseguiu facilmente subir numa árvore altíssima, da qual pôde observar à vontade não apenas o lento pôr-do-sol mas também a vida e os costumes de alguns animais, que comparou algumas vezes com os dos humanos.

Ao cair da tarde viu aparecer, por um lado, o Coelho; por outro, o Leão.

A princípio não aconteceu nada digno de mencionar, mas pouco depois ambos os animais sentiram as respectivas presenças e, quando toparam um com o outro, cada qual reagiu como desde que o homem é homem.

O Leão estremeceu a selva com seus rugidos, sacudiu majestosamente a juba como era seu costume e feriu o ar com suas garras enormes; por seu lado, o Coelho respirou com mais rapidez, olhou um instante nos olhos do Leão, deu meia-volta e se afastou correndo.

De volta à cidade, o célebre Psicanalista publicou cum laude seu famoso tratado em que demonstra que o Leão é o animal mais infantil e covarde da Selva, e o Coelho, o mais valente e maduro: o Leão ruge e faz gestos e ameaça o universo movido pelo medo; o Coelho percebe isso, conhece sua própria força, e se retira antes de perder a paciência e acabar com aquele ser extravagante e fora de si, a quem ele compreende e que afinal não lhe fez nada.
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Sobre o Autor:
Augusto Monterroso nasceu em 1921, na Guatemala. Em 1944, mudou-se para o México e, depois de muito observar a fauna daquele país e de outros, se convenceu de que "os animais se parecem tanto com o homem que às vezes é impossível distingui-los deste". Assim surgiu "A ovelha negra e outras fábulas", lançado pela Editora Record - Rio de Janeiro, 1983, com tradução de Millôr Fernandes e ilustrações de Jaguar, de onde extraímos o texto acima (pág. 09).

Dele disse o escritor russo que se criou nos Estados Unidos, Isaac Asimov: "Os pequenos textos de A ovelha negra e outras fábulas, de Augusto Monterroso, aparentemente inofensivos, mordem os que deles se aproximam sem a devida cautela e deixam cicatrizes. Não por outro motivo são eficazes. Depois de ler "O macaco que quis ser escritor satírico", jamais voltei a ser o mesmo."

Foi agraciado, em 2000, com o Prêmio Príncipe de Astúrias de Letras. Um dos escritores latinos mais notáveis, Monterroso tem predileção por contos e ensaios. "O dinossauro", uma de suas obras mais célebres, é considerado o menor conto da literatura mundial: "Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá". Augusto Monterroso faleceu em fevereiro/2003.

Fonte:
http://www.releituras.com

Augusto Monterroso (O Macaco Que Quis Ser Escritor Satírico)

Na Selva vivia uma vez um Macaco que quis ser escritor satírico.

Estudou muito, mas logo se deu conta de que para ser escritor satírico lhe faltava conhecer as pessoas e se aplicou em visitar todo mundo e ir a todos os coquetéis e observá-las com o rabo do olho enquanto estavam distraídas com o copo na mão.

Como era verdadeiramente muito gracioso e as suas piruetas ágeis divertiam os outros animais, era bem recebido em toda parte e aperfeiçoou a arte de ser ainda mais bem recebido.

Não havia quem não se encantasse com sua conversa, e quando chegava era recebido com alegria tanto pelas Macacas como pelos esposos das Macacas e pelos outros habitantes da Selva, diante dos quais, por mais contrários que fossem a ele em política internacional, nacional ou municipal, se mostrava invariavelmente compreensivo; sempre, claro, com o intuito de investigar a fundo a natureza humana e poder retratá-la em suas sátiras.

E assim chegou o momento em que entre os animais ele era o mais profundo conhecedor da natureza humana, da qual não lhe escapava nada.

Então, um dia disse vou escrever contra os ladrões, e se fixou na Gralha, e começou a escrever com entusiasmo e gozava e ria e se encarapitava de prazer nas árvores pelas coisas que lhe ocorriam a respeito da Gralha; porém de repente refletiu que entre os animais de sociedade que o recebiam havia muitas Gralhas e especialmente uma, e que iam se ver retratadas na sua sátira, por mais delicada que a escrevesse, e desistiu de fazê-lo.

Depois quis escrever sobre os oportunistas, e pôs o olho na Serpente, a qual por diferentes meios — auxiliares na verdade de sua arte adulatória — conseguia sempre conservar, ou substituir, por melhores, os cargos que ocupava; mas várias Serpentes amigas suas, e especialmente uma, se sentiriam aludidas, e desistiu de fazê-lo.

Depois resolveu satirizar os trabalhadores compulsivos e se deteve na Abelha, que trabalhava estupidamente sem saber para que nem para quem; porém com medo de que suas amigas dessa espécie, e especialmente uma, se ofendessem, terminou comparando-a favoravelmente com a Cigarra, que egoísta não fazia mais do que cantar bancando a poeta, e desistiu de fazê-lo.

Finalmente elaborou uma lista completa das debilidades e defeitos humanos e não encontrou contra quem dirigir suas baterias, pois tudo estava nos amigos que sentavam à sua mesa e nele próprio.

Nesse momento renunciou a ser escritor satírico e começou a se inclinar pela Mística e pelo Amor e coisas assim; porém a partir daí, e já se sabe como são as pessoas, todos disseram que ele tinha ficado maluco e já não o recebiam tão bem nem com tanto prazer.

Fonte
http://www.releituras.com

Lenda Indígena (Em Busca da Terra Sem Mal)

"Singular e assombroso o destino de um povo como os Guarani! Marginalizados e periféricos, nos obrigam a pensar sem fronteiras Tidos como parcialidades, desafiam a totalidade do sistema. Reduzidos, reclamam cada dia espaços de liberdade sem limites Pequenos, exigem ser pensados com grandeza. São aqueles primitivos cujo centro de gravitação já está no futuro. Minorias, que estão presentes na maior parte do mundo." (Bartomeu Meliá)

Pressionada pelo avanço da colonização européia, a população Guarani que permaneceu fora das reduções e do âmbito de ação de encomendeiros e bandeirantes foi sendo paulatinamente empurrada para as matas adjacentes ao Rio Paraná. Ali permaneceu escondida e, por isso mesmo, preservada. Somente com os transtornos causados pela Guerra da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai versus Paraguai), de 1865 a 1850, esses grupos que até então viveram relativamente isolados iniciaram uma reocupação dos territórios antigamente habitados por outros grupos Guarani. Muitos criaram pequenas aldeias do Oeste brasileiro. Outros deslocaram-se em direção ao centro do país e do litoral atlântico em busca da "Terra Sem Males". Uma dessas migrações foi acompanhada pelo indigenista alemão Kurt Unkel, batizado "Nimunedaju" pelos indígenas. Ele registrou o discurso fundador desta mobilização:

"Ñanderuvusu (Nosso Grande Pai) veio à terra e faliu a Guyrapotý(nome do xamã incubido de liderar a partida): ‘Procurem dançar!, a terra quer piorar!’ Eles dançaram durante três anos quando ouviram o trovão da destruição. A terra desabava pelo oeste. E Guyrapotý disse aos seus filhos: ‘Vamos! O trovão da destruição causa temor’. E eles caminharam, caminharam para o leste, para beira mar. E eles caminharam. E os filhos de Guyrapotý lhe perguntaram: ‘Aqui não vai surgir de imediato a ruína?’ – ‘Nâo, aqui a ruína vai surgir após um ano, dizem’ . E seus filhos fizeram roça." (Nimuendaju, 1987, p.155).

Movimentos como esse foram consideravelmente intensificados com o avanço das colonizações brasileira e paraguaia sobre a mata contígua ao rio Paraná. O caminho percorrido por esses novos "viandantes" foi o seguinte: do Paraguai passaram para a Argentina e de lá, na busca da costa Atlântica, para o Brasil. Hoje encontram-se e pequenas comunidades desde o Rio Grande do Sul até o Pará, em terras pertencentes a outros grupos étnicos, em moradias improvisadas a beira de estradas, em terras cedidas por prefeituras ou em territórios administradas por entidades ambientalistas.

Causas do Êxodo

Na motivação que os impulsiona a caminhar aparece claramente a necessidade de ter um lugar onde lhes seja possível viver em segurança seu antigo modo de ser. A causa ultima de seu "nomadismo" deve à busca da "Terra-Sem-Males", que, na orientação espacial do grupo, fica do Atlântico, como pode ser verificado nos seguintes cantos:

Che kyvy’i, Che kyvy’i, ereo rire Meu irmãozinho, meu irmãozinho, você se foi
Ejevy voi jaa aguã, ejevy voi jaa aguã Retorne logo, retorne logo
Jaa mavy, jaa mavy joupive’i Para irmos juntos, para irmos juntos
Para rovaí jajerojy, para rovaí jajerojy Reverenciando a Deus, no outro lado do Oceano.
(Memória Viva Guarani – Canto 04)

Ore ru, rembo’e katu ne amba roupity aguã Nosso Pai ensina-nos a chegar a tua morada.
Ñañembo’e, nãñembo’e e’i Rezemos, rezemos
Pra rovái jajapyra aguã Para atravessarmos o outro lado do oceano
ajerory, jajerovy Reverenciamos ao Pai
ajapyra aguã Para atravessar para o outro lado do oceano
(Memória Viva Guarani – Canto 04)

A causa penúltima do êxodo indígena, porém, se encontra no Oeste. Poucos anos depois

do término da "Guerra do Paraguai" ou "Guerra Grande", o governo paraguaio outorgou ao cientista suíço Moisés S. Bertoni (1857-1929) uma superfície de 10.000 hectares de marta virgem, alienando assim uma parte da terra habitada pelos Mbyá-Guarani (Burri, 1993, p.28). Semelhantemente, outras pessoas e empresas adquiriam enormes propriedades na região. Valha como exemplo "La Industrial Paraguaya S.A", que concentrou uma área correspondente a 17% das terras da região oriental do Paraguai (3.502.727) e dedicou-se a exploração de erva-mate (Garlet, 1997, p.41).

A causa mais gritante da atual dispersão, porém, é sem dúvida a colonização que se intensificou, na segunda metade deste século, na região de fronteira entre o Paraguai e Brasil. Uma das características da ocupação das terras dessa região é a violência com a qual a natureza foi subjugada e posta a serviço do "progresso". A monocultura avançou derrubando matas, expulsando os indígenas que nelas habitavam ou sujeitando-os como peões baratos ‘as novas fazendas, cujos proprietários são, na maioria, brasileiros.

História nada exemplar

É curioso e "irônico" constatar que, enquanto os Mbyá-Guarani que percorrem o litoral e a região Sul do Brasil são considerados "índios paraguaios" por órgãos do Estado brasileiro – que tentam, desse modo, evadir-se da responsabilidade frente a esses indígenas -, a

terra que eles e seus ascendentes habitavam no Paraguai está, em grande parte, sob o poder dos "brasileiros de Stroessner". Esses proprietários são chamados assim pelos paraguaios por terem adquirido a partir de 1962, no tempo do Ditador do Paraguai, grandes extensões de terra a preço baixíssimo. Nem o Brasil tampouco o Paraguai levaram em conta que, ao lotear essas terras, não estavam só se aliando para o "progresso", mas desbaratando a fonte que abastece a economia, a sociedade e a religião de uma cultura milenar.

A vida dos Mbyá-Guarani que permaneceram na região como mão de-obra barata nas fazendas é comentada como "uma história nada exemplar" por Stefanie Burri. Vivendo já na quarta geração quase exclusivamente da "changa" (serviço esporádico remunerado), a autora nota entre esses indígenas: desintegração social e religiosa, individualismo, solidão e consumo excessivo de bebida alcoólica. Para ela, o pessimismo é maior, quando, além de saber que a "Terra-Sem-Males" já não existe, ninguém a procura.

Mas voltemos aos Mbyá-Guarani retrados por Paulo Porto Borges, esses que falam do yvy marae’y como uma terra preservada para eles e que alcançarão em breve.

A busca da "Terra Sem-Males" tem sido interpretada, erroneamente, como algo utópico, como um não-lugar. Como se, para aperfeiçoar a vida e se aperfeiçoarem, os indígenas pudessem prescindir de espaços concretos.

A Terra Sem-Males

Essa interpretação tem favorecido um certo descompromisso dos agentes indigenistas

que atuam entre os Mbyá-Guarani, no sentido de intermediar as reivindicações dos indígenas perante as instâncias decisórias do Estado. Se essa atitude persistir e não for revertida a situação atual (das 63 áreas de ocupação hoje existentes na região Sul do Brasil, pouquíssimas são demarcadas ou mesmo homologadas) para Garlet e a Assis não resta dúvida de que "o único espaço que restará aos Mbyá-Guarani será projetado para o além".

Em parte, essa postura pode ter sido influenciada pelos próprios indígenas. No passado, estes foram contrários a demarcação de seus espaços específicos para eles, por negarem o direito à apropriação individual de bens comuns e por entenderem que a demarcação de espaços poderia obriga-los a uma sujeição ao Estado Brasileiro. Nos últimos anos, porém, os Mbyá-Guarani tem reivindicado para si o direito a terra, como é cantado na canção 09 do CD recentemente gravado por eles:

Peme’e jevy, peme’e jevy Restituam, restituam
Ore yvy peraa va’ekue A nossa terra que vocês tomaram
Roiko’i aguã Para que a gente continue vivendo

O discurso religioso que sustenta a reivindicação é a convicção de que, para alcançar a "Terra Sem-Males", é preciso viver conforme o sistema Guarani: caçar, plantar e celebrar como um Guarani. Para tal, é imprescindível a terra (tekoha), pois, sem ela não há cultura (teko).

Particularmente, a situação fundiária dos Mbyá-Guarani acampados à beira de estradas e mais periclitante. Esses acampamentos estão situados ao longo das rodovias públicas dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Garlet e Assis escrevem a este respeito:

"A preferência é por locais onde seja possível encontrar faixas de mata e alguma oferta de matéria prima para a confecção de artesanato (...). Conseqüentemente, as famílias (...) dependentes estão continuamente expostas a mais gritante miséria, enfrentando a fome, alta incidência de doenças, impossibilidade de manter ativadas práticas culturais importantes como os rituais religiosos e morando em insalubres barracos cobertos de lona plástica" (1999, p. 13)

A atitude que predomina, porém, não de desespero. Assim, quando os Guarani ouvem o branco dirigir-se a eles como quem não tem mais cultura por não ter mais tradição, eles reagem e afirmam que os Guarani existem e que existirão sempre. É o que eles tentam dizer ao mundo ao publicar suas músicas no CD "Memória Viva Guarani". Mesmo ameaçados pelo "Mal-Sem-Terra", têm dado um belo testemunho de amor à vida, de que vale a pena interromper a falta de esperança e entoar um canto!


Fontes:
Graciela Chamorro
Extraído do livro:Cadernos do COMIN. Os Guarani:sua trajetória e seu modo de ser.
http://www.djweb.com.br/historia/textos/terrasemmal.htm

Ivanir Calado (A Caverna dos Titãs – Mundo de Sombras)

Alienígenas e mitologia grega: A Caverna dos Titãs

Uma história em que sátiros, ciclopes, górgonas e demais criaturas da mitologia grega aparecem em um shopping center de uma cidade do interior do Rio de Janeiro pode parecer, em uma primeira análise, totalmente nonsense. Ainda mais se esse fato só for percebido por crianças e adolescentes. Mas o Livro do Mês de abril da Capital Nacional da Literatura A Caverna dos Titãs é uma grande aventura de ficção científica que não deve nada às histórias desse gênero.

Um grupo de adolescentes que adora jogar vídeo-game no OuterPlanet Megashopping – um shopping recém-inaugurado em Morro Queimado – descobre que o estabelecimento é somente uma fachada para uma invasão alienígena de seres estranhamente similares aos monstros fantásticos das narrativas da Grécia antiga.

Em um clima de mistério investigativo Fred, seu amigo Sumô e sua prima Ana acabam descobrindo que o shopping só serve para a seleção e treinamento de crianças e adolescentes para auxiliar na segunda invasão alienígena – sim, segunda invasão, pois a primeira tentativa foi na Grécia antiga, o que deu origem às criaturas da mitologia e acabou rechaçada por famosos heróis, como Perseu, Belerofonte, entre outros.

Os alienígenas testavam as habilidades dos jovens em máquinas de fliperama do shopping especialmente desenvolvidas para esse fim. Os mais talentosos eram abduzidos e controlados pelos extraterrestres. Mas os heróis adolescentes, assim como os heróis míticos, não deixam barato e utilizam todas as suas habilidades forjadas nos games para livrar o planeta dessa ameaça.

Através de descrições muito detalhadas, onde os games se unem à realidade, e muitas situações de suspense, A Caverna dos Titãs merece lugar de destaque entre a boa literatura infanto-juvenil produzida hoje no país.

Mundo de Sombras: O Nascimento do Vampiro

Dois amigos, Júlio e Daniel, são adolescentes, se conhecem há muito tempo, estudam na mesma escola e vivem numa cidade interiorana - Morro Velho. A vida corre fácil, mas a súbita morte de Lucinha aos 15 anos coloca a cidade em polvorosa e atiça a imaginação dos colegas, principalmente Júlio, fã de histórias de ficção científica e horror, que suspeita que a profunda anemia causadora da morte da menina havia sido provocada por um vampiro. A princípio Daniel não aceita as idéias absurdas do amigo, mas acaba sendo convencido a embarcar numa investigação mais e mais perigosa, à medida que terríveis descobertas vão sendo feitas.

O autor, Ivanir Calado, é um profissional que já escreveu vinte livros infanto-juvenis. Sabe usar uma linguagem antenada com seu público, sem infantilismos. Manipula com eficiência o suspense da trama, que flui com agilidade e interesse crescente. Aborda os problemas inerentes a todo jovem: as dificuldades escolares, o fracasso nos esportes, a descoberta do amor, o ciúme, a insegurança, o risco de perder amizades. Tudo isso misturado com um personagem maligno, duas velhinhas estranhas, uma antiga mansão soturna, e elementos clássicos das histórias de vampiro, claro, como estacas de madeira e violação de túmulos.

Mas Calado insere uma subtrama científica conduzida pelo pai de Júlio, o médico Paulo, que em suas pesquisas descobre uma bactéria infectando as vítimas da estranha forma de anemia - o que pode explicar as mortes que se sucedem. Não é exatamente uma idéia original - veja, por exemplo, o romance Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson, para encontrar um precedente - mas que bem colocada funciona como uma interessante variação num gênero que atualmente parece que se esgotou, tantos os livros publicados.

O desfecho não apela para o tradicional final feliz. Ocorrem muitas perdas, difíceis decisões são tomadas, o amor, a coragem e a lealdade vão ser postos à prova.
Ivanir Calado demonstra, com este livro, que acreditar na inteligência do leitor jovem é o que de melhor um escritor pode fazer para despertar o interesse desse público pela leitura, tão envolvido com computadores ou videogames, mas capaz de se encantar com textos de boa qualidade, que enfoquem temas atuais, como já provou um certo bruxinho inglês. Vale a pena conferir O Nascimento do Vampiro, de Ivanir Calado.

* Finisia Fideli fez resenhas para as revistas Escrita e Dragão Brasil. Seu conto "Exercícios de Silêncio" está na antologia Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica.

* Escritor e crítico, Roberto de Sousa Causo é autor do romance A Corrida do Rinoceronte.

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Notas sobre o Autor:
Ivanir Calado nasceu em Nova Friburgo, cidade do Estado do Rio de Janeiro, na localidade conhecida como Morro Queimado, que tem servido de cenário para algumas obras do autor.
Estudou artes plásticas e trabalhou com música e teatro antes de começar a escrever. Publicou os romances Imperatriz no fim do mundo e A mãe do sonho, além de cerca de vinte livros para crianças e adolescentes. Já recebeu prêmios como escritor e autor de teatro, e vários de seus livros têm o selo de "altamente recomendável" da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

Fontes:
Jornadas Literárias de Passo Fundo
Boletim Eletronico – n. 52 – ano 3 – 11/04/08
http://mundodaleitura.upf.br/boletim/52/index.htm

Testemunhe o nascimento do vampiro. Por Finísia Fideli e Roberto de Souza Causo
In http://noticias.terra.com.br/imprime/0,,OI2308167-EI6622,00.html

http://www.planetanews.com/autor/IVANIR%20CALADO (capa do livro Mundo de sombras)

http://www.ivanircalado.net/ (foto de Ivanir)

Os 40 Anos dos I Jogos Florais de Corumbá

Monumento à Trova, em Corumbá. Nas placas de bronze, a trova primeiro lugar nos I JF (A. A. de Assis) e a trova primeiro lugar nos II JF (Waldir Neves)


Em junho próximo, a história da trova registrará o 40º aniversário dos I Jogos Florais de Corumbá, Mato Grosso do Sul, realizados nos dias 9 a 14 de junho de 1968.

I Jogos Florais de Corumbá

Realização: 09 a 14 de junho de 1968
Presidente de honra: prefeito Breno de Medeiros Guimarães
Presidente da Comissão Central Organizadora: Lécio Gomes de Souza
Patrono: J. G. de Araújo Jorge
Grande homenagem: Luiz Otávio
Patrocinadores: Governo do Estado (governador Pedro Pedrossian); Prefeitura Municipal de Corumbá; industriais Irmãos Chamma; Curso de Declamação “Maria Sabina” (direção Lucy Maria Bonilha de Souza)
Comissão Selecionadora em Corumbá: Alceste de Castro, Carlos de Castro Brasil, Clio Proença, Gabriel Vandoni de Barros, Lécio Gomes de Souza, Magali de Souza Baruki, Osório Gomes de Barros
Comissão Julgadora no Rio de Janeiro: Helena Ferraz, J. G. de Araújo Jorge, Luiz Otávio, Margarida Lopes de Almeida, Maria Sabina, Murilo Araújo
Musa: Nancy Scaffa
Processo de julgamento: Dentre as mais de 3 mil trovas recebidas de todo o Brasil, foram selecionadas pela Comissão de Corumbá as 100 finalistas, as quais foram encaminhadas à Comissão Julgadora do Rio de Janeiro, para a classificação final.
Vencedores

1º lugar

Num tempo em que tanta guerra
enche o mundo de terror,
benditos os que, na Terra,
semeiam versos de amor!
A. A. de Assis (Maringá)

2º lugar

Este amor, grande e profundo,
feito de paz e verdade,
dá-me, segundo a segundo,
um sabor de eternidade.
Durval Mendonça (Rio)

3º lugar

Decantado eternamente,
o amor em tudo figura:
– ora é bem que cura a gente,
ora é mal que não tem cura...
Agmar Murgel Dutra (Rio)

4º lugar

Entre nós dois, volta e meia,
ao amor fazendo jus,
muita coisa se clareia
quando a gente apaga a luz...
Colbert Rangel Coelho (Rio)

5º lugar

De gota em gota, pingando,
sem ver que a chuva parou,
goteira é a casa chorando
porque você não voltou.
Rubens de Castro (Corumbá)
.
6º lugar

O meu velho amor tristonho
é como nave perdida
pelo Mar-Morto do sonho,
pelo Mar-Negro da vida...
Vasco de Castro Lima (Rio)
.
7º lugar

Miséria de pão maltrata...
Mas quanta gente, Senhor,
sabeis que morre ou se mata
quando há miséria de amor!
Lilinha Fernandes (Rio)

8º lugar

Naquele quarto onde outrora
nosso amor viveu... sonhou...
sua boneca que chora,
me vendo triste... chorou!
Rubens de Castro (Corumbá)

9º lugar

Faz-se tarde... A noite é plena...
Suspiros de amor... Inverna.
– Tu nos meus braços... É pena
que a noite não seja eterna!
David de Araújo (Santos)

10º lugar

Quando começa o fragor
e a guerra acende a centelha,
há sempre um gesto de amor
nos braços da Cruz Vermelha.
Durval Mendonça (Rio)

Menções Honrosas

11º lugar

Um grande amor, palpitante
de vida e de sonho, é assim:
nasce, às vezes, num instante
e depois não tem mais fim.
Walter Waeny (Santos)

12º lugar

Não quero a glória que passa,
nem beleza nem dinheiro;
quero o brilhante, sem jaça,
de um grande amor verdadeiro!
Lúcia Lobo Fadigas (Rio)

13º lugar

Vendendo amor, esquecida
por essas ruas além,
vive a moça que, na vida,
não teve amor de ninguém!
Alves Costa (Rio)

14º lugar

Sou nau de leme partido,
galho sem folha nem flor,
que a vida perde o sentido
quando se perde um amor...
Elton Carvalho (Rio)

15º lugar

Não graves, na árvore, as formas
de um coração, por favor:
numa ferida transformas
o emblema de nosso amor.
Walter Waeny (Santos)
.
16º lugar

Ao que pede, à tua porta,
dá, também, tua afeição!
Um pouco de amor conforta
mais que um pedaço de pão!
Rodolpho Abbud (Nova Friburgo)

17º lugar

Numa alegria incontida,
vivemos um sonho em flor:
eu sou toda a tua vida,
tu és todo o meu amor!
Aparício Fernandes (Rio)

18º lugar

Ela de amor não se farta,
e comovido hoje vejo
que o final da sua carta,
em vez de um ponto, era um beijo.
Adhemar Mendonça (Juiz de Fora)

19º lugar

Você partiu... quantos anos...
nem sei se o mundo parou!...
E, apesar dos desenganos,
você partindo... ficou!
Rubens de Castro (Corumbá)

20º lugar

Ponho meus olhos no espaço
e tropeço entre as estrelas.
Penso em ti: entre elas passo
e nem sequer chego a vê-las.
Maria Thereza Cavalheiro (São Paulo)

Outros semifinalistas – Além dos 20 trovadores premiados (cujas trovas foram transcritas acima), figuram também na relação dos semifinalistas os seguintes (alguns com mais de uma trova): Alfredo de Castro (Pouso Alegre), Andrônica Pereira Moura (Rio), Araife David (Taubaté), Aristheu Bulhões (Santos), Aristides José de Campos (São Paulo), Carlos Guimarães (Rio), Carolina Azevedo de Castro (Petrópolis), Carolina Ramos (Santos), Cesídio Ambrogi (Taubaté), Constantino Gonçalves (Campos dos Goytacazes), De Paula Mádia (Taubaté), Eno Theodoro Wanke (Santos), Geraldo Pimenta de Moraes (Pouso Alegre), Idália Krau (Rio), Isabel Cholby Santos (Santos), Jenny Teixeira Gomes (Bauru), Jorge Beltrão (Pouso Alegre), Jorge Rocha (Rio), José Coelho de Babo (Nova Friburgo), Joubert de Araújo Silva (Rio), Júlio de Mello e Silva (Itaquera), Magdalena Léa (Rio), Maria Idalina Jacobina (Rio), Marília Fairbanks Maciel (São Paulo), Marina Tricânico (São Paulo), Octávio Babo Filho (Rio), P. de Petrus (Rio), Roberto Medeiros (Juiz de Fora), Severina Dumas Cavalcanti (Campos dos Goytacazes), Sinval E. da Cruz (Juiz de Fora), Sidney G. Wyss Barreto (Rio Claro), Têula Athayde de Souza Dias (Belo Horizonte), Vera Azevedo de Castro (Petrópolis), Wandisley Garcia (Jales), Wilson Montmor (Resende).
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Sobre Jogos Florais - postagem de 27 de dezembro de 2007
Sobre Trovas - postagem de 31 de dezembro de 2007
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Fonte:
Colaboração do trovador A. A. de Assis

Luiz Otávio (Os Florais de Corumbá)

Recepção aos trovadores no aeroporto. Em destaque: Durval Mendonça, Colbert Rangel Coelho, governador Pedro Pedrossian, Margarida Lopes de Almeida, A. A. de Assis (olhando para trás), J. G. de Araújo Jorge, Rubens de Castro e Luiz Otávio

Ontem estávamos no extremo oeste brasileiro – na cognominada “Cidade Branca”, Corumbá, onde assistimos, encantados e entusiasmados, aos seus I Jogos Florais. Foram cinco dias inesquecíveis de sonho, de confraternização, de uma hospitalidade carinhosa.

Partimos do Rio de Janeiro num turbo-hélice japonês, no domingo, 9 de junho. A caravana era formada pelos premiados Durval Mendonça, Colbert Rangel Coelho, Lúcia Lobo Fadigas, Luiz Alves Costa, Elton Carvalho, Rodolpho Abbud e membros da Comissão Julgadora: Margarida Lopes de Almeida, Maria Sabina, Helena Ferraz e o autor destas linhas (Luiz Otávio).

O primeiro colocado, de Maringá, A. A. de Assis, incorporou-se ao grupo em Campo Grande, em companhia de Ary de Lima (poeta e vereador), representante da Câmara Municipal de Maringá. J. G. de Araújo Jorge (também membro da Comissão Julgadora) seguira por terra, por sofrer de “alergia” aérea...

Cada um de nós – membros dessa comitiva – só teve expressões de encantamento para qualificar a beleza desses festejos tão bem idealizados e organizados pelo distinto casal Dr. Hélio Sachser de Souza, com a cooperação da Prefeitura, do Governo do Estado, da sociedade local, dos clubes, do comércio e indústria, dos Irmãos Chamma, do Exército e Marinha, da imprensa e rádio, da mocidade estudantil e de todo o povo da cidade. Todos, enfim, prestigiaram, ajudaram, e deram a sua presença ativa nas festas dos I Jogos Florais de Corumbá. Para relatar, ainda que resumidamente, todas as solenidades e passeios, para citar todos aqueles que com seu trabalho ou sua gentileza colaboraram para o grande brilho das festas, precisaria escrever várias crônicas.

Que me relevem, pois, os amigos de Corumbá e os leitores. Assim, faço um breve relato: no aeroporto, aguardavam-nos o governador do estado, o prefeito, a Comissão Central, os membros da Comissão Selecionadora, os trovadores locais, as musas, e inúmeras figuras da sociedade, que, em seus carros, mos levaram ao hotel.

O almoço foi na casa do casal Lucy-Hélio, e constou de uma caprichada feijoada de autoria da genitora de Dona Lucy.

À noite, na Praça Dom Bosco, o coral Cecília Meireles iniciou as solenidades com a Oração de São Francisco de Assis, nosso padroeiro, o que muito nos comoveu. A seguir, Gabriel Vandoni de Barros fez o discurso de inauguração do monumento ao corumbaense Pedro de Medeiros, saudando também os trovadores visitantes e exaltando os Jogos Florais. Logo depois, J. G. de Araújo Jorge, em breves palavras, fez uma saudação à cidade, enaltecendo os Jogos Florais e focalizando a beleza daquele espetáculo, com tanto povo em volta de um coreto para assistir à inauguração de um monumento a um poeta e ouvir trovas, sendo, pois, um verdadeiro “Comício de Poesia”. A seguir, os organizadores solicitaram-me que comandasse a apresentação dos trovadores ao povo e também aos ouvintes de duas estações de rádio que transmitiam a festa. Desfilaram os trovadores da comitiva e os locais, cada um dizendo cinco trovas.

No dia seguinte, segunda-feira, 10, fomos visitar a fazenda Itacupê, do sr. Angelito Albaneze, onde nos foi oferecido um churrasco pelo cronista social Admar Amaral. À tarde, fomos visitar o Quartel General da Segunda Brigada Mista, comandada pelo general Mendonça Lima, que, com sua oficialidade, recebeu com grande atenção a caravana dos trovadores. A seguir, visitamos o Museu Regional, uma obra notável de Gabriel Vandoni de Barros. Às vinte horas, houve uma recepção na Câmara Municipal, quando o vereador e trovador Clio Proença saudou os visitantes e, por coincidência, teve sua oração respondida por outro vereador, de Maringá, Ary de Lima. Outros vereadores e trovadores usaram da palavra. A seguir, todos se dirigiram para o navio paraguaio “Presidente Carlos Antonio Lopes”, onde nos foi oferecido um belo banquete, com a presença do prefeito, do cônsul do Paraguai e de outras autoridades. Foi uma bela noite, com poesias ditas pelos trovadores e declamadas por Margarida Lopes de Almeida, Maria Sabina, Lucy Maria Bonilha de Souza e pela musa Nancy Scaffa. Um conjunto paraguaio apresentou belíssimas músicas típicas. Esquecia-me de dizer que pela manhã desse dia fizemos um belo passeio às minas de manganês de Urucum.

Na terça-feira, dia 11, fomos à Base Naval de Ladário, e assistimos às comemorações do aniversário da Batalha do Riachuelo. A parte da tarde foi ocupada na visita a indústrias locais. À noite fomos convidados pelo comandante da Base Naval de Ladário para a festa e coquetel em comemoração ao Dia da Marinha. Houve danças, e os trovadores apresentaram as suas trovas.

No dia 12, quarta-feira, pela manhã, fomos de ônibus até Puerto Suares, na Bolívia. Na fronteira, tiramos uma fotografia com um pé no Brasil e outro na Bolívia. À tarde, fizemos um belíssimo e agradável passeio pelo rio Paraguai, a bordo de um navio da flotilha. Havia um conjunto orfeônico estudantil, que apresentou vários números, e alunas de colégios de Corumbá e Ladário chegaram a fazer filas para que os trovadores escrevessem trovas nos seus cadernos. À noite, tivemos excelente programa de declamação, de responsabilidade de Lucy Maria Bonilha de Souza, que recebeu de todos os maiores aplausos. Inicialmente, foram coroadas as musas pelos trovadores. Na primeira parte, vários grupos, muito bem ensaiados, apresentaram poemas e as trovas vencedoras. Na segunda parte, houve um desafio estilizado, muito bem apresentado por seis pares. Na terceira parte, tivemos a saudação aos visitantes pelo dr. Lécio Gomes de Souza, um poema de exaltação aos Jogos Florais e aos trovadores, por Lucy Maria Bonilha de Souza, e, finalmente, em agradecimento, aos organizadores, e à sociedade que lotava o Corumbaense Futebol Clube, eu disse algumas palavras e apresentei os trovadores, que declamaram suas trovas. Maria Sabina fez um poema para a ocasião, que foi muito aplaudido. Às 23 horas fomos todos homenageados no baile do Riachuelo Futebol Clube.

No dia 13, pela manhã, assistimos ao desfile escolar-militar pelo transcurso do 101º aniversário da Retomada de Corumbá. Abria o desfile uma grande faixa com saudação aos Jogos Florais. A musa desfilou num carro alegórico que trazia, num enorme quadro, a trova vitoriosa, de A. A. de Assis. Às 11h30, no salão nobre da Prefeitura, com a presença do general comandante da Segunda Brigada Mista, do contra-almirante comandante da Base Naval de Ladário, do bispo, do prefeito, de outras autoridades, de elementos da sociedade local, além dos trovadores, o prefeito saudou os visitantes e, a seguir, como presidente nacional da UBT, instalei oficialmente a UBT de Corumbá, dando posse ao seu presidente, Gabriel Vandoni de Barros. À tarde, alguns trovadores foram ao Clube de Tiro, onde assistiram à prova “I Jogos Florais”, enquanto Colbert, Elton, Rodolpho e eu fizemos um belíssimo vôo de teco-teco, graças à gentileza do comandante Carneiro. À noite, tivemos o Baile das Musas, no Corumbaense Futebol Clube, quando os trovadores visitantes foram homenageados por D. Lucy.

Na sexta-feira, dia 14, pela manhã, fomos levados por grande caravana ao aeroporto, onde houve trovas improvisadas e lágrimas...

Tomamos um DC-3 até Campo Grande e, ali, o Caravelle que, a oito mil metros de altura e 850 quilômetros por hora, nos trouxe de volta, tão rapidamente, na ilusão de que poderia voar mais depressa que a saudade que já voava ao nosso lado...
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Sobre Luiz Otávio - Artigos em 31/12/2007 e 21/02/2008
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Fonte:
Colaboração do trovador A. A. De Assis

J. G. de Araújo Jorge (I Jogos Florais de Corumbá)


Alegro-me de ter sido o patrono dos I Jogos Florais de Corumbá. Conheci a cidade em novembro de 1967, como convidado especial de D. Lucy Bonilha de Souza para participar do recital de encerramento do seu curso de declamação. Impressionei-me com a participação da sociedade corumbaense numa festa de arte, do mais elevado nível cultural; com o trabalho e a organização do casal Sachser de Souza (dr. Hélio e D. Lucy), e sugeri que poderiam promover em Corumbá os Jogos Florais.

Qual não foi minha surpresa quando, alguns meses depois, recebo em minha casa, no Rio, a visita dos dois, pondo-me a par da iniciativa, já em plena realização. E o resultado foi o que todos tivemos a oportunidade de constatar, em junho deste ano: os primeiros Jogos Florais de Corumbá se transformaram numa festa da cidade e num verdadeiro sucesso. E nós, que idealizamos os Jogos Florais no Brasil, e deles participamos em tantas outras cidades, podemos testemunhar que os de Corumbá, principalmente pela vibração e pelo interesse popular, tornaram-se os de maior expressão e beleza dentre quantos já se realizaram.

Em crônica para a revista “Jóia”, do Rio de Janeiro, de agosto deste ano (1968), comentei assim essa festa de poesia:

A trovite está grassando. Raro é o dia em que não recebo, pelo correio, um livro de quadras. E multiplicam-se os Jogos Florais, baseados quase todos em concursos de trovas. Observa-se, realmente, um verdadeiro surto trovadoresco em todo o país. Aparício Fernandes publicou em dois grossos tomos oito mil trovas, de oitocentos poetas brasileiros. Eno Theodoro Wanke vem procurando fixar sua história e desenvolvimento: “o trovismo é o primeiro movimento poético surgido no Brasil, depois do modernismo de 1922” (...).

Eis um aspecto importante do movimento trovadoresco: a reconciliação da poesia com o povo. A trova é um gênero literário eminentemente popular, primeira manifestação de poesia, simples, musical, comunicativa. Seus cultores estão repondo, de certo modo, nossa poesia em sua tradição: não se envergonham de usar um idioma acessível; de poderem ser ouvidos e compreendidos. Não passam por gênios, não fabricam charadas, não se fecham nos sótãos obscuros de esdrúxulas construções verbais (...).

Escrevo estas palavras no justo momento em que acabo de voltar dos Jogos Florais de Corumbá.

Aqui no Rio, em 1959, a Casa da Bahia, por sugestão do seu secretário, o trovador e baianíssimo Jaime de Faria Goes, meu querido amigo já desaparecido, realizou um concurso de trovas cujo tema era “a boa terra”. Interessando-me pelo mesmo, saí vencedor. Eis a trova que fez a mágica:

Ladeira, praia, coqueiros,
igrejas, lendas, poesia,
cais do Mercado – saveiros...
– Natal da pátria: Bahia!

Na viagem, eu e Luiz Otávio, outro dos vencedores, imaginamos o renascimento dos Jogos Florais no Brasil, e escolhemos Friburgo para o lançamento da idéia. De lá para cá, cerca de cem cidades brasileiras já realizaram Jogos Florais, e Friburgo programou com as festas do seu sesquicentenário, este ano (1968), os seus IX Jogos Florais.

A maior prova do sucesso absoluto da iniciativa positivou-se, agora, com os I Jogos Florais de Corumbá, na fronteira oeste do Brasil, de onde estou chegando. E valeu a pena o longo passeio. Corumbá é, por si só, uma bela surpresa para o visitante. Como não viajo de avião, fui mesmo de ônibus e de trem. Mas não me arrependi da esticada até os confins da pátria, nos limites com a Bolívia. Eta Brasil grande! Até Bauru segui de ônibus; de lá, pela Noroeste, de trem, até Corumbá. Dois dias e uma noite de viagem.

Corumbá engalanou-se toda para os festejos. Pelas ruas e praças havia faixas coloridas saudando os trovadores. É uma cidade clara, limpa, bem traçada, com modernos edifícios. Possui jornais diários, duas estações de rádio, uma faculdade, e precisa apenas de uma rodovia para romper seu isolamento e expandir-se. Contornando a cidade, à distância, a serra do Urucum, toda de manganês e ferro (...). Na frente está o rio Paraguai, que faz um S caprichoso diante da cidade, como quem não quer ir-se embora. Mais abaixo, a Base Naval de Ladário, com suas tradições históricas (...).

O povo corumbaense lembra muito o carioca, pela alegria, cordialidade, sem bairrismos estreitos, hospitaleiro. Corumbá, “Cidade Branca”, como a chamou o poeta maior Pedro de Medeiros, repousa sobre um vasto e alvo lençol de calcáreo, que desponta aqui e ali manchando o chão, e que se pode ver, nos cortes do morro, quando se chega à cidade pelo rio. Então, parece uma Bahia fluvial, com cidade baixa e alta: uma rente ao cais, com sobradões coloniais e armazéns; outra no alto, por trás do renque de palmeiras imperiais perfiladas na Avenida Marechal Rondon. E dá vontade de repetir, como na canção dedicada à Bahia: “Você já foi a Corumbá? Não? Então vá!”

Durante uma semana, Corumbá, o Governo do Estado, a Prefeitura, autoridades civis e militares, industriais, comerciantes, o povo, todos participaram das festas do I Jogos Florais.

Espetáculo inacreditável – e eu diria inédito se não tivesse assistido a outro semelhante em Maringá – foi o daquela praça lotada de povo, ouvindo e vibrando com as apresentações de trovadores, naquilo que chamei de verdadeiro “comício de poesia”.

Ponto culminante dos festejos foi o grande recital, promovido por D. Lucy Bonilha de Souza, quando foram coroadas a nove musas, e entregues os prêmios e troféus aos vencedores.

Num mundo triste e conturbado, agitado por ódios e violências, vale a pena ressaltar uns claros e poucos momentos de amor e poesia. Corumbá está de parabéns pela demonstração de sensibilidade e inteligência de seu povo. De certa forma os Jogos Florais correspondem ao grito de paz da mocidade, com o seu “The Flower Power”. E não encontro melhor fecho para esta crônica do que a trova de Antonio Augusto de Assis, trovador de Maringá, que obteve o primeiro lugar, quando louva a missão dos poetas:

Num tempo em que tanta guerra
enche o mundo de terror,
benditos os que, na Terra,
semeiam versos de amor!

Fonte:
Colaboração do trovador A. A. de Assis

Projeto de Leitura para Escolas da Rede Pública

ALIANÇA DO BRASIL PATROCINA PROJETO DE LEITURA PARA ESCOLAS DA REDE PÚBLICA

Projeto “Ler é Bom, Experimente!” abre inscrições e oferece gratuitamente livros e material didático

O projeto de incentivo à leitura “Ler é Bom, Experimente!", que tem o patrocínio da Companhia de Seguros Aliança do Brasil e o apoio do Ministério da Cultura, está com as inscrições abertas até o dia 31 de março.O programa é voltado às escolas da rede pública de todo o país, com turmas a partir da 6ª série do ensino fundamental e tem o objetivo de incentivar o hábito da leitura e escrita, estimular a criação de textos, performances, discussões e debates em sala de aula.

Criado em 2000, pelo escritor Laé de Souza, a iniciativa já atingiu cerca de 1.000 escolas com a participação de 40 mil alunos em todo o país. “Despertar o interesse pela leitura pode ser um grande incentivo para que os alunos procurem outros títulos, adquirindo uma melhor formação e aprendizado como cidadãos”, diz o diretor de administração e controle da Companhia de Seguros Aliança do Brasil, Alencar Rodrigues Ferreira Junior.

Em 2008, 500 escolas participarão do projeto e receberão gratuitamente 38 exemplares do livro de crônicas “Nos Bastidores do Cotidiano” e material didático: folhas pautadas para redação, questionários e Manual do Professor com sugestões para dinamizar a leitura em sala de aula e plano de aplicação do projeto. Na etapa final, os alunos que apresentarem os melhores trabalhos serão premiados com outra obra do autor.

As obras utilizadas no projeto são “Nos Bastidores do Cotidiano”, “Acontece...” e “Espiando o Mundo pela Fechadura”, crônicas de autoria de Laé de Souza publicadas pela Editora Ecoarte. Os textos retratam o cotidiano de pessoas comuns, situações inusitadas e personagens marcantes, sempre com abordagem bem-humorada e leve, embora crítica, e linguagem coloquial, o que facilita a compreensão dos textos.

Aliança do Brasil
Criada em 1997, a Aliança possui uma diversificada carteira de produtos, composta por mais de 40 tipos de seguros que cobrem riscos pessoais e patrimoniais, entre eles os seguros de vida, residenciais, empresariais, rurais, de transporte e outros. São soluções para necessidades de pessoas físicas e jurídicas, em todos os segmentos, inclusive no agronegócio. A carteira de riscos pessoais e de outros ramos soma mais de 9,3 milhões de clientes.

Autor
Laé de Souza é cronista, dramaturgo, bacharel em Direito e Administração de Empresas e autor de vários projetos de leitura, em execução há dez anos, focados nas escolas da rede pública, parques, praças, hospitais, transportes coletivos, hipermercados, e outros, com o intuito de formar leitores de todas as etnias, faixas etárias, credos e classes sociais. “É preciso criar oportunidades para o público conhecer o mundo maravilhoso da leitura, entretanto, com a preocupação de oferecer obras que lhe prendam a atenção e despertem o interesse por outros livros. O projeto “Ler é Bom, Experimente!” foi criado para conquistar e formar novos leitores”, afirma Laé.

Serviço:
Inscrições até 31 de março de 2008 pelo Site: www.projetosdeleitura.com.br
Informações: (11) 6743-9491 e 6743-8400
Todo o material é fornecido gratuitamente às instituições de ensino.
Máquina da Notícia - Assessoria de Comunicação da Aliança do Brasil
Tatiane Lima – tatiane.lima@maquina.inf.br – Telefone: (11) 3147 7405.
Renata d’Avila – renata.davila@maquina.inf.br – Telefone: (11) 3147 7404.

Assessoria de Comunicação do "Projetos de Leitura"
Rosângela Inojosa Galindo - rosangela.inojosa@uol.com.br
Telefone: (11) 9261-5500 / (15) 3227-4581

Fontes:
www.projetosdeleitura.com.br
Colaboração de Douglas Lara in www.sorocaba.com.br/acontece

120o. Aniversário de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa, para sempre
(Paulo Jorge Brito e Abreu)

Cantaste toda a gente e toda a parte,
Preste canto, presságio e profundo,
«Et coetera», automóvel e estandarte,
Canto mar, canto livre e canto fundo.
Te anelo rododendro em rodapé,
Eu rapsodo, sinal, revolução;
Te saúdo carioca e busco até
Canto mar, canto anil e cantochão.
Sonhei que tu nascias dentro em mim
E eu te apadrinhava. Éramos seis.
Eras Álvaro, Alberto e o Latim,
O teutónico, e o Ricardo Reis.
E sonhei que na «Ode Triunfal»
Eu era Autor de láureas dadivosas,
A libido, o licor e o real
Guardador de rebanhos só de rosas.
Pois quando agora em álcool for compor
O aljôfar, e alucinogénio,
Não confundam mais dinheiro com Amor,
Não matem, outra vez, o verde Génio.

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Fernando Pessoa
(Eugênio de Sá)

Foste quatro em vez de um
Até nisso foste um mestre
E em todos e cada um
Pra falar por eles nasceste
Foste Caeiro, foste Reis
Foste Campos e Pessoa
Podias ser cinco ou seis
Pois nenhum de ti destoa
Mestre foste e serás sempre
Desta orgulhosa linguagem
Que nos embala p’lo mundo;
Pois tu Fernando fizeste
Renascer nos portugueses
O amor p’lo mar profundo!
*****

Poetas?...
(Carmo Vasconcelos)

Poetas nos dizemos, tu e eu...
Mas a Divina Mestria
está para além do que somos
Nossos versos... Poesia?...
São apenas magros gomos
duma iguaria completa
Gotas breves
dum mar que imortalizou
o verdadeiro Poeta
Que a dor nunca nos doa
do poeta que não fomos
do estro que não floriu
E bendigamos a asa
que ao de leve nos tocou
poeira que se espargiu
e nós pegámos à toa
quando a “esquina dobrou”
o grande mestre PESSOA

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Sobre Fernando Pessoa: postagens dias 17 e 27 de janeiro.
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Fontes:
Varanda das Estrelícias (de Joaquim Evónio), http://www.joaquimevonio.com/ ,
colaboração de Douglas Lara , www.sorocaba.com.br/acontece

Paulo Jorge Brito e Abreu (Amada Lisboesa)

Paulo Jorge Brito e Abreu nasceu em Lisboa, Campo Grande, a 27 de Maio de 1960.

Em 1986, licenciou-se em Estudos Anglo-Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa.

É Poeta, pensador, ensaísta, crítico literário, cantor e conferencista. Por seu labor desenvolvido no jornal «Artes e Artes», foi nomeado

Sócio Correspondente da Academia Carioca de Letras; ganhou ainda, por sua lavra, a Medalha Peregrino Júnior da União Brasileira de Escritores.

No início dos anos 60, sua Mãe, Maria Amélia, ensinou-o, corretamente, a ler, escrever e a contar.
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AMADA LISBOESA

Ao lado da camisola, há rendas e fitas,
E o vento já rápido sopra nas varandas…
As janelas abertas, brancas e bonitas,
Mostram a cores de som as suas fulvas bandas.

As mesas listram-se, conforme em espirais
As taças de chá sobre elas lentas pousam,
E tapeçarias, à noite, são nácar, nupciais,
E ninfas da nave são brancas, e ousam.


Do cheiro que o Ar emana e da virtude que lhe sobeja,
Uma rútila rosa em luz e oiro brilha;
Irrealizam-se as cores, parte-se a bandeja,
O cavalo negro voa… não tem fim a maravilha!!!

O relógio a bater parte-passa uma cadência,
Aladas tílias aliam, não tem pausa o festival;
Ciganas, Cristinas, são Crato, e na ciência,
Ah, que lindo olor, tu és feito de cristal!!!

Uma cousa é brisa em mim, e bem medieval,
O castelo alado a bronze é roubado puro em Espanha;
Eu sou linda porcelana e brocado mais real,
Pátio de marfim que o Tejo sempre banha……………
Fonte:
Portal Varanda das Estrelícias http://www.joaquimevonio.com/

Eugénio de Sá (A Missão do Poeta)

Nasci em 1945, no típico bairro da Ajuda, em Lisboa.

Lá do alto, pode ver-se parte do belíssimo estuário do Tejo e ainda se vislumbra o espaço vizinho da Torre de Belém, que assinala o local de partida das naus portuguesas a caminho da epopeia dos descobrimentos.
Lisboa está-me nas veias, tal como a literatura e a poesia, que sempre me cativaram o espírito.

Todavia, e por circunstâncias da vida familiar, cedo conheci Sintra, onde vivi e estudei durante toda a fase do ensino secundário. Uma vila encantada, que ainda hoje visito regularmente.

A frequência do Instituto Comercial levou-me de novo ao quotidiano da capital, até que chegou o tempo de cumprir o serviço militar. Corria então o ano de 1965.

Cinco anos volvidos, e depois de uma breve passagem por uma multinacional norte americana, tomei rumo na redacção de um jornal que então havia iniciado a sua publicação. Começava aí a tomar forma a minha natural vocação pelo mundo da comunicação, onde evoluí durante mais de trinta anos, divididos entre a escrita e a publicidade. Sempre na cidade de Lisboa.

Conheço parte da Europa e alguns países do norte de África, onde a minha natural apetência pela história dos povos me foi levando.

Hábitos de leitura, a que uma avó querida não é alheia, dotaram-me de vontade e gosto pelo conhecimento. Entre os momentos que lembro em que o espírito mais se deliciou, avultam os consagrados à leitura dos grandes mestres portugueses; de Luís de Camões a Eça de Queiroz, de Alexandre Herculano a Camilo Castelo Branco. Todos contribuíram muito para o meu enriquecimento espiritual.

O deslumbramento pela poesia chegou em 1968, trazida num livrinho que recebi das mãos de José Saramago, então colaborador do Jornal A Capital, onde iniciei a minha actividade de comunicador. Ainda guardo esse exemplar autografado pelo nosso prémio Nobel. Chama-se; “Provavelmente Alegria”.

E é com essa mesma alegria que me apresento perante vós, queridos leitores, com o entusiasmo de quem vem contar os sentimentos que lhe vão na alma e que me marcam hoje os traços do rosto. Bem vindos sejam, pois, à minha poesia.

Eugénio de Sá é acadêmico AVPB e ocupa a cadeira n.81..
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A Missão do Poeta

Porque o sonho é a base da poesia
e sem ele não há inspiração
o poeta tem por primazia
transmitir do seu sonho a emoção

E dos sonhos que a sua mão desenha
em cada verso fluirá o amor
e cada dor encontra a esperança prenha
das carícias da alma do autor

Não é um Deus menor que lhe acalenta
a tristeza que às vezes o domina
e que o seu coração não afugenta

Por que o induz a mágoa a entender
as agruras da vida e dos irmãos
e as mãos a todos ele quer estender
Fonte:
Portal Varanda das Estrelícias http://www.joaquimevonio.com/

Carmo Vasconcellos (A Minha Terra)

Maria do Carmo Fernandes de Vasconcellos Figueiredo, é natural de Lisboa, Portugal. Nasceu sob o Signo Gémeos. Desde sempre cultivou a paixão pela leitura e pela escrita. É autora de um livro de poemas - "Geometrias Intemporais", publicado no ano 2000. (Vega - Editora - Lisboa - Portugal).

E-Books: "O vértice luminoso da pirâmide" (Romance, 2 Volumes), "Rompendo amarras" e "Memorando de fogo" (editados em Out.º, Dez.º/2005, e Jan.º 2006. "Despida de segredos", "Luas e marés" E "Sonetos" (agendados para Fev.º, Abril, e Maio/2006 - (Poemas), editados por Del Nero Virtual Bookstore.http://www.delnerobookstore.com/bibliotecas_virtuais/carmo_vasconcelos

Participante em vários Jogos Florais teve o privilégio de ganhar numerosos prémios e menções honrosas. É membro da Associação Portuguesa de Poetas (onde já integrou os Corpos Directivos) e do Cenáculo Literário Marquesa de Valverde, nos quais já colaborou como júri de concursos literários. Participante assídua dos encontros da Associação Fernando Pessoa, em Lisboa, aí foi distinguida com um trabalho de sua autoria, intitulado "A Fase Mística de Fernando Pessoa".

Amante da Filosofia e da Psicologia, eterna buscadora, estudante de esoterismo e misticismo, é membro da Ordem Rosacruz-AMORC (Grande Loja do Brasil), onde teve a honra de ser nomeada "Mestre Auxiliar" e, mais tarde, indigitada para "Mestre" do Capítulo de Lisboa, que ajudou a inaugurar em 1979 (cargo que não aceitou). Entre outras, proferiu uma palestra na Livraria-Galeria Verney, em Oeiras, (Portugal) que teve por tema "O Homem e O Universo" e recentemente na Net (no Grupo EcosdaPoesia) uma conferência ao vivo seguida de debate, intitulada "Reencarnação, Carma e Evolução" http://groups.msn.com/ECOSDAPOESIA/conferencias.msnw

A par da sua escrita tem-se dedicado à tradução e revisão de obras literárias portuguesas e estrangeiras. Participante de várias antologias, as mais recentes:
"A Nossa Antologia" (Associação Portuguesa de Poetas/Lisboa-Portugal/2005)
"O Futuro Feito Presente" (Ecos da Poesia/Abrali - S.Paulo-Brasil, Abril/2005
"Terra Lusíada" (Projecto Cultural/Abrali)- S.Paulo-Brasil/Julho2005
"Dois Povos Um Destino" (Ecos da Poesia/Abrali-S.Paulo-Brasil, Abril/2006
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A MINHA TERRA
Em Lisboa eu nasci
E digo de brincadeira
Desta cidade altaneira
"Prá terra" nunca parti...

Sou alfacinha da gema
Lusitana com vaidade
Pois nasci numa cidade
Que se veste de poema
Cheira a goivo e alfazema
Tem as cores do colibri
No mundo que percorri
Não encontrei outra igual
Seu porte é nobre e real
Em Lisboa eu nasci

Foi nela que vi o rosto
Da santa que me deu vida
E onde os seus olhos à ida
Também fechei com desgosto
No seu sal e no seu mosto
Criei a força guerreira
Desta gleba justiceira
Nela sorri e chorei
E o primeiro amor beijei
E digo de brincadeira

Que sou filha dos sem-terra
Pois nas férias de que gosto
À terra doutros me encosto
Seja no mar ou na serra
Mas cedo a saudade berra
Para voltar à soleira
Postar os olhos à beira
Das gaivotas em voejo
No verde ondular do Tejo
Desta cidade altaneira

Amo o seu cheiro sem par
Sua luz que me ilumina
É musa que me fascina
Pois tem vozes de avatar
Poesia a me chamar
Desde que me conheci
E ao seu fado me cingi
Lisboa do meu amor
Jamais lhe dei essa dor
"P´rá terra" nunca parti
Nota: "Ir prá terra"= ir de férias ou partir de vez para a Terra Natal

Fonte:
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sexta-feira, 18 de abril de 2008

Nilto Maciel (Panorama do Conto Cearense - Parte II)

Outros contistas, ou poetas e romancistas que também se aventuraram a escrever contos na época do Centro Literário, são:

Francisca Clotilde (Tauá, 1862-Fortaleza, 1932) reuniu suas estórias curtas numa Coleção de Contos, saída a lume em 1897, com prefácio de Tibúrcio de Oliveira. Deixou também o romance A Divorciada. Montenegro observa que nas narrativas da escritora “os assuntos são tratados com bastante trivialidade”.

Ana Facó (Beberibe, 1855-Fortaleza, 1922), romancista, contista, teatróloga, poetisa e memorialista, deixou Minha Palmatória, livro de histórias curtas, e outros.

José Carlos Júnior (Paraíba, 1860-Fortaleza, 1896) pertenceu à Padaria Espiritual, ao Clube Literário e à Academia Cearense, da qual foi um dos fundadores. Deixou poemas e contos esparsos. Na lição de Braga Montenegro, os contos de José Carlos Júnior são “todos sem maior valia, de um rudimentarismo de expressão em nada coadunável com sua elevada cultura lingüística”.

Rodolfo Teófilo (Bahia, 1853-Fortaleza, 1932), também membro da Padaria, escreveu “contos científicos”, como informa Sânzio. Publicou inúmeras obras, entre elas o romance A Fome. Braga ensina: As composições curtas de Rodolfo Teófilo “conservam uma sobriedade de estilo bastante louvável para o tempo”. Sânzio, no entanto, acredita que o autor do romance Brilhantes não chegou “a ocupar a primeira plana no terreno do conto”. As peças estampadas no jornal A Quinzena foram enfeixadas em volume sob o título Ciências Naturais em Contos (1889). Assevera, ainda, o estudioso da Padaria Espiritual: “Posteriormente, irá Rodolfo Teófilo reunir outras páginas de ficção num livro a que dará o título da narrativa inicial, ou seja, O Conduru (1910)”.

Da mesma época do Clube Literário é um dos maiores nomes da literatura cearense, Domingos Olímpio (Sobral, 1850-Rio de Janeiro, 1906), o criador do romance Luzia-Homem, autor de diversas histórias curtas, estampadas em jornais de Belém, Pará, e do Rio de Janeiro. Braga Montenegro se refere a uma “produção abundante e já destinada a compor um volume” de contos, o que Sânzio desconhece. Menciona apenas “O Redivivo”.

Passando à Padaria Espiritual, são lembrados alguns nomes. O primeiro deles é Antônio Sales (Paracuru, 1868-Fortaleza, 1940), poeta, romancista (Aves de Arribação), teatrólogo e contista. Considerava-se o idealizador da Padaria Espiritual.

Eduardo Sabóia (Fortaleza, 1876-1918), autor de Contos do Ceará (1894), com introdução de Antônio Sales, pertenceu à Padaria e ao Clube Literário. É “o mais representativo” contista deste grupo, na opinião de Braga Montenegro.

José Carvalho (Crato, 1872-Rio de Janeiro, 1933), “estudioso do Folclore e da História”, “cultivou a ficção e a poesia descritiva ao tempo da Padaria” (Sânzio). Teve impresso em 1897 Perfis Sertanejos, de contos, além de outras obras.

Artur Teófilo (Granja, 1871-Fortaleza, 1899) é autor de várias composições ficcionais curtas. “Contista, de feição realista, divulgou várias produções suas pelo jornal da Padaria, como ‘A morte da avó’, ‘Tísica’, ‘O exame primário’ e ‘O caso do sargento’” (Sânzio). Entre os contistas da Padaria Espiritual é ele, talvez, o nome mais singular. Braga Montenegro e Sânzio de Azevedo lhe dão destaque. Para o Barão de Studart, trata-se de “um dos mais talentosos moços da Padaria Espiritual, salientando-se como conteur”. E acrescenta Sânzio: “Os contos de Artur Teófilo são o que de melhor no gênero encontramos nas páginas d’O Pão”.

Lopes Filho (Fortaleza, 1868-1900), “autor do primeiro livro simbolista cearense, Phantos (1893)” (Sânzio), também escreveu histórias curtas.

José Maria Brígido (Itapipoca, 1870-Paranaguá, Paraná, 1923) teria deixado inéditos os livros Dilúculos, de poesia, e Contos (Sânzio).

Cabral de Alencar (Baturité, 1877-Fortaleza, 1915) “publicou contos e fantasias no jornal da Padaria” (Sânzio), à qual pertencia. Na revista Fortaleza, em 1907, estampou “Expiação”, “no qual sobressaem a beleza artística, a expressão quente e vibrante, a intuição psicológica” (Dolor Barreira).

José Nava (Fortaleza, 1876-Rio de Janeiro, 1911), pai de Pedro Nava, escrevia contos, fantasias e poemas. Pertenceu à Padaria Espiritual, segunda fase.

Antônio Bezerra (Quixeramobim, 1841-Fortaleza, 1921), do Clube Literário e da Padaria. Mais dedicado à poesia, depois à História e à Geografia, também escreveu narrativas curtas.

Ulisses Bezerra (Arneirós, 1865-Fortaleza, 1920), da Padaria, publicou peças ficcionais curtas em jornais e teria deixado “inédito um volume de crônicas e fantasias”, intitulado Páginas Soltas (Sânzio).

Roberto de Alencar (1879-1898) também escrevia contos. Deixou inédito o livro Mignones.

Ainda no final do século 19 surge o Centro Literário, onde despontam alguns contistas:

Leonidas e Sá, autor de “O Caninha Verde”, estampado no primeiro número do jornal Iracema.

Viana de Carvalho, que publicou no mesmo periódico “A Lição de Italiano”.

Soares Bulcão (São João de Uruburetama, 1873-Fortaleza, 1942), escreveu poemas, estudos sobre política e história e alguns contos. Dolor cita “A prece do Jaguaribe”, “O doido do Barriga”, “O fratricídio de Pedra d’Água”, “O dobrado”, “Desiludido”, “A cruz das almas”, “O enforcado de Itaitinga” e “O doido do Capeba”, alguns deles publicados na revista Iracema, de 1896.

Quintino Cunha (Itapajé, 1875-Fortaleza, 1943), poeta e contista. Autor do livro Diferentes (1895) e outros de poesia.

Pedro Muniz ou Moniz (Aracati, 1866-Fortaleza, 1898), poeta, crítico literário e contista, é autor de dois livros de poesia, uma novela e contos. Estampou no Iracema “A Flor da Grinalda” e “Estupro”.

Fernando Weyne (Paraguai, 1868-1906) viveu, escreveu e morreu no Ceará, tendo deixado vasta obra literária, embora, no dizer de Sânzio, no ensaio O Centro Literário, de 1973, “de sua bagagem literária, numerosa e variada, apenas foi publicado, ao que tudo indica, um livro de contos, Miudinhos (1895)”.

Papi Júnior, nascido no Rio de Janeiro, em 1854, escreveu toda a sua obra no Ceará, onde faleceu em 1934. Braga assinalou: “Papi Júnior, cujo estilo revesso, tumultuário e erudito, tanto prejudicara um grande romance como O Simas, escreveu contos de contagiante emoção artística, destacando-se entre eles o intitulado “Cruz das Malvas”, premiado num concurso em São Paulo, que sugere a riqueza ambiencial das melhores páginas de Bret Harte”. Quatro de suas histórias curtas foram reunidas no livro Contos, publicação da Academia Cearense de Letras, 1954. As narrativas reeditadas são “As Pastilhas do Imperador”, “A Rosa do Curu”, “A Partida” e “Os Exorcismos”. No prefácio (sem autor nomeado) está anotado: “A sua capacidade descritiva é uma riqueza, quase uma orgia de palavras, que chegam exatamente no momento e se enluvam na descrição, como se fosse mágico pincel traçando as linhas e as cores mais fiéis do retrato ou da paisagem – acentuou Raimundo Girão. Às vezes o estilo se rebusca e encrespa, mas não vai ao abuso, antes conduz o descritivo à desejada acentuação, num calidoscópio de deslumbramento. Quer na tradução das situações psicológicas, intimamente humanas, dramáticas ou felizes, quer no apanhar o natural, trazendo aos olhos do leitor toda a exuberância dos panoramas ou das coisas que descreve”.

No dizer de Sânzio, ele “não chegou, em nenhum dos seus contos que conhecemos, à altura de sua obra-prima, o romance O Simas, de 1898, o que não significa seja apagado seu vulto no panorama do conto de nosso Estado”.

Também escreveram contos naquele período:

Frota Pessoa (Sobral, 1875-1951), poeta, polemista, pedagogo, sociólogo e contista, teve o primeiro conto premiado em concurso da Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, onde morava, no final no século 19. (Girão) Publicou “Romântica”, no Iracema.

Álvaro Martins (Trairi, 1868-1906), um dos criadores da Padaria e do Centro Literário, poeta, editou alguns livros. No jornal Iracema teve publicado “O Cravo Roxo do Diabo”.

José Gil Amora (Fortaleza, 1883-1920), poeta e contista, “escreveu contos de sabor à Álvares de Azevedo” (Girão). Não deixou livro publicado. Na opinião de Dolor Barreira, era “dotado de notável pendor para essa modalidade de literatura amena, especialmente na sua feição humorística, publicou, naqueles referidos anos, os seus contos Uma Entrevista dos Diabos, O Recitativo (conto cearense), O Tuberculoso, O Carnaval, Um como há muitos e O orador”, insertos no jornal A Jangada.

Tomás Lopes (Fortaleza, 1879-Suíça, 1913), cronista, poeta e contista, autor de livros de poemas, crônicas, um romance e quatro volumes: Histórias da vida e da morte (1907), Um coração sensível (idem), Caras e corações (1910) e O Cisne Branco (1918).

Oscar Lopes, irmão de Tomás, nasceu em Fortaleza (1882). Teatrólogo, poeta, conferencista e contista, escreveu diversos livros, entre eles os volumes Livro Truncado (1912), Seres e Sombras (1920) e Maria Sidney (s/d). Faleceu no Rio de Janeiro, em 1938. (Antologia Cearense, Raimundo Girão)

Manuel Miranda (Granja, 1887-Rio de Janeiro, 1955), autodidata, fundou jornais, nos quais publicou versos e narrativas. Deixou os livros Ceará por Dentro (contos regionais), Cousas que Acontecem (1926) e Diário de Geny. Sua prosa ficcional “é de feição e cunho realista”, escreveu Dolor Barreira. E completa: “Pode mesmo dizer-se que eram casos da vida real – da vida de cada dia –, fatos por ele testemunhados e vividos, que o contista retratava e nos transmitia”.

Olímpio da Rocha (Fortaleza, 1868) colaborou em A Quinzena e publicou livros de poemas e pelo menos um de contos: Cousas do Meu Tempo. (Girão)

Soriano Albuquerque (Água Preta, Pernambuco, 1877- Fortaleza, 1914), poeta, escreveu Volatas.

Álvaro Bomílcar (Crato, 1874-Riode Janeiro, 1957) é autor do livro Graciosa (1901), composto de um conto e poemas. (Dolor)

José Pereira Martins publicou Isaura, de contos, em 1898. (Dolor)

Marcolino Fagundes mostrou histórias curtas no Iracema: “A Louca do Rochedo”, “O Xavier (conto humorístico)” e “Bolhas de Sabão”.

Joaquim Carneiro expôs no mesmo jornal “Visão de Salomé” e “Laranjeira”.

Francisco Carneiro, autor de “Alma Pura”, apresentado no jornal Iracema.

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O nome mais conhecido na Literatura Cearense no período da Padaria Espiritual é o de Adolfo (Ferreira) Caminha. Nasceu em Aracati, no dia 29 de maio de 1867, filho de Raimundo Ferreira dos Santos Caminha e Maria Firmina Caminha, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1897. Aos 13 anos de idade é levado para o Rio de Janeiro, matriculando-se, três anos depois, na Escola de Marinha. Em 1887 publicou na Gazeta de Notícias “A Chibata”. Deste ano são os seus primeiros livros: Vôos Incertos, de versos, e Judite e Lágrimas de um Crente, de prosa de ficção. Regressou a Fortaleza no ano seguinte e em 1889 ajudou a fundar o Centro Republicano. Dois anos depois criou a Revista Moderna e no ano seguinte participou da fundação da Padaria Espiritual. Regressou ao Rio de Janeiro no final de 1892 e um ano depois fez editar seu primeiro romance, A Normalista. Outro livro, No País dos Ianques, é de 1894. No ano seguinte saíram do prelo Cartas Literárias, de crítica, e Bom-Crioulo, romance. Em 1896 escreveu Tentação, seu último romance. Deixou algumas obras inéditas, entre elas Pequenos Contos. Sua mais completa biografia é de autoria de Sânzio de Azevedo: Adolfo Caminha (Vida e Obra). Sempre lembrado como o criador de romances exponenciais do naturalismo, como A Normalista e Bom-Crioulo, escreveu peças ficcionais de alta qualidade. De seus contos somente 11 foram reunidos em livro, em 2002, por Sânzio de Azevedo, sob o título Contos, pela Editora da UFC.

Segundo Sânzio, no ensaio “Uns Poucos Contos”, do livro Adolfo Caminha (Vida e Obra), o autor de Tentação teria deixado 15 contos, informação colhida em Gastão Penalva: “Velho Testamento”, “A mão de mármore”, “Pesadelo”, “Minotauro”, “O exilado”, “Flor do vício”, “A última lição”, “Estados d’alma”, “No convento”, “O beijo”, “Elas”, “O grumete”, “Joaninha”, “Amor de fidalgo” e “Vencido”. Destes, somente 11 foram reunidos em livro, em 2002, por Sânzio de Azevedo, sob o título Contos, pela Editora da UFC, precedido de um ensaio do mesmo estudioso: “Onze Contos de Adolfo Caminha”.

Na primeira narrativa o protagonista divide o espaço e o tempo com Virgínia. O espaço do presente (momento da narração) é uma sala, um atelier de escritor, e nele um quadro pintado, representando um busto de mulher. O protagonista fuma charuto, vê a pintura e relembra momentos de sua juventude. Num segundo momento as duas personagens passeiam, a cavalo, pelo campo. Virgínia se sente mal, tem febre, está prestes a morrer. No entanto, o narrador surpreende o leitor, ao revelar – no desfecho – tratar-se de um sonho.

Dos onze contos, apenas três são narrados na primeira pessoa; os outros, na terceira: “Minotauro”, “O Exilado”, “A Última Lição”, “Estados d’alma”, “No Convento”, “Elas...”, “Joaninha” e “Amor de Fidalgo”. A primeira pessoa é sempre homem, como o sonhador apaixonado de “Velho Testamento”, o narrador-testemunha de “A Mão de Mármore” e o também sonhador de “Pesadelo”. As mulheres de Caminha são sempre sofridas. Também os homens são sofridos, atolados no passado, nas dores do amor. Como o Plínio Varela, de “Amor de Fidalgo”, abandonado pela amante e no dia seguinte encontrado “no meio da rua, sem pinta de sangue no rosto, sujo de lama, imundo, como o mais vil dos bêbados”. Elas morrem cedo, doentes, enfraquecidas, como a Virgínia da primeira marrativa, que, num passeio à floresta, diz sentir “um vulcão dentro de mim” e, logo depois, o narrador a vê com “um brilho estranho nos olhos, fria, gelada...”

Amor e morte caminham juntos, fazem parte do mesmo enredo, às vezes macabro, como em “A Mão de Mármore”. Talvez se possa classificar também macabro “No Convento”, com a morte misteriosa do noviço Oscar de Miranda, que enlouquece e morre a jorrar sangue pela boca.

Quando não é a morte propriamente dita, é a sua antecessora: a desilusão amorosa a ferir a mulher de tristeza, solidão, num casamento feito de amarras, como em “Elas...”

O enredo no contista Adolfo Caminha às vezes é frouxo, esgarçado, como no “Minotauro”. Um triângulo amoroso como muitos outros, especialmente no romantismo. Já em “A Última Lição” o leitor se depara com um enredo mais rico, mais entrançado e, ao mesmo tempo, mais sutil, a lembrar o Machado de Assis de “Uns Braços”. Outras vezes nem se percebe enredo, como em “Pesadelo”. Um homem sonha (a história é o sonho ou o pesadelo do narrador) e é acordado pela mulher. O sonho, no entanto, é uma parábola: “a dura realidade dos filósofos é preferível ao sonho, ao sonho azul dos poetas...”

Algumas narrativas curtas de Caminha se situam claramente no Rio de Janeiro. No “Minotauro” o par Cipriano Gouveia e Nicota vivia numa casa no Engenho Novo, sob “o inconstante céu fluminense”, ele afastado do burburinho do centro da cidade, da rua do Ouvidor, “por onde nem sequer passava ao voltar da repartição”. Em “A Última Lição” o casal seguiu, em carruagem, para a Tijuca, onde foi morar. Em “Estados d’alma” Almeida contempla os morros de Santa Teresa, “coqueiros de longas palmas”, “todo esse admirável trecho da natureza fluminense”. E, na descrição da paisagem, vai revelando ao leitor a cidade maravilhosa: “Para lá dos Inválidos, n’outro plano mais elevado, por trás do cemitério de Catumbi, a vista atingia a ponta culminante de uma montanha angulosa e obtusa, varando a transparência do ar lavado: era o nariz do gigante que se vê do mar, o Corcovado, uma espécie de focinho de animal monstruoso farejando as nuvens...” E, já para o final da peça, volta o personagem a “contemplar a paisagem, o Corcovado, o Pão d’Açúcar, a igrejinha da Glória agachada por trás dos morros” (...). Em “Amor de Fidalgo” Plínio Varela instala Carolina Mendes num “esplêndido palacete em Botafogo”. Em outros o leitor poderá também perceber o ambiente da velha corte. Há, porém, “Joaninha”, ambientado no Nordeste, exatamente em Oeiras, Piauí. Leia-se a descrição: “S. José de Arouca, outrora Riachão da Magdalena, ficava a seis léguas de Oeiras, numa eminência, dominando, com o seu belo aspecto de arraial sertanejo, uma vastíssima extensão glauca de floresta virgem, e ao longe, diluindo-se gradativamente num crepúsculo de bruma, trêmulo e desmaiado, o perfil indistinto, o vago contorno da Serra Grande, quase perdida na distância, simbólica e misteriosa como uma esfinge do deserto.” Nas demais histórias Adolfo Caminha preferiu não deixar claro a localização das tramas.

Nessas narrativas há o predomínio da narração sobre a descrição e o diálogo. A narração inicia e conclui todas elas. Umas vezes são narrações de pequenos atos ou gestos. Outras, breves descrições psicológicas. Há também narrações entremeadas de descrições de ambientes. Em alguns casos o início da narração se dá no pretérito perfeito; em outros, no imperfeito.

Adolfo Caminha é narrador contido e fino, como também se observa em “A Última Lição”. Neste, do ponto de vista de narrador onisciente, a narração se faz em blocos superpostos de ações, sempre intercalada de breves e essenciais diálogos. A descrição de ambientes mais uma vez se dá com precisão, sem excesso de detalhes, suficiente para neles, ambientes, enquadrar as personagens.

Naquela peça que é quase um poema – “Pesadelo” – a narração se confunde com a descrição, ou não é uma coisa nem outra. Veja-se o primeiro parágrafo: “Crepúsculo de maio. Nevoento e triste, o feio aspecto da paisagem que meus olhos contemplam numa espécie de abstração enferma, lembra-me, – branca de neve – alvo sudário amortalhando gigantes”. Quase no final o narrador, já acordado, transcreve a única fala, que não é dele, mas da mulher (ausente no sonho): “– Acorda, preguiçoso, olha que é dia! Vamos, levanta!”

Os diálogos são breves e sempre em linguagem literária, muitas vezes erudita, de leitor dos clássicos. Como na primeira ficção, em que o narrador transcreve uma fala de Virgínia e dele: “– Sabes o que me parece isto? perguntei. – Isto o quê? – Este pedaço de floresta abrindo para o mar e nós dois quebrando a monotonia do verde? Faz-me lembrar a primeira página do Velho Testamento...” Mais adiante essa lembrança do paraíso levará o narrador a se referir às cenas do Jardim do Éden, quando Adão e Eva “pecavam no seio da natureza”. Mas tudo em Caminha é tenuidade, como em todos os realistas ainda eivados de romantismo.

Mesmo na composição nordestina, onde Joaninha, a filha do fogueteiro, se pronuncia uma vez, mesmo aí a fala não é a de linguagem oral. A moça, talvez analfabeta, fala assim: “– E o Sr. Vigário por que não vem a Arouca todos os dias?” E completa: “É um passeio... Este povo ama-o tanto...” É certo que somente mais tarde, quando do Modernismo e do Regionalismo, os narradores passaram a incorporar a linguagem oral, especialmente a do campo, nas falas dos personagens.

As descrições de Caminha também não são exageradas, nem extensas. São necessárias ou dão às composições um quê de poético, como se viu nas transcrições de linhas atrás. Assim se vê em “Minotauro”, na descrição do jardim da casa. A natureza em contraste com a cidade, talvez por influência do Eça de A Cidade e as Serras.

Há dois contos singulares no conjunto em estudo. Um, “O Exilado”, pode ser visto como uma narrativa de marinhista e estranha, de ambiente bem diverso daqueles das outras obras. E não somente o ambiente (uma ilha), como o enredo (um homem solitário e um cachorro). Além disso, subdividida em sete flashes ou episódios. A descrição física do protagonista, se é que se pode falar de protagonista, é feita com detalhes. Juan Herrera, o exilado espanhol, é um personagem lendário ou imaginário (em oposição a realista) na ficção de Adolfo Caminha. Também estranha é “No Convento”. E mais uma vez um ambiente diverso dos lugares da maioria dos contos: um convento de frades. O enredo é igualmente singular, embora ainda afeito ao tema predominante no contista – amor e morte. Porém um amor enlouquecido ou envolto em loucura. No entanto, a morte misteriosa.

O desenlace nas peças ficcionais menores (no sentido de extensão) do criador de A Normalista, quando o conflito se dá no terreno do sonho, é o que se verifica na maioria das ficções desse tipo, isto é, o sonhador acorda, como se pode verificar em “Velho Testamento” e “Pesadelo”, dando fim ao drama. Em “A Mão de Mármore”, com seu quê de tétrico, o epílogo, na voz do narrador-testemunha, é a constatação de lágrimas nas faces do protagonista diante da mão de mármore da amante morta. “Minotauro” chega ao fim em breve e irônica narração: “começou a chuviscar”, Gouveia, o marido, se retira do jardim, seguido de Nicota, a esposa, e do amigo Bandeira, braço dado a ela. Nada romântico, um tanto realista. O desenlace em “O Exilado”, já sem a presença do personagem, que, após ver agonizar o cachorro de estimação, saiu a caminhar, “como uma sombra que se esvai, entre as penedias da ilha”, leva o leitor a imaginar uma paisagem marinha que aos poucos se vai desfazendo. O apego à paisagem levou o contista a dar a “Estados d’alma” desfecho inaudito: o protagonista, ao saber da morte do pai, tem reação incomum (“sem uma lágrima no olhar e sem um gesto de dor”, voltou a contemplar a paisagem), e o narrador conclui o conto pintando o “vasto céu sem nuvens”. O final de “A Última Lição” é realista, embora com uns contornos românticos, assim como o de “Elas...” e “Amor de Fidalgo”. O desenlace de “No Convento” e “Joaninha” tem ares naturalistas.

A manipulação da linguagem nesses contos traz a marca do Adolfo Caminha de A Normalista, embora se saiba que no final do século 19 a história curta ainda fosse precariamente cultivada pelos escritores brasileiros, à exceção de Machado de Assis. Se Caminha não alcançou o grau de mestre na ourivesaria da narrativa curta, pelo menos nos legou estas poucas mas belas jóias.

continua...

Fonte:
http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=986