sexta-feira, 8 de junho de 2018

Trova 304 - Cipriano F. Gomes (São Paulo)

Trova obtida no Facebook (Meus Irmãos Trovadores)

Faustino da Fonseca Junior (Livro D’Ouro da Poesia Portuguesa vol. 4) III


TEMPESTADE E BONANÇA

Soprava rijamente o vento Norte
E caía um terrível aguaceiro;
Enorme escuridão, lembrava a morte...
Mas não descria o rude marinheiro!

Rugia o mar e ao sofrer o corte
Da proa revoltava-se altaneiro,
Varria o tombadilho. Sempre forte
Ia o vapor correndo audaz, ligeiro.

Ecoava o trovão. Mas de repente
Ao vendaval sucede-se a bonança,
O nevoeiro esvai-se lentamente,

A chuva para, o oceano amansa;
O sol mostra seu disco reluzente,
Nos rostos pairam os sorrires d'esp'rança.

AS ESTRELAS

Da minha alegre janela
Vejo uma nesga do céu;
É noite serena, bela,
Espaireço o olhar meu,

A contemplar as estrelas
Que cintilam diamantinas,
Recorda-me sempre ao vê-las
Tuas graças peregrinas.

Que queres, pois se te não vejo,
Como outrora, na varanda
Trocando frases amantes?

Por isso mando-te um beijo
Na briza suave, branda,
Fitando os astros brilhantes.

CEMITÉRIO

No cemitério alvejam mausoléus
De pedras rendilhadas e custosas;
Elegantes, guindados coruchos;
Epitáfios, legendas caprichosas.

Ali jazem os ricos. Nas pomposas
Inscrições se vai ler os nomes seus.
Em outras campas só se veem rosas,
Goivos, martírios, contemplando os céus.

A jazida dos pobres. Trabalhando
Morreram e ali estão alimentando
A terra onde essas flores se vão nutrir.

Em quanto os outros distraídos, fúteis,
Viveram ociosos, sempre inúteis,
E nem sequer d'estrume vão servir!

A PROSTITUTA

A rua é miserável, suja, estreita,
Como um terrível antro criminoso,
E duma porta a prostituta espreita
O transeunte lubrico, cioso.

É repelente, quanto mais enfeita
O cabelo postiço e untuoso.
Teve ilusões, quem sabe, hoje desfeita,
A graça desse rosto alvar oleoso,

Veio cair naquele lodaçal
Onde se espoja torpe, embriagada,
Até ir decompor-se no hospital

Se o amante que tem a desgraçada
Não lhe der caridoso, bestial,
O descanso pra sempre á navalhada.

AMOROSO

Eu amo-te, amo-te tanto
Talvez não saibas o quanto
Meu coração fazes pulsar;
Talvez não saibas, ó linda,
Como a tua graça infinda
Me faz viver para amar.

Amo-te a face formosa,
Amo-te a boca de rosa,
Amo-te o negro cabelo,
Amo-te o gesto mavioso,
O sorrir casto e bondoso,
O olhar gracioso e belo.

Adoro-te a singeleza
Que é engaste da beleza,
Amo-te o lindo rubor
Com que te purpurizaste,
Quando tremula escutaste
As juras do nosso amor.

Encontrei-te, o meu coração
Satisfez a aspiração
E tenho um novo viver.
Acho mais belos os prados,
Os tons do sol mais dourados,
Em tudo o amor julgo ver.

Oh! se o teu amor assim
For tão ardente por mim,
Não haverá nada igual
Á pura felicidade
Dos dias da mocidade,
Ao meu risonho ideal.

A CARIDADE

I

Caridade, quem és! Quem te inventou?
Para que serves, quais os meios teus,
A tua agencia, assim, quem t'a arranjou,
Para que vens falar-nos sempre em Deus!

Em Deus! Quando o universo ele criou
Legou a alguém riquezas ou troféus!
Quais foram os brasões, que bens doou?
Venderia indulgencias lá dos ceos?

Mentes, que nunca fez separações,
Nem fez a fome nem as privações,
O mundo concedeu á humanidade.

Mas como é que ha então ricos e pobres?
Como é que existem os plebeus e os nobres?
Que significas pois, ó caridade?

II

Rebanhos a pastarem nas campinas,
As aves a cruzarem-se no ar,
O serpear das águas argentinas,
Os frutos a dourarem no pomar;

A pureza das auras matutinas,
Os dias que o bom sol nos vem dourar,
As flores acetinadas, purpurinas,
As poéticas noites de luar;

Os campos no sorrir da primavera,
A selva, as fragas onde vive a fera,
O universo em toda a imensidade,

Nunca foi concedido por herança.
Era pra humanidade a esperança
De um dia conquistar a felicidade.

III

Os maus, porém, puderam com presteza
Empolgar o que a todos pertencia.
O sangue era direito a uns -Nobreza -
E aos d'hoje o dinheiro - A burguesia - 

E foi assim que os bens da natureza,
Que o criador a todos concedia,
Se viram disputados com fereza,
Se viram empolgar com ousadia.

E apareceu a fome. Então aos pobres
Os ricos atirando com uns cobres
Inventaram um Deus de caridade.

Mas haverem lutar, embora custe,
Depor de todo a Caridade-embuste.
Hastear a bandeira da Igualdade!

Fonte:
Faustino da Fonseca Júnior. Lyra da mocidade Primeiros versos. 
Angra do Heroísmo/Portugal, 1892

Nilto Maciel (As Pontas da Estrela)

Os bêbados de Palma ainda diziam besteiras em torno do parto feliz e inesperado da Beata, quando no bar de Pedro Mateiro entrou, correndo, a figura agitada e esvoaçante de Bemtevi, suado e assustado.

– Que aconteceu, homem de Deus? Alguma desgraça?

– Diga logo: caiu alguma igreja?

O novidadeiro encostou-se na parede, acocorou-se e sentou-se no chão sujo de cusparadas e cinzas de cigarro. Deu três suspiros e se disse curado da carreira. Abriu a boca para contar as esperanças dos outros. Nenhuma palavra disse, como a deixar que as badaladas da meia-noite penetrassem no seu assombro. Os grandes relógios das igrejas e os cucos dos sobrados mais uma vez se confundiam na babel do tempo.

Nem bem o alto-falante irradiou o cântico da ave-maria, o sol aquela poça de sangue medonha em cima da serra, a notícia do parto da Beata encheu de luto as ladeiras de Palma. Depois, um ventinho frio inundou o ar de pedaços de bilhetes comprometedores, cartas amorosas e outras fúteis anotações, a anunciar a Pedro Mateiro mais uma rodada.

– O menino nasceu...

– De novo?

As garrafas gargalharam nas prateleiras e o polvo de Palma despertou, com seus mil braços a agitarem-se nas janelas.

– Nasceu com uma ...

– Cabeça?

– Não, uma estrela.

Pedro saltou o balcão e se uniu aos bêbados. E todos beberam e pediram cigarros a Pedro. Bem perto e bem longe do bar, janelas e portas se abriram, de repente. Alvoroçavam-se as ruelas de Palma, escura e misteriosa.

– Deixe de doidice, rapaz.

– É verdade, uma estrela bem na testa.

Nenhuma mentira durava mais de um dia na cidade e o padre toda madrugada gritava endemoninhado contra os luxuriosos e levantadores de falso. As velhinhas tremiam sobre os sofridos joelhos e desmaiavam.

Não podia ser. Explicasse a coisa direito. Quem já tinha visto nascer uma pessoa com uma estrela na testa?

– Dizem que é uma estrela de cinco pontas.

– E é ruim?

Como podia saber uma coisa daquelas? Por acaso se chamava Camões ou Cego Aderaldo? Além do mais, não tinha certeza do número exato de pontas. Uns falavam em cinco, outros em seis.

A cada palavra, mais se complicava o narrador. Quiseram saber então qual a pior das estrelas, se a de cinco ou a de seis pontas.

Também isso não sabia explicar Bemtevi. Além do mais, a cada hora nascia mais uma ponta. Sim, pela última informação, já eram dez.

– O que será isso, meu Deus?

– Não sei. Só sei que, quanto mais se contam as pontas, mais elas são.

Abandonaram os copos os bebedores, persignaram-se todos e, ajoelhados, rezaram aos pés do balcão.

– Maldição!

– Obra do Capiroto.

Na calçada, Bicudo dormia desde a boca da noite. A primeira notícia abateu-se sobre sua embriaguez como uma marretada: mais duas talagadas e a baba escorreu e os olhos se cerraram. De novo tombou sobre si mesmo, a maldizer-se. A meia-noite despertou-o do sonho de amor. E ouviu estrelas e retomou o fio perdido da meada.

– É o filho de Efigênia?

– E do gringo.

– Podia ser do padre, do padre podia ser. Ou do sacristão, de algum cristão. Ou era filho do cão?

– Homem, não diga isso.

Lembraram-se do fenômeno da estrela na testa. Como podia ser essa tal estrela? Cheia de pontas, brilhante, rosário de contas, cintilante?

Um dedo apontou para o Cruzeiro do Sul e todos os olhos bêbados dançaram no céu estrelado.

– Amarela?

Não se sabia bem a cor. Falou-se primeiro na cor do ouro. Outras cores do arco-íris, porém, já andavam de boca em boca.

– Então não é uma estrela.

Quem ali sabia os mistérios do céu?

– É muito pequena?

– Do tamanho de uma testinha?

Se nada sabia Bemtevi, por que jurava ser uma estrela aquilo que podia ser uma lágrima, talvez um pingo d’água, insignificante grão de areia? Deixasse então de mistérios, ou não dissesse mais nada.

E Bicudo propôs fossem ver o menino.

Não podiam. A casa permanecia fechada a quatro chaves. Do lado de dentro, só a Beata e a parteira, e o menino com sua estrela.

Pedro coçou a cabeça, contou seus bêbados e olhou para a rua por cada uma das portas.

– Você viu o menino?

Fonte:
Nilto Maciel. Babel (contos). 
Brasília/DF: Editora Códice, 1997.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Trova 303 - Jorge Fregadolli (Maringá/PR)


Gislaine Canales (Glosas Diversas) 5


VIVE O SONHO

MOTE:
Se a vida é sonho fugaz,
vive o sonho bem vivido,
que o remorso vem atrás
de cada instante perdido.
Carolina Ramos

GLOSA:
Se a vida é sonho fugaz,
vive e sonha essa alegria,
inventa outro sonho e faz
mais feliz teu dia-a-dia!

Ao romper de cada aurora,
vive o sonho bem vivido,
não lamentes teu outrora...
que ele não volta, é sabido!

Sonhando, tu saberás
que, viver bem, é preciso,
que o remorso vem atrás
de um só momento indeciso!

E colhe os frutos da estrada,
volta, mesmo sem ter ido,
pra não te sentir culpada
de cada instante perdido.
_________________________

VELHINHO SORTUDO

MOTE:
A cabecinha de prata,
do velhinho quedo e mudo,
de amores de longa data
no seu silêncio diz tudo.
Alceu Gouveia

GLOSA:
A cabecinha de prata,
de um prateado tão bonito,
parece que nos relata
seus anseios de infinito!

No pensamento reluz,
do velhinho quedo e mudo,
a mocidade, que em luz,
ele relembra a miúdo.

E essa lembrança desata
as mil histórias sem fim
de amores de longa data
que um dia viveu, enfim...

E num sorriso matreiro
esse velhinho sortudo
sem falar, segue faceiro...
no seu silêncio diz tudo.
_______________________________

BATEU-ME À PORTA

MOTE:
Ternura bateu-me à porta,
com simplicidade entrou
e aquela ilusão já morta,
aos poucos, ressuscitou!
Beatriz Castro

GLOSA:
Ternura bateu-me à porta,
com grande delicadeza...
A ternura nos conforta,
põe fim a nossa tristeza!

Ao ver a porta se abrindo
com simplicidade entrou.
Na taça do amor, eu brindo,
e acariciá-la, então, vou.

Muito amor ela transporta
recarregando a emoção,
e aquela ilusão já morta,
revive no coração!

Nos sonhos que dormitavam,
em silêncio se instalou,
e um por um, dos que lá estavam,
aos poucos, ressuscitou!
___________________________________

CASCALHOS

MOTE:
Pisei cascalhos e espinhos...
mas firme, em minhas andanças,
com as pedras dos caminhos
fiz castelos de esperanças.
Edmar Japiassú Maia

GLOSA:
Pisei cascalhos e espinhos...
vi sangrarem os meus pés
seguindo nos descaminhos,
transpondo triste revés...

Continuei minha jornada,
mas firme, em minhas andanças
procurei encher meu nada
com minhas simples lembranças!

Lapidei com meus carinhos,
o que antes era cascalho,
com as pedras dos caminhos
eu construí meu atalho!

Segui, adiante... risonho...
E renovando as alianças,
para a prisão do meu sonho
fiz castelos de esperanças.

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas. Glosas Virtuais de Trovas VI. 
In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. 
http://www.portalcen.org. abril de 2003.

terça-feira, 5 de junho de 2018

José Feldman (Álbum de Trovas) 20


Dinah Silveira de Queiroz (História de mineiro)

Estou sabendo de uma historinha que bem valia um conto e feito por quem a narrou, o contista que anda arrebatando todos os prêmios dos concursos em que se inscreve: Edson Guedes de Morais. É um caso de mineiro. Trata de gente pobre e de filho que veio trabalhar no Rio, prosperou e um dia mandou uma carta ao pai: 

Meu pai: com a graça de Deus, posso dizer que já tenho economia suficiente para pretender realizar qualquer sonho seu. Minha maior felicidade estará em poder propor : que possa fazer para alegrá-lo? 0 que mais desejaria na vida? Tenho pensado muito em sua luta de sacrificado e não me lembro de tê-lo ouvido falar sobre qualquer aspiração. Não se acanhe, papai, mande dizer se o senhor quiser alguma coisa." 

Lá da cidadezinha das Minas Gerais veio uma carta. Daquele homem religioso, devoto de Nossa Senhora Aparecida, austero, confiando nos seus deveres e trabalhos: o homem que jamais manifestara ao filho o seu desejo de possuir, por exemplo, um carro, ou ter um negócio só seu, ou, no mínimo, de adquirir uma lavadeira automática para desafogar o trabalho da mulher : 

— "Meu filho, com a graça. de Deus, todos vão com saúde. Não me falta nada. Assim como vivo, vivo bem. Mas se você quiser saber de um desejo que sempre tive fique sabendo agora que toda a vida quis ver o mar. É só isso, meu filho, mais nada." 

Tão pouco lhe pedia o pai ! Mandou-lhe o filho a passagem, depois de ter escolhido um bom hotelzinho na Tijuca, frequentado por gente de pequenas posses, mas pessoas escolhidas — só família, enfim. E o velho chegou com a alegria de ver o filho que realizara o que inúmeras gerações de sua gente não haviam conseguido: ter dinheiro sobrando. Vieram as efusões, as lágrimas. O primeiro dia passou, e, logo no segundo, o filho veio buscar o pai: 

Papai, vista-se que eu vou levá-lo a Copacabana. Está na hora de realizar o desejo." 

0 velho olhou-o piscando meio trêmulo: 

— "Hoje, não. Quero visitar a prima Carlota, que mora aqui perto. Amanhã eu vou". 

Chegou amanhã, e o pai, sempre tremendo e piscando, disse que não se sentia bem para ir a Copacabana. No terceiro e no quarto dias também, afirmou que não podia ir e que queria comprar uma lembrancinha para a mulher e para a filha. Alguns dias decorreram e o grande encontro entre o mineiro e o mar foi sendo protelado. Já, então, o filho estava meio triste com aquela estranha atitude do pai e, afinal, desabafou: 

— "Parece que o senhor não está querendo mesmo ir ver o mar! Desde que chegou aqui não encontra um dia para realizar aquilo que afirmou ser o único desejo de sua vida!" 

0 pai chegou a pegar o chapéu, passou a mão no ombro do filho mas estava tão perturbado, que desta vez, realmente, parecia doente. 

— "Meu pai, o que é que o senhor tem? O que há?" 

O velho mineiro, de olhos nublados, hesitou. Por fim, largou o peso da verdade de uma vez : 

— "Acho uma coisa tão maravilhosa poder ir ver o mar que quero entregar a Nossa Senhora o meu sacrifício. Meu filho, não se zangue. Vou voltar hoje mesmo para casa sem ir a Copacabana". 

— "Mas por que, meu pai? Por quê? Nem Nossa Senhora vai aceitar esse seu sacrifício. Todo mundo vê o mar todo dia. Gente há que nem liga, passa pela praia e nem volta o rosto para ele..." 

Mas, a essa altura, o velho já ia juntando os seus trens. Nesse mesmo dia voltou para sua cidade das Minas Gerais, levando em sua imaginação a ideia do abismo de assombro que ele jamais encontraria. 

Fonte:
Dinah Silveira de Queiroz. Quadrante 2. 
RJ: Editora do Autor, 1968.

Trovadores de Ontem e de Hoje n. 2


1
Tem muito mais graça a vida
quando a gente tem com quem
repartir bem repartida
a graça que a vida tem!
A. A. de Assis 
Maringá/PR
2
Só verdade e compaixão
ponha no que você faz;
derrame amor e perdão
e deixe fluir a paz.
Adélia Maria Woellner 
Curitiba/PR
3
Eu disse pra minha amada, 
baseado num estudo, 
o amor nasce de um nada 
e morre de quase tudo! 
Ademar Macedo 
Santana do Matos/RN (1951 - 2013) Natal/RN
4
Entre os suspiros dos vento,
da noite ao mole frescor,
quero viver um momento,
morrer contigo de amor!
Álvares de Azevedo 
São Paulo/SP (1832 – 1851) Rio de Janeiro/RJ
5
Tudo muda o tempo inteiro 
e é preciso ter coragem! 
Se incomoda, é que o roteiro 
diz que estamos de passagem.
André Ricardo Rogério
Arapongas/PR
6
Eu vejo o velho telhado
com um aspecto medonho,
é todo desarrumado
porém, acalenta um sonho.
Antonio Facci 
Cedral/SP (1941 - 2008) Maringá/PR
7
Procura longa e constante, 
num sempre querer achar...
Um sonho louco e distante,  
impossível de alcançar...
Antonio Manoel Abreu Sardenberg 
São Fidélis/RJ
8
Cai a tarde, fico triste,
Pressuroso como o quê...
O coração não resiste
A saudade de você!
Apollo Taborda França 
Curitiba/PR (1926 – 2017)
9
Não se vá, não, por favor, 
não me faça essa maldade! 
Se de fato você for, 
eu vou morrer de saudade.
Ari Santos de Campos
Balneário Camboriú/SC
10
Nesta vida não há nada
capaz de me destroçar :
sou bravo como a jangada
e  insistente  como o mar.
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG
11
A dor é uma escola aberta
nos dias que vêm e vão;
escola que nos desperta
nas luzes do coração.
Auta de Souza
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN
12
Do teu olhar já notei
que até desprezo me vem...
e, apesar disso, não sei
deixar de te querer bem!
Barreto Coutinho 
Limoeiro/PE (1893 – 1975) Curitiba/PR
13
Piloto que dás teu giro
montado em peixe de prata,
carrega este meu suspiro
e leva a quem me maltrata!
Carlos Drummond de Andrade 
Itabira/MG (1902 - 1987) Rio de Janeiro/RJ
14
Os remos batem nas águas:
têm de ferir para andar.
As águas vão consentindo
- esse é o destino do mar.
Cecília Meireles 
Rio de Janeiro/RJ (1901 – 1964) 
15
Encontrei na minha trova
a vontade de escrever.
A paixão por coisa nova
faz a gente renascer.
Cecim Calixto 
Pinhalão/PR (1926 – 2008) Tomazina/PR
16
Não julgo morto o passado.
A bem dizer, nem passou.
- O que eu fui ficou guardado
como parte do que sou…
Pe. Celso de Carvalho 
Curvelo/MG (1913 – 2000) Diamantina/MG
17
Trovador é “gente” esperta
e só faz rima de artista,
põe todos de boca aberta,
mais do que eu... Que sou dentista!
Cristiane Borges Brotto
Curitiba/PR
18
Somos como pan de vida,
con agua y harina mezclados;
no habrá nada que divida
al coserlos separarlos!
Cristina Oliveira Chavez
Estados Unidos
19
Pranteando a ponte antiga, 
o rio ao vê-las aos pedaços, 
abrindo os braços à amiga, 
carrega a ponte nos braços... 
Darly O. Barros
São Paulo/SP
20
- Seu filho não tem vontade
de trabalhar. Pra ninguém!
Nega o pai: - Não é verdade.
Tem má vontade... Mas tem!
Divenei Boseli
São Paulo/SP
21
Nesta vida rotineira,
tua saudade em minha alma
é cantiga de goteira
em noite de chuva calma!
Domitilla Borges Beltrame 
São Paulo/SP
22
Ora eloquente, ora mudo,
teu olhar é uma charada:
promessa sutil de tudo,
no fútil revés... do nada!
Dorothy Jansson Moretti 
Três Barras/SC (1926 – 2017) Sorocaba/SP
23
Ao beijar a tua mão,
que o destino não me deu,
tenho a estranha sensação
de estar roubando o que é meu...
Durval Mendonça 
Rio de Janeiro (1906 – 2001)
24
Canta, poeta!...és bem-vinda 
no teu preito ao sol e à lua, 
pois toda poesia é linda, 
se a voz de quem canta é a tua! 
Edmar Japiassú Maia
Rio de Janeiro/RJ
25
Meus cantos já foram tantos,
não recordo o que foi feito,
sumiram com os encantos.
continua a dor no peito!
Efigênia Coutinho 
Balneário Camboriú/SC
26
Ao ocaso, vão meus versos
numa estrada de ilusão,
redesenhando universos
pelas noites de verão.
Egiselda Charão 
Porto Alegre/RS
27
Quando vi o mar infinito,
disse: aqui quero morar,
não há nada mais bonito
do que o mar, o mar, o mar!
Eliana Ruiz Jimenez 
Balneário Camboriú/SC
28
Vivo em constante conflito
entre o delírio e a razão:
– meu sonho alcança o infinito,
meus pés tropeçam no chão!
Elisabeth Souza Cruz 
Nova Friburgo/RJ
29
Dessa tão ferrenha mágoa
de querer vos esperar,
meus olhos me encheram d’água,
salgada como a do mar!
Emiliano Perneta 
Curitiba/PR (1866 – 1921)
30
Pressa em costumes notórios,
anoto hoje onde ando,
há muito poucos casórios
e a meninada aumentando
Emílio de Meneses 
Curitiba/PR (1816– 1918)
31
A mais tremenda das armas
pior do que a durindana,
atende, meus bons amigos,
se apelida – a língua humana.
Fagundes Varela 
Rio Claro/RJ (1841 – 1875) Niterói/RJ
32
O poeta é um fingidor,
finge tão completamente,
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.
Fernando Pessoa 
Lisboa/Portugal (1888 – 1935)
33
Se em teu caminho prossegues
um grande amor procurando,
vai em frente, tu consegues,
basta continuar tentando!...
Flávio Roberto Stefani 
Porto Alegre/RS
34
A neve desce, flutua,
cai sobre tudo e se espalha
sobre a estrada imensa e nua
como uma branca toalha.
Francisca Júlia 
Xiririca (atual Eldorado Paulista)/SP (1871 - 1920) São Paulo/SP)
35
Só o amor acende a chama
da paixão quase perdida;
foi amando a quem me ama,
que amei muito mais na vida.
Prof. Garcia
Caicó/RN
36
Nossa humildade se mede
e sempre se medirá,
não com o favor que se pede
mas com o perdão que se dá.
Francisco José Pessoa 
Fortaleza/CE
37
A frase dura que escapa 
da boca de muitos pais 
é tão cruel quanto um tapa 
e, às vezes, machuca mais! 
Gerson César Souza 
São Mateus do Sul/PR
38
No mundo são as verdades
como as nossas esperanças;
as que vêm nas tempestades
vão-se após nas águas mansas...
Gonçalves de Magalhães 
Rio de Janeiro/RJ (1811 – 1882) Roma/Itália
39
A primavera opulenta,
rica de cantos e cores,
palpita, anseia, rebenta,
em cataclismo de flores.
Guerra Junqueiro 
Freixo de Espada à Cinta/Portugal (1850 – 1923) Lisboa/Portugal
40
Cresceu estranho tumor
no pé descalço do Zé.
– “Será que eu tenho, Doutor,
apendicite no pé?”
Helena Kolody 
Cruz Machado/PR (1912 – 2004) Curitiba/PR
41
Deus move a nuvem e ordena
que baixe à terra; entretanto,
ela vem com tanta pena
que desce em forma de pranto.
Humberto de Campos 
Miritiba (hoje Humberto de Campos)/MA (1883 – 1934) Rio de Janeiro/RJ
42
Buscar o céu noutro espaço,
não, meu bem, não é preciso;
se eu tiver o teu abraço,
que me importa o paraíso?
Humberto Rodrigues Neto
São Paulo/SP
43
Seresteiro e trovador
ambos têm equivalências:
porque os dois fazem do amor
o motivo da existência.
Ialmar Pio Schneider 
Porto Alegre/RS
44
Mais vale um cego tristonho
do que alguém que em nada crê,
porque ele pode em seu sonho,
crer em tudo o que ele vê!
Izo Goldman 
Porto Alegre/RS (1932 – 2013) São Paulo/SP
45
Não há sorriso que emplaque,
na comédia desta vida,
se, na ironia da claque,
qualquer verdade é escondida!
João Batista Xavier Oliveira 
Bauru/SP
46
Vossa vinda, bom Pastor,
muito há que desejamos,
para que Nosso Senhor
nos conceda o que esperamos.
Pe. José de Anchieta 
San Cristóbal de La Laguna/Espanha (1534 – 1597) Reritiba (hoje Padre Anchieta)/ES
47
Era uma estranha alergia
a de Antonico da Gama:
Se o trabalho aparecia,
caía logo de cama.
Lamartine Babo 
Rio de Janeiro/RJ (1904 – 1963)
48
Contigo quero brincar,
azul mar dos meus anseios...
e, nas águas, afogar
dores, problemas, receios...
Leonilda Hildenburg Justus 
Curitiba/PR
49
Nosso amor inconfessado,
tão silencioso e prudente,
foi desejo refreado,
foi luz de estrela cadente!
Lisete Johnson 
Porto Alegre/RS
50
Nem sempre vamos vencer
nessa ou naquela disputa...
O que importa é não perder
a coragem para a luta!
Lucília Trindade Decarli 
Bandeirantes/PR
51
Neste monte a montear,
achei-me tão enleado,
que donde cuidei caçar,
eu mesmo fiquei caçado.
Luís Vaz de Camões 
Coimbra/Portugal (1524 – 1580) Lisboa/Portugal
52
A cada dia que passa,
muda minha realidade,
meus sonhos viram fumaça,
amores viram saudade.
Luiz Hélio Friedrich
Curitiba/PR
53
A bravura, bem ou mal,
pode assim ser resumida:
colocar-se um ideal
acima da própria vida!
Luiz Otávio 
Rio de Janeiro/RJ (1916 -1977) Santos/SP
54
Este é o exemplo que damos 
aos jovens recém-casados: 
que é melhor se brigar juntos 
do que chorar separados!
Lupicínio Rodrigues 
Porto Alegre/RS (1914 – 1974)
55
Ao nosso espírito ardente,
na avidez do bem sonhado,
nunca o passado é presente,
nunca o presente é passado.
Machado de Assis 
Rio de Janeiro/RJ (1839 – 1908)
56
Vi uma estrela tão alta, 
vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo 
na minha vida vazia!
Manuel Bandeira 
Recife/PE (1886 – 1968) Rio de Janeiro/RJ
57
Na linda manhã de sol 
ouvi uma canção tão bela...
Eu debaixo do lençol 
e a cigarra na janela!
Maria da Graça Stinglin
Curitiba/PR
58
Como o vai-vem da maré 
as trovas soltas ao vento 
são hinos de amor e fé 
que brotam do sentimento.
Maria José Fraqueza
Fuzeta/Algarve/Portugal
59
A procura é uma constante,
 um disfarce da ilusão...
 Tesouro, mais que bastante,
 é o que está no coração! 
Mário A. J. Zamataro
Curitiba/PR
60
Teu sorriso é um jardineiro,
meu coração é um jardim.
Saudade! Imenso canteiro
que eu trago dentro de mim.
Mário de Andrade 
São Paulo/SP (1893– 1945)
61
Nosso amor – doce quimera! -
transformou horas perdidas
na mais linda primavera
do inverno de nossas vidas! 
Marisa Vieira Olivaes 
Porto Alegre/RS
62
Saudade, perfume triste,
de uma flor que não se vê;
culto que ainda persiste
num crente que já não crê!
Menotti del Picchia
São Paulo/SP (1892 – 1988)
63
Cupido avisa aos poetas 
e também aos namorados 
que seus estoques de setas 
foram todos renovados! 
Miguel Russowsky 
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC
64
Na Trova e no Trovador,
é que se encontram, suponho,
Criatura e Criador
unidos no mesmo sonho!
Nádia Huguenin 
Nova Friburgo/RJ (1946 -2008)
65
No teatro desta vida
cada qual faz sua história:
se não for bem aplaudida 
é vaiada e vexatória.
Nei Garcez
Curitiba/PR
66
Quem chora a perda de um cão 
tem um viver distinguido, 
José; por esta razão 
´és, por Deus, um escolhido!
Nemésio Prata
Fortaleza/CE
67
Meu lar humilde é canteiro
de um horto sereno, em flor,
onde o pai é jardineiro,
plantando rosas de amor!
Newton Meyer 
Pouso Alegre/MG (1936 – 2006)
68
Confiante na amizade,
falei, doei até demais,
mas com toda a falsidade
foi atrás de quem dá mais
Nilsa Alves de Melo
Maringá/PR
69
Nossa vida é uma viagem
de turismo e avaliação,
em que o peso da bagagem
é feito no coração.
Nilton da Costa Teixeira
Monte Alto/SP, 1920 – 1983, Ribeirão Preto/SP
70
Canta, dança e entra na fila,
Mas vem com respeito e fé;
Quem não tem a alma tranquila,
Não ponha o samba no pé
Noel Rosa
Rio de Janeiro/RJ (1910 – 1937)
71
Neste incrível universo    
do mundo da poesia;
sendo aprendiz, tento imerso
nos meus versos, noite e dia!
Odenir Follador
Ponta Grossa/PR
72
Deixando a bola e a peteca,
com que inda há pouco brincavam,
por causa de uma boneca
duas meninas brigavam.
Olavo Bilac 
Rio de Janeiro/RJ (1865 – 1918)
73
Era uma estrada deserta, 
com muito barro... atolamos. 
Não me lembro a data certa; 
lembro o quanto nos amamos!
Olga Agulhon
Maringá/PR
74
Se o amor que tu me tinhas
fosse vidro e se quebrasse,
colaria a mim com as linhas
que o Silêncio me ofertasse…
Olivaldo Júnior
Mogi-Guaçu/SP
75
O amor perturbou-me tanto,
que este combate deploro:
querendo chorar, eu canto;
querendo cantar, eu choro!
Osório Duque Estrada 
Pati do Alferes (hoje Vassouras)/RJ (1870 – 1927) Rio de Janeiro/RJ
76
Companheiro, estenda a mão,
que nem um bom cavalheiro,
ao colega, amigo, irmão...
porém lave a mão primeiro!
Osvaldo Reis 
Maringá/PR
77
Se ela, afinal, com delícia
te deu a boca a beijar,
com um pouco mais de malícia
tudo o mais hás de alcançar…
Petrarca Maranhão
Manaus/AM (1913 – 1985) Petrópolis/RJ
78
Duas almas deves ter...
é um conselho dos mais sábios:
uma no fundo do ser,
outra boiando nos lábios.
Raul de Leoni 
Petrópolis/RJ (1895– 1926)
79
Se tentei ser pescador,
Só pesquei em águas rasas;
Se tentei ser voador,
Tive quebradas as asas.
Raymundo de Salles Brasil 
Salvador/Bahia
 80
Corra em busca do carinho
bem de mansinho, eu lhe rogo
venha bem devagarzinho
que esta vida passa logo.
Renato Frata
Paranavaí/PR
81
Diante a miséria e o afeto
eu jamais vi tanto brilho
no olhar de uma mãe sem teto
enquanto amamenta o filho!
Rita Mourão
Ribeirão Preto/SP
82
Muita gente cai à toa 
outros caem com razão.
A saudade é uma garoa
Caindo no coração.
Roberto Martins
Rio de Janeiro/RJ (1909 – 1992)
83
Foi no banco de uma praça,
ainda na mocidade,
que encontrei cheia de graça
quem agora é só saudade.
Roberto Pinheiro Acruche
São Francisco de Itabapoana/RJ
84
“Eu não sei seu nome ainda...”
Ela esperta não bobeia:
“Pode me chamar de linda.”
Nunca vi linda tão feia.
Ronnaldo Andrade
São Paulo/SP
85
Pião que igual ninguém viu:
coração girou... girou...
de tanto girar... dormiu
no peito que o encantou!
Roza de Oliveira
Curitiba/PR
86
Valente, cheio de cana,
com todo mundo mexia...
Mergulhou na carraspana,
nu, nem das roupas sabia!
Sa de Carvalho
Angra dos Reis/RJ
87
Olho o sol findando lento, 
sonho o sonho de um adulto: 
minha voz na voz do vento 
indo em busca do teu vulto.
Sérgio Bittencourt
Rio de Janeiro/RJ (1941 – 1979)
88
Pela poesia que fiz,
após a sua partida,
vejo que fui bem feliz...
Até sua despedida!
Talita Batista
Campos dos Goytacazes/RJ
89
Amar é fazer o ninho
que duas almas contém;
ter medo de estar sozinho,
dizer com lágrimas: – Vem!
Tobias Barreto
Vila de Campos do Rio Real (hoje, Tobias Barreto)/SE (1839 – 1889) Recife/PE
90
Despindo folhas e flores,
o inverno, o vento conduz,
e a árvore, sem pudores,
vai mostrando os galhos nus.
Vanda Alves
Curitiba/PR
91
A flor sentiu-se beijada
pela chuva... e então sorriu!
Mas esta cena encantada,
somente o poeta viu…
Vanda Fagundes Queiróz
Curitiba/PR
92
Que se diga ou não se diga,
vejam bem o que acontece,
homem, ao tempo faz figa,
ri o tempo, que o envelhece.
Vasco José Taborda
Curitiba/PR (1909 – 1997)
93
Esta porta não se fecha 
tem o emblema duma cruz,
Contra ela não há queixa: 
são os braços de Jesus.
Vicente Celestino 
Rio de Janeiro/RJ (1894 – 1968) São Paulo/SP
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Haverá queixa mais justa
que a do feliz que se queixa?
Ai, o bem que menos custa
custa a saudade que deixa!
Vicente de Carvalho 
Santos/SP (1866 – 1924)
95
Dentro de mim moram anjos
que cantam versos de amor
e vejo que entre os arcanjos
sempre tem um trovador!
Yara Rodrigues 
Belém/PA

Fonte: Florilégio de Trovas n.21